A equipe da Intrínseca responsável pela edição dos livros nacionais esteve debruçada sobre inúmeros documentos, notas de rodapé, fotos, papéis, papéis e mais papéis. Até chegar o dia do lançamento da obra revista e ampliada de Elio Gaspari, 19 de fevereiro, muitas horas foram dedicadas ao projeto. Sim, diga-se de passagem, um projeto ambicioso – motivo de orgulho para todos os colaboradores da editora. Além da reedição de quatro volumes – A ditadura envergonhada, A ditadura escancarada, A ditadura derrotada e A ditadura encurralada – coordenada por Livia de Almeida, editora de literatura brasileira e não ficção, a empreitada incluiu a produção de e-books incrementados, em versões digitais nunca vistas no Brasil, e a criação do site Arquivos da Ditadura, que abrigará uma parte dos 15 mil itens coletados pelo autor, entre notas manuscritas, relatórios governamentais e áudios inéditos. Sobrou trabalho para a equipe formada por Thadeu Santos, Kathia Ferreira e que recebeu, na reta final, o apoio de Roberto Jannarelli.
Entrevistamos Livia para entender como foi o processo de trabalho.
– Quais são as peculiaridades de se reeditar uma obra considerada referência no tema e que tem o compromisso com o leitor de oferecer um material extremamente atualizado? Até que ponto o autor esteve envolvido nos detalhes?
Resposta: Um dos grandes desafios era tornar a obra de Elio Gaspari acessível ao público mais jovem, que não acompanhou de perto os acontecimentos da época. Por isso, tivemos uma grande preocupação em desenvolver, junto com o designer Victor Burton, um projeto gráfico arrojado, que valoriza o material fotográfico selecionado por Elio e o pesquisador Vladimir Sacchetta. Essa preocupação se reflete em detalhes, como por exemplo, a confecção de encartes em papel couchê, que permite uma visualização melhor das imagens, que receberam um tratamento cuidadoso. Os livros ganharam também mais de cem fotos inéditas que ajudam a estabelecer o clima de cada parte da história de uma forma muito dinâmica.
Partiu do próprio Elio, por exemplo, o desejo de fazer uma edição com capa flexível, que ajuda uma leitura confortável e permite que o volume seja manuseado com facilidade. Gostaria de enfatizar que a participação constante do autor, seu olhar crítico e atento, foi fundamental para garantir uma qualidade ímpar à reedição.
– Quando falamos no período da ditadura, é difícil imaginar que ainda existam descobertas históricas. Qual foi a novidade que mais impressionou os envolvidos durante o trabalho de pesquisa e edição?
Resposta: Elio nunca parou de pesquisar sobre a ditadura, é quase uma obsessão. No caso do áudio do presidente Kennedy, quando se discutiu a possibilidade de uma ação militar para tirar Jango da Presidência, o nosso trabalho não foi apenas traduzir a fala, mas buscar um sentido claro num áudio de qualidade bastante comprometida, transcrever sem comprometer o real significado. E poderia citar o capítulo “Merda! Merda”, apresentado em A ditadura encurralada como uma das atualizações. São 13 páginas completamente reescritas, com novas notas de rodapé com as referências documentais e bibliográficas.
– Como foi trabalhar com o Elio Gaspari, um profissional tão reconhecido e aplaudido pela crítica e pela sua carreira como jornalista?
Resposta: Foi um privilégio! Ele é generosíssimo com suas histórias, com sua inteligência rápida, sempre com contribuições pertinentes que deixando a gente com aquele ar de “Por que não pensei nisso antes?” Ele é exigente, é verdade, e gosta de participar de todas as etapas da edição, da escolha das imagens do encarte até a capa. Posso dizer que foi um aprendizado e tanto!
– O que o leitor pode esperar do lançamento dos livros e dos e-books, que tipo de experiência ele encontrará?
Resposta: A obra sofreu uma revisão completa, que passou até pela reforma ortográfica, que não estava em vigor na época de sua concepção. Mas o mais importante é que nos últimos doze anos emergiram novos documentos, relatos e publicações sobre o período, que trouxeram uma compreensão maior sobre diversos episódios. O Elio, por exemplo, incluiu na sua bibliografia livros como Ideais traídos, do general Silvio Frota, e Marighella, de Mário Magalhães. Quem optar pela leitura dos livros físicos, poderá aprofundar seus conhecimentos, recorrendo ao site Arquivos da Ditadura, onde se encontram muitos dos documentos mencionados, além de vídeos, áudios.