Barra Manteiga

Fiquei um pouco incomodada em perceber que não associei uma pessoa de imediato a minha primeira paixão.
Tive que tratar racionalmente sobre algo que devia ser totalmente passional. Mas escolhi uma história, que mesmo depois de 10 anos, ainda me traz sorriso aos lábios e calor ao coração. A paixão deve remeter a isso, houve outras mais fortes, intensas e maduras, mas deixaram muitas marcas. Essa foi pura e natural.
Eu era criança, tímida, de rabo de cavalo e bochechas rosadas. Era a festinha de aniversário de uma amiguinha minha e brincávamos de Barra Manteiga. Era a vez do primo dela. Ele tinha que bater na mão de alguém e sair correndo, sem que a outra pessoa o pegasse. Enquanto ele escolhia e olhou para mim me desafiando, tive certeza que ia bater na minha mão porque achou que eu não o alcançaria.
Persegui-o com tanto entusiasmo que empurrei suas as costas e ele tropeçou, mas sem se machucar. Ganhei o jogo e ele ficou bravo. Só que mesmo assim ficamos próximos nas outras brincadeiras, com aquela facilidade que crianças têm de se entrosar.
Só me recordo que numa pausa, quando servia um copo de refrigerante, o menino estava ao meu lado e me disse algo ao pé do ouvido que me fez derramar tudo na mesa, ficar coradíssima e olhar envergonhada para ele.
A memória não ajuda e não lembro o que aconteceu depois. Não tivemos mais contato também, ele morava em outra cidade. Mas aquela declaração infantil, que me deixou toda atrapalhada, não foi esquecida.