Eu me lembro

Nos conhecemos no twitter. Em dois dias eu já havia visto todas as fotos dele no instagram e aproveitado qualquer oportunidade de interagir com ele. Alguns dias depois, Clarice Falcão anunciou que faria um show no Beco 203 na Rua Augusta no dia 25 de maio, mas visto que prefiro curtir coisas quando compartilhadas, por falta de companhia acabaria não indo, e então ele postou que queria ir ao show, mas que também não tinha companhia. Em um ou dois dias estava tudo combinado, iríamos ao show juntos. Ingressos comprados, porém o único meio de se pagar o boleto era no banco Sicred perto da Liberdade, então no dia 6 de Maio de 2013 lá pelas 15:24 nos encontramos na saída do metrô. Eu ainda me lembro do sorriso dele, tímido, e desconcertante de lindo. Apesar de chegarmos ao banco em cima da hora, e termos um problema com o boleto (que ele resolveu enquanto eu tinha um pequeno ataque de ansiedade), tudo deu certo no fim. Então, nós começamos a andar e conversar e se conhecer, e a cada rua que eu começava a atravessar distraído do movimento dos carros e que sua mão encontrava minha cintura e me segurava com gentileza, a cada história compartilhada, a cada quilometro dos sete que andamos naquele dia, eu ia caindo mais e mais por ele… Alguns anos depois, conversando sobre aquele dia, tive a confirmação de que a falta de vontade de ir embora era mútua. E então chegamos no Shopping D, um marco da minha infância, pois minha mãe dizia que eu amava aquele shopping. Sem um centavo no bolso para nada, apenas encontramos um lugar para sentar e conversar pelo resto de tempo que ainda restava, até realmente termos de ir embora. Então sentados numa murada, ao lado de um elevador de um piso (que eu ironicamente não me lembro) do Shopping D, eu encostei no ombro dele (ou ele encostou no meu) e nossas bocas se aproximaram e ali aconteceu, simples como todo aquele dia havia sido, nosso primeiro beijo. Nós nos vimos no dia seguinte, e mais uma vez naquela semana. Minha gana por ele era difícil de controlar, e mais importante, eu não queria controlar. Nós ficamos juntos por sete meses, eu pedi ele em namoro depois de dois. Um pedido meio torto, mal idealizado, com todos os requintes de nervosismo de alguém que nunca foi capaz de expressar seus sentimentos, e estava para fazer num photo booth do YouPix (um festival que celebra a internet, embora só agora eu reconheça o simbolismo). Ele disse sim. Eu conheci toda sua família, e jamais vou esquecer a mãe dele, pois poucas vezes fui tratado com tanto carinho nessa vida, principalmente por um ser humano que não tinha de ir nem um pouco além da educação básica, mas que sempre o fez. No fim eu deixei as minhas inseguranças e ansiedade tomarem o melhor de mim. O ciúme dormente nascido de uma relação prévia recheada de términos e uma traição, se alimentou nessas “fraquezas” e assim eu me voltei diversas vezes contra o rapaz mais doce que já havia conhecido nesse mundo e que nunca, nunca, me deu qualquer motivo real para dúvidas, muito pelo contrário. Como todo babaca que percebe tarde demais o seus erros e problemas, eu tentei reatar, quatro meses depois do término, em Março de 2014, ele aceitou tentar, mas como diz uma frase atribuída a Heráclito, filósofo chave em Me Chame Pelo Seu Nome, “nunca se banha duas vezes no mesmo rio”, e simples assim as coisas não eram mais como antes. Por duas semanas ficamos juntos, e pelo menos por aquelas duas semanas eu não cometi nenhum dos meus erros anteriores, mesmo que não fizesse mais diferença. No dia seguinte ao término, no caminho da casa dele para a minha, passei pela Paulista, e andando pela Fnac encontrei o box da série favorita dele (Friends) em promoção, e mandei uma mensagem para ele. Ele foi para lá na hora. Box comprado, passamos uma parte do resto do dia juntos, andando pela Paulista, enquanto caía uma garoa fina. E mesmo tendo terminado na noite anterior, trocamos alguns beijos, alguns carinhos, algo que hoje em dia consideramos uma boa prova de que não somos bons nessas coisa de término. Então não nos vimos mais. Até 16 meses depois, em Setembro de 2015, quando voltamos a nos falar por uma dessas portas abertas que a gente vai deixando para certas pessoas na nossa vida. Do abraço dele ao me encontrar num metro da Avenida Paulista, ao abraço dele ao nos despedirmos na estação Luz, eu sabia que fosse o que fosse, eu ainda sentia algo, para além da romantização por ele ter sido meu primeiro amor. O local onde a mão dele se acomodou no meu cabelo ganhou vida por um bom tempo após partirmos, cada um para o seu lado, ele Norte, eu Leste. Então continuamos nos falando por mensagem, até não nos falarmos mais por outros 2 anos. Nesse meio tempo ele conheceu outro rapaz, sobre quem poderia muito bem ser a história dele aqui, caso ele decidisse escrever. O amor deles me incomodava, não por qualquer coisa além de ser lindo e forte. Quando fiquei sabendo que acabou, no dia 6 de maio de 2017, e não irei embelezar isso, em algum lugar em eu ainda esperava sentir alguma esperança ou talvez felicidade, mas só o que senti foi dor por ele e vergonha pelo sentimento mesquinho que nutri apesar de saber o quão feliz ele merecia ser, pois ele merece todo o amor do mundo. E por que motivo nunca entenderei, mas só após aquele momento fui capaz de enfim deixar a fantasia, a esperança a romantização, a idealização de nós como “Ross e Rachel”, como “lagostas” um do outro, de lado. Pouco mais de um mês depois ele me mandou uma mensagem, se desculpando por algo que ocorreu no breve período que voltamos a nos falar 2 anos antes, em 2015. Dali a conversa rendeu e continuou até então (fevereiro de 2018). Não somos amigos, não nos falamos todo dia e nem sequer voltamos a nos ver, mas o respeito mútuo ao que tivemos e a um pelo outro continua. Atualmente não sou uma pessoa de muitos amigos, então é sempre muito bom quando ele vem falar comigo sobre alguém que conheceu. Comigo, alguém que ele conheceu muito bem, os bons e principalmente os ruins e nunca me tratou com nada além de educação, respeito e até um certo carinho do qual nunca me achei merecedor. O fim do que tivemos sempre vai me trazer um gosto amargo na boca, um gosto de arrependimento, de fracasso, não por ter acabado, mas por como acabou, e por como eu tratei ele, mas mesmo me sentindo falido antes dos 30, incapaz de oferecer nada mais a mais ninguém, e me esforçando para não sentir nada, pelo bem de não sentir nada, me trás certa paz saber que apesar de tudo, entre nós, está tudo bem como está.
(Texto enviado com conhecimento e consentimento dele. Título inspirado, por razões claras, na canção Eu Me Lembro da artista Clarice Falcão com participação do artista Silva)