Meu nirvana ou meu caos?

Eu sempre temi o novo. Qualquer ideia que me parecesse arriscada, eu automaticamente descartava por pura covardia. Isto era algo que eu costumava fazer desde a infância, ainda que nesta fase fosse inconscientemente.
Aos 14 anos, estamos dando o pontapé inicial da dita “melhor fase da vida”. Nossos hormônios ficam à flor da pele, nossos pensamentos e desejos mais secretos vem à tona e quase imploram para serem realizados, gritados, vividos. Foi exatamente nessa orla de sensações que o conheci.
As primeiras paixões costumam nos atingir em cheio, certo? Como uma espécie de amor ou fascínio à primeira vista. Mas esta paixão surgiu insólita. Foi uma espécie de paixão que arde com tamanha intensidade que parece te virar do avesso e você é capaz de sentir o calor que se apossa de todo seu corpo e os revérberos são quase palpáveis, porém você reprime todas essas vontades e deixa a chama oscilar, quase ao ponto de se extinguir por completo. Foi o que fiz.
Nesse tempo que me dediquei a negar meus sentimentos, ele se fez presente, dia após dia, ouvindo minhas incertezas, minhas inseguranças, sabendo exatamente as palavras certas a dizer nos momentos precisos. Descobri que não poderia mais conter minha paixão quando senti a sua me ser transmitida.
Aquele não era o momento para medos. Aquele era o momento de descobertas. E mesmo com a sombra do temor me circundando, eu avancei vacilante e colei nossos lábios. Foram frações de segundos e nelas eu senti um grão da imensidão dos nossos desejos.
Arrisquei novamente, dessa vez ousando mordiscar seus lábios e fazendo uma sucção com os meus. A chama novamente ardia, mais intensa à medida que nossas bocas faziam aquela dança sensual. Nossos corpos seguiam o ritmo, embora todo nosso sistema estivesse desempenhando suas funções sem controle algum. Respirações pesadas, mãos trêmulas que deslizavam por nossas peles, corações acelerados…
Mais tarde naquela noite, essas mesmas sensações recém descobertas foram saciadas. Em meio à dor e ao prazer, o medo se esvaiu, dando lugar à uma estranha sensação de libertação quase mística. Pensei que nada nem ninguém fosse capaz de me fazer sentir isso algum dia. Acredito que essa é a crença dos amantes de primeira viagem.
Mas paixões são passageiras, descobri com o tempo; o amor não, o amor permanece, ainda que esquecido ou isolado em algum cantinho do seu ser. Durante anos, ruminei sobre a possibilidade dessa paixão ter sido meu nirvana, mesmo ela me fazendo viver desequilíbrios, dores, desordens. – Nirvana ou caos? – Foi então que em meio à milionésima lembrança, eu cheguei a conclusão que ela era meu meio-termo. Minha paixão estava situada entre esses dois pólos opostos. Uma metade. Uma metade que eu achava necessitar por não me sentir completa.
Minha primeira paixão foi uma espécie de ponto de equilíbrio. Mas eu não precisava de equilíbrio, eu necessitava derramar-me para fora das bordas.