Minha Primeira Paixão – Pedro HMC(Põe Na Roda)

Minha primeira vez se deu graças a tecnologia! Sou da primeira geração que tinha Internet já na adolescência e isso foi um divisor de águas para LGBTs, porque com a Internet, a gente conseguia através de sites, bate-papo e aplicativos, descobrir que no mundo também tinha muita gente como a gente! Imagino a dificuldade e solidão que muitos encontravam pra se entender antes disso…

Pois bem, eu tinha 16 anos e colocaram Internet em casa. Eu já me entendia gay mas era super enrustido pra todos, era um segredo meu. Na Internet eu conseguia encontrar e conversar com pessoas que sentiam o que eu sentia, e me sentia mais normal, foi fundamental no meu processo de auto-aceitação, algo fundamental antes da aceitação dos outros.

Uma dos contatos que fiz era um cara bem mais velho NA ÉPOCA pra mim com 16 anos. Ele tinha 28. E desde que começamos a conversar, primeiramente no chat do UOL e depois em aplicativos como ICQ e um outro que nem lembro o nome que possibilitava conversa por webcam, a gente sentiu algo muito forte, paixão mesmo.

Foram algumas semanas conversando e trocando mensagens secretas, e quando podíamos, escondido de madrugada ou sozinho em casa, ligava a webcam pra nos vermos. Ele a princípio dizia que jamais ficaria comigo a começar pela nossa grande diferença de idade, mas meu sentimento era muito forte e decidi insistir, até que percebi que ele sentia o mesmo.

Foi graças a essa paixão tão forte que eu deixei de achar problema ser gay. Minha preocupação não era mais “ser gay ou não”, mas “como vou fazer pra convencer esse cara por quem eu tô perdidamente apaixonado a ficar comigo? Ele um homem feito com a vida própria e eu um adolescente estudando no quarto da casa da minha mãe…

Quando ele se deu conta, também estava envolvido. E então combinamos de nos encontrar. Foi num restaurante na Paulista. Fui com o maior frio na barriga que já senti na vida. Sabia que a partir dali já era, que eu estava saindo do armário definitivamente ao menos pra mim mesmo temporariamente.

A gente ficou umas duas horas conversando e me lembro quando a gente se despediu e ele tocou minha nuca com a mão num abraço de despedida, o frio que percorreu toda minha espinha dorsal e a barriga. Nunca tinha sentido aquilo. Voltei pra casa ainda mais apaixonado.

Deu uma semana nos encontramos, desta vez na casa dele. E foi a minha primeira vez com um cara incrível e que acabamos namorando por 2 anos e meio.

Hoje, mais de 15 anos depois, temos pouco ou quase nenhum contato. Mas é uma história que eu vou guardar pra sempre, porque foi graças a uma primeira paixão tão forte que eu me entendi relativamente rápido como gay. E não queria mais que fosse de outro jeito…

Cada sensação do Elio na história ao olhar aquele “omão” do Oliver chegando, descreve exatamente muito do que eu senti. Foi demais rever e relembrar parte das minhas próprias memórias e sensações já vividas em uma obra tão delicada, sensível, verdadeira… incrível!