Sensibilidade

Dezembro de 2016, férias escolares, viajei com meus pais afim de esquecer os problemas do ano e refletir os acontecimentos recentes. Meu pai tinha um amigo que morava no local onde iríamos, ficamos na casa de hóspede dele e o dia seguinte conversamos sobre a nossa família e ele falou sobre a dele, deixou sair uma informação da filha que estava a chegar da casa da vó aquela tarde, mas eu não criei expectativas, era o que eu mais tinha que evitar.
Quando ela chegou, o senhor pediu para que nós fossemos comprimenta-la e não foi surpesa que eu me apaixonei perdidamente por aqueles olhos e rostinho bonito. O que eu mais queria era poder iniciar uma conversa, mas eu estava muito inseguro, eu era muito magro, gostava de coisas que nenhum garoto da minha idade curtia como ler, escrever e assistir aos clássicos em preto e branco.
Os dias se passaram e finalmente fomos nos conhecendo mais e mais, nossa amizade foi se intensificando e logo percebi que algo estava se formando. Eu comecei a me apaixonar perdidamente por ela, comecei a perceber detalhes que ninguém havia percebido, estava amando não ela como pessoa e sim como um ser pensante magnífico que a cada riso bobo dilacerava toda minha estrutura.
Naquele exato momento onde nós dois percebemos que um se via no outro, deixamos nosso amor enfim se juntar e ali finalmente surgiu algo incerto e improvável, estávamos só começando, eu dei todo o conforto que ela precisava e a confiança que ela nunca teve com outro garoto, comecei a perceber a mudança até do meu jeito de falar, andar e pensar. Deixei que ela construísse morada em mim e nos dias de chuva eu lia pra ela e tudo ficava cada vez mais intenso.
Eu sabia que ia sofrer, mais eu me permiti sofrer do que não vivenciar aquela paixão e em instantes eu orava para que aqueles minutos virassem horas, aqueles dias virassem meses e aquelas semanas anos. Eu me perdi no corpo dela, na sua estrutura e seu carater e ela se perdeu em mim e na minha forma de imaginar nós dois.
As vezes no silêncio daquelas últimas noites eu só queria poder voltar no passado e começar tudo de novo, a gente se conhecendo, achando coisas em comum e refletindo nossos lugares no mundo. Era como se tudo aquilo se resumisse em fragmentos das canções mais lindas do Oasis e “Equilíbrio Distante”, (Álbum de Renato Russo) e socos no estômago, porque por mais que aquilo fosse real nós não poderíamos esquecer de que que teria um fim e teve.
Quando voltei pra casa, meu corpo parecia ter desmoronado e toda solidão presa em mim veio à tona, eu sentia saudade do corpo dela, do cheiro dela, do seu jeito de gesticular, sentia falta dela, mais do que tudo. Meus pais perceberam isso e minha mãe foi a primeira a me dizer algo que eu nunva vou esquecer. “O homem sensível é o ser mais magnífico que existe na terra, e você é o filho mais magnífico que eu já pude ter a onrra de ser mãe”.
Foi naquele exato momento que eu percebi que toda nossa história não foi em vão, agora será a lembrança mais linda, o fragmento mais divino que um ser humano poderia ter, eu nunca vou esquecer da nossa memória juntos e todos os sentimentos, cheiros, cores e amores. Foi a odisséia mais linda que eu já tive com alguém, não um simples alguém, Ela, como um todo.