testeBig Little Lies: o que ficou de fora da série

*Por Luana Freitas e Nina Lopes

Para você que acabou de ver Big Little Lies na HBO e, assim como nós aqui na Intrínseca, não consegue parar de comentar sobre a série, fizemos uma breve comparação para mostrar que o universo da história é muito maior no livro da Liane Moriarty, o que torna tudo ainda mais interessante.

1- A violência contra Jane é mais detalhada

Já é tenso ver na tela a cena de violência sofrida por Jane, mas muitos detalhes ficaram de fora na adaptação para a série. Jane ainda sofre uma violência verbal que a deixa traumatizada e a faz adquirir novos hábitos. Por exemplo, ela corre com frequência porque foi chamada de gorda feiosa. Além disso, ela não foi parar naquela cidade por mero acaso e na cena final há um embate fortíssimo quando ela reencontra alguém indesejado do passado. Vale a pena ler o diálogo deles no livro!

2- A atitude de Bonnie na festa é bem mais contextualizada

Parem as máquinas! Essa foi minha maior decepção com a série. Como assim não explicam o que leva Bonnie a agir daquela forma na festa? A verdade é que ela guarda segredos cabeludíssimos sobre o seu passado e sua família e só os leitores de Pequenas grandes mentiras vão saber quais são!

3- Ed, o melhor marido

Achamos que nosso querido e amado Ed ficou um pouco bobo, com cara de coitado e mal-amado na série. Segura essa bomba: Madeline não trai Ed no livro. Pelo contrário, a personagem é construída de tal forma que uma atitude dessas seria inverossímil. Além disso, Ed não fica por aí lançando olhares megalascivos para outras mulheres. Porém, nem tudo está perdido para você que gosta de uma bela treta: há, sim, casos de infidelidade no livro. Mas envolve uma babá e o marido de uma mulher atribulada — e pancadaria generalizada.

4- Renata não faz as pazes com Jane até a festa, mas é a primeira a sair em defesa do grupo de mulheres

Levanta a mão quem achou estranho Renata e Jane conseguirem se entender assim tão de repente. Pois é, no livro as pazes não são feitas com tanta facilidade, rola muita treta ainda entre as duas até que a paz seja selada — e não é Jane quem corre atrás disso. Entretanto, é importantíssimo ressaltar que quem toma a iniciativa de selar o acordo de silêncio sobre o(a) responsável pela morte investigada pela polícia parte da executiva — sim, minha gente, a cena do assassinato é MUITO mais complexa do que vimos na tela (só digo que Ed e Nathan estavam no meio e foram soterrados de sororidade).

5- O leilão da virgindade de Abigail

Algo que ficou em segundo plano na série, mas é fundamental para a trama do livro foi a ideia de Abigail leiloar a própria virgindade em prol das vítimas de exploração sexual infantil. O diálogo de Madeline com a filha é muito mais histérico, cru e comovente do que a estapafúrdia confissão/argumento sobre a traição contra Ed. E Nathan, como qualquer pai na mesma situação faria, correu para falar com Madeline quando descobriu as intenções da filha. Ah, e é a solução surpreendente desse problema que leva a uma das cenas mais tensas da história!

6- O depois da festa: como cada personagem ficou

Muita gente se questionou por que não deixaram a série com mais episódios já que ficaram muitas pontas soltas após o capítulo final. Sim, a cena da praia com todas as mulheres reunidas transbordou delicadeza e entendimento, mas como todo mundo ficou? Jane correu atrás dos direitos de Ziggy depois que a identidade do pai do menino foi descoberta? Como Celeste tentou lidar com o trauma das agressões físicas? Jane ficou na cidade? E a relação conturbada de Madeline e Bonnie? A polícia descobriu quem foi o assassino? Isso tudo e muito mais é explicado no livro, nenhuma trama fica solta no ar.

7- Celeste vai fazer terapia sozinha

No livro Perry nem sonha que Celeste conversa com uma terapeuta. Na verdade, ela busca escondido uma profissional que trabalhe especificamente com vítimas de violência doméstica. Se você achou interessante o foco dado aos aspectos psicológicos da relação da vítima de agressão com o seu agressor, vai gostar de saber que no livro foi dado muito mais espaço para as consequências psicológicas que permeiam a vida de quem sofre bullying, quem é agredido fisicamente, quem se vê obrigado a guardar um segredo terrível.

Obviamente sempre que um livro serve de inspiração para o cinema e a TV haverá diferenças, já que cada meio tem sua linguagem e recursos próprios. Aqui na Intrínseca todos nós ficamos apaixonados pela maneira como a obra de Liane Moriarty foi trabalhada na série. Este texto é só para instigar os leitores que já estão morrendo de saudades de Madeline, Celeste e Jane a mergulhar ainda mais nessa trama e se deliciar com os pequenos grandes detalhes que ficaram de fora, mas estão logo ali no livro.

* Luana Freitas e Nina Lopes são editoras assistentes de livros estrangeiros na Intrínseca e adoram uma história de mistério com personagens femininas fortes.

testeNo fundo, somos apenas pais que sofrem e amam

A ONU estabeleceu 2 de abril como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. É uma data em que parentes de pessoas com autismo, terapeutas e interessados fazem campanhas informativas e caminhadas para tornar mais público o tema. Não foi diferente em 2017, principalmente porque caiu num domingo. Foi o início de uma semana de muitas atividades.

Como conto em Meu menino vadio: histórias de um garoto autista e seu pai estranho, sempre admirei a militância a distância, mas nunca consegui me engajar, por timidez e dificuldades de socialização — características afins ao meu filho Henrique, mas com as quais não o ajudo muito.

Não recusei, porém, o convite para participar, no dia 3, de uma mesa na abertura dos eventos da Semana de Conscientização do Autismo realizados pelo Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro. A instituição tem um ótimo e constante trabalho na área. Participaram duas respeitadas terapeutas ligadas ao método Floortime, Adriana Fernandes e Roberta Caminha, e a atriz Tatiana Henrique, mãe de Apolo. Ele estava no auditório, muito educado e afetuoso.

Depois da fala comovente e contundente de Tatiana, desmoronei. Não consegui me expressar direito, chorei, fui alguém diferente do narrador um tanto cruel que aparece no livro — que é pouco afeito a sentimentalismos, embora emotivo em vários momentos.

Relato isso para dizer que, no fundo do jornalista, do autor de livros, do entrevistado sobre autismo, está o pai inseguro, que quer o melhor para o filho, mas não tem as respostas. É uma procura permanente, com algumas alegrias, mas sofrida.

Ouvindo Tatiana e olhando nos olhos de outros pais e mães que estavam na plateia, senti um misto de proteção e desalento que derreteu minha falsa carcaça de durão. Cada um lida do seu jeito com os autistas que amamos — escrevendo, militando, cuidando. Embora por vezes pareçamos fortes, somos vulneráveis e precisamos de ajuda.

Tentarei estar mais próximo de pessoas que vivem situações semelhantes à minha. Seria bom que muito mais gente se apegasse ao assunto e trabalhasse para um mundo mais tolerante e acolhedor para os autistas. Nossos filhos, e os que ainda virão, merecem.

testeA conexão secreta entre a Igreja Católica e o fascismo

Desafiando a narrativa histórica convencional que retrata a Igreja Católica como forte opositora do regime fascista, David I. Kertzer revela em O papa e Mussolini, livro vencedor do Prêmio Pulitzer de Biografia, como o papado de Pio XI foi crucial para que Mussolini instaurasse sua ditadura e se mantivesse no poder.

Após uma rigorosa investigação, que envolveu sete anos de estudo de relatórios dos espiões de Mussolini na Santa Sé e dos arquivos secretos do Vaticano, abertos em 2006, David I. Kertzer comprova como a aliança entre a Santa Sé e o “Duce” garantiu à Igreja a restauração de posses e privilégios na Itália. Chamado pelo próprio papa como “Homem enviado pela Providência”, Mussolini instaurou um regime que tornou possível, entre outros exemplos, o histórico Tratado de Latrão, que encerrou a separação entre o moderno Estado italiano e a Igreja Católica. O acordo assegurou o catolicismo como a “única religião do Estado”, delimitou as fronteiras da Cidade do Vaticano — determinada também como território soberano — e estabeleceu que a Itália pagasse o equivalente a um bilhão de dólares americanos (em valores de 2013) para que, em troca, a Santa Sé desistisse de todas as reivindicações relativas à perda de territórios durante a unificação italiana.

Como 99% dos italianos eram católicos, não foi difícil para a Santa Sé garantir que sua influência protegesse o regime aliado. A Ação Católica, organização laica da Igreja presente em todo o país, trabalhou em estreita colaboração com as autoridades fascistas para aumentar o alcance repressivo da polícia. Longe de se opor ao tratamento aos judeus como cidadãos de segunda classe, a Igreja forneceu a Mussolini apoio para a adoção de medidas severas, como um acordo secreto entre o Vaticano e o ditador para evitar qualquer crítica às infames “leis raciais” antissemitas, em troca de privilégios às organizações católicas.

Além da farta documentação, O papa e Mussolini apresenta uma vívida biografia de dois homens que chegaram ao poder em Roma no mesmo ano e que, juntos, mudaram o curso da história. Em diversos aspectos, Pio XI e o “Duce” não poderiam ser mais diferentes. No entanto, tinham muito em comum. Não acreditavam na democracia e abominavam o comunismo. Eram propensos a ataques de cólera e protegiam com todas as forças as regalias dos cargos que ocupavam.

Impactante e dramática, a obra que chega às livrarias a partir de 11 de abril traz uma visão cruelmente verdadeira sobre um capítulo obscuro da história mundial, narrada com extrema perícia e com deliciosos detalhes sobre a ampla rede de espiões de Mussolini na Santa Sé, as intrigas e os escândalos tanto nas relações extraconjugais do Duce quanto dentro do Vaticano e as particularidades de duas importantes figuras históricas.

>> Leia um trecho de O papa e Mussolini

testeLançamentos de abril

Confira as sinopses dos lançamentos do mês: 

Somos guerreiras: Uma história de dor, amor e autodescoberta, de Glennon Doyle MeltonGlennon  é a mulher que talvez você conheça, a vizinha, a colega, a irmã de um amigo. Talvez seja você. É uma mulher que passou pelo que muitas passam — um casamento fracassado, luta pela bulimia e alcoolismo, infância difícil —, mas que decidiu falar abertamente sobre suas experiências e redefinir para si mesma o que é ser mãe, esposa e mulher.

Foi a partir dessa decisão que ela criou uma comunidade on-line e escreveu esse relato inspirador selecionado por Oprah Winfrey para fazer parte de seu Clube do Livro. Glennon conta não só a própria jornada, mas a guerra diária travada pela mulher que busca simplesmente ser quem ela é.

O papa e  Mussolini: A conexão secreta entre Pio XI e a ascensão do fascismo na Europa, de David I. Kertzer — Vencedor do Prêmio Pulitzer na categoria biografia em 2015, o livro revela de forma inédita o papel da Igreja Católica no regime fascista. Vívida e dramática, a obra traz uma visão cruelmente verdadeira sobre um capítulo obscuro da história mundial, documentada e narrada com extrema perícia.

Uma pergunta por dia para mães — O livro diário que virou febre ganha agora uma edição especial exclusiva para as mães. Mais do que um álbum de fotos, mais do que um tradicional livro do bebê, é um instrumento perfeito para registrar cada momento da experiência, aprendizado, descoberta e autoconhecimento na qual a mulher embarca ao ser mãe. 

Vovô deu no pé, de David Walliams — Jack tem doze anos e sua pessoa preferida no mundo inteiro é o avô. Vovô foi piloto durante a Segunda Guerra Mundial, e até hoje o que mais gosta de fazer é falar sobre aviação. 

Mas nos últimos tempos, vovô tem estado confuso e esquecido. Por isso, para evitar mais trapalhadas, os pais de Jack decidem internar o vovô em um lar para idosos muito esquisito e com enfermeiras sinistras. Jack então decide embarcar na maior aventura de sua vida para salvar o avô. [Leia um trecho]

Antes que eu vá, de Lauren Oliver — A inusitada história de Samantha Kingston, uma garota que achava que levava uma vida perfeita até ter que reviver o dia de sua morte sete vezes, deu origem a um dos filmes mais aguardados do ano. Para comemorar a estreia nos cinemas, o livro ganha agora uma edição especial com conteúdo inédito e capa inspirada no pôster do filme. [Leia um trecho]

Como se tornar um campeão, de Márcia Vieira — Adriano de Souza, mais conhecido como Mineirinho, teve uma infância difícil numa favela do litoral paulista. Criado na pobreza e  baixinho, ele conseguiu superar suas limitações, colecionar títulos e se transformar em um ídolo do surfe. No livro, a jornalista conta a história inspiradora desse atleta que teve que lidar com todas as dificuldades até chegar à elite do esporte. [Leia um trecho

Sprint: O método usado no Google para testar e aplicar novas ideias em apenas cinco dias, de Jake Knapp, John Zeratsky e Braden Kowitz: O livro apresenta o método criado pelo designer Jake Knapp, no período em que ele trabalhava no Google, que tem como objetivo desenvolver e testar ideias em apenas cinco dias. Sprint serve para equipes de todos os tamanhos, de pequenas startups até os maiores conglomerados, e pode ser aplicado por qualquer um que tenha uma grande oportunidade, problema ou ideia e precise começar a trabalhar já. [Leia um trecho]

 Ruby, de Cynthia Bond A obra apresenta a vida de uma jovem que, depois de passar por sofrimentos inimagináveis durante a infância, decide fugir de sua cidadezinha no sul dos Estados Unidos para recomeçar a vida em Nova York nos anos 1950. Porém, um telegrama urgente a faz voltar para casa, forçando-a a reencontrar pessoas do passado e a reviver momentos perturbadores.

Ruby conquistou elogios do público, da crítica e de personalidades como Oprah Winfrey, que selecionou a obra para o seu Clube do Livro. [Saiba mais]

Bem vindo à vida real, de Christian McKay Heidicker — Jaxon passa o seu tempo livre na frente do computador jogando videogame. Até que um dia, quando sai para levar o carro do pai a um lava jato, ele conhece Serena e consegue garantir seu primeiro encontro com uma garota de carne e osso. Só que ele não imaginava que seria levado minutos depois para uma clínica de reabilitação para gamers. [Leia um trecho]

Antes da queda, de Noah Hawley Eleito um dos melhores livros de 2016 pelo The New York Times, o thriller assinado pelo roteirista da série Fargo conta a história de um jatinho particular que cai no oceano com onze passageiros. Os únicos sobreviventes são Scott Burroughs, um pintor desconhecido e fracassado, e J.J., um menino de quatro anos, filho de um magnata milionário do ramo das telecomunicações. A riqueza e o poder de parte dos passageiros despertam as teorias mais variadas sobre a queda.[Leia um trecho]

testeJojo Moyes vem ao Brasil em maio!

Sim! Jojo Moyes, a escritora britânica que encantou e levou milhões de leitores às lágrimas, virá em maio ao Brasil. A autora de Como eu era antes de você, livro mais vendido no país em 2016, fará dois eventos na Saraiva restritos a 200 fãs cada, um no Rio de Janeiro e outro em São Paulo.

Durante sua temporada em território brasileiro, Jojo vai autografar nos dias 8 e 9, respectivamente, no Rio e em São Paulo. Mais detalhes sobre como participar dos eventos serão divulgados em breve!

Com dez livros lançados no país — sendo o mais recente, de fevereiro deste ano, a coletânea Paris para um e outros contos —, a escritora é best-seller internacional e presença constante nas listas de mais vendidos dos veículos nacionais. O sucesso da autora entre os brasileiros gerou tanta repercussão que foi destaque em matérias na edição deste ano da Bookseller, a revista diária da Feira do Livro de Londres. Só no Brasil, Jojo já vendeu mais de dois milhões de exemplares; ao redor do mundo, a soma ultrapassa a marca de 29 milhões.

No início de março, a autora anunciou mais uma novidade: em 2018, sai o terceiro título sobre Louisa Clark, a protagonista de Como eu era antes de você e da sequência Depois de você. Desde 2001, após atuar por mais de uma década no meio jornalístico, Jojo se dedica exclusivamente à carreira de escritora e hoje é um dos poucos autores a ter emplacado três livros ao mesmo tempo na lista de best-sellers do The New York Times.  Seus títulos publicados no Brasil são A última carta de amor, A garota que você deixou para trás, Baía da Esperança, Como eu era antes de você, Depois de você, Nada mais a perder, O navio das noivas, O som do amor, Paris para um e outros contos e Um mais um.

testeComo derrubar um presidente: 11 pontos sobre o golpe de 1964

Em A ditadura envergonhada, Elio Gaspari reconta como a derrocada de um presidente democraticamente eleito levou o país ao período político mais sombrio de sua história

Por Thadeu C Santos*

Jango no comício da Central, ao lado da primeira-dama Teresa Goulart, em 13 de março de 1964 (Jornal do Brasil)

João Goulart (1961-1964), o Jango, assumiu a Presidência da República em 7 de setembro de 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto, depois de apenas alguns meses no poder. Na eleição que os sancionou, no ano anterior, a escolha do presidente e de seu vice foi decidida em eleições separadas, conforme legislação vigente. Jânio venceu a corrida presidencial utilizando na campanha uma vassoura; Jango sagrou-se o vice que, de acordo com os seguidores do novo presidente, encarnava o lixo a ser varrido.

Houve muita resistência a que Jango assumisse o poder, mesmo tendo sido eleito democraticamente. O conflito entre o presidente, parte da classe política, da sociedade civil e militar, além da pressão da elite por uma solução para a crise econômica, levou o país a um período de instabilidade. Em A ditadura envergonhada, primeiro livro da Coleção Ditadura do jornalista Elio Gaspari, o autor conta como a crise política do governo janguista e a articulação civil-militar que tramou sua derrubada levaram ao golpe militar de 1964. A partir de então, direitos foram suprimidos, as torturas foram elevadas à condição de política do Estado e a censura à imprensa tornou-se oficial. A seguir, alguns pontos sobre o que aconteceu na noite de 31 de março de 1964.

 

1 – UM PRESIDENTE COMUNISTA?

Jango discursa em sua visita diplomática à China comunista, em 1961 (fonte: CPDOC FGV)

Em 1961, quando Jânio renunciou, Jango visitava a China comunista. Jânio usara a renúncia para provocar na sociedade um clamor em torno de seu nome que, assim planejava, o fortaleceria para se manter na Presidência. Não funcionou. Em plena Guerra Fria, Jânio já havia condecorado “Che” Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana, e a aproximação com a China alimentou boatos de que ele e seu vice se inclinariam ao comunismo. Elio Gaspari conta que Jango só assumiu porque aceitou, “depois de uma crise em que o país esteve perto da guerra civil, uma fórmula pela qual se fabricou um humilhante regime parlamentarista, cuja essência residia em permitir que ocupasse a Presidência desde que não lhe fosse entregue o poder”.

 

2 – JANGO REASSEGURA O PODER PRESIDENCIAL

Capa do Última Hora anuncia a vitória do presidencialismo no plebiscito de 1963 (fonte: Última Hora)

O regime parlamentarista, cujo primeiro-ministro era Tancredo Neves, limitou drasticamente a ação do presidente. Em 1963, porém, Jango recuperou os poderes presidenciais em um plebiscito em que o presidencialismo (com 9,5 milhões de votos) venceu o parlamentarismo (com 2 milhões).

 

3 – PRESIDENTE ESTANCIEIRO

Primeira visita de Fidel Castro ao Brasil, em 1959, ao lado do presidente JK e seu vice, Jango, no Palácio Laranjeiras, no Rio. À esquerda, o chanceler Negrão Lima (fonte: Agência O Globo)

De acordo com Elio Gaspari, Jango foi “um dos mais despreparados e primitivos governantes da história nacional”. Sua força política provinha da máquina da Previdência Social e das alianças estabelecidas com a esquerda no controle dos sindicatos. Era dono de grandes terras em São Borja (RS) e de um rebanho de 65 mil animais. “Movia-se no poder por meio daqueles sistemas de recompensas e proveitos que fazem a fama dos estancieiros astuciosos.” Após a consolidação de seu governo, a oposição dos militares se tornou majoritária.

 

4 – JANGO CONTRA-ATACA

Jango discursa no comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, ao lado da primeira-dama Teresa Goulart (fonte: CPDOC JB)

No contra-ataque, Jango chegou a tentar um golpe, que, sem o apoio da esquerda, frustrou-se. Guinou então o governo em sua direção, anunciando grandes reformas de base. Em 13 de março, num comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, assinou dois decretos. “Um desapropriava as terras ociosas das margens das rodovias e açudes federais. Outro encampava as refinarias particulares de petróleo. No palanque, o líder do governo no Senado disse que ‘se o Congresso Nacional não aprovar as reformas, perderá sua identidade com o povo’. Era um governo em crise, com a bandeira das reformas hasteada no mastro da intimidação”, avalia Elio Gaspari.

 

5 – MILITARES NA RETAGUARDA

Capa do Jornal do Brasil de 14 de março de 1964, noticiando o comício da Central (fonte: Jornal do Brasil)

No discurso de 13 de março, o ministro da Guerra, general Jair Dantas Ribeiro, que apoiava Jango, foi “cumprimentá-lo à saída do palanque do comício”. Elio Gaspari ressalta que “não havia comando importante em mãos duvidosas”. Mesmo após o comício, o general Costa e Silva, um dos futuros presidentes do regime, sentia o peso da articulação pró-Jango. Elio Gaspari conta que “num encontro em que Cordeiro de Farias o convidou para botar a tropa na rua [contra Jango], [Costa e Silva] reagiu: ‘Você está maluco? Nós não podemos fazer nada’”.

 

6 – DAR O GOLPE OU SER GOLPEADO

Com parcos apoios, Jango tentou costurar saídas para a crise política, como a que envolveria sua reeleição (artifício não previsto na Constituição). “Se o golpe de Jango se destinava a mantê-lo no poder, o outro se destinava a pô-lo para fora. A árvore do regime estava caindo, tratava-se de empurrá-la para a direita ou para a esquerda.”

 

7 – AS REFORMAS DE BASE NO OLHO DO FURACÃO

As reformas de base, contrárias aos interesses da elite econômica e política, contribuíram para intensificar a polarização política que dividia o país entre esquerda e direita e acentuar drasticamente a crise.

                                                                                                               

8 – CONSERVADORES NAS RUAS E NO CONGRESSO

Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, em 19 de março de 1964, São Paulo (fonte: Agência O Globo)

Elio Gaspari menciona que o conservadorismo paulista respondeu “ao comício do dia 13 com uma Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em que se reuniram perto de 200 mil pessoas com faixas ameaçadoras (‘Tá chegando a hora de Jango ir embora’) e divertidas (‘Vermelho bom, só batom’)”. O Congresso, de ampla maioria conservadora, dava demonstrações de que não ia aderir aos projetos de reforma janguistas.

 

9 – ANTICOMUNISMO

Tanques ocupam as ruas do Rio de Janeiro em 1º de abril de 1964 (fonte: Agência O Globo)

Elio Gaspari relata que, à direita, não havia “bases definidas” para o golpe, “mas havia uma senha. Ela seria qualquer ato de força do governo [Goulart], quer contra o Congresso, quer contra os governadores que lhe eram hostis”. Elio Gaspari relembra que “o anticomunismo da roda do pensamento conservador era uma mistura de medo real com uma espécie de industrialização do pavor, a fim de permitir que bandeiras simplesmente libertárias ou reformistas fossem confundidas com o ‘perigo vermelho’”.

 
10 – DOUTRINA DE SEGURANÇA NACIONAL

Primeiro presidente da ditadura militar, o general Castello Branco tomou posse em 15 de abril de 1964. Subiu a rampa do Palácio do Planalto ladeado por Ranieri Mazzilli e pelo general Ernesto Geisel (fonte: Agência O Globo)

Em 31 de março de 1964, todas as tentativas de resistência de Jango se esgotaram. Naquele momento, “para que o presidente vencesse, (…) era indispensável que se atirasse num último lance de radicalismo, límpido, coordenado e violento. (…) Precisaria golpear o Congresso, intervir nos governos de Minas Gerais, São Paulo e Guanabara, expurgar uma parte da oficialidade das Forças Armadas, censurar a imprensa, amparar-se (…) na sargentada e na máquina sindical filocomunista”. Em suma, para salvar seu mandato, Jango teria que provocar “tamanha mudança no poder que, em última análise, (…) tanto o governo (pela esquerda) como os insurretos (pela direita) precisavam atropelar as instituições republicanas”.

 

11 – GOLPE MILITAR

Tanques ocupam a Explanada dos Ministérios, em abril de 1964 (fonte: Agência O Globo)

O suposto contragolpe de Jango não aconteceu. Para Elio Gaspari, faltava ao presidente uma personalidade à altura do enfrentamento: “Não era um covarde, mas se habituara a contornar os caminhos da coragem.” Além disso, “nenhuma força à esquerda do presidente tomou iniciativa militar relevante durante o dia 31”. A imobilidade de Jango e a inação da esquerda tornaram o golpe inevitável, decidido, em seus pormenores, no calor do momento. “Nas altas horas da noite de 31 de março o golpe tinha uma bandeira: tirar Jango do poder, para combinar o resto depois.” A rebelião militar que depôs Jango sequestrou a democracia brasileira por 21 anos.

 

Thadeu C Santos, 29 anos, é editor freelance.

testeConfira a edição especial de Antes que eu vá com nova capa e conteúdo extra

A inusitada história de Samantha Kingston, uma garota que achava que levava uma vida perfeita até ter que reviver o dia de sua morte sete vezes (é isso mesmo!), está chegando aos cinemas!

Inspirado no romance de Lauren Oliver, Antes que eu vá estreia em 18 de maio no Brasil e será protagonizado por Zoey Deutch (Vampire Academy).  Dirigido por Ry Russo-Young, a produção conta com a participação de Halston Sage (Lindsay), Kian Lawley (Rob), Logan Miller (Kent), Cynthy Wu (Ally), Elena Kampouris (Juliet Sykes) e Medalion Rahimi (Elody) no elenco.


 
Para celebrar o lançamento do filme, a edição especial do romance chega às livrarias a partir de 28 de abril com capa inspirada no pôster do filme, dois contos inéditos que exploram a vida de Samantha antes dos acontecimentos do livro e uma entrevista da autora com a diretora e a protagonista da adaptação.

>> Mergulhe na história de Antes que eu vá (com playlist)

testeDe Sandman à Mitologia Nórdica

Por Bruno Machado*

Sandman, Gaiman e o Martelo de Thor (Fonte)

Não é de hoje que as pessoas procuram explicar o que não compreendem por meio dos deuses. Se os céus demonstravam sua fúria com raios e trovões, os gregos acreditavam ser culpa de Zeus, enquanto os escandinavos apontavam o brutamontes Thor como responsável pela bagunça. Ao longo dos séculos, as divindades que surgiam — ou eram descobertas, dependendo da sua crença — se mostravam seres complexos, com relações e disputas internas, e suas sagas inspiravam pessoas por todo o mundo.

Quando dois quadrinistas, Jack Kirby e Stan Lee, decidiram que as brigas, birras e dramas de Valhala dariam um excelente quadrinho capitaneado pelo agora loiro, musculoso e usuário de capacete com asinhas Thor, não faziam a menor ideia do impacto que essas histórias fariam na vida de um menino de sete anos que morava no interior da Inglaterra: Neil Gaiman. Um voraz consumidor de literatura fantástica e quadrinhos desde criança, Gaiman viu que a carreira no jornalismo não era exatamente o que buscava, e começou a trabalhar como roteirista das histórias em quadrinhos que tanto lia na juventude.

Se Lee e Kirby reimaginaram os deuses nórdicos, ele faria o mesmo com Sandman, e alcançaria o sucesso ao repensar como o Sonho e as demais entidades conhecidas por Eternos interagiam com os mundos e personagens das mais diversas origens. Lúcifer, por exemplo, é um príncipe frustrado, que quer abdicar de seu domínio no submundo. Interessados dos mais diversos lugares aparecem, e entre eles uma comitiva um tanto peculiar: as divindades nórdicas, que querem o inferno como território para usar de barganha e evitar o Ragnarök, o fim do mundo nórdico. O estranhamento se dá quando percebemos que os deuses de Gaiman não são como a cultura pop nos mostrava: Thor não é um paladino da justiça, loiro e eloquente, e sim  uma divindade ruiva e grosseira; Odin não é apenas sábio, e sim uma criatura soturna e estranha. Loki é o mais próximo da ideia que tínhamos do personagem, ardiloso e egoísta, mas é curioso ver o deus da traição como parte dos deuses, e não seu inimigo.

Os Deuses Nórdicos na visão da Marvel e como eles são retratados em Sandman.

Esse relacionamento de Gaiman com os deuses nórdicos foi fundamental para a sua obra. Em seu livro mais conhecido, Deuses americanos, Odin continua como líder e responsável por arquitetar seus planos por trás dos panos. Ao se mudar para os Estados Unidos, o escritor começou a imaginar um universo no qual divindades tivessem ido para o país junto dos primeiros colonos, divindades que só permaneceriam vivas enquanto houvesse gente que as louvasse.

No livro, o grande plano de Odin é vencer novas divindades, como a Tecnologia e Mídia, e manter os deuses antigos relevantes em um mundo que aparentemente os esqueceu. Para ajuda-lo nessa batalha entre os deuses, Odin conta com a ajuda de um humano comum, que é trazido para uma jornada épica pela América e testemunha o maior conflito da história. Falar mais sobre a participação das divindades nórdicas em Deuses americanos é entrar na zona de spoilers, mas os leitores mais atentos descobrirão que nomes podem esconder mais do que se imagina.

Uma carreira de sucessos literários depois, era hora de o autor prestar tributo aos mitos escandinavos em uma obra exclusiva. Em Mitologia nórdica, os heróis e a fantasia dão lugar à pesquisa histórica.

Alternando histórias sombrias e divertidas, Neil Gaiman mostra por que os mitos escandinavos são tão fascinantes. Com histórias que variam do casual ao épico, os contos vão desde a criação do martelo Mjolnir — e a “culpa” que Loki teve na criação da arma mais poderosa dos nove mundos –, à origem absurda da poesia, ou ao dia que Thor se vestiu de noiva para fingir ser a deusa Freya.

Segundo Gaiman, porque têm um final no Ragnarök e um recomeço, os mitos nórdicos são, de certa forma, mais vivos: os mitos gregos e romanos são estáticos, sempre no mesmo ponto, sem nunca se desenvolverem ou terem um fim.  É possível se perguntar se o crepúsculo dos deuses já aconteceu, ou se Thor ainda está martelando gigantes por aí. E é essa peculiaridade que chamou a atenção de um menininho de sete anos, que levou consigo essa paixão até que pudesse, quase quarenta anos depois, prestar a devida homenagem aos mitos nórdicos.

Deixe-se encantar pelos deuses nórdicos de Gaiman você também.

 

*Bruno Machado é assistente de Marketing, Nerdices e Redes Sociais na Intrínseca

testeAntes e agora: os mistérios de Quem era ela

No thriller Quem era ela, Emma e Jane queriam uma nova vida e viram na mudança para uma casa inusitada em Londres a possibilidade de tê-la. Elas se depararam com inúmeros segredos por trás daquelas paredes e viveram situações ameaçadoras até desvendarem todos os mistérios escondidos ali.

Carol e Nina são duas meninas de setores diferentes da Intrínseca que trabalharam no livro. Elas se uniram para dividir suas experiências e comentar sobre os processos de antes e depois da publicação dessa obra.

 

ANTES: NINA
Oi, gente! Eu sou a Nina, trabalho no departamento editorial da Intrínseca e adoro ler romances e thrillers. Quanto mais amor e mistério melhor! E fui a pessoa responsável por cuidar da preparação do texto do mais novo thriller da editora: Quem era ela.

AGORA: CAROL
Oi! Sou a Carol, trabalho no marketing e, assim como a Nina, adoro thrillers! Eu participei da elaboração da campanha de divulgação do livro, depois que ele já estava quase pronto para ser distribuído nas livrarias.

Kit de divulgação. [Foto: Leitora Compulsiva]

ANTES: NINA
Eu lembro que, quando recebemos a informação da compra do livro pela Intrínseca, o pessoal do setor de aquisições estava muito animado. Mas eu não me convenço assim tão fácil! Quando comecei a trabalhar no texto traduzido, fui com pouca expectativa, mas, ó: se me pedissem para recomendar um único livro de suspense para alguém, com certeza seria esse! A história é tão surpreendente e bem construída, que é preciso ler de cabo a rabo. Não seja o apressadinho que pula algumas páginas aparentemente pouco importantes: há revelações em cada parte do livro, inclusive no prefácio e nos agradecimentos. #ficaadica

AGORA: CAROL
Verdade! Depois que o livro é traduzido, revisado e entra na programação de lançamento, nós, do marketing, sempre fazemos uma reunião mensal para decidir quem ficará responsável por cada campanha. Quando li a sinopse e vi o booktrailer de Quem era ela, logo pedi para ler e participar. A história me intrigou muito! Conforme ia avançando na leitura, fiquei encantada com a criação e o desenvolvimento das duas personagens principais, Emma e Jane.

ANTES: NINA
E o que mais me encantou na história foi a duplicidade dessas mulheres. Duas personagens com personalidade e estilo de vida tão diferentes que acabam enfrentando os mesmos fatos inusitados no mesmo lugar: a casa minimalista e cercada de mistério de um arquiteto renomado em Londres. Jane, a atual moradora, precisa correr contra o tempo para descobrir a verdade sobre o destino trágico de Emma, a antiga residente, antes que tenha um desfecho similar. É preciso montar as peças de um grande enigma para saber quem era ela e ter a chance de escapar.

AGORA: CAROL
Nina só se esqueceu de dizer que o arquiteto e proprietário da casa, Edward, parece bastante com um personagem que ela adora, né?! (Christian Grey, gente!)

Ele é controlador e, além de fazer os candidatos a inquilino preencherem uma ficha com um monte de perguntas bizarras, os moradores que passassem pela avaliação dele teriam que abdicar de inúmeros objetos, como livros, móveis e todo tipo de decoração para viver a experiência de morar naquela casa da Folgate Street.

ANTES: NINA
Menina, é aí que mora o charme da história. Imagina colocar alguém parecido com Christian Grey numa casa misteriosa com mulheres cheias de segredos? Melhor ideia de todas! Só lendo para descobrir o que pode acontecer.

Além disso, nossa edição está linda, quebramos muito a cabeça para pensar no melhor título para esse livro, a Carol e a equipe do marketing criaram uma campanha incrível e agora estou doida para saber a opinião dos leitores!

AGORA: CAROL
Nós queríamos tanto aguçar a curiosidade de vocês, que criamos um questionário, bem semelhante ao do livro, com perguntas para verificar se os leitores estavam aptos a encarar nosso novo thriller. Todo mundo ficou enlouquecido e deu super certo! Depois que divulgamos a resposta de “Que livro é esse?!”, a recepção foi LINDA nas redes sociais e com nossos blogueiros! <3 Também, né? Como não amar e se envolver com Quem era ela?

Agora resta só saber a opinião de vocês. Contem pra gente! Eu e Nina vamos amar saber.

Beijos e até a próxima!

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