testeO silenciamento dos inocentes: o Hospital Colônia e os manicômios italianos no vintênio fascista

Por Isa Discacciati*

Antônio Gomes da Silva é um dos sobreviventes do Hospital Colônia de Barbacena e teve sua história revelada pela extensa pesquisa da jornalista Daniela Arbex no livro Holocausto brasileiro. Enquanto Cabo — apelido de Antônio — vagava nu e mudo pelo pátio do Pavilhão Afonso Pena, duas meninas brincavam em um clube campestre, a poucos quilômetros dali, em meio à sombra dos eucaliptos e ao barulho dos passarinhos, símbolos da liberdade. Uma dessas meninas era minha irmã, a outra era eu, nascidas nos anos de 1980 e 1981, respectivamente.

Nessa época, Cabo já estava no Colônia havia onze anos. E enquanto nós brincávamos, estudávamos, vivíamos nossas primeiras aventuras adolescentes e partíamos da gelada cidade do interior para estudar na capital, ele, que com seu apelido irônico podia dar voz de prisão, continuava encarcerado. Quando saiu do Colônia, em 2003, eu tinha acabado de me formar em comunicação, aos 22 anos.

Cabo passou 34 anos apartado do convívio social. Sua rotina incluía terapia de eletrochoque e excluía toda atividade que proporcionasse a cura da qual ele nunca precisou. Assim como 70% das pessoas internadas no Colônia, não tinha qualquer diagnóstico de doença mental.

O grupo dos indesejáveis sociais que eram enviados ao Colônia abarcava miseráveis, negros, prostitutas, militantes políticos, homossexuais, alcoólatras, epilépticos, jovens grávidas (muitas vezes vítimas de estupro), crianças com deficiências físicas que envergonhavam os pais e qualquer indivíduo que fugisse aos modelos sociais da época. Uma época que, infelizmente, durou muito. E que fez pelo menos 60 mil vítimas. 

Nós não sabíamos o que acontecia por trás daqueles muros, mas convivíamos incomodados com um título que também nos pertencia. A concentração de hospitais psiquiátricos, justificada pelo clima propício, fez com que Barbacena ficasse conhecida como a Cidade dos Loucos, nome que contrastava com seu outro título, o de Cidade das Rosas. Rosas que muitas vezes eram plantadas nos canteiros do município pelos próprios internos do Colônia, designados para trabalhos braçais (sem nenhuma remuneração) pela prefeitura da cidade.

E foi assim que conhecemos alguns dos sobreviventes do holocausto. Vestidos com o famoso azulão, eles vagavam por Barbacena, capinando jardins, consertando o asfalto, recebendo olhares curiosos ou repulsivos e alimentando nossas fantasias infantis.

As denúncias que apontavam a superlotação, as péssimas condições de higiene e as acomodações inadequadas responsáveis pelas mortes por frio e fome no Colônia só ganharam força na voz de Franco Basaglia. O médico italiano, símbolo da humanização nos modelos de atendimento nos hospitais psiquiátricos, esteve em Barbacena em 1979, um ano depois da assinatura da Lei 180, na Itália, que ficou conhecida como Lei Basaglia. Promulgada durante a gestão de Tina Anselmi, primeira mulher a ocupar um cargo de ministra no país, a lei pioneira dispunha sobre a reforma psiquiátrica e determinava o fechamento dos manicômios.

Desconcertado após a visita, Franco Basaglia comparou o Hospital Colônia a um campo de concentração. Mas a imagem do holocausto denunciada pelo italiano em Barbacena, em 1979, reproduzia parte da realidade vista em seu país durante o vintênio fascista (1922-1943).

Em uma tarde de primavera, visitei o Museo del Manicomio, na ilha de San Servolo, em Veneza. Assim como no Museu da Loucura, de Barbacena, o acervo suscita inquietação. Algemas, camisas de força, aparelhos de eletrochoque e muitas imagens de seres humanos marginalizados. No mesmo local onde funciona uma fundação que leva o nome de Basaglia estão reunidos milhares de documentos que atestam que o holocausto psiquiátrico não foi exclusividade do Colônia. Entre os documentos, estão as cartas de uma mulher endereçadas a um homem importante, e uma delas diz: “Enquanto estou longe, prisioneira em um vulgaríssimo manicômio, submetida à fome, às torturas, a ultrajes inimagináveis, tomada pelo desespero, você se cala.”

 

O fascismo e os hospitais psiquiátricos: a história de Ida Dalser 

O regime totalitário de Benito Mussolini teve grande influência na dinâmica dos hospitais psiquiátricos. Por um lado, garantia a manutenção dos ideais fascistas, prendendo nos manicômios as mulheres que não correspondiam à imagem de esposa e reprodutora virtuosa da raça italiana. Por outro, silenciava entre os muros dos hospícios seus opositores, reprimindo o dissenso político. Uma pesquisa feita pelo historiador Matteo Petracci, a partir de documentos do Arquivo Central do Estado Italiano, levantou o nome de 475 antifascistas internados em manicômios italianos. Cento e vinte e dois deles morreram dentro dos hospitais.

Em M, o filho do século, obra que faz uma profunda análise da ascensão do regime fascista, o autor Antonio Scurati cita um nome emblemático, apesar de pouco conhecido, que esteve no centro da repressão fascista nos manicômios. Ida Dalser foi a primeira mulher de Benito Mussolini. Poliglota, autônoma, empreendedora e inteligente, abriu um salão de beleza em Milão, em 1913, e começou uma relação amorosa com o Duce, com quem teve um filho, em 1915, Benito Albino. Dalser apoiou incondicionalmente Mussolini no início da carreira e chegou a vender o salão para financiar sua atividade política.

Sua vida sofreu um revés quando Mussolini a abandoou e se casou com Rachele Guidi. A partir daí, Dalser começou uma batalha pelo reconhecimento de seus direitos, escrevendo cartas a autoridades, perseguindo Mussolini em eventos públicos e ameaçando a imagem dele.

A política repressora do regime totalitário definiu o destino de Ida Dalser respaldada pela legislação da época, que se baseava em dois pressupostos para a internação em hospícios: a periculosidade social e o escândalo público. Ida era uma peça incômoda e uma mancha na biografia de Mussolini, que propagava valores conservadores de devoção e respeito à família.

Depois de perseguida e vigiada, a mulher secreta do Duce foi reclusa no manicômio da cidade de Pergine, onde continuou escrevendo cartas que contavam detalhes de sua história. Em 1926, ela deu entrada no manicômio feminino da ilha de São Clemente, em Veneza, onde foi sujeita a procedimentos como hidroterapia (banhos quentes e gelados alternados), terapia do sono, alimentação forçada com sonda e métodos violentos de contenção. Ida morreu em dezembro de 1937, aos 57 anos, sem ter revisto o filho. Benitinho, que fora reconhecido formalmente pelo pai em 1916 ¾ com quem jamais teve contato ¾, também foi vítima do regime. Ele faleceu aos 26 anos, em 1942, no manicômio de Mombello, onde foi internado compulsoriamente.

A história de Dalser só veio à luz em 2000, quando o jornalista italiano Marco Zeni, após longa pesquisa, escreveu o livro L’ultimo filò. Em 2009, o consagrado diretor italiano Marco Bellocchio produziu o filme Vincere, revelando no cinema o segredo de Mussolini. Agora é a vez da história do Colônia, brilhantemente contada por Daniela Arbex, ganhar uma nova versão. A partir do dia 25 de junho, a Globoplay e o Canal Brasil transmitirão a série Colônia, relembrando que conhecer a história é a melhor forma de não deixar que ela se repita.

 

*Isabela Discacciati é jornalista e vive em Treviso, norte da Itália. Especializada em cultura e patrimônio gastronômico pela Universidade Ca Foscari, de Veneza é autora do guia Passeios em Veneza e realiza tours temáticos pela cidade. Leitora entusiasmada desde criança, se inspira no universo dos livros para escrever e contar histórias.

testeSorteio Facebook – Duologia Jogador Número Um

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testeA passabilidade e a política de embranquecimento

Morena Mariah estreia o Quintas pretas, projeto da Intrínseca que abre espaço semanalmente para uma convidada pautar conversas sobre temas fundamentais para a nossa construção como sociedade.

Por Morena Mariah

Passabilidade é um daqueles assuntos delicados que, quando mencionados, fazem as pessoas se mexerem desconfortáveis na cadeira. Mas até os assuntos mais sensíveis precisam ser debatidos e refletidos, pois a transformação depende da nossa capacidade, enquanto sociedade, de tolerar desconfortos, contradições e interesses conflitantes para que haja a construção de um consenso. Sobretudo dentro dos movimentos negros, a formação de consenso para avanço de lutas comuns é fundamental.

A primeira vez que ouvi o termo passabilidade foi em uma discussão, quase briga, entre pessoas negras. Daí em diante, evitei ao máximo pautar publicamente esse debate, porque o assunto toca em questões que nós, dos movimentos negros brasileiros, lutamos durante muitos anos para superar — e ouso dizer que seguem inconclusas.

O termo passabilidade (em inglês, “passing”) significa a possibilidade de uma pessoa ser lida socialmente como membro de um grupo identitário diferente do seu pertencimento originário. Ou seja, é a capacidade de uma pessoa negra se passar por branca, ou de uma pessoa trans se passar por cisgênera, por exemplo. Os objetivos de “se passar” por outra categoria de identidade vão desde a sobrevivência, em casos em que há perigo de morte, até a obtenção de recompensas ou aumento de aceitação social por um grupo dominante.

Nesta reflexão, vamos nos ater a uma análise genealógica e social do conceito, trazendo a realidade brasileira para o campo do debate. É importante contextualizar o surgimento do termo “passabilidade” e levar em conta a historicidade na análise, a fim de evitar anacronismos, uma vez que a realidade social brasileira, e as tensões raciais que a envolvem, diferem em muito da realidade estadunidense.

De início, nos Estados Unidos, a segregação racial se deu de forma explícita, não permitindo a pessoas negras qualquer tipo de mobilidade social, em função de sua raça. Somente no contexto do pós-abolição a população negra estadunidense conseguiu iniciar o movimento de ascensão social de forma mais massiva. A miscigenação, que deu origem a sujeitos tratados no contexto estadunidense como birraciais ou mestiços, foi resultado de estupros, assim como aconteceu no Brasil, durante o período da escravização, e só posteriormente resultou de relações interraciais.

Durante o período da escravização nos Estados Unidos, mesmo as pessoas negras de pele clara tinham seu pertencimento demarcado, de forma a manter o sistema de segregação vigente. As pessoas negras que conseguiam alcançar a liberdade precisavam construir as próprias comunidades e empreendimentos, visto que a segregação impedia que brancos e negros convivessem de forma horizontal.

Assim, o uso da palavra passabilidade para denotar a ambiguidade na leitura social a que indivíduos miscigenados estavam submetidos surge e passa a ser frequente por volta de 1920 nos Estados Unidos. Falar dessa ambiguidade nos aproxima de outro tema muito lembrado nos debates raciais contemporâneos no Brasil — mas nem sempre tratado com o devido cuidado: o colorismo.

O colorismo é uma estrutura hierárquica que impõe a superioridade branca enquanto ideal de poder. Quanto mais próximo do ideal de brancura o sujeito está, melhor será sua condição socioeconômica. Dessa forma, cria-se uma estratificação entre pessoas negras, que as diferencia e tem como objetivo reforçar essa lógica de ordenamento racial, mantendo sujeitos de pele escura nas piores condições e oferecendo aos sujeitos de pele clara benefícios e recompensas por se aproximarem do ideal racial de brancura. É preciso frisar que passabilidade e colorismo são fenômenos derivados de uma estrutura maior e mais poderosa: o racismo. Ambos os conceitos são importantes para entender como o racismo opera nas dinâmicas entre pessoas negras e na relação destas com a branquitude.

Navegando ainda pela história do conceito de passabilidade, chegamos então à década de 1950 nos Estados Unidos, no início do Movimento pelos Direitos Civis. Uma de suas campanhas mais emblemáticas dessa época é o “Black Is Beautiful”, que tinha como objetivo combater o auto-ódio e o racismo internalizado pela comunidade negra e incentivar que todas as pessoas negras, de pele clara ou escura, reivindicassem pertencimento e cultivassem o orgulho de serem negras. Todo esse movimento de incentivo ao reconhecimento das matrizes afro-americanas atenuou a relevância da discussão em torno da passabilidade, já que cada vez mais pessoas negras de pele clara passaram a assumir suas raízes.

 

A política brasileira de embranquecimento

Enquanto isso, no Brasil escravocrata, pessoas negras que conquistavam a liberdade não tinham direito de adquirir terras, estudar ou desenvolver os próprios empreendimentos de forma institucionalizada. Mesmo após a abolição oficial em 1888, negros sofriam proibições  até em relação a práticas religiosas ou à circulação pública. Isso mesmo. A lei da vadiagem tornava legal a prisão de pessoas negras que estivessem na rua. Mesmo após a abolição, nenhum tipo de lei havia sido criado para garantir efetivamente a inserção de pessoas negras na sociedade.

Com todas as possibilidades de ascensão social negadas, o único caminho era o embranquecimento, que não só não era proibido, como era incentivado pelo Estado enquanto política pública. Para figuras como Silvio Romero e João Batista, integrantes do movimento eugenista no Brasil e membros de instituições importantes à época, como o Museu Nacional e a Academia Brasileira de Letras, a solução era extinguir o tráfico negreiro para cessar a entrada de africanos no Brasil, exterminar a população indígena, manter alta a taxa de mortalidade da população negra e incentivar a imigração europeia. Ao seguir essa receita, a previsão era de que em um século a população negra se tornaria cada vez mais embranquecida, até seu completo desaparecimento. Constava na Constituição de 1934 o dever do Estado brasileiro de promover a “educação eugênica” no país.

Neste cenário, as ideias coloristas que hierarquizavam pessoas negras pelo tom de pele tiveram cada vez mais aderência social. Tornou-se, então, uma questão de sobrevivência embranquecer-se no Brasil pós-abolição. A negritude inegável de pessoas de pele escura passou a ser cada vez mais desprezada, enquanto a figura do “mulato” foi sendo reconhecida como sinônimo do sucesso das políticas de embranquecimento adotadas pelo Estado brasileiro.

A passabilidade de sujeitos de pele escura era — e segue sendo — nula, e sobre eles recaía todo o peso da violência racial velada. Já entre os negros de pele clara, aumentou a aceitação social, e, junto dela, as oportunidades de ascensão social. A passabilidade era, então, desejada, inclusive pelos sujeitos de pele escura, como único recurso disponível para evitar a violenta exclusão social que se impunha.

O mito da democracia racial e do “homem cordial” surgem nas vozes dos intelectuais brancos Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, que descreviam em seus livros o Brasil como sendo um paraíso da miscigenação, que, na prática, para a população negra, nunca existiu. Mesmo com o processo de embranquecimento em curso no país ao longo de todo o século XX, é necessário frisar que as violências do racismo contra pessoas de pele negra de todos os tons seguiram se reinventando e, mesmo que mudassem de intensidade, nunca cessaram.

O movimento de reconhecimento da negritude de pessoas de pele clara no Brasil começa a acontecer aos poucos ainda no século XXI. Exemplo que ratifica este entendimento é o aumento no número de pessoas que se autodeclaram negras ao censo do IBGE, na maioria dos casos como pardas. Se o reconhecimento do pertencimento racial para pessoas de pele clara é marcado por processos de luta e resistência, por outro lado pessoas pretas de pele escura nunca puderam usufruir do benefício da dúvida e, com ele, de maior aceitação social.

 

A passabilidade na ficção

A metade perdida explora, através da ficção, os conflitos e tensões que a passabilidade provoca nas relações entre pessoas negras. A possibilidade de obter benefícios, a hierarquização e o caminho de ascensão pelo embranquecimento fazem refletir sobre as opressões que ainda nos atravessam e de que maneiras esses aspectos criam novas formas de violência que se atualizam ininterruptamente.

Acompanhamos as irmãs gêmeas Vignes em sua travessia pela adolescência na isolada cidade de Mallard — formada por uma comunidade de pessoas negras de pele clara que se recusam a serem lidas socialmente como pessoas de pele escura, rechaçando a própria negritude —, até a vida adulta, quando  cada uma delas opta por um caminho oposto ao construir suas identidades raciais.

A trama de Brit Bennett nos aponta nuances cruéis de um mundo que, ainda hoje, submete pessoas negras a critérios de valoração de sua humanidade, e ergue um muro construído com base na quantidade de melanina entre semelhantes. A obra evidencia a importância de compreendermos o refinamento e as armadilhas da estrutura racialmente hierarquizada na qual todos vivemos e nos convida à vontade de transformação que somente a dor das injustiças pode nos provocar.

 

Morena Mariah é escritora, estrategista e produtora cultural, consultora de projetos e palestrante. Resolvedora de problemas complexos. Especialista em Afrofuturismo, Estudos Culturais, Mídias e Cultura Afrodiaspórica.

testeVasto, perigoso e sem lei: uma investigação sobre a fronteira menos vigiada do nosso planeta

Apesar de ocuparem dois terços do planeta e nos fascinarem com sua beleza, os oceanos são lugares distópicos, pouco conhecidos e com altos índices de criminalidade. Povoados por traficantes, contrabandistas, ladrões de naufrágios e despejadores ilegais de petróleo, os mares são grandes demais para serem policiados e não há  uma jurisdição internacional bem definida. Tudo isso leva a práticas tenebrosas e desumanas, como tripulações escravas em navios e atividade pesqueira clandestina.

A falta de regulamentação fica ainda mais evidente quando surgem casos de grande repercussão como o encalhe do navio Evergreen, no canal de Suez, em março de 2021, e o vazamento de 5 mil toneladas de óleo na costa brasileira em 2019, cuja origem até hoje é desconhecida.   

Diante de um cenário tão perturbador e pouco conhecido, o premiado repórter do The New York Times Ian Urbina decidiu investir cinco anos de sua carreira em uma perigosa investigação sobre esse mundo oculto. A bordo de diversas embarcações e muito longe da terra firme, Urbina conheceu vários personagens surpreendentes e histórias de coragem, brutalidade, sobrevivência e tragédia. O resultado é o livro Oceano sem lei, que chega ao Brasil no dia 25 de junho e já está em pré-venda.

Os direitos da obra foram comprados por Leonardo DiCaprio e pela Netflix, que planejam produzir uma série documental inspirada na reveladora investigação de Urbina. Antes disso, algumas das matérias do autor inspiraram filmes como Horizonte profundo (2011), com Mark Wahlberg, e Redenção (2011), com Gerard Butler. 

testeLugares assombrados por nós mesmos: o papel do ambiente nas histórias de terror

Por Josué de Oliveira*

Narrativas de terror tradicionalmente se valem da ambientação para despertar o medo que se espera delas. Isso pode tomar muitas formas. A mais óbvia envolve lugares assombrados, construções onde o sobrenatural habita e se manifesta. O clichê da mansão vitoriana abandonada e decrépita vem à mente, seus fantasmas vagando pelos mesmos corredores e cômodos que percorriam em vida, presos ali por algum assunto não resolvido. Todos já lemos ou assistimos alguma história que segue esse molde.

Mas não são necessários espíritos para compor uma locação de terror. Nos filmes do gênero slasher O massacre da serra elétrica, Sexta-feira 13 e Halloween são alguns exemplos —, um elemento muito importante é o “lugar terrível” (terrible place). O termo é usado pela professora e teórica Carol J. Clover. De acordo com ela, o lugar terrível não se caracteriza por ser velho, sombrio e decaído — signos muito tradicionais do terror enquanto gênero narrativo, capazes de gerar um temor quase imediato —, mas pelas estranhas famílias que nele vivem. O ponto é que essas localidades encapsulam o que há de pior nos monstros que as habitam, servindo, dessa forma, como representações do que há de errado com eles — e, por consequência, dos medos e dos temas que a história se propõe a tratar.

O Massacre da Serra Elétrica (1974)

A ideia de que ambientes podem expressar aspectos sombrios da experiência humana é muito importante na ficção de Andrew Michael Hurley. Em Terra faminta, seu mais recente romance, acompanhamos um casal, Richard e Juliette Willoughby, em suas tentativas de lidar com a perda do filho Ewan, de apenas cinco anos. Juliette pensa que o garoto de algum modo continua lá, na casa afastada onde vivem. Enquanto isso, Richard se distrai vasculhando o terreno da propriedade – a infértil Starve Acre, terra onde nada cresce e palco das lendas locais cheias de morte e loucura.

A literatura de Hurley costuma ser apontada como parte do subgênero folk horror, do qual fazem parte filmes como A Bruxa e The Wicker Man. De modo geral, essas narrativas se utilizam de elementos do folclore de certas regiões para criar suas tramas e construir uma atmosfera de estranheza e instabilidade. São histórias que buscam em outras histórias — aquelas que se transformaram em tradição popular — as bases para gerar medo. Também fazem parte do repertório do autor as paisagens rurais idílicas, uma tentativa de romper com as imagens de paz e tranquilidade que tais lugares comumente evocam.

Para Hurley, é falsa a noção de que a vida no campo é sinônimo de bem-estar e sossego. A proximidade da natureza traz consigo um peso e uma profundidade que podem ser tão belos quanto desoladores, criando desafios únicos na vida de seus protagonistas. Da mesma forma, a vida num vilarejo pacato cria as condições para relacionamentos mais próximos, mas também faz com que os olhos se voltem na direção de qualquer pessoa minimamente diferente, criando uma ameaçadora expectativa de rejeição para os recém-chegados. Além disso, há sempre a herança das histórias que compõem o imaginário local, tão importantes para a constituição desses lugares quanto os campos que se estendem por todos os lados e os animais que correm entre a grama baixa.

Em Terra faminta, o aspecto folclórico se apresenta na forma de lendas sobre Starve Acre e um lendário carvalho que um dia esteve de pé ali — cujos galhos, segundo conta a tradição, serviram de sustentação para enforcamentos públicos. Ainda pior: o campo estaria de algum modo ligado a uma figura misteriosa da crença popular, Jack Grey, que Ewan afirmava ouvir mandá-lo executar atos violentos, impensáveis para uma criança vinda de um lar perfeitamente saudável. A crer no que dizem as histórias, há mais na terra árida de Starve Acre do que aquilo que os sentidos conseguem captar.

Starve Acre observa e influencia a vida dos Willoughby com sua aparência seca e segredos enterrados. A atmosfera hostil se deve tanto a suas características objetivas — o aspecto da terra — quanto a um passado sanguinário que sobrevive nas lendas do vilarejo. Histórias que preservam certas formas de ver o mundo, a maldade humana, que procuram explicar as razões por trás dos atos mais horrendos que alguém poderia praticar; histórias que identificam lugares como terríveis e, em troca, os infectam para sempre.

A Bruxa (2015)

Parte da lógica dos lugares terríveis na literatura e no cinema de horror vem de uma familiaridade distorcida, a ideia de que um lugar conhecido e ordinário pode ser transformado num ambiente hostil. Em O nevoeiro, filme baseado num conto de Stephen King, o lugar terrível é um supermercado onde um grupo de pessoas se abriga enquanto criaturas gigantescas e monstruosas caminham pelo mundo lá fora. Não há nada de estranho num mercado; é um local seguro, onde conhecemos as regras e nos sentimos no controle. Essa história, no entanto, mostra que ali é que estão os verdadeiros monstros, transformando um lugar antes inocente num pequeno inferno.

Trata-se de torcer as expectativas existentes sobre um lugar, e em Terra faminta isso se manifesta no terreno estéril de Starve Acre, que se torna representação da ruína psicológica dos Willoughby. Um campo deveria ser fértil, e sua visão suficiente para despertar sentimentos de calma, mas nesse as sementes não brotam, e sua única promessa é a desolação. Não é por acaso que, logo no início da história, a primeira coisa que Richard desenterra de Starve Acre é a ossada de um animal: o campo revela sua natureza deformada e procura estender sua infecção para dentro de uma família arrasada pela perda.

Enquanto tateiam em busca de explicações para o inexplicável e de formas de seguir em frente, os Willoughby são afetados por histórias sombrias que, verdadeiras ou não — isso não importa —, já se fixaram no lugar que os cerca. E em suas mentes. No horror de Andrew Michael Hurley, nossas narrativas assombram o ambiente, que, por sua vez, abraça e conserva os medos que voltarão para nos apavorar.

*Josué de Oliveira é escritor, desenvolvedor de eBooks e podcaster. Publicou contos em antologias de suspense e ficção especulativa, além da noveleta de terror Herdeiro, lançada de modo independente. Também é criador e produtor do Randômico, podcast quinzenal que tenta concatenar assuntos tão fascinantes quanto aleatórios.

testeSete grandes nomes da imprensa refletem sobre os desafios do jornalismo no Brasil no livro Tempestade perfeita

O jornalismo profissional, cercado por uma avalanche de fake news, minado pela perda da publicidade para as plataformas digitais e golpeado pelos ataques do populismo, está em crise – uma crise histórica, de consequências existenciais, que coincide com a perda de representatividade das democracias liberais. Mas a imprensa resiste e corre atrás, buscando novos modelos de atuação, tentando se renovar, ciente de que é uma das instituições fundamentais da sociedade democrática. É justamente sobre os desafios e oportunidades desse cenário conturbado que a coletânea Tempestade perfeita vem debater.

A partir da própria experiência e falando especialmente para o leitor que jamais esteve dentro de uma redação, Caio Túlio Costa, Cristina Tardáguila, Helena Celestino, Luciana Barreto, Marina Amaral, Merval Pereira e Pedro Bial se debruçam sobre o ofício do jornalismo, seus conceitos e formas de trabalhar, refletindo não só sobre os problemas do momento atual, mas também sobre o esforço continuado da imprensa em vencê-los.

Em discussões que vão desde os ataques coordenados de desinformação e agressões contra jornalistas até a reinvenção do próprio modelo de negócio, frente à concorrência dos meios digitais, o livro aborda a liberdade de expressão; o falso dilema entre neutralidade e clareza moral; a onda de relativismo disfarçado de argumentação política; e a necessidade urgente de se ampliar a representatividade na cobertura jornalística, pautada majoritariamente por homens brancos de classe média; entre outros temas de extrema relevância. 

Tempestade perfeita já está em pré-venda, chega às livrarias no dia 28 de junho e é a sétima publicação do História Real, selo de não ficção da Intrínseca dedicado aos grandes debates nacionais. Editado por Roberto Feith, o selo também conta com os títulos Liberdade igual (Gustavo Binenbojm), O caminho do centro (Marcelo Trindade), Sem data venia (Luís Roberto Barroso), Falso mineiro (Simon Schwartzman), Jornada improvável (Eduardo Mufarej) e Lições amargas (Gustavo Franco), todos já disponíveis.

teste“Here’s To Us”: Sequência de “E se fosse a gente?” será lançada pela Intrínseca

Nossos desejos foram realizados: Becky Albertalli e Adam Silvera estão de volta para dar outra chance ao amor de Arthur e Ben. 

Here’s To Us, ainda sem título em português, é a sequência do romance E se fosse a gente?, escrito pela autora de Com amor, Simon em parceria com o autor de They Both Die at The Endoutra história incrível que chega ao Brasil em breve

No novo livro, Ben passou seu primeiro ano na faculdade trabalhando no manuscrito de seu livro de fantasia com Mario, que além de ser um ótimo professor de espanhol também dá ótimos beijos. Então por que ele não consegue parar de pensar em Arthur, que está de volta à cidade, dois anos após terem se visto pela última vez?

Arthur está em Nova York para o estágio dos sonhos na Broadway, ao lado do namorado incrível. Mas quando vê Ben trocando carinhos com um garoto misterioso, começa a se perguntar se realmente superou o que sentia por ele.

Embora Ben e Arthur estejam focados no futuro, o presente parece insistir em colocá-los frente a frente. Será que é o universo forçando os dois a repensar suas escolhas? Será que é um sinal de que eles deveriam ficar juntos?

Provavelmente não. Afinal, as coisas não deram certo na primeira vez.

Provavelmente sim. Afinal, as faíscas continuam no ar.

Às vezes você só precisa ter um pouco de esperança e celebrar os encontros e acasos da vida.

Vivam os velhos amigos!

Vivam os novos começos!

Vivam as segundas chances!

Demais, né? Here’s To Us ainda não tem data de lançamento no Brasil, mas não vemos a hora de publicar mais essa inesquecível história de amor!  <3

testeConfira os bastidores da edição ilustrada de Terra faminta

Midrusa, o artista alagoano responsável pelas ilustrações exclusivas da edição brasileira, bateu um papo sobre como foi participar do projeto

Créditos: Midrusa

Feche os olhos e imagine um lugar totalmente isolado, no meio de um vale. As árvores são esquálidas, praticamente mortas, e nada do que se tenta plantar vinga. No meio do terreno existe uma casa de três andares com paredes de pedras grandes. As lendas dizem que o lugar é assombrado. Conseguiu visualizar?

É para esse ambiente estéril e macabro que Terra faminta transporta seus leitores em uma narrativa completamente inquietante. No novo livro de Andrew Michael Hurley, autor do premiado Loney, as descrições são capazes de evocar o verdadeiro horror. Somadas a ilustrações impactantes em uma edição em capa dura, com fitilho e pintura trilateral preta, a experiência literária fica ainda mais assustadora.

Para contar mais dos bastidores desse projeto tão especial, entrevistamos o artista alagoano Midrusa, responsável pelas ilustrações da edição brasileira. Ele compartilhou um pouco da sua trajetória profissional, quais foram as inspirações por trás das artes exclusivas da edição e revelou que até perdeu o sono após ler essa história. Confira:

 

Intrínseca: Como você começou a ilustrar?

Midrusa: Sou artista autodidata, desenho desde pequeno e sempre tive muito incentivo da minha família. Ainda assim, por causa de inseguranças, só fui me afirmar artista e colocar meu trabalho no mundo em 2020. Hoje não consigo me ver fazendo outra coisa.

 

I:Você tem alguma curiosidade sobre a produção de Terra faminta para compartilhar com os leitores?

M: Apesar de dizer que gosto do gênero, eu sou bem medroso. Na noite que terminei de ler o livro, perdi o sono, e nos dias seguintes fiquei pensando na história. Acredito que isso tenha sido muito importante para eu saber o que e como ilustrar.

Arte final/base para finalização digital // Créditos: Midrusa

I: Quais foram as suas referências para ilustrar Terra faminta?

M: As minhas referências visuais foram as artes de Ivan Solyaev e So Pinenut. Esses artistas brincam com a tensão, especialmente Ivan Solyaev, que traz também o grotesco e seres fantásticos nas suas obras. Além desses, a própria técnica de xilogravura, que é mencionada na história do livro e também foi uma das inspirações para construção desse “meu” traço.

 

I: Quais foram os desafios enfrentados no projeto?

M: O maior desafio foi conseguir passar para as ilustrações o que senti durante a leitura . Apesar de gostar do gênero, nunca tinha trabalhado com algo que envolvesse suspense, mistério e terror antes. Foi desafiador, mas fiquei bastante animado para trabalhar com uma temática nova. 

“As artes foram feitas com caneta nanquim e nanquim líquida. Usei também uma caneta branca para corrigir erros ou deixar um espaço mais iluminado.” // Créditos: Midrusa

I: Qual é a sua ilustração/detalhe favorito no livro?

M: Gosto de todas as ilustrações, mas acho que as minhas favoritas são a do carvalho e a do Ewan. A do carvalho é muito trabalhada, acho que nunca fiz um desenho tão detalhado.Gosto da ilustração do Ewan porque amo fazer retratos. Usar iluminação para criar a expressão do rosto e do olhar foi muito gostoso. Esse momento também é um dos meus favoritos do livro. Toda a tensão, o suspense, foi de arrepiar.

 

I: Que dicas daria para quem quer seguir a carreira?

M: Se valorize e valorize o seu trabalho. Só você sabe o que é a sua arte e quanto ela vale. Trabalhar com arte não é um mar de rosas, os desafios são inúmeros, mas acho que a chave é entender que o seu trabalho tem importância, tanto para você quanto para as pessoas que te procuram e acompanham.

 

Você pode seguir o trabalho do Midrusa no Instagram e no Behance.

 

Terra faminta acompanha a história de Juliette e Richard, um casal cujo filho de cinco anos morre inesperadamente após cometer uma série de atos de violência inexplicáveis. O casal mora em Starve Acre, uma propriedade isolada e estéril, rodeada de lendas horripilantes. Disponível nas livrarias e lojas virtuais.

testeSorteio Instagram – Seleção intrínsecos

Que tal relembrar as grandes histórias que já foram enviadas no intrínsecos, o clube do livro da editora Intrínseca?

Os assinantes do intrínsecos recebem todo mês um livro inédito no Brasil antes dele chegar nas livrarias e em edição colecionável, com capa dura e fitilho. Além do livro ainda vem uma revista com conteúdos extras sobre a obra, marcador, postal e brinde, tudo exclusivo. Em julho tem livro em dobro: além do livro surpresa do mês, os assinantes vão receber de presente a estreia literária de Quentin Tarantino! Assine agora! 

Dessa vez vamos sortear 3 vencedores que poderão escolher um (1) exemplar da edição comercial de um dos livros enviados no intrínsecos no ano passado.

Para participar, marque DOIS amigos nos comentários do post no Instagram e preencha o formulário abaixo!

ATENÇÃO:

– Caso a mesma pessoa se inscreva mais de uma vez ela será desclassificada.

– Você pode se inscrever no sorteio do Facebook e Twitter também, é só seguir as regras.

– Você pode comentar mais de uma vez no post, mas não pode repetir os amigos marcados.

–  Ao terminar de preencher o formulário aparece a mensagem “Seu formulário foi enviado com sucesso”. Espere a página carregar até o final para confirmar a inscrição.

– Se você já ganhou um sorteio da Intrínseca nos últimos 7 dias no Instagram, você não poderá participar deste sorteio.

– O resultado será anunciado no dia 7 de junho, segunda-feira, em nosso perfil no Instagram. Boa sorte!

testeSorteio Twitter – Seleção intrínsecos [ENCERRADO]

Que tal relembrar as grandes histórias que já foram enviadas no intrínsecos, o clube do livro da editora Intrínseca?

Os assinantes do intrínsecos recebem todo mês um livro inédito no Brasil antes dele chegar nas livrarias e em edição colecionável, com capa dura e fitilho. Além do livro ainda vem uma revista com conteúdos extras sobre a obra, marcador, postal e brinde, tudo exclusivo. Em julho tem livro em dobro: além do livro surpresa do mês, os assinantes vão receber de presente a estreia literária de Quentin Tarantino! Assine agora! 

Dessa vez vamos sortear 3 vencedores que poderão escolher um (1) exemplar da edição comercial de um dos livros enviados no intrínsecos no ano passado.

Para participar do sorteio você precisa seguir o nosso perfil (@intrinseca), compartilhar essa imagem no FEED do seu Twitter PUBLICAMENTE e preencher o formulário abaixo!

ATENÇÃO:

– Caso a mesma pessoa se inscreva mais de uma vez ela será desclassificada.

– Você pode se inscrever no sorteio do Instagram e Facebook também, é só seguir as regras.

– Você pode comentar mais de uma vez no post, mas não pode repetir os amigos marcados.

–  Ao terminar de preencher o formulário aparece a mensagem “Seu formulário foi enviado com sucesso”. Espere a página carregar até o final para confirmar a inscrição.

– Se você já ganhou um sorteio nos últimos 7 dias no Twitter, você não poderá participar deste sorteio.

– O resultado será anunciado no dia 7 de junho, segunda-feira, em nosso perfil no Twitter. Boa sorte!