No dia 12 de outubro de 1977, quando exonerou o general Sylvio Frota do cargo de ministro do Exército, o presidente Ernesto Geisel pôs um ponto final na anarquia militar que tomara conta do país. Era o confronto – que a ditadura vinha evitando desde 1964 – de duas noções. Segundo Frota, o presidente da República era um delegado dos comandantes militares. Segundo Geisel, os comandantes militares eram subordinados do presidente da República.
A ditadura encurralada, quarto volume da série sobre os “anos de chumbo” escrita por Elio Gaspari, narra como Geisel e o general Golbery do Couto e Silva, ministro chefe do Gabinete Civil, conseguiram vencer essa guerra, que o marechal Castello Branco perdera e seu sucessor, Costa e Silva, nela se rendera.
Publicado originalmente em 2004, o livro narra os vários episódios que ajudaram a azedar a relação entre a Presidência e setores das Forças Armadas. Um deles é o assassinato do jornalista paulista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, nas dependências de uma unidade do Exército, onde comparecera para depor. Morto sob tortura, era, na conta de Gaspari, o 38o preso a se “suicidar” numa prisão da ditadura, o 18o a “enforcar-se” na cela.
No dia da demissão de Frota alguns auxiliares de Geisel foram trabalhar armados. O presidente, contudo, organizara tão bem o seu esquema que não se preocupou com uma eventual reação. Prova disso: deixou a mulher e a filha no palácio da Alvorada.
A ditadura encurralada compõe com A ditadura derrotada, terceiro livro da série, um conjunto denominado O Sacerdote e o Feiticeiro. Os dois primeiros livros, A ditadura envergonhada e A ditadura escancarada, formam o conjunto As ilusões armadas. O quinto livro da série ainda está sendo escrito.