O sucesso de O connaisseur acidental está no tom excessivamente crítico do autor em relação ao uso do vinho como modismo globalizado, motor de uma indústria de nada menos que 50 bilhões de dólares. Em sua pacata condição de amateur, ele investiga por que, apesar da fabricação de 75 mil vinhos diferentes, estes continuam a ser produtos complexos para poucos iniciados, privilegiados paladares.
Logo no início do périplo por vinícolas, ao beber um Beaucastel, vinho do Ródano (a região do Côte du Rhône), o autor se diverte quando o garçom pergunta se sente um gosto de galinheiro. Em seguida descobre a razão: trata-se do gosto de uma levedura típica do local. Assim, passando pela França, Itália e Estados Unidos, de vinícola em vinícola, ele apura a sensibilidade, reconhece aromas, desfaz preconceitos. Começa até a aceitar a utilização de adjetivos inusitados para se qualificar um vinho, que pode ser simpático, inteligente, aristocrático ou mesmo musculoso.
Osborne conclui que o vinho, antes um mistério, é atualmente um commodity. Por isso conversa tanto com produtores franceses e italianos de arraigada tradição, como com Robert Mondavi, na Califórnia. Considerado o barão mais poderoso do mercado, o americano monitora a qualidade do vinho via computador. Outra surpresa para diletantes é a visita à Enologix, uma firma de consultoria capaz de formar um banco de dados informatizado com as minúcias de uma vinícola – o tipo de tonel, as condições da adega, as castas de uvas, o clima etc. – e então prever o melhor vinho a ser feito em tais condições. São essas pequenas descobertas de bastidores, explicitadas de uma forma espirituosa, generosa e sem esnobismo, que aos poucos transformam Lawrence Osborne num verdadeiro connaisseur – e, com ele, o leitor, que se beneficia de seu estilo inteligente e irreverente para esmiuçar os mais íntimos segredos desta bebida secular.
Lawrence Osborne
O autor decidiu escrever um livro sobre vinho da perspectiva do amador, do bebedor ingênuo interessado em entender o vocabulário e o amplo espectro de sabores contidos num gole da bebida. Para isso, viajou pelas mais importantes regiões de viticultores do mundo e bebeu muito com os produtores locais. Católico inglês, Lawrence Osborne diz ter nascido nos anos 1970, antes da moda do vinho, por isso sua primeira lembrança remete à comunhão na Igreja, à “hemoglobina de Nosso Senhor” tomada em “cálices de estanho vagabundo”.
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