As vantagens do “não deu certo”

Eu não me lembro a primeira vez que o vi, talvez tenha sido desde que nasci. O típico “menino mais bonito da cidade”, e mesmo não sendo a mais bonita ou nem mesmo chegasse a ser considerada bonita, eu comecei a gostar dele mesmo sabendo que poderia não haver chances entre nós. Na época eu fazia parte de um trio de amigas, e duas delas eram apaixonadas por dois garotos, elas até escreviam as iniciais dos nomes delas com os deles, às vezes eu nem as chamava pelo nome, mas sim pelas siglas, a Md e a Jp. Eu não queria fiar por baixo, então resolvi fazer o mesmo e foi aí que confessei gostar do garoto. Eu agora era a Mb. As duas até gostaram da ideia e prometeram me ajudar.
Em um final de semana minha irmã mais velha juntamente com a irmã mais velha da Jp marcou um piquenique no rio mais próximo. A única de nós que acabou não indo foi a Md, pois ela morava muito longe.
No tal final de semana eu e a Jp acabamos nos atrasando, pois estávamos “ocupadas” combinando coisas. Sabíamos que o garoto que ela gostava iria também, então pensamos em mil situações que seriam favoráveis para que pudesse acontecer alguma coisa entre os dois. Bem, não foi isso que aconteceu.
Acabamos chegando um pouco tarde demais, mas esse não era o problema. Quando chegamos lá o que vimos foi bem pior, a irmã da Jp estava abraçada com o garoto que ela gostava e a minha irmã estava beijando o garoto que eu gostava. O meu garoto…

Eu também não me lembro a primeira vez que o vi, acho que deve ter sido desde que nasci, pois éramos primos. Ele era tão lindo, e é até hoje. De certa forma eu sabia que não daria certo, pois éramos como irmãos. Mas eu fui em frente. Na época eu não brincava mais de siglas com iniciais de nomes, mas no meu caderno eu tinha colado um R e um B. Quando crescemos mais um pouco eu tive a ousadia de pedir para beijá-lo. Foi tão repentino. Eu não pude segurar a minha língua. Apesar de termos pouco mais do que onze anos (pelo menos eu) ele me puxou pela mão e me levou para um lugar onde pudéssemos ficar a sós. Por um instante eu o olhei, cara a cara. Os olhos castanhos, o sorriso que ele deu antes de me beijar… eu não me senti ridícula. Éramos apenas crianças fazendo coisas de gente grande. Eu esperava por aquele beijo por uns dois anos e aí… foi um beijo curto, mas ainda assim um beijo, que eu não parava de pensar.
Semanas depois eu escrevi uma cartinha, não poderia estar mais apaixonada pelo meu próprio primo. Peguei algumas partes super românticas da internet enquanto desenhava corações pelos cantos da folha, corações esses que eu jurava que eram bem feitos e bonitos. Depois de pronta eu descobri que não tinha coragem o suficiente para entregar, porém, eu conhecia alguém que tinha e de sobra… a nossa outra prima que tinha no mínimo sete anos. Eu confiei totalmente nela e a entreguei no dia que estávamos todos juntos em uma reunião da igreja especialmente para crianças. Quando eu fui embora sussurrei no ouvido dela “entrega só pra ele” e saí. Andei super rápido pelo caminho de casa e me virava as vezes para ver o que estavam fazendo pelas minhas costas. Os garotos que ainda estavam lá correram pelo espaço enorme que tinha em frente a residência em que ocorrera a reunião e foram jogar bola. Em dos momentos em que virei vi minha prima indo devagar até meu primo e entregar-lhe minha carta. Não tive outra reação senão correr. Dava para todos me verem e é claro que todo mundo ia saber. No outro dia me disseram que a mãe dele soube e acabou exigindo ver a carta senão ela acabaria contando para o marido. Como toda criança tem respeito e até medo da autoridade dos pais, ele acabou entregando. Então pelos próximos dias e acabei sendo ridicularizada por gostar de um garoto, principalmente no ônibus escolar.

Eu me lembro a primeira vez que o vi. Descolado, praticando bullying, eu até o achava engraçado. Estávamos no final do fundamental. A mãe dele era quase louca e o pai dele era falecido, provavelmente overdose, eu sabia disso porquê passávamos o tempo todo das aulas conversando, que dizer, ele, pois eu ficava prestando atenção nelas para não levar bronca das professoras.
No início ninguém ele era calado, muito calado, e quieto. Ele era novato na turma, mas não porquê ele era transferido, ele só havia repetido de ano. Após umas duas semanas trocamos as primeiras palavras. Uma das professoras pediu para que formássemos duplas. É claro que a ex Jp e a ex Md ficaram juntas e, como ele não falava muito, não tinha muitos amigos, embora ¼ da turma fosse composta por pessoas do bairro dele, acabei sendo a companheira dele. Foi aí que ele me pareceu que sabia falar, embora tímido. E foi aí que ele não parou mais. Semanas depois ele começou a se comportar como um garoto rebelde. Embora fosse um péssimo aluno em questões de comportamento, ele ainda continuou falando comigo. No ano passado eu era zoada por uns colegas, mas naquele ano eu não era mais, era como se agora eu fizesse parte da zoeira, embora não fizesse nada. Era por causa dele, mas eu não sabia ainda.
A amizade começou a ficar tão forte a ponto dele roubar a única foto que eu tinha de mim mesma. Eu nunca mais vi aquela foto. Um dia ele até me mostrou a maconha que ele ia usar mais tarde. Eu não sabia que ele trazia para a escola, principalmente porquê o porte é ilegal no Brasil, e também porquê ele era menor de idade, mas todos diziam que ele fumava. Desde o início.
Eu nunca me importei com que tipo de pessoa ele era, se é que existia ou existe tipos de pessoa, mas a gente meio que se afastou, não por algum motivo especificamente, eu só realmente precisava estudar e ainda meio que estava irritada por ele ter me feito cair de joelhos na sala.
Algumas semanas depois a garota mais novata da turma que por acaso era a nova amiga dele e uma das minhas melhores amigas acabou indo passar um final de semana na minha casa e ela acabou me contando que ele gostava de mim. Eu não pude acreditar que nunca havia notado e então tudo mudou, porquê eu sabia que também gostava dele, mesmo sem perceber. Então estudando na mesma classe e sem nenhum de nós admitirmos, fomos levando e aos poucos voltamos a nos aproximar. Até que os últimos meses do ano chegaram e junto com ele a Jp. É claro que sentíamos a mesma coisa, embora ele não soubesse que eu gostava dele e nem que eu sabia que ele gostava de mim. Voltando a Jp, ela acabou se aproximando dele, conversando, ficando íntima até eles se beijarem na sala de aula.

Eu não me lembro a primeira vez que o vi, mas sei que foi há muito tempo. Ele tinha um pai falecido, que ele por genética era a sua cópia, só que mais bonito. Era um primo tão distante que eu só acreditava porquê a minha mãe dizia. Minha melhor amiga da minha nova cidade havia me dito que ele queria ficar comigo, e eu morri de medo, pois ele ficava com uma outra prima minha que por sinal era a garota mais desejável que tinha por ali. Eu perguntava a todo tempo “e se ela vier atrás de mim e me bater?”, ela só ria e dizia “claro que não”. No dia do aniversário de uma outra prima nossa, ele acabou vindo até a minha casa me pegar. Que surpresa! Quando chegamos lá todos nos olharam e então eu percebi que não falava com ninguém, pois só conhecia todos eles de vista. Até que finalmente a minha amiga chegou e me salvou. Pouco tempo depois ela me levou para a casa do namorado dela e ele de quebra acabou levando o meu primo e a gente ficou. Ele não era muito romântico, mas era simpático e engraçado, além de bonito.
Acontece que éramos da mesma escola e ele acabou aparecendo nos lugares mais inusitados e improváveis. Me abraçando em público e as vezes e mordendo como de forma carinhosa, adolescentes costumam fazer isso quando gostam de alguém, como que marcando território, nunca ouvi falar, mas minha amiga me explicou que aqui era assim. Então se ele fazia de tudo para me ver e fazia coisas comigo nos corredores para todo mundo ver, então por que eu não iria sonhar com ele? Sonhei bastante, até virem em uma rede social me mandarem xingamentos. No dia seguinte ele apenas me disse que sabia quem era, e quando eu perguntei quem, ele apenas riu.

Eu não me lembro quando o vi, mas por dois anos eu praticamente o ignorei. Ele era esquisito e eu me sentia o centro das atenções naquele final de ensino médio.
Por pouco mais do que meses eu perdi mais do que a metade dos meus amigos. Ser quem você não é para tentar causar uma boa impressão nas pessoas, acaba fazendo o contrário. Você não enxerga isso, e demora muito tempo para perceber, até mesmo quando já é tarde demais. Foram nesses meses que eu me aproximei dele, e então o conheci além das aparências, do que eu achava que ele era. Ele parecia gostar da minha amiga, eu via, então por que não ajudar? Bom, até tentei, mas não deu muito certo, ela gostava de outra pessoa.
Meses se passaram até que ele confessou que não gostava dela, ele gostava de mim e até hoje conversamos. A gente nunca ficou, mas pessoas costumam dizer que sim e que deveríamos. Eu realmente acho que não, pois ele fica com uma garota do centro da cidade. Apesar de nos amarmos, eu acho que o respeito é a base de tudo e eu respeito a nossa amizade, não poderia fazer nada que machucasse qualquer pessoa relacionada à ele, e, agora ele vai embora para outro estado.
A promoção diz claramente “primeiro amor”, mas eu tive vários, e nenhum foi menos especial do que o outro. Amor de criança, ilusão, o que for e tiver sido, todos esses amores fizeram parte da minha vida, bons ou ruins. Agradeço ao meu coração por ter se apaixonado por pessoas tão fantásticas que eu conheci, conheço e tive a honra de conhecer ao longo do tempo. Por mais difícil que seja, não desista de qualquer pessoa por causa de uma que não deu certo. Eu acredito no amor e acima de tudo que ele pode nos dar forças