Cadeiras coladas

Então, aconteceu no 3 ano do ensino médio. Logo no início do ano eu sentava no fundo da sala. Me isolei por saber que tinha o instinto de puxar conversa com meus colegas de classe, e com o Enem chegando queria me dedicar totalmente. Mas aconteceu a coisa mais irritante, meu amigo Breno passou a todos os dias puxar uma cadeira e vir sentar do meu lado no fundo da sala. Achava aquilo irritante. Ele, percebendo minha irritação, colocava sua cadeira quase por cima da minha, a proximidade enorme. Os dias foram passando e o mesmo ritual se repetia. Eu chegava, puxava a cadeira pro fundo, ele chegava atrasado e pegava a dele colocando colada a minha. Antes disso não eramos tão amigos. Depois, com as conversas diárias, desenvolvemos uma parceria. Um dia, ele quem chegou primeiro e estava no fundo. Fazendo menção de sentar do outro lado, mas ainda no fundo, ele apontou pra cadeira do lado dele, fazendo cara de irritação. Aquilo de alguma forma me deixou incrivelmente feliz, mas ainda não tinha percebido. Acho que percebi no dia em que ele pegou meu braço pra desenhar algo. Não lembro precisamente, mas desenhar era uma coisa dele. O toque dos dedos dele, aquela pela áspera mas ao mesmo tempo macia, coisa única dele, me ascendeu. O toque dele passou a ser uma das minhas sensações favoritas. A partir desse dia, eu sempre deixava meu braço encostar no dele. E ele não afastava. Era como se o resto do meu corto fosse gelado e só o toque do braço dele no meu tivesse se tornado minha única fonte de calor. Em algum ponto a turma passou a dizer que eramoo o casal da turma. E a gente então passou a se abraçar e ficar com algumas brincadeiras do tipo. Não sei até que ponto era brincadeira pra ele, nem pra mim. Não sei até que ponto o que eu sentia por ele foi recíproco. Eu me descobrindo homossexual e ele que já havia namorado uma das minhas amigas. Nada poderia nunca acontecer. O ano passou e nunca contei ou conversei nada sobre isso com ele. Passaram-se 5 anos e moramos em cidades diferentes agora. Quase nunca nos comunicamos. Hoje não sinto mas o que sentia por ele.e assim levei a vida. Não me arrependo de nunca ter mencionado o que senti a ele. O único arrependimento é não ter perguntado sobre a última vez em que dormi na casa dele. Acabei acordando no meio da noite. Sempre que ia pra sua casa dormia ao lado de sua cama, em um colchão. E, acordando percebi quee le estava sentado, olhando pra mim enquanto eu dormia. Não me movi pra ele não perceber que eu estava acordado. Passou-se um tempo e perguntei se estava tudo bem com ele. Ele confirmou e voltou a dormir. Nunca entendi o porquê dele me observar dormindo. E é uma dúvida que vou levar pro resto da vida, assim como a sensação única e acalentadora de sentar ao seu lado na sala de aula.