Descobertas

Ele era apenas um garoto alto, muito loiro e tímido. Para mim, parecia um integrante da boy band que ilustravam as paredes do meu quarto. Um misto de amor platônico e adoração por alguém que morava a apenas algumas quadras da minha casa. O problema é que um rapaz de 15 anos com 1,90 m de altura se destacava facilmente entre os adolescentes de escola e, mesmo com aquele cabelo cortado estilo tigelinha, escorrido sobre o seu olho – e que hoje me faria correr para longe -, muitas garotas pareciam compartilhar do mesmo sentimento que eu.
Diante da realidade que eu não era nenhum ícone de beleza e usava um belo aparelho metálico nos dentes, amava na imaginação, na idéia de supor o que seria essa tal de paixão, e sonhava inúmeras conversas posíveis para quando eu o conhecesse.
De alguma maneira, ganhei uma nova amiga que, por acaso, conhecia o alto e loiro dos sonhos. De outra maneira, que não me recordo bem, alguém falou de um para outro e de outro para um, e eu não era mais uma desconhecida. Os rápidos e discretos cumprimentos viraram olhares que se desviavam e voltavam a se buscar em meio a tanta gente. E, os olhares conseguiram evoluir para conversas cheias de silêncios, nada parecidas com aquelas ensaiadas, por eu não saber o que se diz quando o estômago enche de borboletas, o sangue corre mais rápido e o coração parece querer nos matar de vergonha pelo volume das batidas.
Eu, que não me achava tão bonita, mas o achava extraordinariamente belo, comecei a descobrir que paixão não tem regra ou combinação esperada. A gente se apaixona pelo olhar, pelo modo como o outro aperta a mão de nervoso, pelas conversas engasgadas, sem se importar com um brilho sobre os dentes, sobre um cabelo fora de moda ou qualquer defeito que a gente ache que tem.
Por muito tempo nos buscamos ao chegar nas festas, com a presença acalmando aquele grito preso na garganta, soltando o sorriso mais lindo do mundo e nos deixamos levar pela paixão pura e sincera. Eu fazendo as pazes com o espelho por ter conquistado o garoto que já não era o mais belo, mas o mais encantador, inteligente e admirável. Ele, talvez, descobrindo as mesmas sensações. Por um bom tempo crescemos juntos, em meio a decepções, dores e reencontros. Foi apenas aquela paixão desenfreada crescendo e se transformando em amor.