Foi numa tarde de domingo

Fui convidado por um amigo para sair e curtir o resto do domingo, já que no dia seguinte as férias acabariam. Ele me levou para Itapuã, um bairro famoso em Salvador onde uma das baianas de acarajé mais famosas ficava. A gente adorava aquele lugar e sempre que possível estávamos lá.

Quando chegamos meu amigo Otávio combinou de estacionar o carro enquanto eu ia para a fila do acarajé (era muito cheia, a fama da baiana não é somente em Salvador) para não perder tempo. Fiquei na fila e depois de um tempo chegou um garoto e ficou ao meu lado, quase entrando na minha frente na fila, inquieto, falando demais, conversando demais com todos ao redor e isso começou a me deixar irritado. Pedi que por favor tomasse cuidado pois ele estava me empurrando e estava quase passando na minha frente na fila. Mas ele começou a puxar mais assunto, a fazer piadas e brincadeiras. Eu achei péssimo, pensava “esse cara nem me conhece e está com tanta liberdade”.

Otávio finalmente chegou e para minha surpresa fez uma festa também par alguém que estava atrás de mim na fila e quando olhei. para minha surpresa era ele, o garoto “para frente”, ousado, falante chamado Henrique. Agra finalmente eu sabia o nome dele.

Acontece que quando Otávio foi nos apresentar ele disse que já nos conhecíamos e disse que nem acreditava que ele estava com o “estressadinho da fila”. A partir desse momento a noite que tinha tudo para ser calma foi bem agitada com a presença de Henrique, que acabou sentando com a gente e passando o resto da noite ao conosco.

Ele falava em festa o tempo inteiro, Ivete Sangalo, Carnaval, e só. Não havia outro assunto que não fosse festa e diversão; eu estava preocupado com o final das férias e a faculdade, estava com sono e falando bem pouco, até porque fico travado perto de pessoas que conversam demais sobre assuntos que não me interessam, acho que isso é normal.

Ele começou a me criticar, dizendo que eu estava muito quieto, que eu não sabia conversar, que era totalmente sem graça e que eu não havia gostado dele. Nesse momento confirmei e o clima ficou um tenso. Meu amigo percebeu e propôs ir para casa. Mas antes passaríamos na praia.

O papo continuou entre eles, o mesmo assunto de festas, praia, diversão, garotos para pegar, fazer e acontecer. Eu ficava cada vez mais irritado. Mesmo assim ele insistia em conversar comigo. Quando não aguentei – nesse momento Otávio não estava perto de nós – perguntou se ele não tinha nada de mais interessante para conversar. Mais uma vez ele me criticou, dizendo que eu sou muito estressadinho e metido, que não me achou antipático, mas que eu era sem graça, sem sal e açúcar, etc. Eu comecei a ficar ofendido e passei a discutir com ele também. Foi ódio à primeira vista.

Num dado momento ele cansou de discutir e de rebatar as coisas que eu falava. Mandou que eu calasse a boca de um jeito estúpido. E eu continuava a falar irritado e cheio de raiva. Ele simplesmente me agarrou nesse momento e me beijou.

E disse a clássica frase “só assim para calar a boca”.

Eu dei um riso tímido e confesso que gostei do beijo. Fiquei sem entender. Chamei ele de idiota.

Ele disse: – “Eu sabia que era isso que você queria!”

Isso para mim foi a gota d’água. Chamei-o de idiota e sai andando pela praia atrás de meu amigo. Ele veio em seguida me chamando, dizendo que foi uma brincadeira, me provocando. E eu estava muito irritado, quase chorando de raiva.

Finalmente ele se despediu, eu fiquei sozinho com Otávio e fomos embora. No caminho de volta para casa eu só sabia falar na discussão e o quanto eu tinha odiado aquele garoto. Falava muito e assim foi a semana inteira. Eu ligava para Otávio para falar de Henrique, perguntava se ele havia perguntado por mim.

Um dia ele me ligou, havia pedido meu número. Me pediu desculpas, mas logo em seguida começamos a brigar novamente. No final de tudo, essa briga terminou em paixão. Nos víamos todos os dias, ficávamos e brigávamos em algum momento. Mesmo assim não conseguíamos ficar longe um do outro.

Foi assim durante um ano, muitas brigas e desavenças aconteceram. No ano seguinte ele me pediu em namoro; ficamos juntos por três anos, fizemos viagens inesquecíveis, visitamos lugares, descobrimos coisas juntos. Até que acabou.

E saber seguir sem ele foi um dos momentos mais dolorosos de minha vida. Ele foi meu primeiro namorado, a primeira pessoa por quem me apaixonei e amei. Terminamos em 2014, mas não conseguimos nos separar, mesmo hoje ele vivendo outro relacionamento sério. Acho que o amor não acabou, se transformou. Mas o coração palpita sempre quando lembro de todo.

Vivi uma história linda e estou aqui aguardando aquele que ficará na minha história, ao meu lado, até o último momento.