Linhas Tortas

Aos 16, nunca entendi o que era a primeira impressão do amor. Há muito tempo as conversas sobre “paixonites” haviam se calado nos meus ciclos de amizade, e situações de “primeiro beijo” nunca significaram nada para mim além de graça. Em suma, não sabia nada de conselhos. No entanto, não percebi que aos 15 anos me deparei com uma admiração incompreendida por alguém que nunca vi na minha escola.

Estava na oitava série, e era época de ouro do Instagram, na qual a maioria que tinha e usava competia por seguidores. Não me ligava nisso, uma vez que bastava o meu gosto por fotos e desenhos legais que tirava ou pequenas felicidades do dia a dia, até que certo dia alguém começou a me seguir. Nessa conta, bonitos desenhos – mas poucos – circulavam, insinuando a figura de alguém que rabiscava em cadernos alheios e gostava do individual. Desde então, uma crescente inveja por ter alguém tão bom quanto eu tornou-se uma admiração, uma fonte de energia estalou em mim um forte desejo de melhorar como desenhista e me equiparar a seu lado. Isso persistiu até meu segundo ano do Ensino Médio.

Eu fui uma repetente do ensino fundamental como vários outros amigos. O garoto do instagram estava um ano na minha frente. E no meu primeiro ano, senti que uma admiração muito mais forte sobre ele havia crescido em mim, o que me levou a perceber que meus esforços na evolução dos meus desenhos estavam alcançando ele. Perdi várias chances de falar um simples “Oi” no colégio por medo de não saber o que dizer após o cumprimento. Até que no último ano dele no colégio, no meio da pressão com o Enem, concluir a escola, evoluir como pessoa, eu juntei minha coragem e incentivo dos meus amigos e fui conversar com ele por Direct. É impossível ilustrar ou descrever o que senti quando ele me respondeu. Me vi sendo a principal daquelas comédias românticas extremamente forçadas, saltitando pela casa e engolindo gritos de alegria pela garganta. Era como ver Robert Mapplethorpe na minha frente e chorar pela sua elegância. Tudo se tornou muito idiota por outro ponto de vista: desejava ver uma mensagem sua no visor; mensagens na madrugada eram respondidas na madrugada – era como se o acordar de um sintoniza-se com o do outro; o coração parecia palpitar quando lia algo seu – isso sem falar da onda de calor que se alastravam pelo corpo. Isso durou uma semana, e então ele me pediu meu número de celular e mudamos para um aplicativo de mensagem decente.

Eu via tudo e não via nada: ele era amigo da ex-namorada e eu estava apaixonada. Contei os dias. Depois de três meses de conversa me declarei: levei um fora. Eu não estava arrasada. Ele foi a primeira pessoa que me deu motivação para evoluir, me apresentou novos caminhos para navegar, abrigou com gentileza meu sensível coração cheio de mudanças. Minha devastação seria ignorar minhas alegrias e deixar uma amizade incrível de lado. O garoto do Instagram me recebeu com carinho depois disso, e continuou tentando conversar comigo. Após isso, levei mais dois foras dele, e ele me fez experimentar bem mais emoções do que o garoto do meu primeiro beijo. Poderia contar todas as vezes que suas palavras me fizeram subir pelo teto e cair de novo no chão, poderia dizer da sua falta de presença física, poderia até mesmo listar todas as emoções que ele já me fez sentir, mas é impossível dizer o quanto já dizemos que gostamos um do outro e estaremos perto quando precisarmos, porque desejar o bem de estar alguém não deve ser contado em números ou presença de dias.

Agora estou perto de completar 19 anos. Meu primeiro amor voltou com a namorada – chorei tanto esse dia -, a maioria dos seus amigos não liga para mim – meus amigos também não gostam muito dele -, eu sou como uma amizade virtual querida – sempre fui -, e sempre procuro estar perto virtualmente – e emocionalmente – para acompanhar seu bem-estar. Viva la vida, baby. Nós dois entendemos o nosso futuro e o que tiver de ser, será. Enquanto não, vivo minha vida, aproveitando os dias que restam da juventude.