Primeiro Champanhe

A sirene havia tocado ensurdecedora e todos estavam assentados em suas carteiras. Era dia bonito posto como uma pintura projetada em belas cores e tons. Seria uma espécie de prenúncio que até o fim daquela manhã uma certa fantasia me atravessasse o corpo. Anunciando as boas novas de que havia chegado o tempo de pensar no encontro dos corpos – quando esses se desejam.
Ele adentrou a sala com aqueles olhos esmeraldas-reluzentes. Seu sorriso nos iluminou, atravessando-nos o peito. As meninas sussurravam, conferindo-lhe elogios sexuais. Apreciavam as nádegas, o volume peniano e seu porte físico atlético, guerreiro, de um lenhador em pleno trabalho.
Lecionaria Biologia: A arte da natureza, como ele mesmo! Uma arte que logo cedo me tiraria o fôlego. Logo cedo me fez sentir vontades. Vontades que escorriam pelo meu corpo que dava os primeiros sinais de homem. Eu pensaria nele mais tarde. Eu pensaria nele a minha existência inteira. Ciente que nunca seria o bastante.
Temi. Temi as vibrações que me percorriam, me achegando a alma irrequieta. O que diriam todos, ali? Vendo o garoto deixar escapar seu mais puro e regalo frenesi? Peguei-me sem mais nada. Confuso em mim mesmo. Embaralhado na verdade de tê-lo dentro de mim.
Houve um momento, em outro dia, já me conhecendo como aluno aplicado, disciplinado, que seus olhos, fitando-me curiosos, avistou meu desconcerto ao orgasmo de tinta de minha única caneta azul. Permitiu-me limpar as mãos trêmulas no banheiro. E, na volta apressada – de não perdê-lo em nenhum instante daquela aula – avisto-o a minha espera, de pé, segurando uma caneta, aparentemente cara. Estendeu o braço musculoso e me presenteou.
“Você merece!”, falou, sorrindo.
A sala imergia numa inveja notável. De um lado, as meninas o desejavam – não tanto quanto eu, mas, mesmo assim, um desejo concorrente. Do outro, os meninos, que o admiravam pela figura heróica e esperta.
Quase, instintivamente, levei a caneta ao nariz. Queria cheirá-la o mais depressa possível, antes que o perfume dele me escapasse pelos dedos trêmulos e ávidos.
Agradeci, abrindo um sorriso tímido.
Guardei a caneta. Esperei os olhares se dispersarem de mim. E pude sentir a fragrância em meus dedos ciosos. Vez ou outra, sentia seu olhar sobre minha figura de garoto ardendo de desejo. Jamais o teria…
Foi então, que, me segurando na cueca, na noite daquele dia, fiz a caneta passar pelo nariz: Típica recepção de um trago no charuto. Logo fiquei em riste como aquele objeto – a única parte dele a mim cedida. E logo ele estava ali, inteiro, despido, abrindo em mim o meu primeiro champanhe.