Então se dá conta: ontem, ou talvez anteontem, ou algumas noites atrás, de madrugada, quando todos dormiam, levantou-se, descalço, despiu-se e, nu, saiu do dormitório em Alvesta para o amplo terreno em volta. Caminhou, com a neve pelos joelhos, cada vez para mais longe do alojamento, até as luzes ficarem muito pequenas e sumirem. Não sentia frio. Obedecia à voz sem corpo. Quando ela ordenou que parasse, ele parou. Você está muito cansado, a voz lhe disse. Sim, estou, ele respondeu. Você está fugindo há muito tempo, a voz acrescentou. Sim, estou fugindo há muito tempo. Não precisa mais fugir, a voz lhe assegurou. Você chegou ao seu destino. Chegou o momento de descansar. Deite-se. A neve está macia. É um leito acolhedor. Veja como ela se derrete à sua volta e se molda ao seu corpo.