testeRio, esporte e turismo

Foto do Grande Prêmio Carlos Guinle (Fonte)

Foto do Grande Prêmio Carlos Guinle (Fonte)

Com a aproximação da abertura dos Jogos Olímpicos, em 5 de agosto, tenho me lembrado muito de Carlos Guinle. Talvez ele tenha sido o primeiro carioca a vislumbrar o potencial turístico e esportivo do Rio de Janeiro. Os irmãos Guinle sempre foram ligados ao mundo dos esportes, tanto que ele, Guilherme e Arnaldo presidiram o Fluminense Football Club. Curioso é que o sonho de Carlos de transformar a cidade em uma praça de atividades não nasceu associado ao futebol.

Carlos começou a organizar corridas de automóveis pelas ruas do Centro na década de 1920. A primeira foi em 1922, nos festejos do centenário da Independência do Brasil. Depois, os eventos automobilísticos começaram a ser realizados entre os bairros do Leblon e da Lagoa. Nos anos 1930, um novo trajeto, conhecido como Circuito da Gávea, ganhou dimensões internacionais, com participação de pilotos de nacionalidades diversas e transmissão radiofônica para o continente.

O Circuito da Gávea, que se chamava Grande Prêmio Carlos Guinle, acabou se consagrando como G.P. Rio de Janeiro. A largada era dada na rua Visconde de Albuquerque, no Leblon, e os carros seguiam pela avenida Niemeyer, em São Conrado, depois pela estrada da Gávea (atual favela da Rocinha), voltando ao ponto de partida pela Marquês de São Vicente. Um circuito sinuoso e muito perigoso que provocou inúmeros acidentes fatais, por isso as autoridades passaram a questioná-lo.

Carlos tinha total convicção de que a dobradinha turismo-esportes era a vocação natural da cidade. Sem conseguir concretizar essa ideia, esforçou-se para oferecer aos cariocas um autódromo, o que não chegou a acontecer. Acreditava que o local ideal para a sua construção seria a Zona Sul, no entanto, sempre admitiu a possibilidade de erguê-lo na Zona Oeste.

Agora, as Olimpíadas acontecerão basicamente nessas duas partes da cidade. Na era da imagem, as belas paisagens cariocas realçam as atividades esportivas. Carlos Guinle talvez já imaginasse que um dia o Rio de Janeiro conseguiria ser, de fato, a moldura para um congraçamento esportivo de grande porte. Mas, talvez, nem em seu maior sonho ele tenha pensado que esse evento reuniria os maiores atletas do mundo.

testeO terror psicológico de Loney por uma semana

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Foto: Pausa para um café

Convidamos os nossos blogueiros parceiros para embarcar em um desafio: mostrar os diferentes aspectos de Loney para os leitores. A obra apresenta uma história de suspense e horror gótico que já encantou o mestre Stephen King e Josh Malerman, autor de Caixa de pássaros.

O livro acompanha a família Smith durante uma peregrinação católica numa região no interior da Inglaterra, conhecida como Loney, onde eles acreditam que podem encontrar a cura do filho mudo.

Nesse desafio, nossos parceiros tinham a missão de comentar sobre o terror psicológico, os personagens, a construção do cenário, as influências do autor Andrew Michael Hurley, além de publicar fotos e resenhas sobre o livro.

Para @queriaseralice, o terror de Loney é interessante porque está escondido nas entrelinhas. A ausência de cenas explícitas, de sangue, de assombrações foi destacada no post de Além do livro que também considerou a capa fundamental para entrar na atmosfera sombria da história.

“Durante toda a leitura, senti como se a névoa e a chuva me impedissem de ver o que seria claro à luz do sol, e o clima certamente era um elemento crucial para manter o suspense da trama”, conta Julia, do Conjunto da Obra.

O terror psicológico criado pelo autor também foi um dos pontos que chamaram a atenção do blog Entrando numa fria. Para ele, isso “acaba deixando o leitor visualizar em sua mente algo terrível ou ensejar por algo que pode a vir acontecer.”

A construção dos personagens e as narrativas que influenciaram o autor, que buscou inspiração na sua criação católica, também são importantes para o livro. O blog Vai lendo destacou esse lado da história em sua resenha. Para Daniel Lanhas, Andrew Michael Hurley fez uso da religiosidade com muito cuidado e talento. A página Sobre livros e traduções acredita que o jogo entre fé e descrença é a melhor parte de Loney.

Na trama, acompanhamos personagens enigmáticos e complexos como os padres, os peregrinos e os vizinhos excêntricos. “Loney possui personagens intrigantes e reais, o que deixa a trama ainda mais interessante. Logo de cara temos o narrador, Smith, um homem que carrega o peso de ter que cuidar de Hanny, seu irmão deficiente. Smith sempre foi um garoto bondoso e ao crescer se torna um homem misterioso e isso fica claro logo no início do livro”, explica o blog Claquete Literária.

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Cada integrante da família Smith tem características únicas que são apresentadas com muita riqueza na obra. A relação entre os irmãos também foi destacada por muitos leitores durante a semana especial. Para o blog My book lit, Andrew construiu a trama com “maestria surpreendente em se tratando de uma obra de estreia. Ele soube como inserir todos na narrativa, sem que nenhum sobressaísse ao outro”.

Seja pela riqueza de detalhes da história ou pelo terror psicológico, Loney é daquele tipo de livro que deixa os leitores angustiados para chegar à última página.

Confira mais posts:

Além do livro|Guardiã da Meia Noite |Ingrid Books| Vagando e divagando| Conjunto da obra| Recanto da chefa| Insagas| Claquete Literária| Portal Ju Lund| Sobre livros e traduções| Parada Geek| My book lit| Cabana do leitor| Inspirada por palavras | Colorindo Devaneios| La vie est allieurs |Tyta Montrase| Cabana do leitor | Despindo estórias |Viaje na leitura|Livrólogos| Despindo estórias

testePax é o livro da minha vida

Por Sara Pennypacker*

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Uma raposa volta e meia caça no charco que tem atrás da minha casa. Hoje em dia, sempre que a vejo fico pensando: Como será que ela vê as guerras humanas? Como será que vivencia o amor? E se nós duas conseguíssemos estabelecer uma conexão?

Pax é o livro da minha vida. É o que eu provavelmente mais me orgulharei de ter escrito e com certeza foi o mais desafiador até hoje, desde a primeira semente de sua lenta germinação. Durante muitos anos nutri o desejo de escrever a respeito das coisas terríveis pelas quais as crianças passam em nome da vergonhosa guerra. Ao mesmo tempo também cultivava a vontade de escrever algo que celebrasse o glorioso vínculo de empatia que as crianças formam com os animais, mesmo os selvagens. A beleza desse tipo de relacionamento sempre me comoveu.

Então, seis anos atrás, alguém fez um comentário fortuito que me levou a unir os dois projetos. Construir a estrutura da narrativa dupla e testar os animais que se apresentavam em busca do papel principal levou um ano inteiro, depois levei mais quatro para escrever. Dado o território emocional em que se estende o enredo, foram muitas lágrimas derrubadas no teclado, mas, ao relembrar aquela época, vejo que nunca me senti tão feliz em ser escritora.

Agora que Pax chegou às livrarias do mundo inteiro, estou repleta de expectativas. Um livro é a primeira fala de uma conversa, e espero que se sigam muitas vozes, das mais variadas origens, da maior quantidade possível de idiomas. Quais são os verdadeiros custos da guerra? Vale a pena? Como atingir um equilíbrio entre nossas naturezas selvagem e dócil? Como abrir mão de algo que amamos? Essas foram perguntas que surgiram para mim, e espero que outras mais surjam para você.

E tem mais uma coisa. Depois de ler Pax, se algum dia encontrar uma raposa, espero que pare o que estiver fazendo, olhe bem dentro de seus olhos selvagens e tente criar um vínculo. Então comece a imaginar…

>> Leia um trecho de Pax

 

Sara Pennypacker é autora premiada de diversos livros infantis, entre eles a série Clementine. Divide seu tempo entre os estados da Flórida e de Massachusetts, onde, além de escrever, dá palestras em escolas e universidades sobre literatura infantil. Pax é seu primeiro romance publicado no Brasil.

testeAs perturbações de Neil Gaiman compiladas em Alerta de Risco

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Neil Gaiman já explorou lendas africanas, contos de fadas, memórias de infância e até mesmo os subterrâneos secretos da Inglaterra. Mas é nos contos que o autor esmiúça sua faceta mais perturbadora.

Em Alerta de risco, nova coletânea de contos do autor, o leitor vai mergulhar em histórias hipnotizantes, capazes de despertar surpresa e assombro, como o conto “Cão negro”, que revisita o mundo de Deuses americanos ao narrar um episódio que envolve Shadow Moon em um bar durante seu retorno aos Estados Unidos.

Alerta de risco chega às livrarias a partir de 22 de agosto. Leia um trecho abaixo, ou clicando no link.

“Introdução

1. Pequenos gatilhos

Certas coisas nos incomodam. Mas não é bem a essas que vou me referir aqui. Na verdade, tenho em mente aquelas imagens, palavras ou ideias que se abrem como alçapões sob nossos pés, nos arrancando do nosso mundo calmo e confortável para nos lançar em um mundo sombrio e nada acolhedor. O coração dá um salto vertiginoso no peito, a respiração fica difícil. O sangue foge do rosto e das mãos, nos deixando pálidos e ofegantes, em choque.

E o que aprendemos sobre nós mesmos nesses momentos em que o gatilho é apertado é que o passado não morre. Certas coisas ficam à espreita, esperando pacientemente por nós, em passagens sombrias da nossa vida. Acreditamos que ficaram para trás, que as ultrapassamos, que lá vão ressecar e encolher e serão levadas pelo vento — mas estamos enganados. Elas permaneceram lá na escuridão, à espera, se exercitando, praticando seus golpes mais potentes, o soco impetuoso, duro e insensível no estômago, só aguardando o momento em que voltaríamos por aquele caminho.

Os monstros que habitam nossos armários e nossa cabeça jamais deixam a escuridão, como o mofo que cresce sob a tábua corrida e atrás do papel de parede. E há tanta escuridão… remessas incessantes de escuridão. O universo e seu vasto estoque de sombras.

Do que precisamos ser alertados? Todos temos nossos pequenos gatilhos. A primeira vez que vi a expressão “alerta de risco” foi na internet [derivada do inglês trigger warning], onde é usada geralmente quando há links para imagens ou ideias que podem ser perturbadoras e desencadear lembranças traumáticas, ansiedade ou pânico. A intenção é que as pessoas identifiquem essas imagens e ideias em meio a outros conteúdos e possam evitá-las ou se preparar mentalmente para se deparar com tais gatilhos.

Fiquei fascinado quando soube que os alertas de risco tinham cruzado a fronteira que separa a internet do mundo tangível. Muitas universidades estavam considerando incluir alertas de risco em livros, obras de arte e filmes, para precaver os estudantes contra o que os esperava. A ideia me pareceu ao mesmo tempo atraente (é claro que desejamos informar pessoas suscetíveis de que algo pode vir a perturbá-las) e preocupante: Sandman foi publicado originalmente como um quadrinho mensal, que sempre trazia um aviso ao mundo dizendo que era conteúdo adulto, e isso me parecia adequado. Era um recado para os leitores em potencial, informando que aquilo não se tratava de um quadrinho infantil e que continha imagens ou ideias possivelmente perturbadoras e sugerindo que o leitor adulto (seja lá quem se encaixe nessa categoria) lidaria sozinho com as consequências. Quanto ao que haveria ali de perturbador, chocante ou capaz de suscitar pensamentos incomuns, eu achava que avaliar isso era responsabilidade do leitor. Se somos adultos, cabe a nós decidir o que queremos ler ou não.

Na minha opinião, o que escolhemos ler quando adultos deveria vir sem nenhum alerta, ou, no máximo, um “prossiga por sua própria conta e risco”. Precisamos descobrir o que é a ficção, encontrar o significado de uma experiência que será diferente da experiência de qualquer outra pessoa.

Construímos as histórias na nossa mente. Pegamos palavras e lhes conferimos poder, e nos colocamos atrás de outros olhos, enxergando e vivenciando o que os outros veem. Eu me pergunto: A ficção é um lugar seguro? E, em seguida: Deveria ser? Quando criança, li algumas histórias que, depois de terminar, lamentei tê-las encontrado, pois não estava pronto e elas me deixaram transtornado: histórias que continham desamparo extremo, ou que mostravam pessoas sendo constrangidas ou mutiladas, em que adultos eram retratados como vulneráveis e os pais em nada podiam ajudar. Essas histórias me perturbaram e assombraram meus sonhos — os noturnos e os diurnos —, provocando em mim preocupação e incômodo em níveis profundos, mas também me ensinaram que, ao ler ficção, eu só descobriria os limites da minha zona de conforto se saísse dela. Hoje, já adulto, eu não optaria por não as ter lido, nem se pudesse.

Ainda há coisas que me perturbam profundamente quando encontro essas histórias, seja na internet, no texto ou no mundo. Nunca se tornam mais fáceis, nunca deixam de fazer meu coração bater mais forte, nunca me permitem escapar ileso. No entanto, elas me ensinam, abrem meus olhos e, se me machucam, o fazem de maneira que me leva a pensar, crescer e mudar.

Ao ler a respeito daqueles debates universitários, me perguntei se um dia minhas obras de ficção viriam acompanhadas de um alerta de risco. Será que haveria justificativa para tanto? Então, decidi colocá-lo antes que alguém o fizesse.

Este livro, assim como a vida, contém elementos capazes de perturbá-lo. Aqui você vai encontrar morte e dor, lágrimas e desconforto, violência de todos os tipos, crueldade e até abuso. Há também gentileza de vez em quando, espero. Até um punhado de finais felizes. (Afinal, poucas histórias terminam mal para todos os participantes.) E mais: conheço uma mulher chamada Rocky que tem forte sensibilidade a tentáculos e realmente precisa de alertas para coisas que contenham tentáculos, especialmente tentáculos com ventosas, e que, se encontrar um pedaço inesperado de lula ou polvo, vai se esconder atrás do sofá mais próximo, tremendo. Há um tentáculo imenso em algum lugar nestas páginas.

Muitas das histórias terminam mal para pelo menos um dos envolvidos. Considere-se alertado.

 

2. Procedimentos de segurança para o voo

Às vezes, imensas verdades são proferidas em contextos inusitados. Eu viajo demais de avião — uma ideia e uma frase que eu seria incapaz de compreender na juventude, quando cada voo era um evento empolgante e milagroso, quando eu olhava pela janela e imaginava que as nuvens eram uma cidade ou um mundo, algum lugar onde eu pudesse caminhar tranquilamente. Mas mesmo hoje, no início de cada voo, me vejo meditando e ponderando sobre os conselhos oferecidos pela tripulação como se fossem um koan, uma pequena parábola ou o ápice de toda a sabedoria humana.

Os comissários de bordo dizem:

Coloque sua máscara antes de ajudar os outros.

E penso em nós, todo mundo, e nas máscaras que usamos, as máscaras atrás das quais nos escondemos e aquelas que revelamos. Imagino as pessoas fingindo ser o que não são e descobrindo que os outros são muito mais e muito menos do que o papel que representam e do que a imaginação permite conceber. Então penso na necessidade de ajudar os outros, em como nos mascaramos para fazer isso e em como nos tornamos vulneráveis se tirarmos a máscara…

Estamos todos usando máscaras. É isso que nos torna interessantes.

Estas histórias tratam dessas máscaras e dos indivíduos que vivem sob elas.

Nós, escritores, que vivemos da ficção, somos um continuum daquilo que vimos e ouvimos e, ainda mais importante, de tudo o que lemos.

Tenho amigos que esbravejam, rosnam e explodem de frustração porque as pessoas não conhecem as referências, não sabem o que está sendo indicado, esqueceram autores, histórias e mundos. Tendo a observar isso de uma perspectiva diferente: também já fui uma folha em branco, esperando pela escrita. Foram as histórias que me ensinaram sobre as coisas e pessoas, e foram as histórias que me apresentaram outros autores.

Muitos dos contos deste livro — talvez a maioria — fazem parte desse mesmo continuum. Existem porque outros autores, outras vozes, outras mentes existiram. Espero que você não se importe se, nesta introdução, eu aproveitar a oportunidade para indicar alguns dos autores e lugares sem os quais estas histórias talvez jamais vissem a luz do dia.

 

testeO Dia em que Helen Macdonald Encontrou Christian Grey

Por Maria Carmelita Dias*

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Quis o destino, ou os deuses das coincidências, que eu tivesse que interromper a tradução de F de falcão para assumir um trabalho mais urgente. Adiante explico o porquê das coincidências. F de falcão, o belo livro da escritora e falcoeira britânica Helen Macdonald, trata da experiência da autora em como lidar com o luto pela súbita morte de seu pai.

A estratégia da autora, inusitada para a maior parte das pessoas, consiste em treinar uma ave de rapina, mais precisamente um açor, uma das aves mais indomesticáveis que existem. Ao longo do livro, Helen Macdonald, além de descrever seus sentimentos e sua relação com Mabel, o açor fêmea que treinava, mescla a própria história com passagens da vida do autor de uma de suas inspirações, o livro The Goshawk, o açor, do escritor inglês T. H. White. Apesar de não ser, no início, um genuíno falcoeiro, White se atreveu a treinar um açor como parte de sua tentativa de abandonar a escola onde tinha lecionado, de se afastar dos seres humanos, com quem não achava ter muita afinidade, e de colocar em prática preceitos de ensinamento diferentes daqueles com os quais fora educado e com os quais vinha trabalhando como professor. Mais que tudo, White queria ter a sensação de ser capaz de dominar um ser selvagem.

White, entre outras obras, escreveu uma saga fantástica, uma coleção de livros que relatavam a história do Rei Artur e do reino de Camelot: The Once and Future King, O único e eterno rei. O primeiro volume da coleção, The Sword in the Stone, A Espada na pedra, narra as aventuras do menino Wart, que mais tarde seria sagrado rei, e do seu encontro com o Mago Merlin. Esse volume teve os direitos comprados pelos estúdios de Walt Disney e se transformou no longa de animação que recebeu no Brasil o nome de A Espada Era a Lei. Quem não se lembra do fantástico duelo travado entre o Mago Merlin e a Madame Min, cujas armas eram as mágicas dos dois feiticeiros, transformando a si mesmos em animais que se enfrentavam?

untitledF de falcão é um livro igualmente mágico. Sua linguagem é poética, delicada, em contraponto ao tema tão intenso, que envolve luto, perda, morte, dominação, vida selvagem. Traduzir F de falcão foi entrar nesse universo de contrastes entre a intensidade do tema e a delicadeza da linguagem.

Pois bem, voltando ao início: no meio do trabalho, fui solicitada a participar da tradução de outro livro, cuja data de lançamento demandava urgência. Que livro era esse? Grey – Cinquenta tons de cinza pelos olhos de Christian, de E L James.

Assim, abandonei por uns tempos Helen Macdonald, Mabel e T. H. White, para me tornar, durante algumas semanas, mais uma submissa do Sr. Christian Grey.

À parte o fato de ambos os livros terem sido escritos por escritoras inglesas, não existem obras mais diferentes do que F de falcão e Grey. Porém, lá pelas tantas, eu me deparo com o seguinte trecho em Grey:

E me lembro de Grace, minha mãe, fazendo cafuné em mim enquanto eu lia trechos de O único e eterno rei em voz alta.

“Christian, isso foi ótimo. Estou impressionada, querido.”

Eu tinha sete anos e havia começado a falar havia pouco tempo.

 Ora essa, Christian Grey também leu T. H. White! Que estranha coincidência me faz retornar ao livro que eu deixara de lado temporariamente. Coincidência em vários sentidos. Nunca li as obras de T. H. White e tampouco as vi mencionadas nos livros que traduzi ou nos muitos que li. Então, descubro que o livro que Christian Grey lia em criança, quando começou a falar, era justamente… O único e eterno rei.

Traduzi pouco mais de um terço de Grey. Por que exatamente aquele trecho ficou a meu cargo? Por que White apareceu nos dois livros que eu estava traduzindo? (Afinal, como Helen Macdonald diz, White não era um escritor “da moda”.) E por que eu estava trabalhando exatamente com esses dois livros exatamente na mesma época? E, mais uma vez, constatei como o ofício da tradução me traz tantas surpresas, tantos conhecimentos e tanto prazer.

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Algumas pessoas acham que traduzir é transpor mecanicamente algo escrito em um idioma para algo semelhante escrito em outro idioma. Para mim, traduzir é como montar as peças de um quebra-cabeça, em que todas as partes devem se encaixar à perfeição, embora aqui e ali seja necessário fazer uma adaptação e dar um empurrãozinho para preencher o espaço adequado.

Certas vezes, porém, uma peça parece se encaixar em outro tabuleiro, diferente daquele que estamos montando. Nessas ocasiões, o tradutor é premiado com uma surpresa, um fato novo que faz com que ele mergulhe ainda mais no texto a ser traduzido.

Na verdade, pensando bem, percebi que White e Grey tinham mais em comum do que seus sobrenomes descoloridos e o fato de uma estranha sincronicidade unir esses dois homens, um real e outro ficcional, pelo menos nos dois quebra-cabeças que eu estava montando. Ambos eram homens com mentes até certo ponto conturbadas, vidas sexuais fora dos padrões das respectivas épocas e infâncias marcadas pela violência. O comportamento adulto de ambos se caracterizou, em parte, pela vontade de dominar e controlar um outro ser: no caso de White, a dominação de uma ave de rapina selvagem e quase indomesticável; no caso de Grey, a dominação das mulheres com as quais se relacionava. Ainda mais engraçado é o fato de que a palavra “capuz” (que é colocado no falcão para impedir-lhe a visão e acalmá-lo) vem da palavra árabe burqa (que Grey impunha metaforicamente às mulheres com as quais se relacionava, além de vendar-lhes os olhos durante seus jogos sexuais). Os dois homens partilhavam até mesmo a mania de entupir seus dominados (ave e mulher) de comida.

No meio dessas surpresas, nos damos conta de como participamos dos eventos e fatos e vidas mencionados nos textos originais, como se eles realmente dependessem de nós de alguma maneira. De modo geral, o leitor se envolve em um texto, mergulha dentro dele, e se sente uma parte integrante dos acontecimentos. O tradutor vai além, mergulha em um nível ainda mais profundo. Ele atravessa o universo do texto, e passa para o outro lado, tornando aquele universo um pouco dele também. Ao traduzirmos, não podemos desprezar ou ignorar nenhuma informação presente, seja ela implícita ou explícita. Não existe a possibilidade de deixar um lugar vago, um espaço em branco no meio do tabuleiro. Se existe uma dúvida de como preencher aquele espaço, temos que agir como se fôssemos o autor e procurar desfazê-la de todas as maneiras possíveis, pois absolutamente todas as palavras, expressões e frases são consideradas e transpostas para o texto-meta, ainda que nem sempre estejam lá necessariamente em formato físico.

O que muitas pessoas não imaginam é que cada obra original necessita de uma boa dose de pesquisa durante a tradução. Às vezes, uma palavra, seja o nome de uma ave, de uma planta, de um instrumento, pode exigir um tempo considerável para chegar à escolha perfeita – ou quase. Já houve ocasiões em que passei uma tarde inteira só para ter certeza de que o nome de uma determinada planta era mesmo aquela.

No caso de F de falcão, por exemplo, entrei de cabeça no mundo dos falcoeiros – colecionei sites e glossários, me correspondi com um falcoeiro, aprendi a diferenciar todos os objetos necessários para a falcoaria, descobri diversas e diferentes aves de rapina da Europa, onde se passa a ação do livro, e do Brasil. Pedi ajuda a um amigo geólogo para poder entender geologicamente a cultura das paisagens de giz na Grã-Bretanha, presentes em parte do texto.

Amigos especialistas, aliás, são bastante requisitados pelos tradutores, seja no caso de armamentos (como em Homeland: como tudo começou, de A. Kaplan), de física (como em Minha breve história, de Stephen Hawking) ou de radiotransmissão (como em Toda luz que não podemos ver, de Anthony Doerr), por exemplo. Em Grey, havia pesquisas sobre contratos, brinquedos eróticos e partes de um helicóptero, entre outras. O tradutor tem que se certificar de que todas as informações constantes do texto original, sejam elas necessárias ou não para a ação principal da trama, também estejam presentes no texto traduzido.

Ainda assim, acho que o mais importante em uma tradução é entender a linguagem que permeia o livro a fim de transpô-la para o português. Já mencionei que F de falcão tem uma linguagem delicada – na verdade, bastante poética, em termos de vocabulário e imagens construídas. Grey, ao contrário, tem uma linguagem informal e cotidiana, com muitos diálogos e expressões populares. Já O regresso, de Michael Punke, por exemplo, que traduzi há algum tempo, e cuja ação se passa em regiões inóspitas do meio-oeste americano no século XIX, obviamente tem uma linguagem bem diferente daquela dos outros livros citados.

Em outras palavras, cada caso é um caso, cada livro é um livro, e todos fazem o tradutor conhecer mais, viver mais, participar mais. E todos transportam o tradutor para universos inusitados, cheios de surpresas.

*Maria Carmelita Dias decidiu ser tradutora na adolescência porque queria muito entender as letras dos Beatles. Formou-se em Tradução e Interpretação na PUC-Rio, onde lecionou e atuou como pesquisadora. Atualmente se dedica quase exclusivamente à tradução e já montou os quebra-cabeças de Cinquenta Tons de Liberdade, de E.L. James, e Estado de Graça, de Ann Patchett, entre outros.

testeTudo se resume a você

Posso imaginar minha mãe dando desculpas esfarrapadas — “você sabe como mulher é, demora tanto para se arrumar…” — enquanto estou aqui, trancada no quarto, sozinha. É o único lugar em que me permito viver a verdade. Sei o que quero, tenho plena consciência da verdade: tudo se resume a você.

Se você aparecesse agora, corresse para impedir o noivado, como naqueles romances da coleção Sabrina que minha mãe costumava ler, sairia correndo com você, a pé, pelas ruas do Rio de Janeiro. Encontraríamos um quarto de hotel barato e viveríamos à base de pão com manteiga e café com leite o resto da vida, se fosse preciso.

Sempre busquei um salvador, e continuo a precisar de um agora. Inácio, você vem? Foi o Olavo quem pagou o condomínio deste mês, e também os atrasados, para que não perdêssemos o apartamento. Pintamos as paredes, recapeamos as poltronas, consertamos o encanamento. Não estou espantada que mamãe o considere o genro ideal.

A esperança da família, desde os meus dezesseis anos, é meu casamento. Os amigos ricos e as conexões dos tempos em que vovô tinha negócios com metais seriam o passaporte para a busca de um marido. O bom colégio, o aparelho nos dentes e as aulas de balé visavam a um só objetivo: recuperar a fortuna da família.

Mamãe não tinha conseguido um marido rico para si, fora enganada, mas ao menos tinha um bom apartamento para manter as aparências. Em seu discurso, papai sempre estava em uma viagem de negócios, em busca de um grande investimento. Na realidade, era fácil encontrá-lo: de shorts e camisa social aberta no peito, lia o jornal, fumava e jogava dominó numa praça do bairro Peixoto. Dia sim, dia também.

Será que, como nos filmes, Inácio intuirá, tal qual um telepata, que preciso dele exatamente neste minuto? E passará sem ser percebido pelo porteiro, correrá pelas escadas e arrombará portas para me buscar? Quero ficar aqui imóvel, como uma donzela encantada,  uma flor a ser colhida por um cavalheiro.

A outra opção seria assumir que sou adulta e marchar até a sala, dizer a Olavo que está tudo acabado, que nunca gostei dele, que toda vez que ele me beija eu tenho vontade de vomitar. E que ele seria mais do que adequado para outra moça, pois tem boas intenções, embora me irrite profundamente.

Não, isso não daria certo. Eu já estou com o vestido rosa-bebê que minha mãe passou com todo o cuidado para o jantar. Pus um brilho labial e um pó no rosto, sem exageros na maquiagem, para aceitar o anel de noivado que ele trará no bolso. Aos vinte e dois anos, meu destino está selado. Ponto-final.

A opção é a janela. Não penso em suicídio, mas no cano de água da chuva. São só dois andares. Aos doze anos, fugi de casa para ir à praia e voltei com queimaduras de segundo grau. Minha mãe me trancava em casa no verão para preservar minha pele.

Sinto-me tão determinada que não mudo de roupa nem calço os sapatos. Saio pela janela, ando pelo parapeito. O cano, mesmo meio enferrujado, ainda existe. Consigo colocar meus braços ao redor dele, porém não tenho a mesma força física de antes. Deslizo aos poucos e, não muito longe do chão, solto e caio sentada. Meu corpo dói, mas continuo inteira.

Levanto-me, sacudo a sujeira do vestido, ajeito o cabelo. Percebo que o tafetá reflete as luzes da rua. Sem dinheiro e sem sapatos, só resta uma saída: apesar de não saber aonde ir, preciso andar, seguir adiante. O fato de as pessoas olharem para mim como se eu fosse louca me dá certa satisfação.

Os minutos passam e eu lembro que minha mãe me disse hoje: “Baby, finalmente hoje você se tornará adulta.” De uma forma muito estranha, ela tem razão. Imagino-a batendo na porta, esperando uma resposta do quarto vazio. Rio sozinha. Paro e, ereta, estico-me o quanto posso, fazendo pose de bailarina.

Um, dois, três segundos. Uma calma inexplicável toma conta do meu corpo. Recomeço a andar e, feliz, dobro a esquina.

testeNovo livro de Pedro Gabriel

Para onde vão nossos silêncios quando deixamos de dizer o que sentimos?

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Antônio é um personagem de um romance que ainda está para ser escrito e que, entre um chope e outro, despeja frases e desenhos em guardanapos no bar que frequenta. Pedro Gabriel é autor da página Eu me chamo Antônio, no Facebook e no Instagram, que reúne as divagações e os rabiscos de seu alter ego. Antônio pertence à ficção e conquistou mais de 1 milhão de seguidores na internet. Pedro, por sua vez, consolidou seu espaço na literatura com dois best-sellers: Eu me chamo Antônio (2013) e Segundo (2014). Em Ilustre Poesia, seu terceiro livro que chega às livrarias a partir de 23 de agosto, fantasia e realidade colidem. Criador e criatura dialogam por meio de palavras e ilustrações.

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Desta vez, Antônio procura escapulir do confinamento nos quadradinhos de papel dos guardanapos e ganhar a liberdade. Ao mesmo tempo, Pedro Gabriel explora galáxias, as profundezas do mar e os confins da terra em textos de prosa poética que podem ser lidos como uma espécie de correspondência com o personagem. O senso de humor, a irreverência e o gosto pelos trocadilhos são compartilhados pelo personagem e seu poeta.

A relação entre Pedro Gabriel e Antônio começou há quatro anos no balcão do Café Lamas, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro. Pedro costumava passar as noites tomando chope e escrevendo em guardanapos com caneta hidrográfica. Um belo dia, ocorreu-lhe a ideia de fotografar suas criações e compartilhá-las no Facebook. O sucesso foi imediato. Em poucos meses, ele havia se transformado numa verdadeira celebridade da internet.

testeSons Alucinadamente Felizes!

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Jenny Lawson vive com uma série de transtornos mentais. É uma condição de sua vida e algo que tem o poder de provocar um quadro de depressão grave, impedindo-a de fazer qualquer coisa.

Mas, em vez de ceder aos perigos da doença, a autora decide pelo exato oposto: viver todos os momentos de forma intensa, o que tem como resultado uma série de histórias estranhas e incríveis. Em Alucinadamente feliz, ela relata alguns dos casos mais absurdos e alterna histórias engraçadas com reflexões sobre sua vida.

Inspirados na vida de Jenny e em sua forma de superar os problemas, preparamos uma playlist especial para o livro. Com a ajuda de nossos leitores no Twitter listamos músicas alucinantes  – do rock ao pop – para superar os momentos complicados da vida.

testeHistórias reais que mais parecem ficção

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Nem sempre histórias incríveis são focadas em contos fantásticos, mistérios imaginários ou ficção científica. Separamos quatro livros impressionantes que mostram como, às vezes, a realidade cria histórias tão impressionantes quanto a ficção.

Deixado para morrer

untitledParecia que tudo correria normalmente para um grupo de alpinistas que planejava subir ao topo do Evereste em maio de 1996. Até que uma tempestade inesperada atingiu a montanha mais alta do mundo.

O grupo foi atingido diretamente, e seus integrantes se separaram ao longo do caminho. Assim que a equipe de resgate chegou, uma escolha impossível foi feita: alguns alpinistas simplesmente não poderiam ser resgatados, devido a sua localização e sua condição física após a tempestade.

Beck Weathers foi um dos que foi dado como morto após o resgate, mas doze horas depois, cego, sem luvas e coberto de gelo, ele surgiu caminhando na direção do acampamento. Como ele sobreviveu? Você terá de ler para saber.

A história de Beck foi uma das que inspirou o filme Evereste, estrelado por Jake Gyllenhaal, Keira Knightley e Josh Brolin.

Além do relato assustador de Beck, é interessante ver quão fiel à realidade é a descrição da escalada. Ideal para aqueles que se interessam pelo assunto, e pelo que acontece quando tudo dá errado.

A última viagem do Lusitânia

lusitaniagrndeEm maio de 1915, o transatlântico Lusitânia saiu de Nova York com destino a Liverpool, na Inglaterra, levando um número recorde de crianças e bebês a bordo. Apesar da tranquilidade da tripulação e dos passageiros, a Europa entrava no décimo mês da Primeira Guerra Mundial, e uma viagem daquele tipo era obviamente um risco.

O que o capitão do navio não esperava é que a rota do Lusitânia encontraria a do submarino alemão Unterseeboot-20 e do serviço secreto britânico, ficando no centro de um dos maiores desastres navais já documentados.

Apesar de ser um dos maiores naufrágios da história, a história do Lusitânia era desconhecida do grande público até ser recontada por Erik Larson – autor de No Jardim das feras e de O demônio na Cidade Branca –, que recorreu a documentos oficiais, recortes de jornal, diários e obras escritas pelos sobreviventes para escrever sobre a tragédia.

É isso que eu faço

Lynsey Addariograndeitswhatido era uma fotojornalista que tentava se estabelecer profissionalmente quando os atentados de 11 de Setembro mudaram o mundo. Por ter alguma experiência no Afeganistão, ela foi chamada para voltar ao Oriente Médio e cobrir a invasão americana ao país.

Essa foi apenas a primeira de muitas vezes que Lynsey abdicou do conforto de sua vida para relatar as crueldades da guerra.

Em É isso que eu faço ela retrata os afegãos antes e depois do estabelecimento do regime talibã, a destruição e revolta no Iraque e expõe a cultura de violência contra a mulher no Congo

Além disso, relata a ocasião do próprio sequestro durante a guerra civil na Líbia, que ganhou destaque na mídia internacional.

O livro teve os direitos vendidos para o cinema, e o filme será produzido por Steven Spielberg.

No reino de gelo

CAPA_NoReinoDoGelo_GNo século XIX, o mundo era um pouco mais misterioso do que atualmente. Uma das grandes questões era sobre o que poderia existir no Pólo Norte.

Enquanto as teorias variavam entre civilizações perdidas, continentes inteiros e um imenso bloco de gelo deserto (o que obviamente é a resposta mais sem graça e a verdade) algumas pessoas acreditavam que de alguma forma o ponto extremo do planeta seria na verdade um oceano quente e navegável.

Para colocar tais teorias à prova, diversos exploradores rumaram ao Norte. E, como o padrão da lista, as coisas não foram muito positivas.

No reino do gelo mostra todo o processo da exploração liderada por George Washington De Long, desde a escolha do navio perfeito – o USS Jeannette – à luta pela sobrevivência da tripulação.

 

testeProdutora anuncia início das filmagens de Extraordinário

(Photo by Mike Windle/Getty Images for WE Day )

A Lionsgate, produtora responsável pela adaptação de Extraordinário para os cinemas, anunciou pelo Twitter o início das filmagens. E as novidades sobre o longa não param por aí! Os atores Owen Wilson e Daveed Diggs, que interpreta Lafayette e Thomas Jefferson no musical da Broadway Hamilton, estão confirmados no elenco, ao lado de Jacob Tremblay e Julia Roberts. Wilson fará o pai de Auggie na história e Diggs ficará com o papel do Sr. Browne, professor do menino. As gravações acontecem em Vancouver, no Canadá, e devem durar cerca de quatro meses.

diggsewilson

A adaptação do livro de R. J. Palacio tem estreia prevista para abril de 2017. O longa será dirigido por Stephen Chbosky, autor de As Vantagens de Ser Invisível. O roteiro ficará a cargo de Steve Conrad, de À Procura da Felicidade, e Todd Lieberman e David Hoberman serão os produtores do filme.

Extraordinário conta a história de Auggie Pullman, um garoto que tem uma deformidade facial e enfrenta o grande desafio de frequentar a escola pela primeira vez. Com momentos comoventes e outros descontraídos, o livro já encantou milhares de leitores e consegue captar o impacto que um menino pode causar na vida e no comportamento de todos a seu redor: família, amigos e comunidade.