testeConfira a capa do novo livro de Neil Gaiman

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As novidades para os leitores fãs de Neil Gaiman não param de chegar na Intrínseca! Depois do lançamento de Alerta de risco e do anúncio da publicação da Edição Preferida do Autor de Deuses Americanos, um de seus livros mais importantes, o autor divulgou na manhã de 14/09 a capa de seu novo livro, Norse Mithology.

O livro será uma releitura das principais lendas nórdicas no estilo já consagrado do autor, desde as origens até o Ragnarok e além, contando com personagens como Thor, gigantes, Loki e Frey. A proposta da obra é buscar uma aproximação com as histórias originais, que tanto influenciaram Gaiman em obras como Sandman e o já citado Deuses Americanos. Ainda sem data de lançamento no Brasil, o livro será lançado em fevereiro de 2017 no exterior.

testeAssista ao trailer de Cinquenta tons mais escuros

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A segunda parte do romance de Christian Grey e Anastasia Steele chega aos cinemas em 9 de fevereiro de 2017!

Nesta sequência, os atores Eric Johnson, de Smallville e The Knick, Kim Basinger, de 9 ½ semanas de amor, Bella Heathcote, de Orgulho e Preconceito e Zumbis, Luke Grimes, de Sniper americano Brothers and Sisters, Max Martini e Eloise Mumford se juntam a Jamie Dornan e Dakota Johnson, protagonistas da história.

Inspirado no best-seller de E L James, Cinquenta tons mais escuros tem roteiro assinado pela própria autora e seu marido, Niall Leonard. A direção é de James Foley.

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Em Cinquenta tons mais escuros, Ana está assustada com os segredos obscuros do belo e atormentado Christian Grey e decide pôr um ponto final no relacionamento com o jovem empresário para se concentrar em sua carreira. Mas o desejo por Grey domina cada pensamento de Ana e, quando ele propõe um novo acordo, ela não consegue resistir. Em pouco tempo, ela descobre mais sobre o angustiante passado de seu amargurado e dominador parceiro do que jamais imaginou ser possível.

Enquanto Christian tenta se livrar de seus demônios interiores, Ana tem que enfrentar algo mais palpável: a ira e a inveja das mulheres que a precederam no coração e na cama de Grey.

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Cena do filme Rebecca, a mulher inesquecível (Fonte)

Acabo de rever Rebecca, a mulher inesquecível. O filme, de 1940, dirigido por Alfred Hitchcock e produzido por David O. Selznick, é um suspense psicológico de primeira. Baseado no romance homônimo de Daphne du Maurier, best-seller de 1938, o longa-metragem conta a história de uma jovem capiau (seu nome não é citado no filme) que se casa com o milionário Maxim de Winter. O casal vai morar na residência do noivo, à beira-mar, o palácio de Manderley, na Inglaterra. Em sua nova casa, a Sra. de Winter passa a ser assombrada pela lembrança da falecida Rebecca, a primeira esposa de Maxim. Quem mais colabora para criar esse clima lúgubre é a governanta, Sra. Danvers.

Quando estreou no Brasil, no início da década de 1940, o filme causou certa controvérsia, já que sua trama é claramente baseada no romance A sucessora, da escritora carioca Carolina Nabuco (1890-1981). Tanto que antes do lançamento de Rebecca os produtores americanos tentaram arrancar de Carolina, sem sucesso, uma declaração de que a obra de Daphne não era um plágio da sua.

Em Os Guinle, contei que a história de A sucessora foi concebida tendo como inspiração a mansão de Carlos Guinle, na praia de Botafogo, no Rio de Janeiro. No romance de Carolina Nabuco, a propriedade foi assim descrita: “O palácio parecia ter saído, completo e mobiliado, do cérebro de um longínquo arquiteto decorador, sem colaboração alguma dos ocupantes, sem que os donos, receosos de críticas, se arriscassem a concorrer com algo de pessoal.”

Como pesquisei muito a vida do casal Carlos e Gilda Guinle, não consigo imaginar que o casarão da praia de Botafogo fosse um ambiente sem “algo de pessoal”. No entanto, vendo o filme dirigido por Hitchcock, parece que o cenógrafo seguiu mesmo ao pé da letra a ideia de que seu interior seria impessoal. A gigantesca Manderley não é nada aconchegante. Em uma de suas inúmeras salas funcionava o frio escritório do Sr. de Winter e uma ala inteira da propriedade nem sequer era utilizada.

Não tenho nenhuma dúvida de que Rebecca, a mulher inesquecível é plágio. Vendo o filme, que é uma versão da versão de outra versão, consigo reconhecer o DNA dos Guinle: a mansão de uma família de milionários que vive cercada por um batalhão de empregados fiéis. Mesmo sendo o meu livro uma biografia e Rebecca uma obra de ficção, existe algo em comum nas duas narrativas: em ambas o final é surpreendente.

testeÉ tudo verdade: nove curiosidades sobre a feira de O demônio na Cidade Branca

Por Bernardo Barbosa*

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Nem só de grandes feitos e tragédias viveu a Chicago de O demônio na Cidade Branca, livro que acaba de ser relançado no Brasil pela Intrínseca. Na obra, o autor Erik Larson traz um relato vívido das façanhas da feira mundial de 1893 e da assustadora trajetória do serial killer H. H. Holmes. Mas o ímpeto pesquisador de Larson também nos trouxe outros fatos e personagens curiosos e incríveis, seja pelo legado que deixaram, seja pelas bizarrices que ficaram registradas para nossa diversão. E pode acreditar: tudo isso aconteceu de verdade.

 

1 – A roda da fortuna

A roda-gigante veio ao mundo especialmente para a feira mundial de Chicago, evento criado para celebrar os 400 anos da chegada de Cristóvão Colombo à América — e também para que os Estados Unidos fizessem frente à feira mundial de Paris, de 1889. Se a exposição da Cidade Luz teve a Torre Eiffel como atração inédita e principal estrela, a de Chicago teve na roda-gigante sua protagonista. Com quase 80 metros de diâmetro e capacidade para mais de 2 mil pessoas por vez, o brinquedo inventado por George Ferris foi responsável por salvar a feira americana da ruína financeira.

 

2 – Muito além da pontualidade

A proverbial pontualidade britânica não é páreo para o que os integrantes da aldeia argelina fizeram na feira mundial de Chicago. Contratados para o evento, dezenas de argelinos chegaram à Costa Leste americana no mês combinado — mas um ano antes do necessário. O detentor dos direitos de exposição da aldeia, Sol Bloom, resolveu não esperar: aproveitou o burburinho provocado na cidade pelas dançarinas do ventre para embolsar uma boa soma de dólares mesmo bem antes de a feira abrir.

 

3 – O lado menos nobre da medicina

A feira mundial de Chicago foi um evento de superlativos, e os quase 30 milhões de visitantes que recebeu durante seus seis meses são prova disso. Coloque essa quantidade de gente no meio de incontáveis máquinas, prédios enormes, comidas de todo o mundo e uma roda-gigante, e você terá mais de 11 mil pessoas recebendo atendimento médico. Entre centenas de casos de desmaio, dor de cabeça e indigestão, destacam-se os 169 episódios de “dentes que doíam como o diabo” e um de “flatulência extrema”. Talvez isso tenha relação com o assunto seguinte deste texto.

roda-giganteRoda-gigante, projetada por George Washington Gale Ferris (Fonte: Library of Congress, Washington, D.C.)

 

4 – Vai um guisado de macaco?

Nos Estados Unidos do fim do século XIX, provavelmente as palavras “consumo” e “consciente” nunca haviam aparecido uma ao lado da outra. Antes da feira de Chicago, os organizadores buscaram atrair arquitetos de Nova York com um jantar cujo cardápio abrigava, entre entradas, pratos e sobremesas, mais de dez etapas. Segundo Larson, isso fazia com que as pessoas se perguntassem “se seria possível que os homens mais notáveis da cidade tivessem alguma artéria ainda funcionando”. Já durante a feira, destaque para o baile em que foram servidas, entre outras iguarias, guisado de macaco, fricassê de rena e avestruz recheado. Ah, havia também batatas cozidas, mas quem se importa?

 

5 – Além de Chicago

Alguns dos principais nomes que fizeram nascer a feira mundial de 1893 deixaram um legado para além do evento. Seu diretor de obras, Daniel Burnham, projetou o icônico edifício Flatiron, onipresente em fotos e filmes de Nova York. Apelidado de “pai dos arranha-céus”, Louis Sullivan desenhou para o evento o gigante e premiado Edifício dos Transportes, mas é mais conhecido por ter sido mentor do influente arquiteto Frank Lloyd Wright — o responsável, entre outras obras-primas, pelo museu Guggenheim de Nova York.

 

6 – Um mal de muitos nomes

Conhecido pela série de assassinatos que cometeu em paralelo à agitação da feira mundial de Chicago, H. H. Holmes também era um vigarista de mão-cheia. Ele se valeu de ao menos seis nomes ao longo da vida para cobrir rastros de fraudes e homicídios. A conta inclui o de batismo, Herman Webster Mudgett. Além disso, casou-se três vezes — em mais um golpe, dois dos casamentos foram simultâneos.

dr-_henry_howard_holmes_herman_webster_mudgettH. Holmes (Fonte: Wikipedia)

7- Paisagem do caos

Responsável pelo paisagismo da feira de Chicago, Frederick Law Olmsted é considerado um dos pioneiros da atividade nos Estados Unidos e foi um dos autores do projeto paisagístico do Central Park, em Nova York. Olmsted assinou paisagens em todo o território americano — inclusive a do próprio asilo em que foi internado no fim da vida, sob profunda demência, no estado de Massachusetts.

 

8 – Um mundo ideal

Um dos milhares de operários que ergueram a feira mundial de 1893 era um carpinteiro e marceneiro chamado Elias Disney. Segundo o escritor Erik Larson, ele “contaria muitas histórias sobre a construção do mágico reino à beira do lago. O filho Walt registraria tudo”. O escritor L. Frank Baum e o ilustrador William Wallace Denslow também visitaram a feira e de lá saíram inspirados para produzir “O Mágico de Oz”. Ambos faziam parte do clube da imprensa de Chicago.

 

9 – A Cidade Branca resiste

Muito do que foi erguido para a feira foi pensado para ser temporário. Alguns dos pavilhões foram desmontados e reconstruídos em outros lugares dos Estados Unidos. Mas os maiores deles foram ao chão em agosto de 1894, sob a ação de incendiários. Hoje, a Cidade Branca resiste no Palácio de Belas-Artes, transformado em um prédio permanente que sedia o Museu da Ciência e Indústria.

>> Leia um trecho de O demônio na Cidade Branca

Bernardo Barbosa é jornalista, com passagens por O Globo e Agência Efe. Gostaria de ver o Aterro do Flamengo tomado por qualquer feira que tenha o maior número de barracas de comida por país.

testeObra-prima de Neil Gaiman, Deuses americanos será relançado em edição especial!

Então as luzes se apagaram, e Shadow viu os deuses.

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Em 1992, Neil Gaiman deixava a Inglaterra, sua terra natal, e se mudava para os Estados Unidos.

Tendo consumido ao longo da vida séries, livros e filmes que exaltavam a cultura americana, o autor acreditava que a adaptação ao novo lar seria tranquila. Mas, ao chegar, Gaiman finalmente pôde conhecer o país a fundo. Misturando suas experiências com diversas referências mitológicas, o autor captou a essência americana em um livro, lançado originalmente em 2001 e que se tornaria uma de suas obras mais importantes: Deuses americanos.

Em breve, a Intrínseca relançará o clássico, em uma nova Edição Preferida do Autor. Contando com capítulos expandidos, artigos, uma entrevista com Gaiman e um inspirado texto de introdução, o livro chega às livrarias a partir de 24 de outubro.

A história acompanha Shadow Moon, que passou quase três anos na cadeia ansiando retornar para a esposa. Dias antes do fim de sua pena, Shadow descobre que ela faleceu após um acidente, e fica sem rumo na vida.

Após o velório, ele conhece Wednesday, um homem com olhar enigmático e que está sempre com um sorriso insolente no rosto, e ele lhe oferece um emprego. É em sua nova função que Shadow começa a desvendar a real identidade de seu chefe e que, além de pessoas dos mais diversos cantos do mundo, os Estados Unidos também se tornaram a morada de deuses dos mais variados panteões.

Uma mistura de road trip, fantasia e mistério, uma história sobre perda e redenção, sobre o velho e o novo, sobre memória e fé, Deuses americanos é o exemplo máximo da versatilidade e da prosa lúdica e ao mesmo tempo cortante de Neil Gaiman.

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Shadow Moon (Ricky Whittle) e Wednesday (Ian McShane) – Fonte

Em 2017, a obra será adaptada para a TV, em uma série produzida por Bryan Fuller (das séries Hannibal, Pushing Daisies e dos novos filmes da franquia Star Trek) e pelo próprio Gaiman. Shadow Moon será interpretado pelo ator Ricky Whittle (da série The 100), enquanto Ian McShane (Piratas do Caribe e Game of Thrones) fará Wednesday. Completam o elenco Gillian Anderson (Arquivo X), Emily Browning (Desventuras em Série), Pablo Screiber (Orange Is the New Black) e Crispin Glover (De Volta Para o Futuro). O primeiro trailer foi divulgado recentemente, e pode ser visto logo abaixo:

testeLeia trecho de Nada mais a perder, romance inédito de Jojo Moyes

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Publicado em 2009 na Inglaterra, Nada mais a perder, romance inédito de Jojo Moyes no Brasil, chega às livrarias a partir de 23 de setembro. Na obra, a autora do sucesso Como eu era antes de você que acaba de atingir a marca de 1,5 milhão de exemplares vendidos no país entrelaça as emocionantes histórias de duas mulheres em momentos cruciais de suas vidas.

Aos 14 anos, Sarah vive em um simples conjunto habitacional inglês com o avô, Henri Lachapelle. Na juventude, ele foi um cavaleiro de raro talento, entre os poucos admitidos na academia de elite do hipismo francês, o Le Cadre Noir, porém as reviravoltas da vida o levaram para a Inglaterra. Mas, sem nunca abandonar o amor pela antiga carreira, aos trancos e barrancos ele ensina a neta a montar o cavalo Boo, na esperança de que o talento da dupla seja o passaporte para uma vida melhor e mais digna para todos. Mas um grande golpe muda mais uma vez os planos de Henri, e Sarah se vê entregue à própria sorte, lutando para, além de sobreviver, cuidar de Boo e manter os treinamentos.

Natasha é uma advogada especializada em representar crianças e adolescentes envolvidos com crimes ou em situação de risco. Abalada emocionalmente e em dúvida quanto a seu futuro profissional depois de um caso terrível, ela ainda tem de lidar com as feridas do fim de seu casamento. Um fim, aliás, bem inusitado, já que ela se vê forçada a morar com o charmoso futuro ex-marido enquanto esperam a venda da casa da família.

Quando Sarah cruza o caminho de Natasha, a advogada vê na menina a oportunidade de colocar a vida de volta nos trilhos. O que ela não sabe é que Sarah guarda um grande segredo que lhes trará sérias consequências.

>> Conheça todos os livros de Jojo Moyes publicados pela Intrínseca

Leia um trecho de Nada mais a perder:

 

CAPÍTULO 1

“O cavalo que assim recua é uma coisa tão maravilhosa que prende o olhar de todos os espectadores, jovens e velhos.”
XENOFONTE, SOBRE EQUITAÇÃO, C. 350 A.C.

 

AGOSTO

O trem das seis e quarenta e sete para a Liverpool Street estava abarrotado. Parecia ridículo que um trem estivesse assim tão cheio àquela hora da manhã. Natasha Macauley se sentou, já com calor apesar do ar fresco do início do dia, murmurando um pedido de desculpas para uma mulher que precisou tirar a jaqueta do assento. O homem de terno que tinha subido no vagão atrás dela havia se enfiado em uma brecha entre os passageiros do outro lado e logo abriu o jornal, alheio à mulher cujo livro ele em parte cobriu.

Não era o trajeto que ela costumava fazer para chegar ao trabalho: tinha passado a noite em um hotel em Cambridge depois de um seminário sobre direito. Levava no bolso do casaco um número satisfatório de cartões de visitas de advogados de várias especialidades; tinham lhe dado parabéns por sua palestra, então sugeriram reuniões futuras e possíveis trabalhos. Mas o vinho branco barato que circulara em abundância agora fazia seu estômago revirar, e ela desejou, por um instante, que tivesse arrumado tempo para tomar café da manhã. Ela não costumava beber e era difícil controlar o consumo em eventos em que sua taça era completada o tempo todo enquanto estava distraída com a conversa.

Natasha apertava com força o copo de isopor com café escaldante e deu uma olhada na agenda, prometendo a si mesma que em algum momento daquele dia iria encontrar um pouquinho mais do que meia hora para clarear as ideias. A agenda deveria ter uma hora reservada para a academia. Ela deveria tirar uma hora de almoço. Afinal, era como a mãe sempre dizia, brigando: ela tinha que cuidar de si mesma.

Mas, no momento, estava escrito na agenda:

  • 9h LA contra Santos, Sétimo Tribunal
  • Divórcio Persey. Avaliação psicológica da criança?
  • Honorários! Ver com Linda a situação do auxílio legal
  • Fielding — onde está a declaração da vítima? MANDAR FAX HOJE

Cada página, pelo menos durante as duas semanas seguintes, era uma série de listas feitas e refeitas de modo incansável e infinito. Quase todos os colegas dela no escritório Davison Briscoe tinham migrado para os eletrônicos, que usavam para organizar a vida, mas ela preferia a simplicidade da caneta e do papel, apesar de Linda reclamar que as agendas dela eram ilegíveis.

Natasha tomou um gole do café, se deu conta de que dia era e fez uma careta. Adicionou:

  • Flores/desculpas — aniversário da mamãe

O trem sacudia em direção a Londres, o terreno plano de Cambridgeshire se transformando nos arredores cinzentos e industriais da cidade. Natasha não tirava os olhos de seus papéis, esforçando-se para se concentrar neles. Estava de frente para uma mulher que parecia achar normal comer um hambúrguer com queijo extra no café da manhã e um adolescente cuja expressão vazia não combinava em nada com o tum-tum-tum que emanava de seus fones de ouvido. O dia seria brutalmente quente: o calor penetrava o vagão de trem lotado, transferido e intensificado pelos corpos.

Fechou os olhos e desejou ser capaz de dormir em trens, então os abriu ao ouvir o celular tocar. Remexeu na bolsa e encontrou o aparelho entre a maquiagem e a carteira. Uma mensagem de texto pipocou na tela:

Autoridade local do caso Watson adiou. Não precisa estar no tribunal às 9h.
Ben

Nos últimos quatro anos, Natasha fora a única advogada do escritório Davison Briscoe que lidava diretamente com os clientes e não atuava nas cortes mais altas, papel que tinha se mostrado adequado já que sua especialidade era representar crianças e adolescentes. Eles ficavam menos abalados de ir ao tribunal com a mulher para quem já tinham se explicado em seu escritório. De sua parte, Natasha gostava de poder ter uma relação com os clientes e ainda curtia os elementos mais controversos da advocacia.

Obrigada. Chego ao escritório em meia hora

Foi a resposta que ela mandou, com um suspiro de alívio. Então xingou em silêncio: no fim das contas, ela não precisava ter pulado o café da manhã.

Estava guardando o celular quando o aparelho voltou a tocar. Era Ben, seu estagiário:

— Só queria lembrar que nós… Ah… remarcamos a garota paquistanesa para as dez e meia.
— Aquela cujos pais estão sendo acusados de maus-tratos? — A mulher ao lado dela tossiu para chamar sua atenção. Natasha olhou para cima e leu “É proibido o uso de celulares” escrito na janela, baixou a cabeça e folheou a agenda. — Também temos os pais do caso de sequestro infantil às duas. Você pode providenciar os documentos relevantes? — murmurou.
— Já providenciei. E comprei alguns croissants — completou Ben. — Imagino que você não tenha comido nada.

Ela nunca comia nada. Suspeitava que, se o escritório algum dia acabasse com o programa de estágio, ela morreria de fome.

— São de amêndoas. Os seus preferidos.
— Ben, o puxa-saquismo vai te levar longe.

Natasha fechou o celular e depois a bolsa. Tinha acabado de pegar na pasta a papelada da menina quando o telefone voltou a tocar.

Dessa vez, os passageiros suspiraram alto, indicando irritação. Ela murmurou um pedido de desculpas sem fazer contato usual com ninguém.

— Natasha Macauley.
— Sou eu, Linda. Acabei de receber uma ligação de Michael Harrington. Ele concordou em trabalhar com você no divórcio dos Persey.
— Maravilha.

Era um divórcio envolvendo muito dinheiro, com questões complicadas de guarda. Ela precisava de um advogado peso pesado para cuidar do lado financeiro.

— Ele quer discutir algumas questões hoje à tarde. Pode ser às duas? Natasha estava ponderando quando a mulher ao seu lado começou a resmungar num tom nada simpático.
— Acho que tudo bem. — Ela se lembrou da agenda que estava na pasta. — Ai. Não. Tenho uma reunião. — A mulher no trem cutucou o ombro dela. Natasha cobriu o bocal do celular com a mão. — Só vou demorar mais dois segundos — disse, em um tom mais brusco do que pretendia. — Sei que neste vagão é proibido usar celular e sinto muito, mas preciso terminar esta ligação.

Ela prendeu o celular entre a orelha e o ombro, achou a agenda com dificuldade na pasta e então se virou irritada quando a mulher voltou a cutucar seu ombro.

— Eu disse que só vou…
— Seu café está em cima da minha jaqueta.

Ela olhou para baixo. Viu o copo equilibrado com precariedade na borda da jaqueta cor de creme.

— Ah. Desculpe. — Pegou o copo. — Linda, será que podemos reorganizar a tarde? Devo ter uma brecha em algum momento.
— Hah!

A risada da secretária ecoou em seu ouvido depois que ela fechou o celular. Riscou a ida ao tribunal na agenda, adicionou a reunião e ia guardá-la na bolsa quando algo na manchete do jornal à sua frente lhe chamou a atenção.

Ela se inclinou para conferir se tinha lido direito o nome no primeiro parágrafo. Curvou-se tanto que o homem que lia o jornal abaixou-o e olhou feio para ela.

— Desculpe — disse, ainda atônita pela notícia. — Será que eu… Será que eu poderia dar uma olhadinha no seu jornal?

Ele ficou muito espantado para recusar. Natasha pegou o jornal, encontrou a página certa e leu a matéria duas vezes, empalideceu e devolveu o jornal para o homem.

— Obrigada — falou, com a voz fraca.

O adolescente ao lado dela dava um sorrisinho, como se mal pudesse acreditar na quebra de decoro entre passageiros que acabara de acontecer diante dele.

 

testePeculiares na Bienal do Livro de São Paulo

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A Intrínseca promoveu uma ação especial para comemorar o Dia da Fenda Temporal, data emblemática para a série O lar da srta. Peregrine para crianças peculiares,  na Bienal do Livro de São Paulo.

Confira as imagens:

testeO ano da inocência

Lembro-me bem daquele dia. Os detalhes, odores, o vento, o vazio das ruas. Recém-aprovado no vestibular, ainda antes dos dezessete anos, sentia-me superior, como se pudesse esmagar o resto do mundo com meus pés. Embora muitos achassem que eu era motivo de piada — e, em retrospecto, não posso culpá-los por isso —, a verdade era que eu me achava invencível.

Uma autoestima nas alturas meio sem razão de ser. Magro e alto, de uma maneira desajeitada, era apenas mais um adolescente que não sabia o que fazer com as pernas, os braços e as orelhas que haviam crescido rápido demais. Estudaria, no ano seguinte, engenharia na universidade federal. Era o orgulho do meu pai, parecia tudo tão certo, predestinado, exato.

Naquele verão, do último dia das provas até aquela comemoração do resultado do vestibular, eu havia ficado no meu quarto ouvindo músicas em inglês para treinar o idioma. Nada de viagens, praia. Só ar condicionado ligado 24 horas por dia naquele quarto cheio de pôsteres imbecis. A aprovação no vestibular operara milagres: meu pai havia se esquecido da conta de luz e me deu um grande presente — deixou-me em paz.

Gastei todo o início de janeiro aprimorando meu inglês. Enquanto todo mundo ouvia John Lennon, The Doors ou Rolling Stones, eu exercitava o idioma com a canção preferida da minha professora quarentona naquele verão: Lost in love, do Air Supply. Ouvi tanto que passei a gostar. Parecia falar do que eu sentia por Baby: “You know you can’t fool me, I’ve been loving you too long…”

O telefone, que andara mudo lá em casa por dias, tocou com Baby gritando “passeeeeei” com todas as forças de seus pulmões (eu já sabia, tinha ouvido o nome dela no rádio). Ela me perguntou se eu iria à festa — claro que eu não havia sido convidado, mas fingi que mal podia esperar. Sim, precisava de uma carona. Baby havia ganhado um Fusca do pai. Não era nada especial, tinha um bege desbotado e um retrovisor só do lado do motorista.

À medida que acelerávamos pelas praias cada vez mais desertas naquele dia de verão nublado, mas não menos calorento, minha felicidade aumentava. Colaborava para o clima o gosto musical muito mais apurado de Baby. No toca-fitas, rodava um cassete mixado a partir dos melhores discos dos amigos. Um dos lados fora dedicado a David Bowie. Nunca tinha ouvido falar dele, para espanto de minha melhor amiga e também amor secreto.

— Em que planeta você vive? — perguntou Baby.

— Marte — respondi, com um sorriso.

— Que coincidência. Bowie também.

Antes de irmos à festa, paramos em um dos grandes descampados que a Barra tinha na época e Baby tirou da bolsa um presentinho que recebera um dia desses — um baseado. Ela confessou que era virgem nessa área — o que, óbvio, valia para mim também. Entre tossidas e cuspidinhas de erva, ela me beijou. Primeiro, um toque rápido nos lábios; depois, nossas línguas se entrelaçaram de forma atrapalhada, mas intensa, cada vez mais intensa. O elástico frouxo do meu short foi vencido por minha energia adolescente. Deixei-me levar, não podia parar. Quando dei por mim, havia sujado todo o painel do carro de Baby.

Ela olhou para mim espantada, pois nem havíamos nos tocado. Também nunca havia presenciado coisa semelhante. Em seguida, não conseguia parar de rir.

Corações em disparada, ainda mais porque, por algum motivo, a música estava ligada no último volume. Bowie cantava Changes. Enquanto nos olhávamos, nossas respirações se acalmavam. Soltei um riso nervoso. A vida começava ali.

testeClube de leitura: Baseado em fatos reais, de Delphine de Vigan

Por Bruno Leite*

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Quando recebi o e-mail com a sinopse de Baseado em fatos reais, de Delphine de Vigan, pensei: esse é o tipo de livro que é a cara do clube! E dito e feito: ele será o tema do nosso próximo encontro. A obra é de uma complexidade maravilhosa e faz surgir inúmeras questões enquanto você processa os acontecimentos descritos. Para quem ainda não conhece — o livro está quentíssimo, acabou de sair do forno —, Baseado em fatos reais conta a história de uma escritora chamada Delphine (sim, a personagem tem o mesmo nome da autora). Ela se encontra consumida pela insegurança e a ansiedade após o sucesso de seu último romance, até que conhece a encantadora e amistosa L., uma mulher que transformará sua vida. A partir daí, começamos uma grande brincadeira: a busca pelo fio que distingue onde começa a realidade e onde começa a ficção. O jogo da autoficção.

Esse estilo, embora não seja novo, vem sendo explorado constantemente por autores da nossa geração. O gênero começou possivelmente com os iluministas, como Rousseau e suas Confissões e Chateaubriand com Memórias de além-túmulo, e continua se reinventando com autores como Gertrude Stein em A autobiografia de Alice B. Toklas, Françoise Sagan em Bom dia, Tristeza e, mais recentemente, O mapa e o território, de Michel Houellebecq. Na autoficção, uma história a princípio verídica pode ter nomes adulterados e passagens mais exageradas ou comedidas, uma vez que não existe compromisso com fatos reais, e sim com uma boa história. O que vocês acham desse tipo de narrativa? Já leram algum desses autores? Eu me esqueci de alguém que vocês consideram um escritor que se utiliza da autoficção em seus livros?

Claramente eu me deixei seduzir e fui guiado pela voz melíflua de L. (Uma das coisas de que eu mais gostei é que L. se pronuncia do mesmo modo que elle, que significa “ela” em francês.) L. é uma tremenda personagem, acho que uma das melhores pessoas da ficção (ops!) que conheci esse ano. Vocês já conheceram alguém tão emblemático e sedutor assim? Será que se permitiriam ser seduzidos por L.?

Durante a leitura, muitas vezes quis bater em Delphine, em outras, quis abraçá-la e dizer: vai dar tudo certo. Passado um tempo, fui pesquisar informações sobre a autora e descobri muitas semelhanças entre Delphine de Vigan e a personagem Delphine, mas, ao mesmo tempo, me deparei com um grande dilema: eu deveria “acreditar” na vida dela ou no que ela escreveu no livro?

Numa dessas pesquisas, descobri que Baseado em fatos reais em breve vai ser adaptado para o cinema pelas mãos de Roman Polanski e Oliver Assayas. Então, me lembrei de alguns filmes cuja temática é parecida:

 

Persona, de Ingmar Bergman

Após perder a voz, uma atriz veterana vai passar um tempo na casa de praia com uma enfermeira e cada uma acaba assimilando a personalidade da outra.

 

A malvada, de Joseph L. Mankiewicz

Uma jovem atriz bem ambiciosa cruza a vida de uma atriz veterana, afetando tanto seu campo profissional como o pessoal.

 

O que terá acontecido a Baby Jane?, de Robert Aldrich

Duas irmãs que tiveram o destino selado por um acidente trágico precisam acertar contas com o passado.

 

Dentro da casa, de François Ozon

Um jovem se enfurna na casa de um colega de melhor condição social e começa a tecer uma série de histórias, seduzindo (e comprometendo) seu professor de redação.

Curioso para discutir esse e outros temas? É só passar seus dados e nome completo para renato.costa@livrariacultura.com.br e comparecer no dia 8 de setembro às 19h no auditório da Livraria Cultura do Shopping Bourbon. Espero vocês lá!

>> Leia um trecho de Baseado em fatos reais

Bruno Leite é estudante de Letras, trabalha há 8 anos no mercado editorial e é colaborador no blog O Espanador.