Nos primeiros dias de 1925, Benito Mussolini, o jovem presidente do Conselho italiano, tomba inconsciente no chão de seu apartamento. Mussolini não fuma, quase não bebe mais, pratica esportes e segue uma dieta rígida. Mas ele sabe o motivo por trás do que o acomete: a Grande Guerra e a psicologia das multidões foram os males que arruinaram seu sistema digestivo. De camisa preta, botas de cano alto e pose altiva, o homem que se prepara para controlar totalmente a vida pública italiana está inchado de hipersecreções de ácidos e gases. A Itália ainda não sabe, mas o Duce está diante da própria morte.
Este é o ponto de partida do segundo volume da epopeia do líder fascista. Sequência do aclamado M, o filho do século, vencedor do prêmio Strega em 2019 e publicado em 40 países, M, o homem da Providência começa no momento em que o livro anterior termina: quando Mussolini planeja o passo seguinte do seu projeto absolutista, que é fundir seu nome ao do próprio país. Nesse período de sua trajetória, não vemos mais Mussolini de dentro para fora, mas o contrário.
Doente, o Duce se torna uma entidade reservada, “uma crisálida do poder que se transforma na borboleta de uma solidão absoluta”. Em seu isolamento, percebe o mundo com uma hipermetropia megalômana, mensurando o próprio poder em perspectivas distantes, enxergando-se pelas lentes da História. Em oposição a seus devaneios, o caminho até a ditadura totalitária será árduo. Nos momentos finais dessa etapa de sua vida, quando, em 1932, Mussolini constrói o impressionante santuário dos mártires fascistas, o que seria uma homenagem ao luto passado já pressagia a dimensão da tragédia futura. Em M, o homem da Providência, Antonio Scurati tira do esquecimento pessoas e fatos de vital importância, cruzando narrações e fontes da época de forma ousada e profundamente dramática.
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Antonio Scurati
Nascido em Nápoles em 1969, Antonio Scurati é professor de Literatura Contemporânea na Universidade de Comunicação e Línguas (IULM) de Milão. É colunista do La Stampa e autor de vários ensaios. Estreou em 2002 com Il rumore sordo della battaglia, que ganhou os prêmios Kihlgren, Fregene e Chianciano. Em 2005, com o romance histórico Il survivuto, conquistou a edição XLIII do prêmio Campiello. Com Una storia Romântica, de 2008, recebeu o Mondello, e em 2015, com a publicação de Il tempo migliore della mostra vita, recebeu o Viareggio e outros prêmios, como o de Seleção Campiello. Com M, o filho do século foi laureado com o Prêmio Strega, o mais importante da literatura italiana.
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