Eu chamei teu nome em silêncio

Ele tinha 29 anos. Eu, 22. Ele era formado, concursado, empregado público, acadêmico, cientista. Eu, um estudante de arquitetura, morando em cidade universitária, longe dos pais e da família, dividindo apartamento com 5 colegas. Ele trabalhava em outra cidade e voltava a cidade apenas nos fins de semana. Eu iniciei um namoro com uma moça da faculdade, linda e inteligente. Mas aí surgiu ele, numa moto, me oferecendo carona. Eu aceitei e a partir dali tudo mudou. Foi impossível continuar o namoro com a garota tendo ele sempre a me perseguir. Eu o amei como nunca tinha amado. E fui amado por ela, mas não pude continuar enganando meu coração nem a ela. Então terminei com ela. Com ele eu me encontrei algumas vezes, em seu apartamento, em bares ou restaurantes. Fizemos viagem juntos e passamos a noite toda numa cama só conversando, dividindo angústias e particularidades da vida de cada um. Eu reclamava atenção e frequência nos encontros. Ele oferecia o que tinha. Eu me aproximava cada vez mais. Ele rareava os encontros. Eu chamava o nome dele na madrugada, em silêncio, enquanto eu tentava dormir ou aguardar um contato dele. Parece que ele me ligava sempre que bebia, ou sempre depois de chegar em casa , quando não já estava com os amigos. Uma vez ele ligou
cedo da noite, dizendo que queria me encontrar depois das 23h. E eu esperei por aquele encontro mais uma vez. Mas ele não veio e não deu explicações pela falta. As coisas começaram a mudar , mas logo naquele momento em que eu passava o dia ouvindo músicas, escrevendo poemas, digitando músicas inteiras e enviando por SMS. Mas eram tudo enviado ao além. As respostas nunca chegaram. Eu ainda enviei meu convite de formatura para seu antigo endereço. E nunca obtive resposta de nada. Nunca ele esclareceu o sumiço, nunca ligou pra saber das marcas e cicatrizes que deixou. Ele nunca teve a sensibilidade para perceber que aquilo foi meu primeiro amor, meu primeiro amante, meu primeiro tudo, para depois acabar em nada. Ele preferiu se ausentar sem explicações. Há menos de um mês, acidentalmente, citaram o nome dele numa conversa. Tremi e emudeci. Disseram que agora ele é um excelente profissional na área, casou, tem filhos e mora com a mulher na mesma casa onde vivia quando conheci, na casa onde visitei e secretamente mal ousava chamar seu nome, porque tudo era secreto, até mesmo o arrependimento.