Jazz Music Stops

Foi um relacionamento bem comum. Nós saímos poucas vezes, mas conversamos bastante. Nós conversávamos até tarde, falávamos besteira sobre todo tipo de assunto possível. Eu ajudava ela com os problemas dela e eu ajudava a mim mesmo com os meus problemas porque não queria estragar tudo falando sobre meus pais alcoólatras e minha vida solitária. Eu disse ao Eu do Passado que um relacionamento é sobre mutualidade, mas ele não pode me ouvir.

Foi um relacionamento bem literário. Eu amava ela porque ela era a única coisa que eu tinha e ela não conseguia me amar por culpa de algum trauma no passado chamado Ex Babaca. Declarávamos nosso amor sem dizer “Eu te amo” e eu tive que conter meus afetos e me contentar com as migalhas de carinho que recebia. “Bobo” se tornou a coisa mais próxima de “Eu te amo” e “Idiota” era uma mensagem subliminar para eu nunca abandoná-la. O Eu do Passado perguntou se eu abandonei ela, mas eu prefiro não responder.

Foi um relacionamento bem solitário, e de solidão eu entendo. Eu estou sempre sozinho, ela tinha as amigas dela, então deixar ela para trás nunca foi um problema. Eu fiz isso duas vezes: uma porque nós tínhamos terminado e ela brincava demais de “Casa cmg”. A segunda foi porque nós estávamos quase voltando e eu não tinha energia ou disposição para amá-la mais do que eu já tinha a amado. Fui embora no Ano Novo, porque Ano Novo é tempo de renovação. Eu disse ao Eu do Futuro que tudo vai mudar, mas ele disse que algumas coisas sempre serão as mesmas.

Foi um relacionamento e só um relacionamento. Ela tem um cara novo, várias amigas e uma família se arrumando, um canal no YouTube que só cresce. Eu ainda sou um cara solitário com poucos amigos e distante da minha família. Eu não recebo afeto de nada e nem de ninguém, mas, pelo menos, carrego comigo aquelas migalhas de amor que recebi durante aqueles dias de primavera e aquele começo de verão que o Eu do Passado aproveita, o Eu do Presente lembra e o Eu do Futuro esqueceu.

Tem mais não.