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A obsessão norte-americana pela fama

2 / agosto / 2013

Fascinada pelo estrelato, a jovem Esther Blodgett Victoria fará de tudo para ter seu lugar ao sol. A aspirante a atriz é protagonista do clássico Nasce uma estrela, filme lançado em 1937 que é apontado pela premiada jornalista Nancy Jo Sales como uma das primeiras narrativas norte-americanas envolvendo a busca pela fama. No livro Bling Ring: a gangue de Hollywood, Jo Sales vai além da história real sobre a audaciosa gangue que furtou o equivalente a três milhões de dólares das casas de jovens celebridades para investigar uma das maiores obsessões de seu país.

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O sucesso de Nasce uma estrela, produção vencedora de dois Oscars, rendeu dois remakes ao filme. A terceira versão, hit na década de 1970, consagrou as canções de Barbra Streisand — a escolhida para entoar os anseios por notoriedade de Esther. “Esse tipo de enredo tem raízes profundas na cultura popular americana”, defende Jo Sales. No entanto, a jornalista que se especializou em perfilar celebridades ressalta que nunca se enfatizou tanto a glória quanto na nossa época. Um cenário que pode ser facilmente ilustrado pelos inúmeros reality shows e programas de competição exibidos na TV, como The X Factor, America’s Got Talent, The Voice, America’s Next Top Model e Project Runway.

Sofia Coppola e o elenco de Bling Ring: a gangue de Hollywood durante as filmagens na casa de Paris Hilton

Rachel Lee, apontada como uma das mentoras da Bling Ring, era espectadora assídua desse tipo de programa. Assim como os demais integrantes da gangue, Lee morava em Calabasas, uma pequena e endinheirada cidade do Valley. Repleto de celebridades entre seus habitantes, o local também se revelara um terreno fértil para os reality shows. Lá foram gravados Newlyweds: Nick and Jessica, um dos primeiros programas a apresentar uma pessoa (mais ou menos) famosa, Jessica Simpson, com seu então marido, Nick Lachey; Britney and Kevin: Chaotic, com flagrantes da intimidade de Britney Spears e Kevin “K-Fed” Federline; e Keeping Up with the Kardashians, considerado por Jo Sales como a “mãe de todos os reality shows”.

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Também há outro tipo marcante de celebridade, forjado graças aos milagres da autodivulgação por meio de vídeos na internet. Ao explicar o sucesso do YouTube em 2007, Chad Hurley, um dos criadores do site, disse: “No fundo, no seu íntimo, todo mundo quer ser uma estrela.”

Os alvos da Bling Ring pertenciam a esse universo. Muitos eram famosos pelo simples fato de serem famosos, e quase todos haviam aparecido em produções de cinema ou programas de TV sobre pessoas que queriam ser ricas e famosas. Na lista estão Paris Hilton, Lindsay Lohan, Audrina Patridge (uma das garotas do programa The Hills), Rachel Bilson (The O.C.), Megan Fox (Confissões de uma adolescente em crise) e seu atual marido Brian Austin Green (Barrados no baile).

“Porém, culpar a cultura pop e a mídia por ‘valorizarem’ a fama pode ser uma saída muito cômoda. Acredito que, ao falarmos sobre a obsessão pela fama, também estamos falando sobre a obsessão pela riqueza. Ricos e famosos, famosos e ricos — as duas coisas parecem estar associadas enquanto aspirações. Ao longo de muitos anos entrevistando adolescentes, muitas vezes ouvi-os falando sobre como queriam ficar famosos, porém sempre no contexto de serem também ricos e adotarem o ‘estilo de vida’ proporcionado pela fama. ‘Estilo de vida’ é uma expressão mencionada com frequência”, ressalta Nancy Jo Sales.

Leia um trecho de Bling Ring: a gangue de Hollywood

Uma pesquisa realizada pela Pew Research Center em 2007 revelou que 51% dos jovens entre 18 e 25 anos afirmaram que seu mais importante objetivo na vida, ou o segundo mais importante — depois de se tornarem ricos —, era serem famosos. Em 2005, outro levantamento indicava que, entre estudantes americanos do ensino médio, 31% dos entrevistados afirmaram que “esperavam” alcançar a fama algum dia.

Em Bling Ring: a gangue de Hollywood, Nancy Jo Sales destaca outra investigação, empreendida em 2007 por Jake Halpern e uma equipe de pesquisadores com 650 adolescentes na área de Rochester, Nova York. Entre suas descobertas estavam as seguintes conclusões: se colocados diante da opção de se tornarem mais fortes, mais inteligentes, mais famosos ou mais bonitos, os garotos se dividiram praticamente entre serem famosos e inteligentes; e a maioria das meninas assinalou a fama. Cerca de 43% das jovens disseram que prefeririam, quando adultas, ser “uma assistente pessoal de uma cantora ou atriz muito famosa” — número três vezes maior do que a quantidade de gente que escolheria ser “uma senadora dos Estados Unidos” e quatro vezes maior do que as que gostariam de ser “executiva de uma grande empresa, como a General Motors”. Ao serem perguntados sobre com quem prefeririam jantar, mais adolescentes preferiram Jennifer Lopez a Jesus. Entre meninas com problemas de autoconfiança, a maioria optou por jantar com Paris Hilton.

Ouça a trilha Sonora de Bling Ring: a gangue de Hollywood, novo filme de Sofia Coppola

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