Sobre o agora e o depois

Por Isabela Freitas

12 / novembro / 2014

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Hoje fui atacada por um momento de nostalgia enquanto deletava mensagens antigas no meu Facebook. Por  incrível que pareça, foi uma nostalgia boa. Sei que remexer no passado sempre faz o coração apertar e bater mais forte, pensar coisas do tipo “e se tivéssemos feito diferente?”, mas e quando o passado te mostra o quanto você amadureceu e mudou para melhor?

Em meio a essas mensagens achei algo que uma menina que outrora fora minha melhor amiga me mandou há três anos. Ela dizia que não poderia ser mais minha amiga, pois estava cansada do meu jeito imaturo de ser. Dizia que eu não tinha objetivo de vida, que não queria compromisso com nada e que essa minha obsessão por ser livre um dia seria prejudicial a mim. Criticou o modo como eu vivia, meus vícios e até mesmo meus relacionamentos que não duravam mais do que um mês. Bom, sempre tive resposta na ponta da língua pra tudo, até para momentos em que eu estava realmente errada. Então rebati todas as críticas e disse que um dia eu provaria que ela estava errada quanto ao julgamento tão antecipado que fez de mim. Se eu acreditava nisso? Óbvio que não. Eu era uma garota imatura de 19 anos que não sabia nem o que usar durante uma festa, que dirá o que seria no futuro.

A vida é feita de fases, é isso. Você precisa passar por muitas fases para atingir o topo, ou pelo menos, o máximo que você conseguir chegar perto dele. Quando mais nova eu tinha um desejo incontrolável dentro de mim. Era como se um fogo ardesse, queimasse, e me fizesse querer sempre mais. Mais uma festa. Mais um namorado. Mais uma amiga. Mais uma roupa. Mais uma viagem. Mais uma loucura. Mais um risco. Mais um sorriso. Mais lágrimas. Eu só queria sentir aquele frio no estômago que sentimos ao andar de montanha-russa, sabe? Mas ouvir tais palavras de uma pessoa que por anos considerei uma grande amiga foi desafiador. Não que eu tenha mudado minhas atitudes para provar que ela estava errada, não mesmo. Desejei bem baixinho que o mundo girasse e mostrasse a ela que ninguém pode duvidar da capacidade do outro.

Ela, que dizia ter tantos objetivos na vida, acabou com uma lista de metas no fundo da gaveta e um infinito de decepções. De tanto calcular seus passos, tropeçou nas surpresas que a vida colocou no caminho, se viu desesperada quando nada saiu como o planejado e não soube improvisar com as alternativas que lhe foram dadas. Já eu? Continuei levando minha vida descontroladamente e sem limites até onde me foi permitido. Um dia deparei com a necessidade de amadurecer e deixar de ser tão inconsequente; não foi fácil, mas consegui. Aos poucos conquistei coisas que jamais me imaginaria conquistando, e hoje posso dizer que sou muito feliz e realizada.

Quando olho para o passado, vejo que ele foi necessário para a formação da pessoa que me tornei hoje. Se a garota lá de trás tinha ideia de que isso ia acontecer? Não. Ela só queria ser feliz no tempo presente e deixar que o futuro viesse sem que ela precisasse se esforçar para isso. E ele veio. Cheio de surpresas.

Não estou dizendo que as pessoas não devam ter objetivos na vida, mas elas não podem fazer da sua vida uma busca constante e incessante desses objetivos. Devemos ser cada vez menos “E depois? E amanhã? Será que vamos dar certo?”, e cada vez mais “Vamos fazer uma loucura hoje?”.

Esquecer o amanhã: ele vai vir de qualquer jeito, não importa seus planos, suas metas e suas listas metódicas. O amanhã virá. E se ele tiver que dar errado, vai dar. Mesmo que você o tenha planejado meses antes.

Isabela Freitas é autora de Não se iluda, não e de Não se apega, não, o primeiro livro jovem nacional da Intrínseca. Em 2011, começou seu blog, que já soma mais de 130 milhões de visualizações. Estudante de Direito, pretende cursar Jornalismo um dia. Mora com os pais em Juiz de Fora (MG), onde nasceu.

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