testeCozinhar é o que nos torna humanos

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Do costume de uma tribo australiana de cozinhar lagartos direto no fogo ao tradicional churrasco de porco inteiro no Sul dos Estados Unidos, Michael Pollan busca em Cozinhar a essência de nossa identidade como seres humanos. Baseada no livro homônimo, a série documental Cooked estreia mundialmente hoje na Netflix.

Dividida em quatro episódios focados nos elementos primordiais — fogo, água, terra e ar —, a produção introduz alguns dos princípios defendidos pelo celebrado jornalista, autor de obras de referência como O dilema do onívoro e Em defesa da comida. Para ele, retornar à cozinha é hoje um ato político um protesto contra uma economia de consumo altamente especializada e alienante e uma das atividades mais recompensadoras e prazerosas que podemos exercer.

cozinhar211x319Pollan reforça que a ascensão do fast-food e o declínio da comida caseira causam impactos que vão além dos males à nossa saúde. Porque cozinhar é o que nos torna humanos, tanto cultural como biologicamente: ao passar a ingerir alimentos cozidos, o Homo erectus mudou o destino da nossa espécie. Enquanto primatas dispõem de sistemas digestivos enormes e passam até metade do tempo acordados mastigando alimentos crus, especialistas defendem que a nova dieta (com maior densidade energética e de mais fácil digestão) fez com que nossos cérebros aumentassem de tamanho e nossos intestinos encolhessem — além de nos propiciar muitas horas livres para atividades mais interessantes do que mastigar.

“Cozinhar é uma atividade primordial, profundamente enraizada em nossa mente”, defende o autor em entrevista ao blog da Intrínseca, e essa prática faz parte hoje de um intrigante paradoxo. Passamos cada vez menos tempo preparando nossa comida e mais tempo assistindo a programas de culinária na televisão o tempo médio gasto com o preparo das refeições nos Estados Unidos é de 27 minutos por dia, muito menos do que o necessário para assistir a um único episódio da franquia MasterChef.

Na entrevista a seguir, Michael Pollan reflete sobre nosso fascínio por programas de culinária na TV, o processo de adaptação de seu livro e como, ao deixarmos de cozinhar, perdemos a conexão com o mundo e com o que faz de nós humanos.

 

Como o ato de cozinhar pode ser um convite para repensar nosso papel em uma economia de consumo altamente especializada, dependente e alienante?
Michael Pollan: Numa época em que o mercado quer que você apenas consuma passivamente a comida preparada pela indústria, cozinhar é um ato político porque torna-se uma espécie de protesto, uma afirmação da sua identidade como produtor e não mero consumidor. Quando cozinhamos, defendemos nossas cozinhas e nossos jantares em família dos esforços da indústria em comercializá-los.

Como foi o processo de adaptação do livro para uma série de TV?
MP: É sempre fascinante observar o processo de adaptação de um livro, já que o que funciona em um meio nem sempre funciona em outro. Enquanto o livro enfatiza informações de caráter histórico, científico e antropológico, a série destaca personagens, locais e histórias. Também queríamos realçar na série o fato de que cozinhar faz parte de uma história universal, global. Assim, cada episódio dedica tempo considerável a outros países: Austrália, Índia, Marrocos e Peru. Cozinhar diz respeito a nossa humanidade, e, embora cozinhemos de maneiras diferentes em lugares diferentes, certos elementos nunca mudam — incluindo o uso do fogo, da água, do ar e da terra (com os micróbios) para transformar a matéria natural em cultura.

Quais são as novidades que os leitores encontrarão na série em relação ao livro?
MP: Para quem leu o livro, a série oferece uma perspectiva mais global e apresenta algumas práticas culinárias surpreendentes, como mulheres que mastigam raízes ricas em amido para produzir cerveja com a própria saliva, uma tribo de caçadores que cozinha lagartos diretamente sobre o fogo e famílias marroquinas que fazem pão todos os dias assando a massa em um forno comunitário.

Em Cozinhar você ressalta o Paradoxo do Cozinhar: passamos cada vez menos tempo preparando nossas refeições e mais tempo assistindo a programas de culinária na TV. Como você explicaria nosso fascínio em ver outras pessoas cozinhando fora de nossas casas, na TV?
MP: Acredito que somos atraídos por imagens e histórias envolvendo culinária, quer na TV ou em outros lugares, porque cozinhar é uma atividade primordial, profundamente enraizada em nossa mente. Quando assistimos a outra pessoa cozinhando, antecipamos o prazer de comer e trazemos à memória nossos familiares preparando alimentos para nós. Cozinhar é a essência de nossa identidade como seres humanos, então não é de se admirar que sejamos sempre atraídos para as chamas de um fogão, não importa onde ele esteja — mesmo na TV!

Leia um trecho de Cozinhar: uma história nacional da transformação

testePersonagens por quem me apaixonei

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Quais são os seus crushs literários? Todo leitor já se apaixonou por algum personagem, chorou e desejou viver um romance alguma vez. Faz parte da vida de quem ama livros!

Jenny Han, autora de Para todos os garotos que já amei e P.S.: Ainda amo você, não é diferente. Ela levantou essa questão em sua página no Twitter e quis saber quais eram as paixões literárias dos seus seguidores. Inspirados pela semana do Valentine’s Day — data que celebra São Valentim, santo devoto ao amor —, fizemos a mesma pergunta aos nossos leitores nas redes sociais.

Confira as respostas:

O primeiro e grande amor:

Ana Paula Cionci Percy, de Percy Jackson. Meu primeiro e único crush de livros. haha. Acho que por saber que dificilmente encontrarei um cara como nos livros ou séries ou filmes, raramente me pego se apaixonando. Mas ao contrário de outros personagens, o fato do livro ter sido escrito em primeira pessoa e você saber de fato o que a pessoa está pensando e na maneira como ele foi amadurecendo parecia tão real. Sem contar que eu queria um cara que tivesse feito metade do que ele fez pela Annabeth sem estarem em um relacionamento sério.

Muitas paixões para um só coração:

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Sabrina Mauriz  Edward Cullen de Crepúsculo, Augustus Waters de A culpa é das estrelas, Peter Kavinsky de Para todos os garotos que já amei, Alex, de Simplesmente acontece, Pedro Miller de Não se apega, não, Will de Como eu era antes de você e Damon Salvatore de Diários de um vampiro. Meus crushs!

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_minhamaneira Nossa, são tantos! Ian Clarke (Perdida), Christian Grey (Cinquenta tons de cinza), Don Juan (Zorro), Pedro (Não se iluda, não), H. (Meu Romeu ),Will Traynor (Como eu era antes de você ) e Gus (A culpa é das estrelas )… Amo todos! E tenho uma grande paixonite por cada um. São meus amores literários! Bem que podia ser real, viver um romance de cada vez … Até parar no meu grande amor.

Enquanto outros só têm olhos para um…

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__adriana27 Dexter ❤,de Um dia.

Mariana Rimoli:  Dexter Mayhew, de Um dia! Um dia é o livro da minha vida, e Dexter é meu maior crush literário de todos os tempos,  mesmo que eu não goste dele em muitas partes do livro. Sei que a Emma me entenderia.

Giuliana Terranova Peter Kavinsky, de Para todos os garotos que já amei, é dono do meu coração, não tem nem comparação com qualquer outro.

beatrizcajado Com certeza, Fitzwilliam Darcy, de Orgulho e Preconceito,  da autora Jane Austen

 

testeDe volta à Área X, pela última vez

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O Comando Sul entrou em colapso. As fronteiras da Área X estão avançando.

Por décadas, a Área X foi um completo mistério. Após apagar os últimos resquícios da presença humana e criar uma barreira invisível que a separa do resto do mundo, a região foi visitada por diversas expedições de uma organização criada pelo governo para controlá-la: o Comando Sul.

Em Aniquilação, primeiro volume da série de Jeff VanderMeer, acompanhamos a 12ª expedição. Ao longo do livro, os fenômenos incomuns vão transformando a missão em um desastre, e apenas a bióloga consegue se manter fiel ao objetivo de investigar a região. A sequência, Autoridade, é focada no Comando Sul, órgão responsável por tentar compreender a Área X e que lentamente se torna tão estranho e bizarro quanto seu objeto de estudo.

Aceitação, último livro da trilogia que chega às livrarias em 24 de março, conecta os dois livros anteriores em capítulos breves e acelerados, narrados da perspectiva de personagens cruciais. Página após página, os mistérios são aos poucos solucionados, mas as consequências dos acontecimentos passados jamais serão menos profundas ou aterrorizantes.

Com elementos remanescentes do horror cósmico de H.P. Lovecraft, a série de ficção científica de Jeff VanderMeer foi indicada aos maiores prêmios de literatura do gênero, como o Hugo, o Philip K. Dick. Além disso, Aniquilação ganhou o prêmio Nebula, e será adaptado para os cinemas estrelado por Natalie Portman.

Confira abaixo um trecho de Aceitação:

aceitação“Bem ali, fora do alcance, quase perto de você: o avanço e a espuma da arrebentação, o cheiro penetrante do mar, as silhuetas das gaivotas se entrecruzando nos ares, seus gritos bruscos, incômodos. Um dia normal na Área X, um dia extraordinário — o dia da sua morte —, e ali está você, encostada a um banco de areia, meio protegida por um muro em ruínas. O sol quente contra o seu rosto, e acima a visão vertiginosa da torre do farol, iminente em sua própria sombra. O céu tem uma intensidade de cor que não admite nada além da sua prisão azul. Há areia pegajosa reluzindo no corte profundo que atravessa sua testa; há algo picante em sua boca, escorrendo.

Você se sente entorpecida e quebrada, mas há um alívio estranho misturado ao arrependimento: ter percorrido um caminho tão longo, ter parado ali, sem saber o que iria acontecer, e ainda assim… descansar. Vir para descansar. Finalmente. Todos os planos que você concebeu lá no Comando Sul, o medo angustiante e permanente de cometer um erro ou coisa pior, o preço daquilo…

Tudo agora está escorrendo na areia ao seu lado, em pérolas rubras.

A paisagem avulta à sua frente, curvando-se às suas costas para vê-la melhor. Em alguns trechos ela explode em clarões, ou gira em torvelinho, ou se reduz a um ponto luminoso, antes de voltar a entrar em foco. Sua audição também não é mais o que era; enfraqueceu, juntamente com o seu equilíbrio. E então vem essa coisa impossível: uma voz que brota da paisagem e a impressão de que há olhos sobre você, como um truque de mágica. O sussurro é familiar: Sua casa está em ordem? Mas você pensa, seja lá quem está perguntando deve ser um estranho, e você o ignora, não gosta de pensar em quem pode estar batendo à porta.

O latejar no seu ombro, depois daquele encontro na torre, está muito pior. A ferida traiu você, a fez saltar para aquela ardente imensidão azul mesmo contra a sua vontade. Alguma comunicação, algum gatilho embutido entre a ferida e aquela chama que se aproximou dançando por entre os juncos, traiu a sua soberania. Sua casa raras vezes esteve tão desarrumada e, no entanto, você sabe que independentemente do que deixará daí a uns minutos, outra coisa há de ficar. Desaparecer no céu, na terra, na água não é garantia de morte aqui.

Uma sombra une-se à sombra do farol.

Em seguida, chega o rangido de botas e, desorientada, você grita “Aniquilação! Aniquilação!” e se debate até perceber que a aparição ajoelhada à sua frente é a única pessoa insensível a essa senha.

— Sou só eu, a bióloga.

Só você. Apenas a bióloga. Apenas sua arma desafiadora, arremessada contra as paredes da Área X.”

Leia mais

testeVerdadeira história de pescador

Estive no médico dia desses. O doutor, mapeando meu passado, quis saber se eu ainda tinha os avós vivos e, se não os tinha mais, qual havia sido o motivo da mortes e em que idade haviam falecido. Fiquei ali alguns minutos rememorando as desditas familiares (meus quatro avôs já se foram), e por instantes me senti traçando as linhas gerais de um romance. Fui embora um pouco pesarosa de saudade.

Meu avô materno morreu aos 65 anos. Minha avó materna, não conheci — morreu antes do casamento dos meus pais e deixou aura de “santa”, como todas as pessoas que morriam cedo antigamente. Minha avó paterna era uma senhora que viu de tudo neste mundo até morrer, por engano, aos 87, quando baixou no hospital para fazer exames e uma enfermeira desatenta ministrou-lhe o remédio da paciente da cama ao lado. Nisso eu já era moça e me lembro bem do desconsolo ¾ a avó Maria certamente chegaria aos 100.

Meu avô paterno era catarinense e tinha um nome que sempre me evocou fantasias: Bertuíno. Apesar do nome que faz lembrar aqueles homens do deserto, nada tinha de brutal ou selvagem. Ao contrário, era calado, custando para cuspir uma palavra, mas olhava o mundo com olhos meio tristes. Gostava mesmo era de pescar, e foi pescando que teve a premonição de que iria morrer no inverno seguinte.

Bertuíno pescava de tarrafa, aquelas redes circulares que se lançam à mão. Todo verão, no fim de março, ele chamava um dos netos e dizia: “Meu filho, pegue esta tarrafa pra ti; o avô está velho e não passa deste inverno.” No verão seguinte, estava o avô outra vez, e sem tarrafa ¾ lá se ia meu pai a comprar-lhe outra para as pescarias. Foi assim durante muitos anos. O avô Bertuíno chamava um neto e passava adiante a rede porque estava velho, e, para ele, tempo de velho morrer era no inverno. Distribuiu fartamente suas tarrafas, pois tinha dezenas de netos dos seis filhos que fez na mulher — eram sete, mas um deles, em criança, afogou-se num açude.

Numa pescaria noturna, no fim de um verão, uma veia se lhe rebentou dentro do nariz e ele prosseguiu pescando, pescando, enquanto seu sangue se esvaía no escuro e tingia o mar. O avô, depois de muito sangue perdido, caiu na água sem sentir e foi levado ao pequeno hospital praiano, onde, já em estado de choque, recebeu precário atendimento. Não iria morrer ali, mas aquele foi o começo de sua morte. Para um velho pescador, tinha lá seu encanto, derramar o sangue no mar… Ele morreu alguns anos depois, num começo de outono. Depois de tantos verões, não teve decerto paciência de esperar a chegada de outro inverno.

teste5 coisas incomuns que você aprenderá em O universo numa casca de noz

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Com o objetivo de popularizar conceitos muito complexos da física, O universo numa casca de noz foi uma obra revolucionária, que ajudou a construir a imagem de cientista popstar de Stephen Hawking. Para comemorar o lançamento da nova edição da obra, separamos cinco coisas incomuns que você aprenderá com o livro:

 

1- Einstein nem sempre foi um gênio.

Boa parte do livro de Stephen Hawking é relacionado com a obra de Albert Einstein, e no primeiro capítulo conhecemos um pouco sobre sua vida. A história de que ele era um péssimo aluno e que chegou a ser reprovado em matemática na escola não passa de uma lenda. O jovem alemão que cresceria para revolucionar o mundo era apenas um aluno mediano, sem grandes destaques positivos ou negativos.

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2- Dica para viver mais tempo: voe para o leste.

Como o tempo é relativo, ao viajarmos no mesmo sentido que a rotação da Terra, estamos ligeiramente mais velozes do que as pessoas que viajam no sentido oposto. Testes feitos com relógios atômicos colocados em aviões viajando nos dois sentidos mostraram que o que voava no sentido leste ganhou uma minúscula fração de segundo em relação ao outro. Como você vai aproveitar todo esse tempo extra?

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3- Astrofísicos têm um senso de humor peculiar.

Ao longo de O universo numa casca de noz, as piadas de Stephen Hawking revelam um senso de humor no mínimo peculiar. Entre frustrar viagens no tempo para matar o próprio avô, cair pela borda do planeta e jogar poker com Isaac Newton, Albert Einstein, o Robô Data e Marilyn Monroe após atravessar um buraco de minhoca em um episódio de Jornada nas Estrelas, cientistas parecem ser mais divertidos do que aparentam.

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4- Você parecerá mais inteligente quando teorias físicas forem confirmadas nos próximos anos.

Recentemente, a última das teorias de Einstein, as ondas gravitacionais, foi confirmada. Pela lógica, o livro contém diversos conceitos que, até agora, não possuem comprovação científica e são apenas teorias. Imagine o sucesso que você pode fazer ao falar “eu já sabia disso” quando a supergravidade em onze dimensões, as p-branas e a teorida das cordas forem confirmadas em um futuro próximo.

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5- Nossos descendentes serão robôs. Ou extraterrestres. Ou os dois.

Hawking é um dos principais cientistas a defender a ideia de que o futuro da raça humana está fora da Terra. Com nosso ritmo atual de crescimento, será inviável que todos nós continuemos a viver em um planeta só, quando existem uma infinitude de opções fora de nosso pálido ponto azul. Além disso, os avanços tecnológicos podem estender ainda mais nossa expectativa de vida, o que tornaria a vizinhança ainda mais populosa. Marcianos ou ciborgues: seus bisnetos poderão ser uma das duas coisas, e não há problema nenhum nisso.

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link-externoLeia também: Hawiking, em busca da Teoria de Tudo

testeO detetive que recuperou “O grito”

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O grito, de Edvard Munch (fonte)

Charles Hill, o homem que recuperou “O grito”, de Edvard Munch, é um inglês corpulento, de rosto quadrado e franja ondulada. Em 2013, tomamos um café no sofisticado restaurante do The Wallace Collection, um museu de arte britânica que guarda, em suas 25 galerias, pinturas, mobílias e porcelanas do século XVIII. Hill relembrou sua carreira, esmiuçou o dia a dia do trabalho de detetive de arte e falou sobre suas maiores conquistas.

Em fevereiro de 1994, dois criminosos quebraram a janela do primeiro andar da National Gallery de Oslo, na Noruega, e, numa ação que durou apenas cinquenta segundos, entraram, arrancaram “O grito” da parede e deixaram no local um bilhete sarcástico em que se lia “Thanks for the poor security” (Obrigado pela segurança precária). Avaliada em US$ 72 milhões, a pintura que mostra um homem com as duas mãos ao redor do rosto, gritando de pavor, estava pendurada por um único fio, bem ao lado da janela, e não dispunha de nenhuma conexão com o sistema de alarme do museu. Desesperada com o ataque, a polícia norueguesa pediu ajuda à Scotland Yard, onde Hill trabalhava, e ele foi convidado a entrar em ação.

O primeiro passo de Hill foi elaborar um disfarce. O inglês encarnou Christopher Charles Roberts, um americano que dizia ser funcionário de alto escalão do J. Paul Getty Museum, uma das mais importantes instituições culturais da Califórnia. Na história fictícia armada por Hill, Roberts estaria disposto a pagar um pomposo resgate para que a obra-prima de Munch fosse devolvida a Oslo e, em seguida, exposta nos Estados Unidos. Hill fez com que a informação circulasse nos becos escuros da criminalidade europeia e esperou.

Enquanto isso, caprichou nos detalhes para dar vida a Roberts. Passou até a usar pasta de dentes e creme de barbear americanos. Quando me contou isso, eu ri, mas ele se defendeu:

— Um marchand californiano não pode marcar um encontro com um criminoso em seu quarto de hotel e ter no banheiro uma pasta de dentes e um creme de barbear tipicamente ingleses. O personagem tem que ser americano do início ao fim, e isso não é uma bobagem. É uma questão de segurança.

Três meses depois, Hill já havia se aproximado do grupo de ladrões e chegou à casa de Oslo onde os criminosos guardavam a obra roubada. Teve poucos segundo para ter certeza de que aquele “O grito” não era falso. Só conseguiu isso porque havia estudado absolutamente tudo sobre a obra e sabia, por exemplo, que ela fora pichada anos antes e levava consigo uma frase quase invisível: “Can only have been painted by a madman” (Isso só pode ter sido pintado por um louco). Horas mais tarde, seguindo instruções do detetive, a polícia norueguesa cercou os criminosos e prendeu a quadrilha em flagrante.

testeNovidades no elenco de Cinquenta tons mais escuros

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As filmagens da adaptação de Cinquenta tons mais escuros começaram e as novidades sobre o elenco já estão sendo divulgadas. Brant Daugherty, conhecido por Noel Kahn em Pretty Little Liars, foi escalado para integrar a equipe. Ele interpretará Luke Sawyer, guarda-costas de Ana.

Franziska Krug/Getty Images)

O ator Eric Johnson, de Smallville e The Knick, interpretará Jack Hyde, o novo chefe de Anastasia que causa ciúmes em Grey. As atrizes Kim Basinger, de 9 ½ semanas de amor, e Bella Heathcote, de Orgulho e Preconceito e Zumbis, foram escaladas para os papéis de Mrs. Robinson (Elena Lincoln) e Leila Williams, ex-namoradas de Christian. Luke Grimes, de Sniper americano e Brothers and SistersMax Martini e Eloise Mumford também estão confirmados no elenco.

Cinquenta tons mais escuros chega aos cinemas em fevereiro de 2017 com roteiro de E L James e do marido Niall Leonard.

testeLigado ao presente, antenado no futuro

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Durante a grande depressão americana, ninguém poderia imaginar que os Estados Unidos seriam a maior potência do mundo. (Fonte: Life)

No ano de 1933, em Buenos Aires, o poeta espanhol Federico García Lorca esteve com o escritor argentino Jorge Luis Borges. Foi o primeiro, e único, encontro entre eles. Os dois tiveram uma discussão sobre quem seria o personagem que simbolizaria os Estados Unidos. O sisudo Borges argumentou que poderia ser o ex-presidente Abraham Lincoln ou o escritor Edgar Allan Poe. Irreverente, Lorca, que se definia apenas como “um andaluz profissional”, decretou: é o Mickey Mouse. Borges ficou tão decepcionado com a escolha do personagem de desenho animado, que se levantou, foi embora e passou a acusar Lorca de farsante.

No início da década de 1930, os Estados Unidos estavam longe de ser o império político e econômico dos dias de hoje. O país estava afundado em uma de suas maiores crises econômicas, provocada pela quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. Portanto, não era óbvio para ninguém que os americanos tirariam dos europeus, em especial dos ingleses, franceses, alemães e italianos, a supremacia econômica e cultural. A América do Norte só se tornaria uma potência inconteste após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

E quando será que, ao longo da primeira metade do século XX, ficou claro que os Estados Unidos seriam o império do futuro? Quem fez a melhor análise de seu tempo, Borges ou Lorca? O escritor Edgar Allan Poe, o mestre da literatura de terror, viveu em meados do século XIX. Ele deve muito da sua fama internacional aos franceses. Fez sucesso na Europa, em especial na França, graças às versões de seus contos feitas pelo poeta Charles Baudelaire. Será mesmo que Poe é, ou já foi, um símbolo da cultura americana?

O Mickey Mouse, personagem cem por cento americano criado por Walt Disney, estreou no cinema em 1928. E não foi uma estreia trivial: pela primeira vez se lançava um desenho animado sonorizado. Quem então teria feito a melhor avaliação sobre os Estados Unidos: Borges, com Poe; ou Lorca, com Mickey?  Uma coisa é certa, quem conseguiu antever que os Estados Unidos seriam a maior potência da segunda metade do século XX obteve algum tipo de vantagem.

Os Guinle, por exemplo, se aproximaram da América do Norte em 1901. Eduardo Guinle, o primogênito do casal Eduardo e Guilhermina, foi estudar em Nova York e, ao regressar para o Brasil, trouxe a representação de algumas empresas estratégicas: General Electric, de material elétrico; RCA Victor, gravadora de discos; e a American Locomotive, do setor de transportes. Uma opção que seria óbvia nos dias de hoje, mas que, naquele tempo, foi uma aposta visionária em um país que não tinha nenhuma tradição em desenvolvimento tecnológico. Tanto que o grupo americano Light, arquirrival dos Guinle na fabricação de energia elétrica, usava equipamento comprado da Siemens, uma empresa alemã.

Ao longo do século XX, poucos foram capazes de perceber em que ponto o passado terminava e o futuro começava. Aqui no Brasil, os Guinle foram protagonistas na construção do futuro.

testeEscuridão e esperança

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Anna Lyndsey antes do surgimento da sua doença (Fonte)

Anna Lyndsey achava que tinha uma vida comum pela frente. Após finalmente conseguir o apartamento de seus sonhos em Londres, ela vivia uma rotina pacata como funcionária do Ministério do Trabalho britânico. Em um dia de 2005, seu rosto começou a reagir à luminosidade.

CAPA_UmaVidaNoEscuro_WEBO que parecia ser uma simples irritação com a luz do monitor acabou se agravando. Sentindo uma horrível queimação no rosto, Lyndsey passou a evitar sair de casa durante o dia. Quando não era possível, usava uma máscara improvisada e chapéus que encobrissem seu rosto.

Após diversas consultas frustradas com especialistas descrentes da sua doença, que não exibia nenhum sintoma perceptível além da sensação intensa de queimadura, ela descobriu um tratamento que supostamente daria fim ao caso de hipersensibilidade à luz. O tratamento foi um fracasso e acabou agravando seu quadro extremamente raro, o que a condenou a reclusão total em seu quarto, impedindo que ela pudesse passar mais de alguns segundos fora da escuridão ou sequer utilizar aparelhos eletrônicos que emitissem luz.

A surpreendente história real de Lyndsey é relatada em Uma vida no escuro, livro no qual a autora relembra sua trajetória com a doença. Com mais nuances do que se poderia esperar de alguém mergulhado constantemente na escuridão completa, ela revela detalhes da existência com uma condição raríssima por mais de dez anos, mostrando meios de afastar os pensamentos negativos e perseverar mesmo com a incerteza de sua condição. Um livro de memórias envolvente e impactante, que aguçará a curiosidade de todos os interessados em histórias reais e extraordinárias.

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