testeSubterrâneos

Subterraneos

No fundo, somos todos uma Roma. (fonte)

Somos nossa própria alvenaria.

Horas e dias e anos amontoam-se dentro da gente como peças e recantos de uma casa na qual o único desenho é o destino. Alguns de nós conseguem delimitar um espaço aqui ou ali por vontade própria, afinal sempre existem os estoicos.

Mas a planta geral da nossa existência é aleatória.

E os desabamentos acontecem, grandes ou pequenos. Tragédias íntimas, quem não as tem?

Falências, mortes, divórcios, doenças, sonhos que morrem e afetam profundamente os alicerces da nossa vida, derrubam paredes, interditam caminhos, escondem a vista. Podemos colocar tábuas e construir pontes que nos ajudem a atravessar essas crateras emocionais no dia a dia. Mas o passado que ruiu seguirá em cada um de nós feito uma cicatriz, assim como — oxalá! — as boas surpresas da vida às vezes nos entregam uma inesperada varanda para o mar, um sótão iluminado ou uma escada para novos horizontes.

Com o passar dos anos, todos seremos como essas cidades antigas sobre as quais o tempo vai depositando teimosamente suas incontáveis camadas, uma coisa soterrando a outra, e assim por diante, de forma que chegamos a imaginar que conseguimos esquecer certas pessoas, algumas memórias e antigas dores. Mas aí, subitamente, nos vemos obrigados a cavar uma vala, abrir espaço para o futuro, construir o túnel dos nossos dias, e lá está tudo intacto no fundo da gente, como a bela cidade de Roma com suas eternas obras do metrô — seus teimosos túneis acabam sempre topando com um palácio, ou catacumbas, ou termas, ou um anfiteatro. E os engenheiros precisam driblar esses tesouros renascidos das entranhas do tempo, contornando judiciosamente o passado que brota do chão romano por todos os lados.

No fundo, somos todos uma Roma — o passado inexpugnável nos habitará para sempre, oculto no centro palpitante da nossa memória.

Basta cavar.

E, às vezes, nem muito.

testeAs melhores músicas para anular os efeitos dos hits do carnaval 2016

O carnaval acabou hoje de manhã. Nos últimos quatro dias, você pulou, dançou, tomou todas, deu vexame. Se foi sozinho para um bloco, ou trio, provavelmente deu em cima de alguém ou alguém deu em cima de você. Caso tenha ido acompanhado, passou mais tempo preocupado em proteger sua companhia do assédio do que com a festa em si. Levou “serpentinada”, “confetada” e “sprayzada” de espuma no rosto. Foi atacado por índios, piratas e pelo Darth Vader. Cantou errado as marchinhas antigas e aprendeu certinho todas as coreografias da Bahia. Bebeu cerveja quente, comeu pastel frio, fez xixi onde deu, escapou das brigas e, com muita sorte, achou um táxi disponível na madrugada. Parabéns, você é um sobrevivente! E agora precisará voltar à vida normal.

O grande problema é que, para regressar à vida, você necessitará de um processo intenso e doloroso de desintoxicação musical. Porque carnaval já não tem mais nada a ver com sambão —  isso é coisa do passado. Em 2015, você foi bombardeado pelo Xenhenhem, Tchuco no Tchaco, Parará Tibum e Lepo Lepo. E sabe muito bem como foi complicado deixar de cantar os refrãos quando estava tomando banho, já que essas músicas foram feitas para grudar como carrapatos. É difícil mesmo e, justamente por isso, procuro não ter contato. Então, aposto que você, sobrevivente, hoje está tentando e não está conseguindo parar de cantar “Aquele 1%”, “Gordinho da Saveiro”, “Tchanranran gostoso”, “Metralhadora”…

Só para constar, em relação a carnaval, eu sou um divergente. Passei quatro dias enfurnado em casa, assistindo a uma série chamada Vikings, em que, por episódio, em média vinte ou trinta pessoas são decapitadas a machadadas. Provavelmente eu teria vontade de fazer a mesma coisa, caso escutasse mais do que três vezes seguidas a música da metralhadora. Foi melhor ter ficado em casa mesmo…

De todo modo, tenho uma tática: quando você não consegue parar de cantar uma música, basta ouvir uma quantidade insana de músicas com o estilo diametralmente oposto e tudo se resolverá. É como uma reação química: um polo negativo sendo anulado por um positivo. Dessa forma, para o seu processo de desintoxicação, pensei na playlist “As melhores músicas para anular os efeitos dos hits do carnaval 2016”:

– “Aquele 1%” – Música romântica. Para ficar ainda mais apaixonado: “Something”, Beatles; “Quase um segundo”, Paralamas do Sucesso; “Every breath you take”, Police; “Love of my life”, Queen.

– “Gordinho da Saveiro”: Música engraçadinha. Para começar a chorar: “Bolero de Ravel”, Maurice Ravel; “Total eclipse of the hear”t, Bonnie Tyler; “Love will tear us apart”, Joy Division; “Streets of Philadelphia”, Bruce Springsteen.

– “ Tchanranran gostoso”: Música de dancinha. Para conseguir parar de dançar e refletir sobre a situação atual, que não tá fácil pra ninguém: “Que país é esse?”, Legião Urbana; “Desordem”, Titãs; “Até quando”, Gabriel o Pensador.

– “Metralhadora”: Música de guerra. Para ficar em paz: “War Pigs”, Black Sabbath; “This is war”, Thirty seconds to mars; “Wake me up when september ends”, Green Day; “A canção do senhor da guerra”, Legião Urbana.

 

testeHawking, em busca da Teoria de Tudo

Por Amâncio Friaça*

No prefácio de 2001 de O universo numa casca de noz, Stephen Hawking lembra que quando Uma breve história do tempo foi lançado, em 1988, esperava-se que a Teoria de Tudo já estivesse quase pronta. Porém, a situação agora é mais ou menos a mesma que a de 2001: “avançamos bastante”, mas “o fim ainda não está à vista”. Continuamos a navegar em um vasto oceano contando apenas com mapas muito toscos, cheios de buracos.

A Teoria de Tudo descreveria a totalidade do mundo físico e constituiu a busca de uma vida para Hawking. Ela é essencialmente uma visão unificada de todos os fenômenos físicos. Essa também foi a busca de uma vida para Albert Einstein, depois que ele formulou a sua Teoria da Relatividade Geral, em 1915. Nas décadas seguintes, ele procurou unificar as forças conhecidas até então — a gravidade e a força eletromagnética — dentro do que chamou de Teoria do Campo Unificado, que é a sua versão da Teoria de Tudo. Einstein morreu em 1955 sem ver o seu sonho realizado.

 

A busca da Teoria de Tudo ao longo da história

CAPA_UniversoNumaCascaDeNoz_MAINHá milênios os pensadores estão atrás de uma Teoria de Tudo, embora não com esse nome. Foi assim que surgiu a filosofia no Ocidente, com a escola jônica, do século VI a.C. Os primeiros filósofos eram filósofos físicos, ocupados em unificar a imensa diversidade dos fenômenos com um grande princípio organizador. O primeiro dos filósofos jônicos, Tales de Mileto (623/624-546/548 a.C), propôs a água como o princípio de tudo (o arché). Depois, outros filósofos da escola jônica lançaram outros candidatos a arché. Para Anaxímenes (588-524 a.C.) seria algo mais sutil, o ar, mas coube a Anaximandro (610-547 a.C.) o pioneirismo de propor como arché algo totalmente afastado da experiência cotidiana, o apeíron, o ilimitado.

O apelo a um princípio além do mundo dos sentidos prossegue no atomismo de Demócrito (460-370 a.C.), no qual os átomos invisíveis são a razão de todos os fenômenos da natureza. A riqueza das coisas observadas decorre do movimento de infinitos átomos. Dois milênios depois, o pensamento atomista forneceu a base do mecanicismo cartesiano do século XVII, no qual todas as forças podem ser reduzidas a forças de contatos entre átomos ou de estruturas compostas por átomos.

Descartes rejeita as forças de ação à distância, entendidas como um tipo de “influência oculta”. Para ele, tudo seria resultado do contato, por pressão, atrito ou colisão. Essa recusa acaba trazendo grandes dificuldades para explicar o movimento dos corpos astronômicos. Descartes imagina que o espaço sideral não seria vazio, mas totalmente preenchido por vórtices, imensos redemoinhos de fluido invisível que arrastariam consigo os planetas e satélites. O apego ferrenho do cartesianismo a uma visão totalmente mecanicista produziu uma astrofísica pobre, incapaz de explicar os movimentos dos planetas do Sistema Solar.

 

 

A revolução da gravidade de Newton

Contudo, no mesmo século XVII, a Teoria da Gravitação Universal de Isaac Newton (1642-1726/27) marca uma reviravolta na filosofia natural. Newton aceita que há uma grande força de ação à distância, a gravidade, que não pode ser reduzida a forças de contato. E é a força da gravidade que explica não só o movimento dos corpos celestes, mas também a queda dos objetos sobre a Terra. O movimento da Lua e dos planetas é devido à gravidade, que age entre quaisquer corpos, seja entre o Sol e a Terra, seja entre a Terra e a Lua, seja entre a Terra e uma bala de canhão, seja entre duas pedras, seja entre dois átomos. A força da gravidade é uma força atrativa universal. A Teoria da Gravitação Universal fornece a explicação unificadora tanto para a queda de uma maçã da árvore como da órbita da Terra em torno do Sol.

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Pintura de Isaac Newton (fonte)

Mas há ainda duas outras forças de ação à distância conhecidas desde a Antiguidade: a eletricidade e o magnetismo. Um ímã atrai um prego mesmo à distância. Quando se atritava bastão de âmbar (elektron em grego), ele atraía de longe pedaços de tecido. Em 1820, Hans Christian Oersted descobriu conexões entre eletricidade e magnetismo, apontando para uma força única, a eletromagnética. Os trabalhos experimentais de Michael Faraday (1791-1867) estabeleceram leis precisas relacionando campos magnéticos e elétricos. Aliás, foi ele quem introduziu o conceito de campo durante o seu esforço para visualizar as forças elétrica e magnética, por exemplo, ao usar limalha de ferro para traçar as linhas de campo magnético entre os polos de um ímã.

Em 1865, a teoria do eletromagnetismo de James Clerk Maxwell unifica por completo o magnetismo e a eletricidade. Nela, apenas quatro equações expressam de um modo sintético toda relação entre campos magnéticos e elétricos entre si e com cargas elétricas em repouso e em movimento. Com o eletromagnetismo de Maxwell, passa-se a perceber a própria luz como um fenômeno eletromagnético. A luz é uma onda eletromagnética. No final do século XIX, o mundo é composto por partículas e campos. Todas as forças de contato, como o atrito e a pressão, se devem a campos eletromagnéticos agindo entre partículas de matéria.

 

Qual é o número de dimensões da realidade?

A Teoria de Tudo seria a etapa final desse esforço de unificação. Ela forneceria uma descrição unificada das forças da natureza. Atualmente, os físicos reconhecem quatro forças básicas: a gravitacional, a eletromagnética, a forte e a fraca. Unificar essas forças tem sido um empreendimento que vem se estendendo por gerações. Foi ao longo do esforço para unificar as quatro forças fundamentais que surgiu a necessidade de se utilizar dimensões extras.

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Qual o número de dimensões da realidade? Essa é uma questão que persegue os físicos desde o século XIX, embora de modo apenas especulativo no início. No nosso universo reconhecemos três dimensões espaciais e uma quarta, o tempo. Mas será que existem mais dimensões além dessas quatro? Para ilustrar a busca por dimensões extras, Hawking usa a imagem do quebra-cabeça. Nós vemos quatro dimensões porque estamos na borda do quebra-cabeça, mas, quando começamos a ir até a parte central, vão aparecendo novas peças, novas dimensões das quais não suspeitávamos antes. As dimensões que vemos na beirada do quebra-cabeça são as dimensões estendidas, as quatro bem conhecidas por nós (incluindo o tempo), que poderiam se estender até o infinito. Já bem no meio do quebra-cabeça, onde as escalas são diminutas, aparecem as dimensões extras, que são enroladas, porque não vão além de uma certa escala muito, muito pequena. A menor escala possível na qual as leis físicas ainda poderiam ser escritas é o comprimento de Planck, ou 1,6 x 10-33 cm (1,6 milionésimo de 1 bilionésimo de 1 bilionésimo de 1 bilionésimo de centímetro). Mesmo antes de atingirmos esse ponto, mas em dimensões ainda minúsculas, temos um vazio ainda não descrito pela física atual. Como os mapas medievais ao toparem com um território desconhecido, poderíamos escrever: Hic sunt dracones (aqui há dragões).

Quando Einstein começou sua busca por uma Teoria do Campo Unificado, só se conheciam duas forças, ambas de longo alcance: a gravitacional e a eletromagnética. Mesmo nesse estágio, dimensões extras foram utilizadas para tentar unificar gravitação e eletromagnetismo na teoria pentadimensional de Theodor Kaluza e Oskar Klein, de 1921. Posteriormente, a busca de uma teoria unificada foi adiada pela descoberta de duas interações só de curto alcance, a força nuclear forte e a nuclear fraca. Aí o trabalho recomeçou do zero. A força eletromagnética e a força nuclear fraca foram unificadas em 1967-1968 por Sheldon Glashow, Steven Weinberg e Abdus Salam na força “eletrofraca”. Atualmente, caminha-se para a unificação das três forças — eletromagnética, fraca e forte — em uma força eletronuclear dentro da Teoria da Grande Unificação (GUT), embora esta ainda esteja incompleta. Porém, das forças da natureza, a que mais resiste à unificação é a nossa velha conhecida, a gravidade.

 

A unificação das forças

O problema da unificação das forças com a gravidade tem sido uma caminhada cambaleante. Na década de 1970, as teorias da unificação que estavam em alta eram as teorias de supergravidade. Essas teorias têm um ingrediente importante: a supersimetria. Na supersimetria, cada partícula tem uma parceira supersimétrica, que ainda não havia sido detectada nos laboratórios de física de partículas da época. Se a partícula tem um spin semi-inteiro, a parceira supersimétrica tem spin inteiro, e vice-versa. Vamos com calma agora. O mundo é constituído por partículas. E as partículas são de dois tipos: as partículas de spin semi-inteiro, que são chamadas de férmions, e as de spin inteiro, chamadas de bósons. Assim, o elétron tem spin ½ e é um férmion; e o fóton tem spin 1 e é um bóson. Portanto, a parceira supersimétrica de um férmion é um bóson e a de um bóson é um férmion. Havia a esperança de que o LHC (Grande Colisor de Hádrons) pudesse detectar alguma dessas parceiras supersimétricas, porém até agora os resultados foram negativos. Logo, ou a criação dessas partículas exigiria energias mais altas, ou as teorias que preveem a supersimetria estão com sérios problemas.

Em meados dos anos 1980, a supergravidade saiu de moda. A “tendência” passou a ser as teorias de supercordas, nas quais os entes fundamentais não eram partículas, mas cordas em várias dimensões. Depois de uma enormidade de trabalho insano e de muitos tropeços, chegou-se a cinco teorias de supercordas tendo como ingredientes a supersimetria e seis dimensões extras (dez dimensões ao todo). Finalmente, desde a década de 1990, os físicos teóricos começaram a descobrir as chamadas dualidades, que são classes de simetria conectando entre si os diferentes modelos com dimensões extras. Nessa altura, a supergravidade foi reabilitada e as cinco teorias de supercordas passaram a ser vistas, em conjunto com uma supergravidade de 11 dimensões, como casos-limite da chamada Teoria-M de 11 dimensões, que seria a Teoria de Tudo. Mas, é claro, não há unanimidade a respeito disso.

Foi a consistência da rede de dualidades que convenceu Hawking de que deveria haver dimensões extras. Essas dualidades mostram que os modelos seriam apenas aspectos distintos da mesma teoria subjacente, a Teoria-M. Essas dualidades revelam que todas as cinco teorias das supercordas são equivalentes entre si, além de serem também equivalentes à supergravidade. Nenhuma teoria de supercordas é mais fundamental do que a outra ou do que a supergravidade. Antes, são expressões diferentes da mesma teoria subjacente, todas elas úteis para cálculos em situações diversas.

Além da sua consistência físico-matemática, podemos procurar por indícios experimentais das dimensões extras. Se ao menos uma das dimensões extras fosse compacta e não enrolada, poderíamos testar sua existência em laboratório. Uma dimensão compacta é intermediária entre uma dimensão extensa, que pode se estender até o infinito (como são as quatro dimensões do habitual espaço-tempo), e uma dimensão enrolada, que é enovelada numa escala da ordem de alguns comprimentos de Planck. Uma dimensão compacta poderia se estender por alguns milímetros, por exemplo. Entre as quatro interações, é a gravidade que poderia ter uma dimensão extra compacta. Um modo de detectar essa dimensão extra é, por exemplo, por meio da evaporação de miniburacos negros que poderiam ser criados em grandes aceleradores de partículas, como o LHC. Se o miniburaco negro for criado, a partir de sua massa pode-se calcular o tempo esperado para sua evaporação pela radiação de Hawking. Caso a gravidade se propague por uma quinta dimensão compacta sobre uma escala relativamente grande, da ordem do milímetro, a probabilidade do vazamento do conteúdo do buraco negro será significativamente maior e ele explodirá depressa em um fulgurante surto de energia. Teremos visto o dragão, mesmo que por um instante.

 

 

Amâncio Friaça é astrônomo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo. Trabalha em astrobiologia, cosmologia, evolução química do universo e nas relações entre astronomia, cultura e educação. Foi o responsável pela revisão técnica da edição revista de Uma breve história do tempo e da nova edição de O universo numa casca de noz, ambos lançados pela Intrínseca.

 

testeCinco livros para seguir em frente

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Todo mundo já sofreu por amor algum dia. Chorar, ouvir músicas tristes, pedir conselhos aos amigos e ter vontade de ligar para o ex são coisas que fazem parte da rotina de quem acabou de terminar um relacionamento. Para ajudar nesse momento tão delicado, listamos alguns livros que mostram que é possível desapegar, viver novas histórias e até mesmo amar de novo.

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Para aqueles que precisam desapegar do passado e esquecer…

Não se apega, não, de Isabela Freitas — Tudo começa com um ponto final: a decisão de terminar o namoro de dois anos com Gustavo, o namorado dos sonhos de toda garota. As amigas acharam que Isabela tinha enlouquecido, porque eles formavam um casal perfeito! Mas por trás das aparências existia uma menina infeliz, disposta a assumir as consequências pela decisão de ficar sozinha. Atrapalhada do jeito que é, Isabela precisa primeiro lidar com o assédio de um primo gostosão, com as tentações da balada e, principalmente, entender que o príncipe encantado é artigo em falta no mercado.

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Para os que precisam superar o luto…

Depois de você, de Jojo Moyes — Na continuação de Como eu era antes de você, Lou está morando em Londres e trabalha como garçonete em um pub no aeroporto. Certo dia, após beber muito, ela cai do terraço. O acidente a obriga a voltar para a casa de sua família, mas também a permite conhecer Sam Fielding, um paramédico cujo trabalho é lidar com a vida e a morte, a única pessoa que parece capaz de compreendê-la.

Ao se recuperar, Lou sabe que precisa dar uma guinada na própria história e acaba entrando para um grupo de terapia de luto. Os membros compartilham sabedoria, risadas, frustrações e biscoitos horrorosos, além de a incentivarem a investir em Sam. Tudo parece começar a se encaixar, quando alguém do passado de Will surge e atrapalha os planos de Lou, levando-a a um futuro totalmente diferente.

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Para os que sofrem com encontros furadas…

Não sou uma dessas, de Lena Dunham — A criadora, produtora e protagonista da série Girls, exibida pela HBO, abre o jogo e fala sobre as suas escolhas, seus ex-namorados, sobre sexo e a luta para conseguir ser respeitada na carreira. Lena revira o seu passado e faz um balanço sobre relacionamentos e experiências. De maneira bem-humorada, conta como os seus encontros fracassados e ex-namorados babacas a ajudaram a se tornar uma mulher mais forte aos vinte e poucos anos.

Para os que estão cansados de sonhar e quebrar a cara…

Não se iluda, não, de Isabela Freitas — A segunda obra da autora não só dá sequência às histórias de Não se apega, não, como também traz 20 regras para as pessoas que não querem mais se iludir.

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Para os que estão vivendo o fim de um relacionamento longo…

Nós, de David Nicholls — Douglas é um bioquímico de 54 anos, casado com Connie e pai de Albie, um jovem que acabou de entrar para a faculdade. Certa noite, ele é acordado pela esposa, que decide pedir o divórcio. Porém, eles estão prestes a embarcar em uma viagem em família pela Europa. Com a mesma sensibilidade que construiu o best-seller Um dia, David Nicholls faz uma irresistível reflexão sobre o que acontece no fim de um relacionamento.

 

 

testeUm helicóptero, um submarino e 298 agentes

Coluna Cristina

O esquadrão Tutela Patrimonio Culturale (TPC), a maior força de combate a crimes contra a arte em todo o mundo. (fonte)

“A única coisa que une uma nação é sua cultura. Protegê-la é o mesmo que proteger a nação.” Se você tivesse que adivinhar o autor dessa frase, em quem apostaria? Um curador? Um historiador de arte? Um colecionador? Para a surpresa de boa parte dos brasileiros, ouvi essa afirmação da boca de um policial m-i-l-i-t-a-r: o coronel italiano Giovani Pastore, um carabinieri setentão que, por mais de treze anos, comandou o esquadrão Tutela Patrimonio Culturale (TPC), a maior força de combate a crimes contra a arte em todo o mundo.

Em junho de 2013, enquanto apurava material para o livro A arte do descaso, encontrei Pastore em Roma. Estivemos juntos por algumas horas, passeamos pela cidade, e ele me levou à sede do TPC, um palácio de paredes amarelas que não costuma receber turistas, muito menos jornalistas.

Fundado pela Polícia Militar em 1969 e ligado diretamente ao Ministério da Cultura, a única instância a que responde hoje em dia, o TPC tem em seus quadros nada menos do que 298 agentes distribuídos por doze unidades regionais. Todos eles passam por cursos e são treinados para identificar peças roubadas ou falsificadas. Como se não bastasse, ainda dispõem de um helicóptero e um submarino ultramodernos, que lhes permite realizar operações de campo semelhantes às de Hollywood.

A principal ferramenta de trabalho do TPC é, no entanto, uma gigantesca base de dados virtual instituída por lei, em 2004, na gestão do presidente Carlo Ciampi. É o Leonardo. Só os carabinieri têm acesso a ela:

— Temos aqui mais de 3 milhões de registros (de peças desaparecidas), 530 mil com fotos — disse Pastore, de peito inflado, mostrando-me a tela de um computador do TPC. — O banco de dados do FBI tem poucos milhares de registros. O do Art Loss Register, que atua de forma privada no Reino Unido, cerca de 400 mil. Estamos muito à frente.

“Marine” (de Monet), “Les deux balcons” (de Dalí), “La danse” (de Picasso) e “Le jardin du Luxembourg” (de Matisse), pinturas roubadas do Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2006, estão lá. Quando vi, não acreditei.

— O Leonardo está conectado à base de dados da Interpol — explicou Pastore. — Se essas obras que você busca aparecem aqui é porque a Interpol foi avisada e fez todo o processo de registro da forma como estabelecemos.

O trabalho diário dos agentes do TPC consiste em comparar os mais diversos catálogos de leilão, de feiras de arte e de exposições em geral com os registros do Leonardo. Quando os policiais fazem um cruzamento, muito mais comum do que podemos imaginar, cortam a cidade às pressas e dão início à investigação.

Pastore já foi chamado para ministrar aulas sobre como montar uma equipe policial especializada no combate ao roubo de arte em Cuba, Equador, Colômbia, México, Rússia, Canadá e Croácia. Jamais foi convidado para vir ao Brasil.

Em suas palavras, o primeiro passo para conseguir algo assim é “que o poder público queira isso”.

— É o poder público que, por lei, define o que é o patrimônio cultural de um país e estabelece as punições aos que agirem contra ele. Também é o poder público que tem os instrumentos necessários para criar e equipar uma unidade voltada para esse assunto. É ele, por fim, que fixa as linhas mestras do trabalho policial. Então o primeiro passo (da criação de uma força capacitada como o TPC) é convencer o governo. Depois, o Congresso.

A boa notícia diante de tudo isso é que, ainda de olho no Leonardo, Pastore prometeu:

— Se algum dia essas pinturas forem vistas na Itália, voltarão para o Rio imediatamente.

testeOs Guinle e o carnaval de rua

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O carnaval de rua no Rio de Janeiro antigamente (fonte)

Este ano vou passar o carnaval na avenida, ou seja, estarei os quatro dias de folia no Sambódromo do Rio. As rádios MEC, Nacional e Roquette-Pinto me chamaram para atuar como comentarista e por isso participarei da transmissão do evento das rádios públicas cariocas. Não sou um homem de carnaval, mas fui obrigado a estudá-lo para escrever Os Guinle.

Quando o livro foi lançado, muitos leitores se surpreenderam com o envolvimento dessa família de milionários com a cultura popular. Arnaldo e Carlos financiavam sambistas que, no início do século passado, não gozavam de boa reputação justamente por serem artistas do povão. Já o elegante e sofisticado Octávio, dono do Copacabana Palace, ajudou a transformar o carnaval carioca na maior festa popular do mundo.

Transcrevo aqui um trecho do livro: “Em janeiro de 1932, [Octávio] foi convidado a integrar a Comissão Executiva de Organização do Carnaval Carioca, que aconteceria em fevereiro. Não houve tempo hábil para muitas mudanças, mas, pela primeira vez na história da cidade, o evento foi pensado de forma pragmática, seguindo a tese de Octávio Guinle: ‘O carnaval é uma fonte de riqueza pública, como sãos os lagos e as montanhas suíças, as ruínas das civilizações extintas na Itália, e assim por diante’.” Segundo o jornal A Noite, naquele ano o carnaval “assumiu aspectos inéditos de brilhantismo e animação”.

No ano seguinte, o prefeito Pedro Ernesto convocou Octávio mais uma vez. E o resultado não foi diferente. Conforme descrevi em Os Guinle, “a avenida Rio Branco foi decorada e no sábado de carnaval, dia 25 de fevereiro, foi fechada para o desfile de blocos. Banhos de mar a fantasia foram organizadas na ‘linda praia de Ramos’, na Zona Norte, houve ‘prélios de serpentinas na rua 28 de Setembro, em Vila Isabel, baile infantil no Teatro João Caetano, no Centro, batalha de confete, ma rua Carlos de Vasconcellos, na Tijuca. Em homenagem a Lamartine Babo, escola de samba desfilaram na praça Onze e os bailes nas ruas Maxwell, Bela, Santa Luzia, 24 de Maio, José Higino, São Clemente e Gonzaga Bastos’”.

Para quem não é do Rio de Janeiro, vale a seguinte observação: as escolas de samba ainda hoje desfilam na praça Onze, e no sábado de carnaval a avenida Rio Branco sempre foi interditada ao trânsito, até ser fechada, em 2015, para obras. Na avenida Sapucaí, os Guinle serão lembrados de modo indireto este ano, pois a escola de samba Grande Rio vai homenagear a cidade de Santos (SP), cujo porto, o maior do Brasil, foi construído pelos Guinle. O patrocinador da agremiação, curiosamente, é o atual gestor do porto santista. Entretanto, na sinopse do enredo da Grande Rio os Guinle não são mencionados. Será possível contar a história de Santos sem falar nessa família?

testeHistória numa noite de verão

Para fazer meu Tobias dormir, leio-lhe um livro que conta uma história que conheci de perto, sobre uma menina, sua avó e as miraculosas coisas que viveram juntas. É um livrinho curto, de texto delicado, que termino segurando o choro — difícil menino dormir com mamãe chorando no fim da história, né?

Enfim, à propósito do livro, fiquei pensando na minha própria avó. Lá se vão mais de vinte anos desde que ela faleceu. Mas parece que veio aqui hoje, nessa imprevisível noite de verão, dar um “oizinho” para a neta. Deveria eu, talvez, escrever sobre um livro ou um filme. Acontece que o mundo anda cheio de opiniões e gosto mais é de sugerir pessoas, isso, sim.

Sabedora disso, a recordação da minha avó veio me fazer companhia. Teve muitos netos, ela. E bisnetos também — a última conta familiar já alcançava algumas dezenas. Estava sempre em visita, flanando pelas ruas da cidade com seus vestidinhos abotoados, a carteira de mão, seus sorrisos e suas receitas de remédios caseiros. Era humilde e elegante como poucas; bastava que um parente interiorano adoecesse para que ela o trouxesse à sua casa na capital, peregrinando com ele de hospital em hospital. Embora morássemos perto, eu a via menos do que deveria. Foi uma avó como um vinho: para ser compreendida com o tempo. Quando fiquei mocinha, sempre me presenteava com lencinhos brancos de cambraia. Talvez soubesse, pela experiência da vida, que se chora muito pelos anos afora. Por isso dava lencinhos e nada dizia deles… Engraçado é que nunca a vi chorar, mesmo tendo dado adeus a um filho, ao marido e a um neto — era inacabável, a sua doçura. Vivia para atender ao avô, até que uma tarde, já iam ambos bem passados de anos, ele pediu: “Me busca um copo d’água.” “Vá buscar você”, retrucou ela sem altear a voz. Assim, emancipou-se sem alardes, e daquele dia em diante não atrasava visitas nem perdia a hora da manicure por causa dos gostos do marido.

Chamava-se Maria, um nome simples, como toda ela. Morreu por engano ao internar-se para fazer uns exames de rotina; não reclamou do azar supremo durante seus últimos dias. Era uma mulher como um sopro de brisa. Entrou pela minha janela faz pouco, enquanto eu cerrava os vidros para a noite estrelada de verão. “Tantos lencinhos eu te dei”, pareceu ter-me dito. Na vida se chora muito, mas também se ri. Depois sumiu entre as constelações; decerto tinha tantas outras visitas a fazer.

testeTrecho de Cidade dos etéreos

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Com fotografias sombrias e uma narrativa emocionante, Cidade dos etéreos, sequência de O orfanato da srta. Peregrine para crianças peculiares, chega às livrarias neste mês. Neste segundo livro da série, o grupo de crianças com dons sobrenaturais precisa deter monstros terríveis e tirar o feitiço da srta. Peregrine, que está presa no corpo de uma ave.

Ansiosos para saber o que acontece na continuação? Leia aqui um trecho.

Hollow City - capa e lombada.inddRemamos pela baía, passando por barcos balançantes com a ferrugem vazando das emendas dos cascos, por bandos de aves marinhas silenciosas amontoadas nas ruínas de docas afundadas e cobertas de cracas, por pescadores que baixavam as redes para nos encarar, estupefatos, sem saber se éramos reais ou imaginários — uma procissão de fantasmas flutuando na água ou de pessoas que em breve virariam fantasmas. Éramos dez crianças e uma ave em três pequenos barcos instáveis, remando em silêncio, com vontade, para alto-mar, deixando para trás rapidamente a única baía segura em quilômetros, que se exibia rochosa e mágica à luz azul-dourada do amanhecer. Nosso objetivo, a costa irregular do País de Gales, estava em algum lugar à frente, visível apenas como um borrão difuso, uma mancha de tinta ao longo do horizonte.

Passamos pelo velho farol, uma construção tranquila de longe, que ainda na noite anterior fora cenário de muitos traumas. Foi lá que, com bombas explodindo por todo lado, quase nos afogamos e quase fomos despedaçados por balas. Foi lá que peguei uma arma, puxei o gatilho e matei um homem, um ato ainda incompreensível para mim. Foi lá que perdemos a srta. Peregrine, para depois a recuperarmos das garras de aço de um submarino — embora ela tenha sido devolvida com um problema cuja solução não sabíamos como obter.

testeTodas as perguntas do mundo

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Ela carregava consigo todas as perguntas do mundo como se fosse fácil. Na verdade, fazia como se fosse possível, e todo mundo sabia que não era. Menos ela. Talvez até soubesse. Talvez apenas ignorasse o fato porque conseguia e os outros não; era a sua maneira de passar pelos dias. Não que isso fizesse também dos seus dias horas mais fáceis, sóis mais quentes.

Talvez fosse justamente o contrário.

Sua capacidade única de carregar todas as perguntas do mundo fazia com que as horas fossem longilíneas e os segundos, largos, gordos, obesos. Eles se arrastavam pesadamente pelos milésimos que se gabavam de, pelo menos, serem um tanto mais ligeiros.

É que por carregar tantas interrogações, era natural vê-la buscando, obviamente, respostas. Portanto, imagine o tamanho do espaço que era necessário… Precisava caber não só esse entulho de perguntas, mas também as respostas que ia colhendo ao longo do caminho. E o pior é que as tais respostas eram mutantes, indecisas. Mudavam de acordo com a dona, ela mesma. Assim como as suas perguntas. A moça por dentro era uma avenida movimentadíssima e, assim com estas, às vezes barulhenta, outras vezes deserta, silenciosa, dando espaço para as perguntas mais tímidas, menos permitidas, que gostam mais de se esconder e falam mais baixo. Ali tinham seus sussurros ouvidos.

Falando em cômodos, era neles onde ela conseguia dissipar um pouco do peso e da movimentação. Usava algumas gavetas da cômoda velha que herdou de Tia Nevinha, trazida num caminhão de Gravatá depois que ela, a tia, cedo demais, resolveu esconder suas risadas no saco das lembranças.

É, porém, no saco das lembranças boas e divertidas que as saudades gostam de morar. Uma boa dica sobre esses sacos: é necessário escolher bem a hora de abri-los, pois, apesar de guardarem boas lembranças, se abertos em momentos suspeitos ou quando os pensamentos esqueceram as armaduras do lado de fora, eles podem conter uma perigosa melancolia posterior. É preciso ter cuidado.

Voltando às gavetas da moça, era ali que ela dividia e catalogava as perguntas de acordo com a sua origem. Ou aos fins que ela julgava que poderiam ter. Era uma classificação complexa, mas acho que já percebemos que a moça nunca foi simples; era por demais complicada, cheia de vielas tortas dentro da sua cabeça, sem falar no coração. Esse, sim, era mais emaranhado de coisas e não coisas do que os mapas do metrô de duas cidades juntos e emaranhados. Mas voltando aos cômodos… Quer dizer, agora, mais especificamente, às gavetas: hoje era dia de abertura.

Gavetas abertas, sacolas desamarradas, um leve cheiro de mofo pairando no ar. Depois dele, um perfume de avó, da cama da avó; em seguida um cheiro de mato, madeira cortada, cabelo lavado, abraço abraçado, alga salgada e protetor solar. Eram as memórias aromatizadas. Já as respostas pairavam dobradinhas, divididas em setores. As respostas claras (muito metidas, sabiam o quanto eram desejadas) e as nebulosas, cheias de nuvens cinzentas pairando por cima. Havia também as respostas dúbias, que ocupavam os dois lados da gaveta e ainda mudavam de lado todo o tempo.

Em dias de abertura era tudo igual. A moça escolhia o desejo do dia. Um desejo esquecido, um cheiro banal. Fechava as gavetas, observava suas escolhas com olho analítico,

via o que era igual

e o diferente.

Os passados normalmente ajudavam

a mais decidida

a seguir sempre em frente.

testeObjetos cortantes na televisão [Atualizado!]

Obj cort

O thriller psicológico Objetos cortantes está a caminho da televisão. Após o sucesso das adaptações para o cinema de Lugares escuros e Garota exemplar, das quais a escritora participou como roteirista, Gillian Flynn produzirá uma série de televisão baseada em seu primeiro romance. A atriz Amy Adams, de Batman vs Superman: a origem da justiça, foi escalada para o papel principal, e a direção será de Jean-Marc Vallée, responsável pelo filme indicado ao Oscar Clube de Compras Dallas.

[Atualizado!] A produção foi comprada pela HBO e terá 8 episódios no total. O primeiro tem roteiro de Marti Noxon, que escreveu episódios de Glee, Mad Men e o roteiro do filme Eu sou o Número Quatro. Além de ser responsável pela produção, Gillian Flynn também escreverá alguns dos episódios da série, que ainda não tem data de lançamento.

O livro conta a história da repórter Camille Preaker, que, recém-saída de um hospital psiquiátrico, se vê de volta a sua cidade natal, Wind Gap, e a sua família instável, para cobrir o brutal assassinato de uma menina e o desaparecimento de outra. À medida que as investigações para elaborar sua matéria avançam, Camille começa a desvendar segredos perturbadores, tão macabros quanto os problemas que ela própria enfrenta.

Leia um trecho de Objetos cortantes