testeNão há mais medo, há apenas amor

São pequenos momentos, talvez um tanto tolos, que definem o amor. Em todas as formas de afeto, há um rito de passagem: seja um colega que vira amigo, um namoro bobo transformado em uma relação para valer ou instantes que reforçam a união entre pais e filhos muito além dos laços de sangue. Em O amor segundo Buenos Aires, todos os personagens têm uma imensa capacidade de amar. Cada um, porém, o faz à sua maneira. A seguir, exemplos desses momentos definitivos em que Hugo, Pedro, Carol, Eduardo e Daniel simplesmente decidiram se render ao que sentiam. Pequenos espaços de tempo em que não havia mais medo. Apenas amor.

Hugo:
Já faz meia hora que a espero. Sob uma árvore, devoro uma cestinha de pães e tomo três cafés expressos. Ela acena de longe. Alta e angulosa, chama-se Leonor. Rio sozinho — afinal, quem se chama Leonor hoje em dia? Ao se aproximar, diz um “oi” desajeitado e usa os dedos para tocar levemente os meus ombros e, meio sem querer, sinto de leve sua pele contra o meu pescoço à medida que me levanto para dar-lhe um beijo e cumprimentá-la. Ela segura o meu braço, delicada e firme. A cada toque, mesmo acidental, sinto-me despedaçando em milhares de partículas.

Pedro:
O bebê usava uma touca laranja — eu me lembro bem que era laranja — e, acordado no berço, sorria. Hugo era assim: olhava as sombras que o sol, vencendo as frestas da cortina, fazia no teto do seu quarto. Eu o olhava, analisava, admirava. Era assim, até que foi diferente. Porque eu senti. Sim, o ventre do pai se contraindo, como se o menino estivesse nascendo naquele momento. Era um dia como outro qualquer, um bebe babão olhando para o nada, e eu soube. Era o amor da minha vida.

Carol:
Um homem estranho — em todos os sentidos da palavra — acaba de sair do meu quarto de hotel. Tento achar algo para assistir na televisão, mas acabo desistindo. Tento identificar o que sinto agora. Não consigo encontrar resquícios de vergonha nem de infelicidade, não acho nada. Imagino todas as pessoas que já passaram por este quarto, dia após dia, e me pego tentando adivinhar suas histórias. Então Hugo me vem à cabeça, como sempre acontece. Resolvo abrir o frigobar e procurar uma garrafinha de gim.

Eduardo:
Daniel se movimenta pelo restaurante cheio de homens tristes. Ao contrário de todos os outros que trabalham naquele ambiente decadente, que cheira a álcool derramado e comida malfeita, ele transpira compaixão. Mais uma garrafa de vinho, outra porção de empanaditas. A casa está cheia e, de repente, ele para no bar. Só alguns segundos para recuperar o fôlego. E olha para mim. Estou sentado perto da janela, no polo oposto do salão. Todo o resto para, mas consigo perceber uma luz néon verde, do lado de fora, piscando sobre mim.

Daniel:
Perdoe-me se os meus modos parecem um pouco antiquados, mas preciso que saibas. Dedico-me a fazer algo que jamais pensei em fazer: escrever uma carta de amor. Preciso que saibas, não quero mais ser um mistério para ti. Nunca fui bom com as palavras. Se tivesses crescido nos grandes vazios dos pampas, também sentirias, ao abrir a boca, que seus segredos se espalham por vastos campos. Uma ideia me vem à cabeça. Recomeço. “Eduardo, tu não és o amor da minha vida, és a vida em si.”

Hugo:
Fazia um ano e meio que Leonor havia ido embora. E então veio Mar. Havíamos andado o dia todo por Buenos Aires. Ela comera uma pera no mercado de San Telmo. Mesmo agora, horas mais tarde, enquanto subimos as antigas escadarias do meu edifício sem elevador, posso sentir de leve o cheiro da fruta. Quatro andares acima. Quando chegamos diante da minha porta, que tem uma daquelas antigas janelinhas na altura dos olhos, ela ri e elogia a ideia que tive de pintá-la de vermelho. Eu digo que sempre a deixo destrancada. Mar olha para mim e sorri. Não diz nada. Ficamos ali, admirando a porta por mais um tempinho.

Pedro:
Meu filho de 32 anos está preso a um emaranhado de fios, os cateteres da quimioterapia administram mais medicamentos do que o corpo humano parece capaz de aguentar. A febre vem e vai, pergunto-me se sente dor. Ele escuta uma música do Fleetwood Mac a todo volume com os fones de ouvido — o som vaza, consigo identificar a canção. Hugo não falou nada o dia inteiro, mas, de repente, talvez num pequeno momento de delírio, diz alguma coisa. Pausadamente. “Não há mais medo, há apenas amor.” Então sinto as contrações novamente.

testeAs lições de Não se apega, não e Não se iluda, não

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Isabela Freitas, autora de Não se apega, não e Não se iluda, não, já foi chamada de conselheira do desapego. Após viver uma desilusão amorosa, ela se tornou referência quando o assunto é relacionamento. Em todas as sessões de autógrafos de que participa pelo país, encontra centenas de leitores que compartilham histórias, trocam ideias sobre as desilusões amorosas e, principalmente, mostram que é possível seguir em frente.

Para saber como esses livros mudaram a vida dessas pessoas, resolvemos perguntar aos nossos leitores.

Confira as respostas:

@cabeyocute Aprendi a amar a mim mesma antes de qualquer coisa, a pensar mais em mim, e não tanto nas pessoas ao meu redor.

‏@IzaCamargosR Que você não precisa de outra pessoa pra ser feliz quando aprende a ser feliz sozinha.

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@viiih_rodrigues14 Se você se apega muito ao passado, está destinado a vivê-lo todos os dias….

@gevlp Aprendi que, antes de se envolver em um relacionamento com alguém, nós temos que nos amar acima de tudo, e que não devemos nos prender a um relacionamento que não nos faz bem por medo das mudanças e consequências.

@_vanessamacena A ser menos trouxa! Com o próximo livro eu deixo de ser de vez!

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@garotadosbooks Aprendi que nem tudo que queremos conseguimos. Mas que, se lutarmos com bastante força até o fim, um dia, chegaremos lá! ❤

@louca_dos_livros_A não correr atrás de quem não te quer por perto!

testeRecomeçar

Recomeçar é uma arte, tipo aqueles quadros que não entendemos direito, mas que não conseguimos parar de contemplar. A cada olhar, um novo traço, como se o pintor o tivesse colocado em tempo real, diante de nossos próprios olhos, tornando aquela uma nova história a ser admirada.

Recomeçamos todos os dias e nunca somos os mesmos do dia anterior, pois estamos mais vividos, rodados e calejados. Recomeço não existe sem, e rima com, tropeço. “Tropeçar de novo e contar comigo: vai valer a pena ter amanhecido”, cantaria Ivan Lins. Recomeçar é se dar a chance de tropeçar quantas vezes forem necessárias. “Existe um milagre em cada recomeço”, disse Herman Hesse. Roubo do mestre a ideia: existe um milagre em cada tropeço.

Recomeçamos projetos que eram para ontem ou anteontem. Ideias que chegaram espetaculares e inovadoras, mas que pararam na falta de um recurso natural chamado vontade. Recomeçamos, todos os anos, os planos para uma vida inteira. Esquecemo-nos de que a vida inteira do ano passado era maior do que a vida inteira que hoje nos resta. E o plano perde em relevância.

Recomeçamos a malhação, a dieta, o sonho, a reforma da casa, o estudo, a ajuda aos necessitados, a conversa que ficou no ar, a visita aos pais, o controle dos gastos, o telefonema não atendido, a viagem ao redor do mundo, o trabalho dos sonhos.

Recomeçamos histórias de amor, o maior de todos os desafios. Amar é recomeçar, reaprender e renovar. É tropeçar.

Recomeçar é uma arte. Ser um artista do recomeço, aquele pintor que coloca o traço diante da plateia: isso é viver.

testeLivros de Jojo Moyes com capas novas

jojomoyes

Os leitores apaixonados por Jojo Moyes têm dois motivos para comemorar! Como eu era antes de você, o romance inesquecível sobre Lou e Will, ganha agora a capa inspirada no pôster do filme. O livro chega às livrarias a partir 13 de maio, um pouco menos de um mês antes do lançamento do longa nos cinemas.

Com roteiro da própria autora, a adaptação terá no elenco Emilia Clarke, de Game of Thrones, Sam Claflin, de Jogos Vorazes, Matthew Lewis, de Harry Potter, e Jenna Coleman, de Doctor Who.

A última carta de amor, o primeiro livro de Jojo Moyes publicado pela Intrínseca, também será relançado com uma nova capa. Publicada em 2012, a obra conta as histórias de Ellie e Jennifer, duas mulheres que veem as vidas se cruzarem de uma maneira surpreendente.

testeDe volta, e acompanhado

Por Bruno Machado*

Cena do filme Ele está de volta (fonte)

Cena do filme Ele está de volta (fonte)

Timur Vermes teve a coragem de escrever um livro sobre Adolf Hitler que foge completamente ao tema da Segunda Guerra Mundial. Em Ele está de volta, o autor subverte a lógica e coloca uma das figuras mais perigosas da história na Berlim moderna, repleta de imigrantes e governada por uma mulher.

Em um enredo peculiar, o autor cria uma ácida sátira dos costumes europeus contemporâneos, e foi apenas questão de tempo até a história se transformar em filme. A produção, que estreou recentemente na Netflix, tem algumas diferenças do enredo original com o objetivo de ampliar a crítica feita pelo ditador aos seus conterrâneos do século XXI.

Alternando uma história sobre um funcionário desesperado de um canal de TV a cabo e interações de Hitler com transeuntes no estilo “Mockumentary” – a aparência de um documentário, mas sem uma história real, que ficou famoso com Borat –, o filme é considerado uma das maiores surpresas do cinema alemão dos últimos anos.

Curioso para saber como seria um filme alemão que abordasse um tema considerado tabu e com o aval da minha chefe para escrever no blog da Intrínseca minha opinião, decidi desligar a votação do Impeachment pela Câmara dos Deputados e assistir ao filme. Mal sabia que o Hitler de 2014 me ensinaria algo sobre o Brasil de 2016.

Começando com uma cena constrangedora na qual o (ex) Füher reclama com um professor de etiqueta sobre como as pessoas não o cumprimentam corretamente nas ruas, a história de Hitler logo se mistura com a do canal fictício MyTv. Uma disputa interna entre os diretores do canal acabará levando o ditador de volta ao centro das atenções, como parte de um programa já polêmico no qual um comediante faz críticas políticas usando blackface para imitar o presidente americano Barack Obama e uma burca e um fuzil para falar do mundo árabe.

A chegada de Hitler, que é considerado por todos apenas um ator muito bom que se recusa a sair do papel, parece apenas mais um degrau na decadência na qualidade das produções televisivas alemãs. O público não acha absurdo e começa a rir do discurso que 70 anos atrás motivou o Holocausto. Ao assistir essa cena, me senti compelido a pausar o filme, sair da Netflix e por alguns minutos voltar à votação que era transmitida ao vivo para o país.

Enquanto deputados alegavam os motivos mais absurdos para dar seu voto, muitas vezes aplaudidos pelos colegas quando, por exemplo, defendiam torturadores da ditadura e vaiados caso se posicionassem a favor de minorias, tive a impressão de que uma figura como o Sr. Hitler – como ele prefere ser chamado – não seria um estranho no ninho por ali. Depois de alguns minutos, desisti de acompanhar a política nacional e voltei ao filme. Ironicamente, foi como se tivesse previsto a continuação da saga moderna de Adolf.

Durante sua jornada ao lado do produtor que descobre o polêmico “comediante”, é possível ver que a figura de Hitler ainda desperta muita empatia na população. Enquanto algumas pessoas acham engraçado tirar uma selfie com o ditador nazista, outras dão depoimentos preconceituosos, como se a presença do cover do ditador as isentasse de qualquer crítica.

O que começa apenas como uma comédia que imita o estilo de documentários vai se tornando uma crítica direta aos costumes atuais. Adentrando cada vez mais a metalinguagem, os minutos finais de Ele está de volta mostram a produção do filme dentro do próprio filme, e os comentários feitos por Adolf Hitler ficam mais próximos da nossa sociedade. Em determinada cena, o filme alterna trechos de vídeos reais, alucinações de um dos personagens e viradas inesperadas de roteiro, que surpreendem em um filme que inicialmente parecia uma comédia polêmica um tanto boba.

A fala final de Hitler mostra como podemos ser pessoas ruins se nos reduzirmos a opiniões egocêntricas e à falta de empatia. Pode ser que um ditador da primeira metade do século passado não ressurja nos dias de hoje, mas o filme faz um excelente trabalho em mostrar que talvez tenhamos figuras perigosas defendendo a moral e os bons costumes do povo.

Seja em Berlim ou em Brasília.

 

* Bruno Machado é assistente de mídias sociais no departamento de Marketing e, assim como boa parte das pessoas na internet, não aguenta mais textão sobre política no Facebook.

testeUma lista com as vítimas das guerras que tomaram as redes sociais

Recentemente, publiquei um texto que explica como nasce a extrema polarização que claramente tempera as discussões on-line: ou se é petista, ou coxinha; ou se é a favor da maconha, ou contra; ou se é democrata, ou republicano; ou se é um radical de esquerda, ou de direita. No Facebook, parece que não tem vez o meio-termo e, em especial, os debates racionais, ponderados, democráticos. Ou se é o aliado a qualquer custo, ou o inimigo mortal.

Frente a isso, a pergunta que martela na minha cabeça (e, espero, na dos mais sãos) é: quem são as vítimas dessa guerra de radicais? Fiz uma lista, ainda em construção — pois, acredito, os feridos (e mortos, ao menos virtuais) se multiplicarão:

1ª vítima: a verdade. Tudo indica que a Verdade, com V maiúsculo, saiu de moda. Espalham-se posts, em tom afirmativo e absoluto, dizendo que o presidente americano, Barack Obama, teria dito “estão caçando juízes em vez de bandidos no Brasil”, que Margaret Thatcher — morta em 2013 — teria analisado a crise econômica brasileira e por aí vai, no caminho infeliz que seguem as inverdades. Tudo Mentira, com M maiúsculo. Parece que as pessoas estão encarando tudo com a leveza que fazem ao compartilhar frases surreais de Clarice Lispector, que parece ter dado início à sua fase mais produtiva após sua morte.

2ª vítima: o debate racional, calcado em estudo, raciocínio e reflexões lógicas. A quem me pergunta minhas posições políticas/econômicas, costumo responder que sou um neoliberal, mas com tendências morais mais à esquerda da sociedade. Normalmente, ao ouvir — e, possivelmente, não compreender — isso, direitistas de extrema costumam taxar: “Seu esquerdista, comunista.” Esquerdistas, por sua vez, costumam berrar: “Seu Bolsonaro.” Tudo sem nem dar um Google nos termos citados acima. Quando me dão a chance de explicar minhas, digamos, preferências reais, gritam ainda mais alto um “isentão”. Pouca gente entende que tenho um lado, sim: o meu. Defendo meu ponto de vista, pois ele demandou certo trabalho para ser formado. Indo além, também defendo aqueles em quem acredito, os que apoio. Mas isso é outra conversa — aposto que iam me chamar de direita, ou de esquerda, ou de “isentão”, por isso.

3ª vítima: o ócio. Como assim, Vilicic? Você tá viajando! Explico. É no ócio que temos a maior chance de reflexão. Ele parece inexistir agora, na era digital. Em vez de aproveitar o ócio para, sei lá, estudar um pouco, ler, pessoas vão para o Facebook escrever suas verdades — que julgam como Verdades. No lugar de curtir o ócio, digamos, jogando videogame, preferem marchar, muitas vezes seguindo uma manada maior, por uma causa que nem sabem explicar qual é.

4ª vítima: a crítica a atividades fora da política. Passou a ser moda julgar o bom músico pelo que ele fala sobre impeachment. Melhoro: taxam como ruim suas canções por determinarem que são asneiras o que ele disse sobre Dilma. Uma coisa não tem a ver com a outra, amigo. E o mesmo vale para aquele ator com quem você não concorda, mas que manda bem na tela da TV. Ou para um pintor, ou para um quadrinista…

5ª vítima: a diversidade de opiniões — logo, a pluralidade de ideias — na mesa do boteco. Parece que, aos juízes e carrascos virtuais — que transpuseram suas posturas ao mundo real —, um cara de opinião X não pode, de forma alguma, andar com um de visão A de mundo. É espião? É “isentão”? Particularmente, adoro debater, conversar. Porém, para tal preciso estar num ambiente democrático, no qual opiniões circulem de forma livre, sem repressão. No fim do dia, qual é a graça de debater apenas com quem tem o mesmo ponto de vista que você?

Como falei lá no início deste texto, trata-se de uma lista em construção. De pronto, já poderia pensar em outras vítimas: o bom senso, a intelectualidade, a leitura profunda… A lista seria grande. Só que não quero tomar seu tempo, caro leitor. Se chegou até aqui, convido-o a pensar no assunto e, em especial, nas vítimas dessas guerras digitais. E, deixo claro, na de todos os tipos. Há republicanos versus democratas, esquerdistas contra direitistas. Daqui a pouco haverá amantes de bacon versus quem só gosta de alface. Para você, quem são as vítimas?

Quanto mais fortes e intransponíveis são as fronteiras impostas entre pensamentos e opiniões, mais chato é este planeta. Afinal, qual é a graça de viver num mundo — real ou virtual — no qual só se pode ter uma ou outra posição?

testeAs mulheres do meu livro II

Jayne Mansfield e Jorginho Guinle (fonte)

Jayne Mansfield e Jorginho Guinle (fonte)

A atriz Jayne Mansfield, a grande rival de Marilyn Monroe na década de 1950, não deveria entrar nas minhas crônicas sobre as mulheres de Os Guinle, já que não é personagem da saga que escrevi sobre essa conhecida família carioca. Não a incluí no livro porque, embora tenha sido uma das amantes hollywoodianas de Jorginho Guinle, a relação de nosso playboy com ela era mais motivada pelo sexo, conforme ele relata em sua biografia. Loura, alta e de seios fartos, Jayne fez mais sucesso, na verdade, como playmate da Playboy do que como atriz.

Segundo Jorginho, a moça, ainda que bela, carecia de alguma sensibilidade. Ele conta que uma vez eles estavam num cabaré da Broadway quando, de repente, ela pediu: “Vamos dançar?” O cabaré era um sofisticado endereço especializado em jazz criado apenas para os apaixonados por boa música. Grandes nomes, como o saxofonista Coleman Hawkins e o baterista Gene Krupa, faziam de tudo para se apresentar ali. Jorginho dançou com ela e o casal foi até aplaudido, mas ele morreu de vergonha, pois considerava uma ofensa aos músicos dançar naquele ambiente.

Jayne, porém, tinha seus trunfos: era totalmente desinibida para o sexo e isso Jorginho adorava. Uma vez, em Nova York, ele foi buscá-la no aeroporto. Foi em um carro escolhido por ela, um Rolls-Royce antigo, bem mais alto que os demais. Mesmo com a presença do motorista, em determinada parte do trajeto ela anunciou: “Vou fazer sexo com você aqui!”. Nas palavras de Jorginho, ele ficou bem constrangido ao receber sexo oral daquele jeito, “vendo os carros passando ao lado, logo abaixo de nós”.

O caso com ela durou dois anos no total, um tempo longo para os padrões do playboy, e ele logo explica: “Não foram dois anos corridos, mas indo e voltando, e ela não tinha esse negócio de querer amarrar-se.” Além de desinibida, Jayne era realmente diferente, já que a maioria das mulheres que namorou só queria mesmo era arranjar casamento, inclusive as atrizes de Hollywood, conforme narra.

testeLeia um trecho de “Alucinadamente feliz”

Imagem Alucinadamente Feliz 1

Jenny Lawson se considera uma colecionadora de transtornos mentais e já foi diagnosticada com diversos tipos de doenças, de depressão e ansiedade a tricotilomania — mania de arrancar tufos de cabelo. Com a notícia da morte prematura de um amigo próximo, Jenny decide que é hora de parar de vez de se sentir triste e autodestrutiva e passa a buscar o exato oposto: se tornar Alucinadamente feliz.

Equilibrando momentos de bom-humor e seriedade, a autora mostra como seus problemas criaram uma perspectiva completamente nova da vida, com histórias absurdas e tocantes. Um livro sério sobre coisas horríveis, Alucinadamente feliz mostra que todos nós temos dificuldades, e que não existe problema em nos aceitar por nossas falhas.

Leia um trecho abaixo:

 

“Uma série de avisos desagradáveis

Não, não. Eu insisto que você pare agora mesmo.

Ainda está aqui? Excelente. Agora não vai poder me culpar por nada que encontrar neste livro, porque eu avisei que deveria parar e você continuou mesmo assim. Você é como a mulher do Barba Azul quando encontrou todas aquelas cabeças no armário. (Alerta de spoiler.) Mas, particularmente, acho que isso é bom. Ignorar as cabeças humanas decepadas no armário não contribui para um relacionamento, só gera um armário com sérios problemas de higiene e possivelmente uma acusação de cúmplice. Você precisa enfrentar essas cabeças decapitadas, pois não pode crescer sem reconhecer que todos somos feitos da esquisitice que tentamos esconder do resto do mundo. Todo mundo tem cabeças humanas no closet. Às vezes as cabeças são segredos ou confissões não ditas, ou ainda medos silenciosos. Este livro é uma dessas cabeças decepadas. O que você tem nas mãos é a minha cabeça decepada. A analogia é ruim, mas, em minha defesa, eu disse que era melhor parar. Não quero culpar a vítima, mas agora estamos juntos nessa.

Tudo neste livro é em grande parte verdade, mas alguns detalhes foram alterados para proteger os culpados. Sei que o costume é “proteger os inocentes”, mas por que eles precisariam de proteção? Eles são inocentes. Além disso, escrever sobre eles não chega nem perto da diversão que é escrever sobre os culpados, que sempre têm histórias mais fascinantes e que fazem a gente se sentir melhor por comparação.

Este é um livro engraçado sobre viver com um transtorno mental. Parece uma combinação terrível, mas, falo por mim, tenho transtorno mental e algumas das pessoas mais hilárias que conheço também têm. Então, se você não gostar do livro, talvez só não seja louco o bastante para isso. No fim das contas, você sai ganhando de um jeito ou de outro.

 

Nota da autora

Querido leitor,

Neste momento, você está segurando o livro e se perguntando se vale a pena lê-lo. Provavelmente não vale, mas tem uma nota de 25 dólares escondida na encadernação, então é melhor comprar rápido antes que o vendedor perceba.1

De nada.

Alucinadamente feliz é o título do livro, contudo também é algo que salvou a minha vida.

Minha avó dizia que “chove um pouquinho na vida de todo mundo — chovem chuva, babacas e todo tipo de merda”. Estou parafraseando. Mas ela estava certa. Todos nós temos a nossa cota de tragédia, insanidade ou drama, o que faz toda a diferença é o que fazemos com esse horror.

Aprendi isso em primeira mão há alguns anos, quando caí numa crise de depressão profunda, tão terrível que eu não via como escapar. A depressão não era novidade. Luto contra várias formas de transtornos mentais desde a infância, mas a depressão clínica é uma visitante ocasional, enquanto o transtorno de ansiedade é o meu relacionamento abusivo de longa data. Às vezes, a depressão é leve o suficiente para que eu a confunda com gripe ou inflamação de garganta. Porém esse caso foi extremo. Eu não queria necessariamente acabar com a minha vida, mas só que ela parasse de ser tão filha da puta. Lembrei a mim mesma que a depressão mente, porque é verdade, e disse que as coisas iriam melhorar. Fiz tudo que costuma ajudar, mas continuava me sentindo sem esperança e, de repente, percebi que estava com muita raiva. Com raiva de a vida jogar tantas bolas de efeito na nossa direção. Com raiva da aparente injustiça na forma como a tragédia é distribuída. Com raiva porque não tinha mais nenhuma emoção para oferecer.

Então acessei o meu blog e escrevi uma postagem que mudaria minha perspectiva sobre a vida dali em diante:

‘Outubro de 2010:

De modo geral, os últimos seis meses têm sido uma tragédia vitoriana. Hoje meu marido, Victor, me entregou uma carta informando a morte inesperada de mais um amigo. Talvez você imagine que isso vai me lançar numa espiral de ansiolíticos e músicas da Regina Spektor, mas não. Não vai. Estou de saco cheio da tristeza e não sei qual é o problema do universo, mas pra mim JÁ CHEGA. VOU SER ALUCINADAMENTE FELIZ, SÓ DE RAIVA.

Deu para ouvir? Isso sou eu sorrindo, minha gente. Estou sorrindo tanto que dá para ouvir daí. Vou destruir o maldito universo com a minha alegria irracional e vou vomitar fotos de gatinhos desastrados e cachorrinhos adotados por guaxinins e LHAMAS RECÉM-NASCIDAS FODÁSTICAS COBERTAS DE GLITTER E DE SANGUE DE VAMPIROS SENSUAIS E VAI SER INCRÍVEL. Aliás, estou iniciando um movimento agora mesmo. O movimento ALUCINADAMENTE FELIZ. E vai ser incrível. Em primeiro lugar, porque vamos ser VEEMENTEMENTE felizes e, em segundo, porque isso vai fazer todo mundo que nos odeia se cagar de medo, pois esses babacas não querem nos ver nem um tanto entretidos, que dirá alucinadamente felizes — o que vai nos deixar ainda mais felizes. Legitimamente. Então o mundo vai pender para o nosso lado. Nós: 1. Babacas: 8.000.000. Esse placar não parece muito satisfatório, afinal eles saíram na frente. Só que sabe de uma coisa? Foda-se. Vamos começar do zero.

Nós: 1. Babacas: 0.’

 

1 Meu editor insistiu para que eu deixasse claro que não tem uma nota de 25 dólares escondida no livro, e é meio ridículo ter que explicar, porque não existem notas de 25 dólares. Se você comprou o livro achando que encontraria uma nota de 25 dólares dentro dele, na verdade só pagou por uma lição bastante válida, que é: não troque a sua vaca por feijões mágicos. Outro livro explicou o mesmo conceito muitos anos atrás, mas acho que meu exemplo plagiado é bem mais divertido. É como a versão Cinquenta tons de cinza de “João e o pé de feijão”. Só que com menos esferas anais e menos mudas de feijão.

testeOs personagens da vida de Auggie

Texto_Auggie&Eu_facebook

Muitas vezes não conseguimos compreender as atitudes tomadas pelas pessoas, mas será que as conhecemos o suficiente para julgá-las? Em Extraordinário, somos apresentados à emocionante história de Auggie. Com uma síndrome genética que causa uma deformidade facial grave, o menino mostra, de forma sensível, como sua chegada à escola gerou reações dos mais variados tipos nas pessoas. Por ter um rosto diferente, Auggie tem que enfrentar o preconceito e bullying dos colegas.

Como toda história tem dois lados, em Auggie & eu, livro recém-publicado que reúne contos extras sobre Extraordinário, temos a oportunidade de conhecer o ponto de vista de personagens que conviveram e tiveram sua vida impactada por Auggie. Selecionamos as características marcantes de cada um:

Julian — Conhecido por ser o menino que atormenta e lidera o bullying contra Auggie na escola, Julian é popular, gosta de Star Wars e Bob Esponja, já teve medo de dormir sozinho à noite e adora fazer brincadeiras malvadas com as pessoas. É um personagem bastante controverso. Apesar de ser considerado o vilão, é uma criança com muitas inseguranças e medos.

Christopher — Primeiro e mais antigo amigo de infância de Auggie, Chris é sincero e não tem vergonha de expor suas dúvidas sobre a amizade. Tem vergonha de assumir, mas já gostou muito de Power Rangers e amava brincar com bonecos de zumbis, jogos de tabuleiro e dinossauros na casa de Auggie.

FamiliaExtraordinario_CampanhaOnline4

 Charlotte — A única menina entre as crianças que receberam Auggie na escola. Dramática, certinha, apaixonada por musicais da Broadway, adora dançar, mas é insegura com o próprio corpo. Como muitas garotas da idade dela, Charlotte se preocupa com o que os outros pensam e com as “panelinhas” da escola.