testeJenny Han responde às perguntas dos leitores brasileiros

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Para todos que se apaixonaram pelo romantismo de Lara Jean e pelo gênio terrível — e irresistível — de Kitty, que já tiveram ou gostariam de ter tido um vizinho como Josh e um amigo como Peter K. ou até mesmo uma “amiga” como Genevive, a escritora Jenny Han responde às perguntas enviadas pelos leitores brasileiros. Confira!

Atenção: o vídeo contém spoilers para quem ainda não terminou a leitura de Para todos os garotos que já amei e P.S.:Ainda amo você.

 

testeA arte de perder

Por Roberto Jannarelli*

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A arte de perder não é nenhum mistério.1 Não tenho certeza de quando nem como esse verso de Elisabeth Bishop chegou a mim, mas chuto que já faça mais de uma década que o ouvi/li pela primeira vez. É possível que o tenha lido em algum canto de biblioteca, ouvido em algum filme, ou até mesmo o tenha conhecido por alguma namoradinha imaginária no final da minha adolescência. Nem com muito esforço consigo ter certeza, mas podemos ficar com a terceira hipótese se ela soar melhor para o leitor — o cliente tem sempre razão. Eu me lembro com muita segurança de que o verso me intrigou porque, bem, para mim era bastante claro que a arte de perder não era exatamente fácil de lidar.

Não pensava nisso por uns bons anos, até que recebi a incumbência de trabalhar em F de falcão, uma grande aposta de não ficção da editora. Vencedor de prêmios. Best-seller do New York Times. Escolhido livro do ano por não-sei-quantos-mas-muitos prestigiados veículos estrangeiros. Em suma: coisa muito importante.

Como falei em um texto anterior aqui no blog, a gente tem o costume de pesquisar sobre os livros estrangeiros no início do processo de preparação do texto. Ler críticas, resenhas, essas coisas. Isso ajuda a entrar no clima, a entender alguns detalhes das histórias e a conhecer a linguagem do autor. Em F de falcão, porém, as sinopses apontavam para: Livro de memórias de professora universitária que perde o pai, entra em depressão e resolve praticar a falcoaria para superar a melancolia do luto. E mais: desafia todos os gêneros, um tratado de história natural com uma história de desenvolvimento pessoal, uma linguagem descritiva sem paralelos na literatura moderna.

(Quero ver falar que não tem mistério agora, Sra. Bishop.)

capa_F de Falcao_frente_Passado o momento de hesitação, confirmei que o livro era de fato muito interessante. Helen Macdonald, a autora, divide com o leitor o luto pela morte do pai — sua pessoa preferida no mundo — e mostra que o caminho para superação nem sempre é o que parece mais fácil. Ou mais simples. Mas se você estiver ao lado de um açor (o mais feroz dentre os falcões), certamente será o mais autêntico. Pode ser um pouco clichê, mas não é exagero dizer que nunca li um livro nem sequer parecido com F de falcão. É de fato uma história única.

Certa vez me perguntaram por que então eu achava que o livro tinha feito tanto sucesso (de crítica e vendas) no exterior, e minha resposta saiu meio de supetão: Porque as pessoas, assim como se identificam com histórias de amor, também se identificam com histórias de dor. Do mesmo jeito que quase todo mundo já amou alguém, quase todo mundo já perdeu alguém. Não sei se essa é uma relação de causa e efeito simples assim, mas acho que faz algum sentido.

Mas a autora tem grande mérito em fazer com que os leitores se identifiquem com uma história tão peculiar — convenhamos que não é fácil fazer isso em um contexto de falcoaria. A linguagem simbólica com que ela conta tudo é importante, porque permite que façamos nós mesmos as nossas comparações.

Além da linguagem cheia de beleza, metáforas e muita sensibilidade, o livro tem muitas outras virtudes. Talvez não seja proposital, mas Helen conta tudo com um certo cinismo que me cativou. Por exemplo: em um dado momento, ela conta que saiu para jantar com uma amiga logo depois de receber a notícia da morte do pai. Superando a reação de “dane-se a reserva do restaurante, volte para a Inglaterra agora!”, o modo como ela conta esse primeiro momento de uma refeição sabendo que o pai não está mais vivo é muito curioso. Ela passa uma sensação de “ok, vamos racionalizar, eu não posso fretar um voo agora e, bem, mesmo que ele tenha morrido eu ainda preciso me alimentar”.

Autora e leitores sabem que isso não vai acontecer, mas ela sabe que precisa tentar. É então que, tentando ajudar, a amiga aproveita um momento em que Helen se ausenta para ir ao banheiro e pede uma bela sobremesa de chocolate. Helen agradece, olha para aquele doce lindo, mas divide com o leitor seu pensamento de que “meu pai morreu, não é uma sobremesa de chocolate que vai me fazer feliz”. Ela agradece, retribui o carinho, mas o leitor consegue sentir sua angústia por não ter a capacidade de compreender a real amplitude da sua dor, mas sabe que uma sobremesa não resolve o problema.

Outro momento em que esse cinismo se mostra acontece quando uma espécie de DETRAN entra em contato com ela para cobrar uma multa, porque o pai de Helen havia deixado o carro em um local de difícil acesso e não voltou para buscá-lo. O carro foi rebocado, e, como o dono não fora ao depósito para retirá-lo, Helen precisou explicar, com certa dose de ironia, que o proprietário do carro havia morrido e que “não era intenção dele deixar o carro lá, ele só tinha morrido, mas realmente não tinha a intenção de deixar o carro lá”. E ainda foi preciso procurar o atestado de óbito para contestar a multa. Eu não sei se o cinismo é a forma mais saudável de lidar com o luto, mas tenho certeza de que eu não teria forças para lidar com uma situação dessas assim. Por esses e outros motivos, admiro muito a força que Helen mostra no livro.

Assim, se eu tivesse que resumir F de falcão em uma frase simples, diria que é a história de superação de uma mulher muito forte. Nesse ponto podemos dizer que é um livro bastante contemporâneo, ainda que de fato bastante inusitado.

Não sei se, ao final da história, Helen Macdonald concordaria com Elisabeth Bishop, mas acho que ambos, poema e livro de memória, são exemplos de como a literatura pode se mostrar como um ímpeto de superação — e depois de ler F de falcão a arte de perder fica bem menos difícil de lidar.

>> Leia um trecho de F de falcão

 

Roberto Jannarelli é editor-assistente de livros estrangeiros da Intrínseca. Nunca teve vontade de treinar falcões, mas já desviou de vários pombos no centro do Rio de Janeiro.

1 Do poema “One art”, de Elisabeth Bishop. Tradução de Paulo Henriques Britto.

testeDivulgados pôsteres individuais de O Lar das Crianças Peculiares

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Confira os pôsteres individuais com as peculiaridades dos personagens de O Lar das Crianças Peculiares, filme dirigido por Tim Burton com estreia prevista para setembro. A produção estrelada por Eva GreenAsa ButterfieldAllison JanneyElla PurnellChris O’Dowd e Samuel L. Jackson é inspirada no primeiro livro da série escrita por Ransom Riggs.

Cidade dos etéreos, segundo livro da série, já está à venda nas livrarias em formato capa dura com sobrecapa.

(via Peculiares do Brasil)

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testeVocê já encontrou o seu lugar?

Ao escrever O amor segundo Buenos Aires, uma das minhas inspirações foi — obviamente — a própria cidade. Como diz o personagem Hugo em algum momento, “eu entendo Buenos Aires, e a cidade me entende”. Pensando nisso, comecei a me recordar de livros e filmes que, ao longo do tempo, levaram-me para locais que não conheço porque seus autores conseguiram captar a essência de uma cidade, um país ou um lugar específico que ficaram indeléveis em minha memória.

Aí vão seis obras de ficção que me transportaram para lugares que ainda não tive a oportunidade de visitar.

 

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O céu que nos protege

Embora seja baseado em um romance de 1949 de Paul Bowles, o título é mais conhecido pela versão para cinema dirigida pelo italiano Bernardo Bertolucci, lançada em 1990. O casal vivido por Debra Winger e John Malkovich viaja para a África a fim de resolver problemas em seu casamento e acaba se enveredando por uma aventura existencial pelo continente. Construído em forma de quebra-cabeça — a princípio não fica clara a motivação da “fuga” dos personagens —, o filme mostra como um local pode se entranhar na vida de uma pessoa.

Entre amigos

O livro de Amos Oz se concentra em um microcosmo: um kibutz em Israel. A comunidade judaica é analisada em contos que se entrelaçam de forma casual — somente alguns personagens aparecem em mais de uma história. Em uma comunidade de iguais, no entanto, a lupa de Oz mostra pequenas disputas de poder. Entre as descrições das particularidades do kibutz estão a noção de que as crianças são filhos da comunidade, e não de um casal apenas, a divisão de tarefas entre os gêneros e as dúvidas dos jovens que, ao se aproximar a maioridade, têm de decidir se querem ou não se mudar para o “mundo real”. Uma boa forma de conhecer uma realidade fechada para a maioria das pessoas.

 

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Tracks

História real de Robyn Davidson, uma mulher que, no fim dos anos 1970, decide cruzar o deserto australiano acompanhada de camelos e cães. A determinação e a teimosia de Robyn ficam evidentes em todas as páginas, narradas em um estilo furioso (eu li o livro em inglês e não achei menção a uma edição em português). A odisseia de Robyn foi acompanhada pela revista National Geographic, que produziu uma reportagem com fotos impressionantes. A história virou filme em 2014, ao qual também assisti (e do qual gostei), com Mia Wasikowska, de Alice no País das Maravilhas.

Um livro por dia

Falando em Shakespeare and Company e em microcosmos, o livro de Jeremy Mercer narra as desventuras de um escritor novato — o próprio Jeremy — que resolve viver de arte e fazer parte da pequena trupe que mora de favor na pequenina e famosa livraria de Paris. O dia a dia na livraria, os bicos para arranjar dinheiro, a vida sem chuveiro, as noites dormidas em meio a livros e as visitas ao banheiro público de Paris (banho só uma vez por semana, para economizar) são alguns dos “pedágios” que Jeremy está disposto a viver para desenvolver a própria arte.

 

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Na natureza selvagem

Este livro, para mim, é especial, pois foi comprado em um local muito próximo do meu coração: a livraria Shakespeare and Company, em Paris. O autor, Jon Krakauer, é especialista em contar histórias reais de homens que desafiam a natureza. Aqui, o protagonista é Chris McCandless, que resolve se isolar do mundo vivendo no Alasca. Agrada-me o modo como é narrada a alegria do personagem ao descobrir um lugar só seu, e também a tristeza e a impotência que tomam conta de Chris quando ele entende que não pode controlar a natureza.

Terra vermelha

Este livro incrível foi escrito por Domingos Pellegrini, vencedor de dois prêmios Jabuti. Narra um pedaço da história recente do Brasil. Você sabia que a região de Londrina, no Paraná, só começou a ser colonizada nos anos 1930? E por ingleses? E que toda aquela área foi concedida para loteamentos à Inglaterra como pagamento de uma dívida do governo brasileiro? A chegada dos ingleses, e a dura vida dos desbravadores, é narrada com olho clínico e um toque de romance por Pellegrini — que, claro, é “pé vermelho”, como são conhecidos os habitantes do norte paranaense.

 

E você, teve algum filme ou livro que o transportou para os confins do mundo, um lugar que jamais imaginou visitar? Estou aberto a sugestões.

testeUma história em dois atos

Por Julia Wähmann*

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Eu sabia basicamente duas coisas a respeito de Destinos e fúrias, livro da americana Lauren Groff, quando recebi meu exemplar: que o assunto era casamento e que Barack Obama o havia eleito entre seus preferidos de 2015. A declaração do presidente dos Estados Unidos, por si só, dispensaria quaisquer outras apresentações ou artigos sobre a obra em questão. Não me atreveria a discordar de Obama. No entanto, terminei a leitura desconfiada de que reduzir o livro ao espectro do casamento seria cair na armadilha de condená-lo a um rótulo que, ainda que rico, soa estreito.

A diferença entre comédia e tragédia não passa de um truque, e depende exclusivamente do leitor: esta é a lição que Lotto aprende numa aula de literatura, no mesmo dia em que é introduzido à obra de William Shakespeare. É preciso um gigante para despertar outro, e é a partir desse encontro que Lancelot Satterwhite — apelidado Lotto por sua tia Sallie logo após seu nascimento — começa a dar seus primeiros passos no mundo do teatro.

untitledJovem, rico e dono de um magnetismo proporcional aos seus quase dois metros de altura, Lotto torna-se ator ao mesmo tempo que sua fama de conquistador se espalha. A rotatividade de mulheres em sua cama — ou nas dependências da universidade — tem fim quando, numa festa, Lotto se apaixona por Mathilde, uma garota calada, sem amigos, de beleza dúbia e porte de manequim. Em poucas semanas os dois se casam às escondidas, Lotto é deserdado pela mãe, a viúva Antoinette que administra a fortuna da família na Flórida, e se muda com Mathilde para um apartamento subterrâneo em Manhattan, Nova York, cenário de festas que fariam Jay Gatsby se revirar no túmulo.

A primeira das duas partes do livro de Groff é centrada na figura de Lotto, que de ator com poucos trabalhos passa a dramaturgo, impulsionado pela mulher, que assume os bastidores da cena. Lotto alcança o sucesso e o prestígio que todos sempre esperaram dele, e ainda que seu ofício não o permita mais interpretar grandes personagens, é ele quem está constantemente sob os holofotes. Seu êxito se expande de forma ascendente, assim como o apetite sexual por sua mulher, a quem se mantém fiel.

O casamento de Lotto e Mathilde é mais erótico que a maioria das ficções comerciais assumidamente safadas. Ambos parecem encarnar com perfeição os papéis a que o casamento tradicionalmente designa aos gêneros também tradicionalmente reconhecidos. Mathilde está sempre pronta para o sexo, para cuidar da casa, para permanecer nas coxias do teatro, aquele limbo escuro entre o palco e as engrenagens e os camarins das casas de espetáculos, tudo para que Lotto continue se sentindo “exuberante”.

Há buracos, entretanto. Algo no desenrolar dos fatos deixa lacunas na história do casal, e cresce no leitor uma desconfiança a respeito dos protagonistas. Como se a fábula bem-sucedida ocultasse certas peças, como se não fosse possível tamanha docilidade e conformidade de Mathilde, como se a sensibilidade de Lotto fosse imune à vida de sua própria companheira.

A história de Lotto e Mathilde é tão envolvente que por vezes esqueci que era fruto da mente e das maquinações de uma ficcionista. Há uns anos Ian McEwan declarou, numa conversa com Jennifer Egan e Arthur Dapieve, na Flip, que manipular o leitor era “o maior prazer” de sua vida. O escritor inglês não quis dizer, contudo, que o fazia gratuitamente. Na segunda parte de seu livro, Lauren Groff reafirma essa máxima, ao mudar o eixo da narrativa e revelar a trajetória do casal pela perspectiva de Mathilde. A autora então confronta as convicções do leitor a respeito da vida conjugal de ambos.

Aos poucos entendemos que é Mathilde quem viabiliza o sucesso estrondoso do marido, se valendo de práticas muitas vezes pouco louváveis; é Mathilde quem, em tempos de vacas magras, encontra os meios financeiros para ter o mínimo em casa. As armas de Mathilde são as mesmas das quais se utilizam escritores de ficção. Ela domina todas as engrenagens escondidas pelos cenários e cortinas dos teatros, sabe a hora exata de entrar e sair de cena, e arquiteta seus movimentos com precisão, sem deixar rastros. Conhece seus pares profundamente, e os guia como se desse vida a marionetes.

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Se o que aparece em primeiro plano são Lotto, sua luz e a instituição do casamento como uma espécie de intimidação para a mulher, o que se descortina com a versão de Mathilde é uma subversão de regras que ela molda na penumbra. Se na primeira parte do livro Mathilde passa a impressão de fraca, na segunda é Lotto quem parece bobo. Se de um lado o herói é o homem, de outro a heroína é a mulher. Porém, mais do que resignificar todo o primeiro capítulo ou apenas esclarecer o que parecia incompleto, a segunda parte do livro vem para que possamos ver como são feitas as escolhas dos personagens e da autora, e como todos eles — ainda que sejam um só, em última instância – estão empenhados no exercício de manipulação do qual diversos autores são adeptos.

Lotto pode ter enxergado Mathilde como a criatura mais perfeita, pura e boa que já conheceu, sem se dar conta dos segredos sombrios da mulher e sem perceber como seu sucesso foi forjado por ela. Ou ele pode ter escolhido ver e registrar a leveza. Pode, ainda, ter se aproveitado das estruturas culturais e sociais que autorizam o homem a colher os louros sem reconhecer o mérito de suas esposas. O livro pode ser lido como uma narrativa sobre as ambiguidades, as injustiças e as rachaduras do casamento numa cultura machista e, sem dúvida, cumpre esse papel com contundência. Mas também pode falar de estratégias e jogos narrativos que surpreendem e desviam o rumo das histórias. Comédia ou tragédia, uma coisa é certa: quem ri por último é Lauren Groff.

>> Leia um trecho de Destinos e fúrias

 

 

Julia Wähmann é escritora. Em 2015 publicou Diário de Moscou (Megamíni/7 Letras) e André quer transar (Pipoca Press). Em 2016 publica Cravos (Record, no prelo).

testeAssista ao clipe exclusivo de Como eu era antes de você

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Amanhã a história de Lou e Will, os inesquecíveis personagens de Jojo Moyes, chega aos cinemas de todo o Brasil! E em parceria com a Warner Bros., temos uma surpresa para vocês, leitores: UMA CENA EXCLUSIVA DO FILME.

Com roteiro adaptado pela própria Jojo Moyes, Como eu era antes de você é protagonizado por Emilia Clarke (Game of Thrones) e Sam Claflin (Jogos Vorazes). No romance mais famoso da autora que já vendeu 950 mil exemplares somente no Brasil, Louisa Clark é uma jovem alegre e espontânea que se vê obrigada a repensar toda sua vida. Já Will Traynor sabe que o acidente com a motocicleta tirou dele a vontade de viver. O que Will não sabe é que a chegada de Lou vai trazer de volta a cor à sua vida. E nenhum deles desconfia de que esse encontro irá mudar para sempre a história dos dois.

Como eu era antes de você está disponível em duas edições, com capa original e com capa inspirada no pôster do filme.

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Para todos os leitores que ficaram com o coração apertado após conhecer a história de Lou e Will, Jojo Moyes lançou este ano Depois de você.

depoisdevcgrandeNa sequência, Lou ainda não se recuperou dos acontecimentos de Como eu era antes de você. Ela está morando em um flat em Londres e trabalha como garçonete em um pub no aeroporto. Certo dia, após beber muito, cai do terraço. O terrível acidente a obriga a voltar para a casa de sua família, mas também a permite conhecer Sam Fielding, um paramédico cujo trabalho é lidar com a vida e a morte, a única pessoa que parece capaz de compreendê-la.

Ao se recuperar, Lou sabe que precisa dar uma guinada na própria história e acaba entrando para um grupo de terapia de luto. Os membros compartilham sabedoria, risadas, frustrações e biscoitos horrorosos, além de a incentivarem a investir em Sam. Tudo parece começar a se encaixar, quando alguém do passado de Will surge e atrapalha os planos de Lou, levando-a a um futuro totalmente diferente.

 

Aproveite e conheça os outros romances de Jojo Moyes publicados pela Intrínseca:

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testeUm navegar impreciso com Moby

Lembranças de uma antiga relação, iniciada por fax e terminada em Porcelain

Por Carlos Albuquerque*

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Cidade de Nova York, 1989 (Foto: Julie Hermelin)

Avistei Moby pela primeira vez em 1995. Era uma época de navegações rudimentares. Tanto era que conversamos por fax — sugestão do próprio artista, para que não precisasse ouvir sua “voz irritante” — numa entrevista para o “Rio Fanzine”, publicado no Segundo Caderno, do jornal O Globo.  Naquela época — quando os Mamonas Assassinas estouravam em todo o Brasil e o ex-jogador de futebol americano O. J. Simpson era absolvido da acusação de assassinato da ex-mulher e de um amigo, após um célebre julgamento —, Moby era visto por nós, eu e Tom Leão, que editávamos a seção, como uma espécie de ponta de lança do som eletrônico, aquele que, vindo dos subterrâneos, iria se apossar da rebeldia associada ao rock e transformar o mundo.  Esquecemos, claro, de avisar ao mainstream, mas isso foi outra história.

Era o tempo de Everything Is Wrong — um álbum grandioso, eufórico, libertário —, e Moby revelou-se um entrevistado divertido e sagaz, mesmo num papo engessado como aquele. Elogiou Kate Bush, confirmou sua paixão pelo seriado Twin Peaks (cujo tema foi incluído no seu primeiro hit, “Go”, de 1990) e ironizou Eric Clapton (“Não confio em homens que tocam guitarra e usam ternos Armani com uma camiseta”).

A segunda visão foi mais perto, em 1996, num dos grandes templos da música, o mitológico teatro Fillmore, em San Francisco, que recebe o público com uma cesta de maçãs frescas, resquício do passado hippie da cidade californiana. Era a turnê do desafiador álbum Animal Rights, considerado um suicídio comercial, já que deixava para trás o som digital e abraçava a estética punk rock. No palco, Moby — parente distante do escritor Herman Melville, autor do clássico Moby Dick — brilhou mais do que os majestosos candelabros que decoram o local, com uma apresentação explosiva. Para usar uma expressão ancestral, foi o bicho.

A terceira e derradeira aparição foi a mais próxima, um contato imediato nos bastidores do V Festival, em Chelmsford, Inglaterra, no ano 2000. Por conta do crescente sucesso do álbum Play, lançado no ano anterior, e que venderia mais de 10 milhões de cópias, Moby era um dos destaques do evento, ao lado de Paul Weller, Richard Ashcroft, Supergrass e Leftfield. Encontrei-o tomando sol, em pé, perto de uma das mesas da área de alimentação dos artistas. Com o auxílio poderoso de uma Guinness, afoguei a timidez, fui até ele e me apresentei. Apertamos as mãos, falamos algumas coisas irrelevantes sobre o festival e ele perguntou sobre a blusa que eu estava usando. Quando disse que era de uma banda de hardcore do Rio (Ack), Moby sorriu e falou que gostava muito do Hüsker Dü (eu também!). Antes de me despedir, completei o mico tirando uma foto com ele. No final do século passado, selfies eram chamadas de fotos. Simples assim.

Proposta_Porcelain pMas tive a impressão de que só ficamos realmente próximos 16 anos depois, quando atravessei, suavemente, as 400 e tantas páginas de Porcelain. A partir do doce balanço de “Love Hangover”, de Diana Ross, música-chave de suas agridoces memórias, acompanhei Moby numa turbulenta e ainda assim divertida jornada no tempo, de volta à Nova York dos anos 1990, nos primórdios da dance music nos Estados Unidos, quando o êxtase das raves (“Uma grande festa de drogas”, diz alguém no livro) e dos chamados club kids estava prestes a ser confrontado pela repressão do prefeito Rudy Giuliani (que comandou a cidade entre 1994 e 2001), com sua política de tolerância zero.

Através do seu relato — sereno, irônico, sarcástico, autodepreciativo  e extremamente honesto —, senti a dureza e o cheiro de espírito juvenil, misturado com mofo, de seus tempos morando numa fábrica abandonada em Connecticut. Vibrei com suas primeiras performances como DJ, mas também sofri quando esbarrou na agulha e estragou um improviso do rapper Darryl McDaniels, do Run DMC, numa noite no Mars, clube onde era residente.  Curti seu fortuito encontro com Madonna, numa noite de pista vazia, e tive a mesma melancolia quando viu um dos únicos presentes, o próprio O. J. Simpson (antes do crime), virar as costas e ir embora. Por empatia, quase enjoei com suas constantes bebedeiras e flertes com alteradores de consciência.

Presenciei outros encontros — como aquele com o DJ brasileiro Carlos Soul Slinger, pioneiro do som jungle em NY —, testemunhei suas primeiras gravações e seu primeiro contrato com uma gravadora. Acompanhei sua inquietação após o sucesso de “Go”, as tretas com Aphex Twin durante uma turnê e as primeiras viagens à Europa. Fiquei por dentro de sua crise de identidade na época de Animal Rights e também achei surreal o recado deixado por Axl Rose na sua secretária eletrônica, dizendo que tinha amado o disco e que costumava ouvir “Alone”, enquanto dirigia pelas ruas de Los Angeles de madrugada.

Quando virei a última página de Porcelain, concluído justamente após o sucesso de Play, em 1999, tive vontade de agradecer a companhia do meu amigo imaginário, vegetariano convicto, cristão autônomo, ambientalista dedicado, defensor dos direitos dos animais e improvável astro do rock. E fui lá reler aquele nosso primeiro papo, publicado no jornal O Globo (por fax, comentei isso?). No fim da entrevista, sorri com a sintética previsão que Moby, hoje com 50 anos, morando, sossegado, em Los Angeles, fazia sobre o próprio futuro:

— Usar uma peruca.

>> Leia um trecho de Porcelain

>> Ouça a playlist de Porcelain feita por Moby

Carlos Albuquerque é um dos mais renomados jornalistas de música e cultura do país. Trabalhou por mais de 25 anos no jornal O Globo, onde coordenou a cultuada seção “Rio Fanzine”, ao lado de Tom Leão, e editou a coluna “Transcultura” (com Bruno Natal, Alice Sant’Anna, Fabiano Moreira e Carol Luck). Revelou nomes como Ed Motta, O Rappa e Skank. Participou da cobertura de festivais como Tribal Gathering (Inglaterra), Hollywood Rock, Lollapalooza, Rock in Rio (a partir da segunda edição), Sónar Barcelona e eventos como a Red Bull Music Academy, em Tóquio. Entrevistou centenas de artistas, entre eles Paul McCartney, Mick Jagger, Eric Clapton e Kate Bush, além de personalidades, como o ex-vice presidente americano Al Gore. É autor do livro O eterno verão do reggae (Editora 34) e coautor de Rio Fanzine – 18 anos de cultura alternativa (Editora Record).

testeComo um caramujo

Por Vanessa Corrêa* 

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Resolver um quebra-cabeça sem conseguir enxergar as peças parece uma tarefa impossível? Não para Marie-Laure LeBlanc, que perdeu completamente a visão aos seis anos e se acostumou a ser desafiada pelos intrincados mecanismos que seu pai construía em peças de madeira.

No mundo de Marie-Laure as distâncias são calculadas em passos e os caminhos são memorizados por meio de esquinas, bueiros, ralos nas calçadas e cruzamentos de ruas. É assim que a menina aprende a voltar para casa após passar mais um dia entre os corredores do Museu Nacional de História Natural de Paris, onde seu pai trabalha. E é assim também que ela vencerá a distância entre a Rue Vauborel até a padaria de Saint-Malo, quando o caos da Segunda Guerra tornar necessária sua ajuda para a resistência francesa.

As ruas e os edifícios de Paris que não podem ser vistos pelos olhos de Marie-Laure são reconhecidos por seus dedos em uma detalhada maquete de madeira construída por seu pai. É também por meio das pontas dos dedos que a menina absorve as histórias de Júlio Verne nos livros que ganha de presente. Tendo como únicos amigos o pai e os funcionários do museu, ela encontra no capitão Nemo e no professor Aronnax, do livro 20 mil léguas submarinas, novos companheiros, que despertam sua paixão pelos mistérios das criaturas marinhas.

É no mar que Marie-Laure acaba encontrando consolo após ter sua vida virada de cabeça para baixo pela guerra. Fugindo da ocupação nazista em Paris, ela acaba se refugiando com o pai na pequena cidade de Saint-Malo, no norte da França, e em poucos meses perde todas as referências de sua antiga existência, até restarem somente lembranças e tristezas.

Ajudada pela corajosa governanta Madame Manec, a garota encontra forças no contato com a areia, com conchas, moluscos, algas e as águas geladas do oceano Atlântico. Marie-Laure sonha em ser um caramujo. Mas a menina não quer viver encolhida e escondida de todos. O que ela quer, e o que inveja no caramujo com sua concha, é um refúgio, onde possa estar protegida dos horrores que já enfrentou e dos que ainda estão por vir.

>> Leia um trecho de Toda luz que não podemos ver

 

Vanessa Corrêa é jornalista, já trabalhou na Folha de S.Paulo e no portal UOL e é apaixonada por livros, cinema e fotografia.

testeA Copa América, cem anos depois

Não curto a ideia de festejar o centenário da Copa América nos Estados Unidos. Os americanos do Norte não têm nenhuma intimidade com o torneio.  Tanto que quando ele foi criado, em 1916, era chamado de Campeonato Sul-Americano de Futebol. De sua primeira edição, em Buenos Aires, na Argentina, participaram apenas Uruguai, Chile, Brasil e os donos da casa.

Somente na edição de 1921, realizada de novo em solo argentino, uma nova equipe, a do Paraguai, foi aceita no seleto grupo. No torneio de 1927, Peru e Bolívia já eram participantes. Em 1928, aconteceu pela primeira vez um encontro futebolístico com o nome Copa América, mas o torneio que seguia hegemônico no continente era o Sul-Americano.

A Copa América, nos moldes contemporâneos, só começou a ser disputada em 1975. Na edição de 1993, entraram os mexicanos e os norte-americanos. São tão estranhos ao ninho que até hoje nenhum deles conseguiu erguer o troféu.

A história do futebol sul-americano sempre foi marcada por idas e vindas.  Hiatos na realização das competições, brigas e boicotes de algumas seleções, inclusive a nossa, mas nada comparável aos escândalos de hoje.

Neste momento, por exemplo, a AFA, federação argentina de futebol, está mergulhada em um enorme escândalo eleitoral. Em 2015, foram indiciados por corrupção sistemática, pela Justiça americana, Juan Ángel Napout (presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol, Conmebol), Manuel Burga (ex-presidente da Federação de Futebol do Peru), Carlos Chavez (Federação da Bolívia), Luis Chiriboga (Equador), Eduardo Deluca (secretário-geral da Conmebol), Jose Luis Meiszner (ex-secretário da Conmebol), Romer Osuna (auditor da Federação da Bolívia), além do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e do seu ex-presidente Ricardo Teixeira.

Mas como dizia o ex-presidente da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), Arnaldo Guinle, o futebol é civilizatório. O melhor da atual Copa América é saber que a alta cúpula do futebol cucaracha não poderá participar da festa. Muitos de seus dirigentes, quase todos, são procurados pela Justiça norte-americana.

Que a Copa América Centenário sirva de lição para os gestores do nobre esporte bretão. Só com uma gestão civilizada, e honesta, voltaremos a ocupar o posto de melhor escola de futebol do mundo.