*Por Suelen Lopes
Todos na Intrínseca são apaixonados por livros e é sempre muito incrível para a gente ver a movimentação dos leitores em torno de um título. Em 2005, quando Crepúsculo foi lançado nos Estados Unidos, eu ainda estava na escola e lia tudo da J.K. Rowling e da Meg Cabot (obrigada aos amigos que me emprestaram seus livros!). Crepúsculo chegou ao Brasil depois, em 2008, e era difícil não saber da existência dele. Nessa época, já na universidade, sendo aluna de um curso voltado para a produção de livros, era quase impossível.
A saga Crepúsculo é um dos maiores fenômenos editoriais dos últimos tempos. Se pensarmos no universo dos livros jovens, então, ela tem ainda mais destaque. Hoje sou leitora de muitos tipos de obras e já editei os mais diversos livros, o que nunca teria acontecido sem as tantas séries que li na adolescência e seus autores, que acreditam na formação de leitores e se dedicam ao público jovem.
Uma das nossas maiores alegrias é poder levar esses livros para vocês, na expectativa de que ler se torne um hábito para cada vez mais pessoas. Nada impede que um adulto goste de livros para o público jovem, ou que um jovem goste de livros literários. Isso independe de qualquer distinção elitista (e tão comum) entre gêneros. É uma questão de hábito, gosto e acesso. Não devemos ter vergonha do que gostamos de ler. Ler é incrível. Por isso, é ao mesmo tempo um desafio e um privilégio poder compartilhar com vocês como foi conduzir, após mais de uma década de espera, a chegada de Sol da meia-noite ao Brasil.
Tudo é sigiloso
Muitos pensam que nós da editora sabemos de tudo com muita antecedência, mas não é bem assim. Quando capítulos de Sol da meia-noite vazaram, lá em 2008, a autora decidiu não publicá-lo. Muitos fãs leram esse trecho vazado na internet e alguns acreditam (fiquei surpresa!) que esse livro já foi lançado pela Intrínseca anos atrás, mas isso não aconteceu. Nosso primeiro contato com Sol da meia-noite foi em 4 de maio de 2020, o mesmo dia em que vocês souberam que ele finalmente ia ser publicado.
A partir do anúncio, tudo se resumiu a alegria, correria, empolgação e… eu mencionei correria? Publicar um livro envolve muitos processos, e processos demandam tempo. Um livro, esse objeto que amamos e chega na nossa casa, traz consigo o trabalho de dezenas e dezenas de pessoas e, sem elas, ele simplesmente não existiria.
Para começar, precisávamos adquirir os direitos de publicação no Brasil. Todos os profissionais envolvidos nessa etapa correram contra o tempo, porque só depois de firmados os acordos receberíamos o material para dar início à tradução, e quanto mais demorasse para começar, menor a chance de conseguirmos nos aproximar do lançamento nos Estados Unidos.
Ao passar de fase nesse jogo tão peculiar chamado lançamento simultâneo, adivinhem: você não pode contar nada para ninguém. Isso mesmo, você vai ler em primeira mão o que milhares de pessoas estão esperando há mais de uma década, mas não pode falar sobre isso com ninguém. Todos os envolvidos precisam assinar um termo de sigilo (também conhecido como NDA – Non disclosure agreement).
Tudo é uma correria
Antes mesmo de começar a tradução, precisávamos da imagem de capa para o anúncio de que iríamos publicar o livro. Em um cenário normal, receberíamos os arquivos da editora estrangeira e faríamos a adaptação, mas não sabíamos quando iam chegar. Por isso, precisamos recriar a frente de capa com uma bela gambiarra (obrigada, A., designer que tantas vezes nos salva do caos!). E também tivemos que escrever o release que é enviado para as livrarias, para abrir a pré-venda (ainda com algumas informações provisórias, porque vocês são muito detetivões). Tudo isso foi devidamente aprovado com os agentes da autora.
Em paralelo, testes de papel estavam sendo feitos pela equipe de Produção Gráfica, para que conseguíssemos incorporar uma nova tecnologia ao livro, mantendo a qualidade do produto e o preço acessível, e também resolvíamos com o setor Administrativo a logística dos materiais necessários para trabalharmos no projeto de casa, em meio a uma pandemia (pois é!). Direitos Autorais, Editorial, Marketing, Comercial, Comunicação, Produção Gráfica e Administrativo já estavam todos a postos nesse comecinho.
Tudo é coordenado
Vamos ao livro! Para garantir o lançamento na data prevista, é preciso traçar um cronograma com todas as etapas do processo editorial, a fim de garantir que elas sejam realizadas com qualidade e dentro do prazo. Como vocês já sabem, Sol da meia-noite é bem grande, e quanto maior o livro, mais tempo de produção ele demanda. Foi uma tarde muito longa (e desesperadora, mas hoje digna do meme “O início de um sonho/Deu tudo certo”) fazendo o cronograma, a projeção de laudas, puxando células de Excel pra cá e pra lá, mudando detalhes, dividindo quem fazia o quê, calculando prazos e o número de colaboradores necessários. Cada dia era importante.
Depois do NDA e de acertar o contrato, recebemos o manuscrito traduzível (isso mesmo, nem sempre é o final) e tínhamos que deixar tudo pronto para a tradução. Por se tratar de um título que faz parte de um universo de livros já publicados, precisamos realizar uma etapa a mais: o cotejo atento do livro novo, isto é, verificamos o que havia de igual no manuscrito em inglês de Sol da meia-noite e nos das outras obras da saga, para já agilizar isso para os tradutores e manter a coerência na tradução. Foi uma etapa trabalhosa (dividida com a Talitha, uma eterna Crepusculete), cuidadosa e demorada, mas interessante, porque ficou muito evidente para nós como a língua é dinâmica e as traduções envelhecem em alguns aspectos. É um processo natural. E, passada mais de uma década, tivemos que avaliar caso a caso o que seria mantido da tradução original e o que precisaria de ajustes na tradução de Sol da meia-noite. Tentamos ser fiéis nesse sentido sempre que possível.
Após tudo isso (é só o começo), já combinados os prazos com diversos colaboradores, tivemos que desenvolver um esquema para fazer o envio de materiais mantendo a segurança e o sigilo (oi, NDA, não esqueci de você, vou parar de falar por aqui), e o cronograma foi colocado em ação, envolvendo tradutores, preparadores, revisores, diagramadores, designer e a equipe do departamento Jovem (beijos, perfeitas!). Ah, sem falar, é claro, que no caso de um lançamento simultâneo todas as etapas vão acontecendo meio que… ao mesmo tempo.
A tradução é, sem dúvida, a etapa crucial. Se ela começa mal, a chance de o projeto dar certo diminui bruscamente, e aumentam os suspiros e as lágrimas do editor. Felizmente foi uma etapa bem-sucedida, e fica aqui meu agradecimento a todas as tradutoras, que se comprometeram muito com o projeto, atentas a todos os prazos e a todas as orientações. Nada disso seria possível sem vocês.
Após a tradução, o livro passou pelas preparadoras de texto (sem palavras!), que cotejaram a tradução com o manuscrito em inglês, fazendo intervenções para adequar o texto traduzido no que fosse necessário, atentando também a coerência, coesão, fluidez, padronização, entre tantas outras coisas. Inserimos ainda mais uma leitura do texto no Word, realizada por outra preparadora (N., saudades sempre!) e pela editora (eu!). Foi uma das etapas mais prazerosas, porque o texto já estava bem encaminhado, dentro do prazo, e pudemos aproveitar mais o fato de estarmos participando de um projeto tão incrível. Relemos os livros, revimos os filmes (fim de semana? O que é isso?), tudo para ter certeza de que a tradução estava adequada à saga. Poder ler Sol da meia-noite inteiro, agora em português, foi indescritível, quase tão bom quanto finalizar as etapas editoriais antes do prazo. (Trilha sonora: “Miracles Happen”, de Myra.)
Conforme íamos liberando os capítulos para as diagramadoras (sempre incríveis e ágeis!), o livro foi ganhando a forma que os leitores conhecem, com o texto já disposto no seu projeto gráfico. A prova diagramada seguiu para os revisores (maravilhosos!) e depois a equipe interna do editorial leu o texto, avaliando as sugestões dos revisores, e tudo isso com outras demandas e títulos sendo tocados em paralelo. Nesse meio-tempo, também chegou o manuscrito final de Sol da meia-noite, então chequei as diferenças entre o manuscrito traduzível e o final, traduzi todos os novos trechos e inseri na nossa edição, para que tudo ficasse certinho (ufa!).
Após a liberação da revisão, seguimos as etapas tradicionais do processo editorial (batida de emendas, checklist) e houve mais uma leitura do livro inteiro (porque a editora é virginiana e isso é uma maldição). Contamos também, em paralelo, com a leitura de Crepusculetes incríveis (e preciosas!) do Marketing da Intrínseca (todo mundo assinou NDA, tá?), que nos trouxeram o olhar de fã para possíveis ajustes no texto final, e partimos para as últimas etapas: aprovação com os agentes e fechamento de miolo e capa. E então estava tudo pronto para que a Produção Gráfica se preparasse para a impressão, a Produção Digital tocasse o e-book, a Comunicação se programasse com a imprensa e o Marketing (sem nem um dia de descanso) continuasse respondendo os fãs nas redes e seguisse com a campanha.
(E com afeto)
Do recebimento do manuscrito traduzível ao fechamento do livro, passaram-se cerca de 45 dias. Acreditem, isso é muito pouco. Foi um desafio enorme para todos, ainda mais em uma nova estrutura de trabalho. Lembrem que por trás dos livros há sempre muitas pessoas (de dentro e de fora da editora), e elas leem o que vocês escrevem, se importam com o que vocês dizem. São profissionais que se dedicam a algo que eu, pessoalmente, considero fundamental. Os livros mudaram a minha vida e ainda mudarão muitas outras.
Sabemos como Sol da meia-noite é aguardado pelos fãs e desejamos que a leitura seja inesquecível. Agora é só começar a contagem regressiva, porque tenho certeza de que o Edward mal pode esperar para contar essa história para vocês.
*Suelen Lopes é editora na Intrínseca. Tem dormido muito pouco desde 4 de maio de 2020, mas espera que muitos sonhos se realizem a partir de 4 de agosto.
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