Uma boa notícia para os leitores brasileiros: cancelada em decorrência da pandemia de Covid-19, a Festa Literária Internacional de Paraty será realizada em dezembro, em uma versão enxuta, gratuita e com participação ilimitada do público.
A 18ª edição do evento acontece entre os dias 3 a 6 de dezembro, de quinta a domingo, com bate-papos transmitidos ao vivo pelas redes sociais e com outros eventos paralelos e programações de parceiros. Entre os primeiros nomes confirmados está a colombiana Pilar Quintana, considerada uma das principais vozes da literatura latino-americana contemporânea.
Seu romance A cachorra, com lançamento em novembro pela Intrínseca, acaba de ser anunciado como finalista do prestigioso National Book Award, na categoria literatura traduzida. A obra ganhou e foi finalista de dois dos maiores prêmios literários da Colômbia em 2018. Pilar também é autora de outros três romances e um livro de contos.
Em A cachorra, a autora lança luz sobre a complexidade humana e as emoções díspares e profundas que supostamente só a maternidade seria capaz de produzir. Na trama, acompanhamos a trajetória de Damaris, que desde muito cedo tem a vida marcada por tragédias. Apesar da companhia de Rogelio, ela carrega uma solidão que talvez pudesse ter sido aplacada pelo filho que nunca conseguiu ter. Cuidar da casa de veraneio há muito abandonada pela família Reyes ocupa seus dias, alivia sua consciência de uma suposta omissão sua no passado, mas nada disso lhe traz conforto.
Quando, num rompante, decide adotar a cachorra da ninhada de uma vizinha, Damaris tem a chance de desviar um pouco o foco das tentativas frustradas de engravidar. A fêmea que agora circula pela casa modesta faz aflorar instintos protetores e violentos, canalizando as emoções que supostamente seriam despertadas por um filho. A força e a intensidade dessa relação alteram de forma tão drástica as dinâmicas de sua existência que Damaris já não sabe se a simples presença da cachorra fez sua vida ganhar ou perder, de uma vez por todas, o rumo.
Em entrevista concedida ao Estadão, Pilar conta que escreveu o livro no celular enquanto amamentava seu primeiro filho, aos 40 anos. Na obra ambientada na pobre e selvagem Juanchaco, região da costa colombiana marcada pelo contraste entre a natureza exuberante e a precariedade da vida de seus habitantes desassistidos pelo governo, a escritora explora como “uma boa pessoa pode chegar a cometer algo que ela mesma considera impensável”. “Um assassino nunca é só uma pessoa má. Geralmente é vítima de suas circunstâncias, foi criado em um ambiente violento e sofreu maus-tratos na infância”, afirma.
A cachorra será lançado em 10 de novembro e já está em pré-venda.
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