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Quais são as origens das mobilizações antirracistas nos Estados Unidos?

22 / dezembro / 2020

Na segunda metade do século XX, o debate racial no país se organizava basicamente em duas grandes alas de ativismo antissegregacionista.

A primeira era composta por aqueles que, seguindo as premissas de Martin Luther King Jr., pressionavam por uma integração pautada pela não-violência. Já a segunda advogava pela separação entre negros e brancos e, com grande frequência, se mostrava simpática ao uso da força — ou ao menos condescendente com isso —, como ficava evidente na retórica de Malcolm X, um dos discípulos mais eloquentes de Elijah Muhammad, fundador e profeta da Nação do Islã, um movimento separatista nascido na Detroit dos anos 1930.

Enquanto Dr. King se apresentava publicamente personificando a imagem de um cavalheiro sulista, de modos suaves e contidos, Malcolm X havia passado por um reformatório juvenil em Michigan e aos 20 anos fora preso por assalto à mão armada. Por causa disso cumpriria uma pena de seis anos — momento no qual, aliás, aprenderia grego, latim e se converteria ao Islã. Dr. King discordava abertamente das estratégias políticas adotadas pelos muçulmanos negros, e a recíproca era verdadeira.

Martin Luther King Jr. pregava, e o verbo não é acidental, uma democracia santificada e valores cristãos e se lamentava diante de ativistas negros que haviam “perdido a fé na América”. Em contrapartida, a ala de Malcolm X apontava aquilo que via como uma covardia moral dos liberais brancos e dos demais moderados, que com frequência sugeriam que o ativismo dos negros deveria “pôr o pé no freio”. Uma pesquisa feita na época apontou que 74% dos brancos e apenas 3% dos negros concordavam com a afirmação “Os negros estão indo rápido demais”.

Em Estas verdades a historiadora Jill Lepore faz uma análise histórica do racismo estrutural norte-americano e da genealogia da luta antirracista nos EUA: suas consequências políticas, permanências e descontinuidades. Afinal, as eleições de um homem negro, Barack Obama, e de um conservador com retórica abertamente racializada e nativista, como Donald Trump, não ocorrem do nada, muito pelo contrário.

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