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Um crime real que parece ficção

5 / setembro / 2022

“Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus.”

 

De acordo com testemunhas, essa teria sido a justificativa que a pastora e ex-deputada federal Flordelis teria dado para encomendar o assassinato do próprio marido. Ao longo dos 27 anos em que foram casados, Flordelis e Anderson chefiaram uma família numerosa e inspiradora que, desde o começo dos anos 2000, ganhou visibilidade e apoio de celebridades e da mídia nacional. Até que tudo ruiu, quando, em 2019, Anderson foi assassinado na porta da casa da família em Niterói.

As investigações do caso revelaram uma complicada rede de intrigas familiares, segredos e contradições que, por fim, colocaria a viúva e alguns de seus filhos como principais suspeitos do crime.

 

A menina vidente

Desde muito nova, Flordelis assumiu uma missão de cuidar das pessoas ao visitar hospitais, presídios e maternidades para fornecer orações aos necessitados e ficou conhecida por ter “visões” — fama que se espalhou depois que ela supostamente operou um milagre ao salvar o irmão mais novo da morte. Após o ocorrido, “Flor”, como era carinhosamente chamada, passou a relatar sonhos e a dar testemunhos de fé na igreja, o que mudou o seu status e a fez ficar conhecida como profetisa na comunidade. A menina parecia destinada a cumprir a ambição de sua mãe: ter uma igreja para chamar de sua. Ou várias.

Aos 18 anos, Flordelis conheceu seu primeiro marido, com o qual teve três filhos — Simone, Flávio e Adriano —, mas o casamento não durou muito. Na mesma época, a pastora começou a acolher em casa os filhos de outras mulheres de sua comunidade em troca de dinheiro, roupas e alimentos, e a praticar o “evangelismo da madrugada”, que consistia em andar pela favela do Jacarezinho após a meia-noite distribuindo panfletos com versículos bíblicos e “resgatando” os jovens das mãos do tráfico. Nesse contexto, ao mesmo tempo que ganhavam notoriedade, mãe e filha fortaleciam diariamente sua “vocação assistencialista” e o status de benfeitoras dentro da comunidade.

 

De líder religiosa ao banco dos réus

Em meados de 1991, a casa de Flordelis e Carmozina já era considerada um ponto de encontro de adolescentes. Entre os vários frequentadores da casa da Mãe Flor — como Flordelis estava começando a ser conhecida —, estava Anderson do Carmo. Diferentemente dos demais, o jovem não frequentava o local para jogar videogame, mas sim porque estava apaixonado por Simone.

Após namorar a primogênita de Flordelis por um curto período de tempo, a personalidade sagaz e ambiciosa de Anderson despertou a atenção da pastora e, em 1998, ele e Flordelis se casaram. Anderson passou a exercer a função de “pai” das dezenas de outros “filhos” que começavam a chegar. Foi nesse ambiente inusitado, propício a intrigas familiares e disputas de poder, que ele teria, anos depois, a sentença de morte decretada: principal mentor das carreiras artística, política e religiosa da esposa, Anderson foi assassinado na porta de casa em junho de 2019.

Não foi um crime comum. As investigações logo apontaram Flordelis e alguns de seus “filhos” como os principais suspeitos.

 

Leia também: Filhos preferidos, maus-tratos e violência doméstica marcaram as investigações do caso e Sexo, dinheiro e poder

 


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