GUIA DE LEITURA: A VISITA CRUEL DO TEMPO

Jennifer Egan

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Sobre o livro

Da São Francisco dos anos 1970 a uma Nova York vividamente imaginada em um futuro próximo, Jennifer Egan retrata as vidas entrelaçadas de homens e mulheres cujos desejos e ambições convergem e colidem à medida que a passagem do tempo, as mudanças culturais e as experiências de cada um defi nem e redefi nem suas identidades. Bennie Salazar, que foi punk na adolescência, encara a meia-idade como um produtor musical divorciado e desencantado com a vida. A competente e descolada assistente de Bennie, Sasha, mantém tudo sob controle — exceto a própria compulsão incontrolável por roubar. As diferentes e divergentes lembranças do passado desses personagens e seus devaneios sobre o presente armam o cenário para um ciclo de histórias sobre seus amigos, familiares, parceiros de negócios e amantes.

Um amigo dos tempos do ensino médio recria o cenário musical louco e carregado de sexualidade da adolescência de Bennie e apresenta o rico e amoral executivo da indústria de entretenimento Lou Kline, que se torna mentor de Bennie e acaba enfrentando as consequências de sua indiferença em relação às necessidades de suas amantes, esposas e fi lhos. Scotty, guitarrista da extinta banda de Bennie, emerge de uma vida à margem da sociedade para confrontar o amigo em seu luxuoso escritório na Park Avenue, ao passo que a esposa ex-punk de Bennie, Stephanie, inicia sua ascensão no confortável subúrbio republicano onde vivem. Outras histórias exploram as experiências de Sasha e as pessoas que fi zeram parte de sua vida. Um tio sai em sua busca quando ela foge de casa aos dezessete anos e se dá conta de suas próprias desilusões e decepções ao tentar consolá-la. Seu namorado dos tempos da faculdade descreve uma noite de festa regada a drogas que termina de forma chocante. E sua fi lha de doze anos oferece uma brilhante contribuição em PowerPoint que apresenta a dinâmica familiar — incluindo descrições hilárias sobre a mãe, como “Mania chata nº 48” e “Por que papai não está”.

Partindo de um olhar cáustico sobre os caminhos imprevisíveis da indústria musical e o vaivém das celebridades, passando por uma análise impiedosa do casamento e da família e uma visão provocante do futuro dos Estados Unidos, A visita cruel do tempo é um livro incômodo, empolgante e irresistível.

Questões para discussão

A visita cruel do tempo alterna diversas perspectivas, vozes e períodos de tempo e, em um capítulo em especial (pp. 228-303), afasta-se completamente da narrativa convencional. O que a mistura de vozes e formas narrativas transmite a respeito da natureza da experiência e da criação de memórias? Por que Egan dispôs as histórias fora de sequência cronológica?
Em “De A a B” Bosco diz que “o tempo é cruel” (p. 126), expressão utilizada novamente por Bennie em “Linguagem pura”
(p. 326). O que Bosco quis dizer com isso? O que Bennie quis dizer? O que a autora quis dizer?
“Achados e perdidos” e “Ouro que cura” incluem relatos das sessões de terapia de Sasha e de Bennie. Sasha seleciona o que
vai compartilhar: “Fazia isso tanto para a proteção de Coz quanto para a sua própria: eles estavam escrevendo uma história de
superação, de novos começos e segundas chances” (p. 14). Bennie tenta seguir uma lista de proibições que seu psicoterapeuta lhe
deu (pp. 28-29). O que o tom e o conteúdo dessas sessões sugerem a respeito do objetivo e do valor da terapia? Elas oferecem
uma perspectiva que ajuda a entender melhor os personagens?
Lou faz sua primeira aparição em “Não estou nem aí” (pp. 44-62) como um executivo altamente bem-sucedido e sem princípios;
“Safári” (pp. 63-85) nos dá uma visão íntima e perturbadora da forma como ele trata seus fi lhos e sua amante; e “Vocês”
(pp. 86-93) o apresenta como um velho doente. O que os relacionamentos entre Lou e Rhea e Lou e Mindy têm em comum?
Até que ponto ambas as mulheres aceitam (ou até mesmo incentivam) seu comportamento intolerável, e por que o fazem? As conversas entre Lou e Rolph e as interações de Rolph com sua irmã e Mindy preparam o leitor para a tragédia que ocorre quase vinte anos depois? Que emoções a tarde de Lou com Jocelyn e Rhea em “Vocês” provocam? Ele é a mesma pessoa que era nos
capítulos anteriores?
Por que Scotty decide entrar em contato com Bennie? Que estratégias cada um deles emprega ao discutirem um com o outro?
Como o passado, incluindo o papel dominante de Scotty na banda e seu casamento com Alice, a garota que os dois desejavam, afeta o equilíbrio de poder entre eles? De que maneiras a crença de Scotty em que “um dos ingredientes-chave da chamada experiência é a fé ilusória de que esta é única e especial, e de que os que dela participam são privilegiados e os excluídos estão perdendo alguma coisa” (p. 99) é co nfi rmada no encontro? A reunião deles em “Linguagem pura” é uma continuação do padrão estabelecido quando eles eram adolescentes ou ela refl ete mudanças em seus destinos bem como no mundo ao redor dos dois?
O passado problemático de Sasha vem à tona em “Adeus, meu amor” (pp. 203-227). As recordações que Ted tem da infância de Sasha explicam o comportamento dela? Até que ponto o “catálogo de horrores” de Sasha (p. 208) é representativo de sua geração como um todo? Como os sentimentos de Ted quanto à sua carreira e sua esposa afetam suas reações com relação a Sasha?
De que maneira o flash-forward para “outro dia, mais de vinte anos depois desse” (p. 227) nos faz refl etir sobre os momentos
transitórios em nossas vidas?
Músicos, groupies e executivos da indústria do entretenimento se destacam de forma proeminente em A visita cruel do tempo. O que as carreiras e vidas privadas de Bennie, Lou e Scotty (“Xis-Zero”; “Linguagem pura”); Bosco e Stephanie (“De A a B”); e Dolly (“Como vender um general”) sugerem a respeito da cultura e da sociedade americanas ao longo das décadas? Discuta como detalhes específi cos e referências culturais (por exemplo, nomes de pessoas, bandas e empresas reais) dão autenticidade às criações ficcionais de Egan.
Os capítulos desse livro podem ser lidos como histórias separadas. Como isso afeta o envolvimento do leitor com personagens individuais e os acontecimentos nas vidas desses personagens? Que personagens ou histórias você achou mais interessantes?
No final, tudo se encaixa a ponto de formar um quadro geral satisfatório?
Leia a citação de Proust que Egan usa como epígrafe (p. 6). Como as observações de Proust se aplicam a A visita cruel do tempo? Que impacto a mudança do tempo e contextos diferentes têm sobre como os personagens percebem e apresentam a
si mesmos? As atitudes e ações de alguns personagens são mais consistentes do que as de outros? E, em caso afirmativo, por quê?
Em uma entrevista recente, Egan disse: “Acho que qualquer pessoa que esteja escrevendo de modo satírico sobre o futuro e a vida dos Estados Unidos parece profética... Acho que todos fazemos parte de um zeitgeist e estamos todos ouvindo e absorvendo as mesmas coisas, de modo consciente ou inconsciente.” (Brooklyn Daily Eagle, 8 de fevereiro de 2010). Considerando as tendências sociais e as realidades políticas atuais, incluindo temores de guerra e devastação do meio-ambiente, avalie o futuro que Egan antevê em “Linguagem pura” e “Grandes pausas do rock and roll”.
O que “Linguagem pura” tem a dizer a respeito de autenticidade numa era tecnológica e digital? Você veria a reação ao empreendimento de marketing de Bennie, Alex e Lulu de modo diferente se o músico tivesse sido outra pessoa que não Scotty Hausmann e sua slide guitar? Por exemplo, Stop/Go (de “Ouro que cura”)?

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