O fantástico mundo de Mariana Enriquez
Em Nossa parte de noite, escritora amplia as possibilidades do terror
Um pai e um filho cruzam a Argentina de carro, de Buenos Aires até as Cataratas do Iguaçu, na fronteira com o Brasil. São os anos da ditadura militar argentina, soldados armados estão no controle e o ambiente é de tensão. O pai tenta sozinho proteger Gaspar, seu filho, do destino que lhe é designado. A mãe do garoto morreu em circunstâncias obscuras, em um suposto acidente.
Como o pai, Gaspar recebeu o chamado para ser médium em uma sociedade secreta, a Ordem, que se relaciona com a Escuridão em busca da vida eterna por meio de rituais atrozes. Para tais rituais, é imprescindível a presença de um médium, mas o destino desses detentores de poderes especiais é cruel, já que o desgaste, físico e mental, é rápido e implacável. As origens da Ordem, comandada pela família da mãe de Gaspar, remontam a séculos, quando o conhecimento da Escuridão foi trazido da África para a Inglaterra e dali se estendeu à Argentina.
O terror sobrenatural se mistura com terrores bem reais neste romance perturbador e deslumbrante –– casas cujos interiores sofrem mutações, passagens que escondem monstros inimagináveis, rituais com sacrifícios humanos que envolvem êxtase e dor, andanças na Londres psicodélica dos anos 1960, fetiche por pálpebras humanas, liturgias sexuais enigmáticas e a repressão da ditadura, os desaparecidos, a chegada incerta da democracia e os primeiros casos de aids em Buenos Aires.
Um romance que amedronta e envolve na mesma medida, de uma das escritoras mais proeminentes da América Latina atualmente.
Em Nossa parte de noite, escritora amplia as possibilidades do terror
Mariana Enriquez nasceu em 1973 em Buenos Aires. É jornalista, subeditora do jornal Página/12 e professora. Autora aclamada pela crítica, publicou, além de As coisas que perdemos no fogo, outros sete livros.
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