Onde estão os leitores

Por Leticia Wierzchowski

15 / agosto / 2013

A relação entre o escritor e seus leitores sempre foi uma coisa tão fugidia quanto a relação do escritor com os seus próprios escritos — quantas vezes um escritor não sabe explicar formalmente, cerebralmente, uma circunstância ou personagem de uma história, um detalhe ou característica que o persegue e que, ao longo da sua obra, se repete como uma espécie de fantasma que durante séculos teima em assombrar o mesmo castelo? A relação do escritor com seus próprios romances será sempre inexplicável e, apesar dos estudos dos literatos e doutores, será também inexpugnável — uma porta, uma reentrância ou calabouço dos medos e desejos secretos do escritor há de permanecer incógnita para todo o sempre.

Mas a relação do escritor com os seus leitores vem mudando ultimamente, e para melhor. Isso, é claro, acontece para o escritor que se expõe — e nem todo o escritor, estes bichinhos esquivos e tímidos entre os quais me incluo — gosta de sair por aí, em feiras literárias, dividindo mesas com títulos engraçados ou por vezes incompreensíveis, ou até mesmo compartilhando seus contatos de e-mail. Porque o escritor — acima de tudo – precisa escrever. E fazer ficção é uma coisa que demanda duas outras: paz e tempo livre.

Porém, há um espaço incrível de troca entre o escritor e os leitores, entre os livros e seus adoradores — e esse espaço é a internet. O que eu descobri recentemente, desde que meu último romance — Sal — foi comprado pela Editora Intrínseca, é que este espaço de interação é enorme e muito, muito fértil. Venho acompanhando a troca virtual da editora com os seus leitores, venho descobrindo um mundo onde os jovens gostam, ou melhor, adoram ler! Gente descolada que diz coisas como “meu próximo livro-desejo” e “estou louca pra ler este”. Gente que acompanha os lançamentos, virtual e realmente, frequentando livrarias, participando de chats e blogs, devorando romances, sejam eles impressos em papel ou em formato digital. E estou pasma. E estou feliz da vida. E estou aprendendo — com a Intrínseca — a dialogar com os leitores conectados ao Facebook, mas que não passam seus dias somente ali, pelo contrário: leem, leem muito.

Ora, visito dezenas de escolas por ano, falo com professores por todos os lados, e a reclamação é sempre a mesma: meus alunos não leem. De fato, talvez não queiram ler Machado de Assis aos quinze anos de idade — o belo texto de Machado de Assis necessita um olhar mais maduro; mas talvez muitos leitores absolutamente maduros detestem Machado de Assis… A maior premissa quando se fala de livros, é que não existem verdades no subjetivo mundo da ficção. Alguns autores ganham renome póstumo, outros são idolatrados pelo público e execrados pela crítica, e ainda outros são amados pelos críticos e ignorados pela grande massa de leitores. O que eu sei que existe – e tenho mais convicção ainda agora — são leitores. Leitores de todas as idades, ansiosos para comprar e para ler aquele ou esse livro. Eles colocam a sua cara no Facebook. Eles vão às livrarias. Eles leem em casa, leem o que gostam hoje, e provavelmente seguirão lendo livros amanhã — porque só não gosta de ler quem nunca abriu um livro. Esses leitores estão aí, um enorme exército de jovens querendo dialogar com autores e editoras — como fazem, vale a pena ver, nos eventos da Intrínseca e no Facebook da editora. Posts com 500 curtidas, uma garotada concorrendo a livros e indo a encontros com seus autores prediletos — não é ficção não. É um case, diria meu marido publicitário. Eu digo que é uma delícia. Por causa da Intrínseca, virei fã do Facebook.

Leticia Wierzchowski e a “Faceamiga” Maya

Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Leticia escreve às sextas.

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