Por que se escreve?

Por Leticia Wierzchowski

25 / março / 2014

coluna 5_Por que escrevemos

Faz algum tempo, o jornal argentino La Nacion publicou em seu caderno de Cultura uma bela matéria com o título “Por que escribimos?”. Em seis saborosas laudas, dezenas de escritores contavam os motivos que os faziam escrever e escrever ao longo de toda uma vida. Ficcionistas de muitos países tentavam nomear aquilo que os levava a criar histórias ou simplesmente registrá-las — a vocação, o prazer da leitura, o medo do passado, o medo do futuro, o dinheiro, a timidez, a compulsão… Os motivos — que são vários — alcançam do poético ao prático. Assim como suas obras, seus depoimentos fazem rir e emocionam.

Afinal de contas: para que escrever? para que contar? para que lembrar?

“Escrevo porque não sei escrever”, diz o modestíssimo John Banville, autor de uma das minhas leituras inesquecíveis, O mar. Carlos Fuentes responde à pergunta com uma outra: “Por que respiro?”. Nélida Piñon conta que escreve “para ganhar um salvo-conduto com o qual deambular pelo labirinto humano”. “Porque eu gosto”, declara simplesmente o grande Umberto Eco. O espanhol Javier Marías pondera que escreve para não ter chefe e não ser obrigado a madrugar. E porque não existem muitas coisas mais que ele saiba realmente fazer. Javier Marías também escreve para não dever quase nada a ninguém, e não precisar saudar aqueles que não deseja. Rosa Montero confessa: “Escrevo porque, enquanto eu o faço, me sinto tão cheia de vida que a minha morte não existe: enquanto escrevo, sou intocável e eterna”.

Mario Vargas Llosa responde longamente. E diz que escreve, acima de tudo, porque é um ávido leitor. A experiência da leitura causa-lhe tão grandes e fantásticas transformações que a sua vocação literária é quase uma espécie de “transpiração” da sua vida de leitor.

Alberto Manguel escreve porque não sabe dançar o tango, nem resolver problemas matemáticos, ou jogar rugby. Porque não faz vinho, nem é médico, não patina, não costura, não joga xadrez e, tampouco, restaura quadros venezianos. Use Lahoz diz “escrevo porque aprendo”. E John Boyne “escreve porque encanta-lhe a sensação de ter um livro nas mãos e um livro em sua cabeça”.

Enfim, como disse Flaubert, “escrever é uma maneira de viver”. E, se alguns escrevem, outros tantos leem. O verbo, como um fio invisível e perene, a todos nos une, afinal de contas.

Leticia Wierzchowski é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna aqui no Blog.

Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.

Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Leticia escreve às sextas.

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