[antes de você abrir os olhos – parte dois]

Por Pedro Gabriel

17 / abril / 2014

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Eu nunca acreditei na solidão dos seus olhos, que são dois. Eles não veem a responsabilidade que têm ao carregar você. E se um chora, o outro, ali do lado, abafa o choro. E mesmo sem saber falar, encontra palavras de conforto; e mesmo sem mãos, sem lenço: eles se entendem. Seus olhos não poderiam pertencer a nenhum outro rosto. Só você pode fechá-los quando o medo de encarar o amor se aproxima. Só você pode abri-los quando esse mesmo medo vai embora, dobra uma esquina qualquer e some em algum lugar bem distante do seu campo de visão: você não pertence a ninguém.

 Eu pertenço ao seu mundo não porque sou seu, mas porque seus olhos me entendem. Confesso: invejo-os: só eles podem vê-la dormir sem acordá-la, e observar seus sonhos sem sair de dentro do seu mundo: sem sumir de você. Infelizmente, nunca te tive. Não precisei. Você sempre conviveu e se manteve tão bem aqui: na minha imaginação. Sonhada e protegida pelas minhas mãos que não te tocam: não porque não querem: porque não podem. Só eles conseguem vê-la por inteira: como um mirante, no porto seguro do seu coração. Ou talvez um farol que ilumina o mar negro – ora calmo, ora agitado – onde as ondas mais violentas escolhem as praias mais distantes, talvez suas mãos, para quebrar sem ninguém perceber. Tenho certeza que essas ondas são amores que se encolhem por medo de não serem grandes o suficiente para suportar a dor da conquista. Os amores são sempre frágeis. Os amores serão sempre dóceis. E seus olhos imóveis, naquela manhã, moveram o mundo para você despertar todas as outras manhãs no meu mundo, no meu mundo, no nosso mundo.

A parte final do texto acima será publicada no dia 29 de abril.

link-externoLeia a primeira parte.

Pedro Gabriel nasceu em N’Djamena, capital do Chade, em 1984. Filho de pai suíço e mãe brasileira, chegou ao Brasil aos 12 anos — e até os 13 não formulava uma frase completa em português. A partir da dificuldade na adaptação à língua portuguesa, que lhe exigiu muita observação tanto dos sons quanto da grafia das palavras, Pedro desenvolveu talento e sensibilidade raros para brincar com as letras. É formado em publicidade e propaganda pela ESPM-RJ e autor de Eu me chamo Antônio Segundo – Eu me chamo Antônio e Ilustre Poesia.

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Comentários

10 Respostas para “[antes de você abrir os olhos – parte dois]

  1. Pedro Gabriel, gostaria de lhe agradecer por cada texto que escreves e compartilhas, pois mesmo sendo tão nova e talvez por isso não conhecendo as dificuldades e amores da vida, eu me identifico bastante com seus textos e eles me emocionam. Pois, se tem algo que me realiza na vida é ajudar as pessoas e seus textos me ajudam muito em relação a isso, eles são como consolos para os sofredores e sonhadores do amor.
    Seus textos são maravilhosos! Obrigada por cada palavra, por mais torta que ela seja.

  2. Seus textos conseguem misturar perfeitamente beleza e emoção, em uma medida que me impressiona ainda mais a cada texto. Sou completamente apaixonada pela forma com que você escreve e emociona.

  3. “minhas mãos que não te tocam: não porque não querem: porque não podem.” minha parte favorita 🙂

  4. Você É VIDA! Viajo em solo e sonho acordada lendo seus textos! Beijo enorme.

  5. Nossa…. Que íncrivel. Aguardando ansiosamente a próxima parte.
    Parabéns Pedro <3

  6. Deus,que coisa mais linda!
    Incrível como alguém pode se expressar tão bem assim!É meio o que estou sentindo agora,deu até vontade de chorar!
    Texto incrível e apaixonante♥

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