A última dança de Chaplin

Fabio Stassi fala sobre o livro que mistura fatos reais da vida de Chaplin com ficção.

3 minutos

3 minutos

*Por Fabio Stassi

charles00
Charles Chaplin em cena de “O garoto”

Há histórias que são como a patente de uma invenção pela qual não se teve dinheiro para pagar o depósito. Para capturá-las, é necessário subtrair à vida e aos livros tudo o que é possível — nomes, cenas, cenários — e depois misturar tempos e lugares. Li a autobiografia de Chaplin pela primeira vez quando garoto e sempre voltei a ela ao longo dos anos. Mas, como dizia Jean-Claude Izzo, a fórmula é conhecida e nunca é inútil repeti-la: a aventura que vocês leram é totalmente imaginária, embora contenha muitas situações verdadeiras.

Capa_AUltimaDancaDeChaplin_300dpiMinha intenção era imprimir à história um andamento musical, orquestrado em quatro movimentos: allegretto, adagio, andante con variazione e finale. Mas não consegui muito mais do que uma pequena balada das coisas de cabeça para baixo, embora ela tenha me reservado companhia assim mesmo, ao raiar do dia, na minha Last Continental Railroad, entre Viterbo e Roma. Naturalmente, a vida com os seus eventos tristes ou alegres interveio várias vezes, modificando a direção da trama e mudando o seu tom. Para mim, esta é a última história que contei a uma pessoa querida, e um dos seus últimos sorrisos.

Mas devo confessar que tomei emprestado de outras narrativas alguns nomes. O boxeador Gago Groogan, por exemplo, vocês podem encontrar, mais velho e em outro momento da carreira, em Mr. Vertigo, de Paul Auster. Avistei a abóbada fosforescente e cravejada de estrelas do circo ambulante Bastiani no final de Austerlitz de W.G. Sebald. E Coluccini, o velho palhaço de origem italiana, vocês podem encontrar circulando pela Argentina, nas páginas de Una sombra ya pronto serás, de Osvaldo Soriano, embora ele diga que é um acrobata aposentado. Admito que devo muito às várias entrevistas dadas por Chaplin e a David Robinson, o seu principal biógrafo. E também tenho uma dívida de pelo menos duas metáforas com Gianni Mura e de várias ideias com Massimo Paradiso (tenho certeza de que Mister Fritz o contrataria como roteirista). Quanto à montagem e à fotografia, mandei revelar os rolos na Sicília e sob a luz do Equador, em Quito. O jogo das outras contaminações, deixo para quem tiver vontade de descobri-las.

Stassi free rights
Fabio Stassi é considerado um dos escritores mais talentosos da Itália.

De minha parte, sou grato por toda a ajuda que recebi, direta ou indireta, e continuo a pensar, como o velho Charlie, que, na desordem do amor, toda acrobacia é possível. Por isso, pela sua funambulesca paciência, agradeço, também no final, a todos aqueles que por vários motivos me têm à sua volta.

*Nota do autor em A última dança de Chaplin. Leia um trecho da obra que acaba de ser publicada no Brasil.

Uma resposta

  1. joao valadares mello disse:

    Admirador eterno de CHAPLIN.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

LEIA TAMBÉM

Leia mais Notícias

Confira os livros da Intrínseca que estão concorrendo ao Goodreads Choice Awards 2025 e escolha os seus favoritos!
Jojo Moyes está de volta com uma comédia romântica divertida sobre família, amor e o caos que é recomeçar depois de um término doloroso.
Novo livro do universo introduz os mistérios que vão tomar conta de Hawkins na quinta e última temporada da série da Netflix