Pequena epifania literária

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Foto: Huffington Post

Um dos momentos mais bonitos da infância é quando a criança descobre a leitura. Ainda lembro, lá pelos meus seis, sete anos, a alegria que foi ler os primeiros livros, os gibis. Que sensação de liberdade! Sempre adorei histórias, de modo que andava solenemente atrás de um adulto, dia e noite, implorando que lessem para mim. Lá em casa, todos sabiam que minha pergunta mais convencional era: “Você pode ler uma história agora?” Eles liam, ah, se liam. Mas, na mesma medida, esquivavam-se, envolvidos com as dezenas de tarefas cotidianas que assombram pais e mães.

Assim — que alegria! —, era uma tarde de verão na antiga casa azul lá em Cidreira, no litoral gaúcho, quando, abrindo um gibi, descobri de repente que poderia acompanhar, sem ajuda, as peripécias do Tio Patinhas. Passei a engolir histórias. Percorri milhares de páginas naquela varanda da casa praiana, sentada numa espreguiçadeira — da Mônica ao Rei Arthur, de Sidney Sheldon a Tolstói, as horas e os anos escorriam diante de mim sem que me desse conta. Fui uma menina e uma jovem que engolia livros, rata de biblioteca; sumia por tardes inteiras atrás de uma grossa lombada.

Dia desses, meu filho caçula, que soltou-se na leitura este ano, estava sentado à mesa na hora do almoço e disse: “Não sei como alguma criança pode preferir um brinquedo a um livro!” Fiquei emocionada — há apenas algumas semanas, o próprio Tobias preferia brinquedos a livros, embora sempre tenha simpatizado com histórias. Sua leitura ganhou autonomia, e agora ele flana entre as páginas, abre armários atrás de Ziraldos e Tintins, fica horas em companhia da Mônica e do Cascão, esquece de colocar o uniforme por causa do Hagar, o Horrível, de calçar os sapatos por causa do Menino Maluquinho, de comer seus biscoitos porque o Snoopy e o Calvin são engraçados demais. Mergulhou nos livros, descobriu a mágica, foi tocado pelo milagre que é viajar numa boa história. E ele tem razão: melhor brinquedo não há.

 

link-externoLeia também: Dos aprendizados

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