Bastidores

Um cara chamado Rafael e um cão chamado Jimmy

6 / novembro / 2015

Por Rosana Caiado *

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Quarta-feira, fim de tarde. O editorial, silencioso. Eu, recém-contratada, no Facebook. Se, no meio do expediente, por acaso você vir um editor enfiado numa rede social, talvez não pareça, mas ele deve estar trabalhando. E naquele dia a minha timeline foi tomada por um cara chamado Rafael Mantesso e por um cão chamado Jimmy.

Vários amigos tinham compartilhado a mesma foto: Jimmy ao microfone. Não só essa: Jimmy encenando A dama e o vagabundo, Jimmy sobrevoando a cidade como Superman, Jimmy, JimmyJimmy – o bull terrier branco de orelhas avermelhadas que um dia estaria na parede da minha casa. Mas naquela época eu ainda não sabia disso.

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Numa busca rápida, descobri dezenas de matérias — a maioria gringa: o ator Ashton Kutcher tinha curtido o Instagram do Rafael e, com isso, os holofotes do mundo inteiro se viraram para o trabalho incrível que estava sendo feito ali. Na época ele tinha 12k seguidores.

Mandei um e-mail para a Livia (minha chefe) e, na sequência, um para o Rafael — começava com “Caro Rafael” e terminava com “um abraço”. Alguns dias depois, Livia e eu estávamos no aeroporto rumo a São Paulo, onde encontramos por acaso o Jorge (chefe da minha chefe). Ele tinha acabado de receber uma mensagem que dizia sobre as fotos de um cachorro que estavam bombando na internet. Eu e Livia nos entreolhamos; parecia brincadeira. Falamos para ele que era exatamente com aquele cara que íamos almoçar dali a uma hora.

Nos encontramos em um restaurante japonês — foi a primeira de várias excelentes indicações dadas pelo Rafael (ele também saca de gastronomia e tinha um site bacana chamado Marketing na Cozinha). Em dois minutos de conversa deu para perceber que ele é uma máquina de ideias, explicadas com espontaneidade e expressões que eu nunca tinha ouvido. Lembro de ter perguntado: “Como é que você faz para dormir à noite?”

Rafael já tinha um agente internacional e o livro, que ainda não existia, vendido para fora. Havia outras editoras brasileiras interessadas, mas ele nos garantiu que no Brasil sairia pela Intrínseca. Peguei o avião de volta confiante. No dia seguinte fechamos negócio. Foi lindo.

Capa_Jimmy_WEBA partir de então, entre e-mails e conversas via WhatsApp, tivemos alguns encontros em São Paulo, quando conversamos sobre o Jimmy (“Não é que ele seja preguiçoso; ele só sabe viver o ócio”), sobre tudo o que o Jimmy poderia ser (“Às vezes meto Jimmy em roubadas. Ele topa todas, porque confia em mim”), sobre mudar a fama da raça (“Ele até me machuca, mas é de felicidade”), sobre família (“Meu pai me ensinou que, para ter um cachorro fiel, a boa é escolher o primeiro que for na sua direção quando você se aproximar da ninhada.”) e sobre amor (“Sem ele tudo seria bem mais difícil.”). Demos muita risada e, juntos, estabelecemos caminhos para as fotos. Rafael rascunhou as ideias num bloco que ocupava boa parte da mesa, eu rabisquei outras num caderno que cabia na palma da mão — entre elas, as frases que estão nos parênteses acima, sendo que algumas foram parar dentro do livro — e a coisa foi tomando forma bem na nossa frente.

O mundo rodou e o Rafael ganhou mais de 400k seguidores. Os e-mails começavam com “Ei, Rafael” e terminavam com “beijo”. Emoticons liberados. Aprendi o que significa “rulear” e “meiar”. Até que Rafael pegou um avião e veio conhecer a editora. A edição gringa já estava fechada, e a nossa, começando a ficar de pé.

Os outros livros que me desculpem, mas editar  Um cão chamado Jimmy foi, por um bom tempo, a parte mais esperada do meu dia de trabalho. De posse da carta branca que o Rafael nos deu, a gente pegou tesoura, clipes, cola, e ficou olhando para aquelas imagens espalhadas sobre a mesa de reunião, vendo qual combinava com qual ou onde determinada parte do texto encaixaria melhor.

Fizemos as primeiras cinquenta páginas, depois mais trinta, mais vinte, sempre mostrando para o Rafael, que abraçou nossas sugestões e a quem agradeço demais a confiança. Faltando poucas páginas, a gente adiava o trabalho só para não chegar ao fim. Eu poderia estar cortando e colando até hoje, mas aí não teríamos um livro para celebrar agora, um livro que fala de amor e que foi feito assim.

No próximo dia 14 será o lançamento de Um cão chamado Jimmy. Se, em pleno sábado de manhã, você por acaso vir uma editora no aeroporto rumo a São Paulo para ir ao lançamento de um livro, pode até pensar que é trabalho—mas é diversão.

link-externoLeia também: Um amor incondicional – entrevista com Rafael Mantesso

 

*Rosana Caiado é subeditora de livros nacionais na Intrínseca, estava grávida de 4 meses quando mandou o primeiro e-mail para o Rafael e hoje é mãe de um neném maravilhoso conhecido como Fefê. Também tem um gato chamado Taco. E o Taco tem uma gata chamada Zica.

Comentários

Uma resposta para “Um cara chamado Rafael e um cão chamado Jimmy

  1. Adorei a matéria. Amo cachorros não importando a raça, a fera está dentro do homem que o alimenta. Sigo a pag. de vcs no face, adoro todas as dicas. Esta será o presente de Natal de alguns amigos apaixonados por cães e arte. Bjd

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