Através das redes sociais percebo que, nos dias de hoje, boa parte da família Guinle, do ponto de vista político, se afastou do campo das esquerdas. São muitas, e claras, as manifestações contra o atual governo, com apoio até mesmo ao impedimento da presidenta. Mas, do ponto de vista histórico, os Guinle sempre gravitaram em torno da esquerda.
Guilherme Guinle, o grande timoneiro da família ao longo da primeira metade do século XX, deu inequívocas provas de sua simpatia pelos setores populares. Ele teria ajudado o comunista Agildo Barata a se estabelecer como comerciante no Rio de Janeiro após seu retorno do exílio, em 1934.
Guilherme foi o único grande empresário brasileiro que hipotecou solidariedade ao presidente Getulio Vargas quando, em 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi sancionada. Três anos depois, o nome de Guilherme seria lembrado para compor, como vice, a chapa presidencial do Partido Comunista nas eleições. Como a família Guinle não morria de amores pelo mundo da política, Guilherme nem deu crédito ao convite.
O único Guinle que entrou para a política foi Cesar, filho de Eduardo, o construtor do palácio Laranjeiras. Ele era filiado à União Democrática Nacional (UDN), partido de direita que existiu entre 1945 e 1965. Cesar acabou eleito prefeito de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro.
Com a instalação da ditadura militar em 1964, a filha de Cesar, Maria Helena Flores Guinle, militou em uma organização de extrema esquerda. Não chegou a pegar em armas, mas seu envolvimento foi suficiente para colocá-la na lista de procurados pelos órgãos da repressão.
Com o auxílio do pai, que apoiava os militares, Maria Helena saiu clandestina do Brasil a fim de exilar-se em Paris. Mais tarde, com a ajuda de outro jovem militante da esquerda maoista, Wellington Moreira Franco, ex-ministro da Aviação no primeiro governo Dilma, ela receberia seu passaporte brasileiro na França.
O playboy Jorginho Guinle, que se dizia comunista, achava que Maria Helena era a única pessoa da família que fizera algo de relevante pelo país. Segundo o biógrafo de Jorginho, o jornalista Myltainho, ele dizia e repetia: “Levar este país à dignidade só pode ser pela esquerda.”
Gente fina é um conforto