Por Nina Lopes*
Duas mulheres fortes, inteligentes, bem-sucedidas, felizes no casamento, amigas e confidentes a vida inteira. Nada como ter uma melhor amiga, certo? Errado. A amizade de Erika e Clementine não passa de uma ilusão. As duas não poderiam ser mais diferentes: uma é obsessivo-compulsiva, certinha e organizada. A outra é mãe de duas meninas, destemida e bagunceira.
Ainda na infância, a mãe de Clementine (uma pessoa que acredita piamente na importância de atos de bondade, afinal não poderíamos esperar coisa diferente de uma assistente social) incentiva a filha a fazer amizade com a menininha esquisita da escola, a que brincava sozinha com formigas no pátio, tinha cabelo oleoso e picadas de pulga na pele. Traduzindo: o fim da sua reputação escolar. E essa linda (só que não) amizade continua firme com o passar dos anos, até quando as duas já estão adultas e construindo a própria família.
Por falar em família, Clementine é mãe de duas meninas fofas, mas Erika não tem filhos. Na verdade, sempre disse que não queria ser mãe. Até que tudo mudou. Depois de passar por onze tentativas fracassadas de fertilização in vitro, sua única chance é encontrar uma doadora de óvulos. E nada mais óbvio do que pedir isso à sua melhor amiga da vida toda, certo? Opa, espera aí, amizades de fachada são fortes o suficiente para não se abalarem com um pedido polêmico desses? Com os ânimos alterados, um acidente acontece nesse mesmo dia, e a culpa de Clementine pode influenciar sua decisão e seu futuro.
Esse é o mote para Até que a culpa nos separe, novo livro de Liane Moriarty, autora do maravilhoso Pequenas grandes mentiras, que virou série na HBO com ninguém menos que Nicole Kidman e Reese Witherspoon. Nicole e Reese, ou melhor, Celeste e Madeline também são melhores amigas (mas juro que essa é uma amizade genuína). Inclusive, elas abraçam Jane, uma jovem mãe que chega sem conhecer ninguém na cidade e precisa lidar com a acusação de que seu filho está praticando bullying na escola. Juntas, elas ficam mais fortes para enfrentar escândalos familiares e a crescente tensão entre o grupo de mães do colégio. Esse clima pesado acaba causando a morte misteriosa e contraditória de um dos personagens principais. Afinal, as três amigas foram as responsáveis ou as vítimas?
Sentindo-se culpadas pelo desfecho trágico, descobrimos que mesmo sendo tão próximas, elas nem sempre foram totalmente sinceras e preferem contar pequenas mentiras em vez de encarar de frente as dolorosas verdades que cada uma carrega.
Olha aí a semelhança entre as amizades a princípio tão diferentes dos dois livros de Liane Moriarty!
Amigas por afinidade ou por comodidade, as mulheres, em geral, têm dificuldade de expor suas dores e alegrias, mas sempre se apoiam quando a situação complica e descobrem que juntas fica mais fácil enfrentar qualquer embate.
Relacionamentos fortes ou frágeis, duradouros ou recentes, de fachada ou genuínos: existem vários tipos de amizade e todos ajudam a colorir nossa vida de uma maneira única. Como diz a própria autora, amizades podem durar a vida inteira. As estatísticas são melhores do que para relacionamentos amorosos. Antes de um amor, tenha um amigo. Vale o investimento.
*Nina Lopes é editora assistente no setor de ficção da Editora Intrínseca e é dessas que se apaixonam pelos personagens dos livros que lê.
Vi a série é achei fantástica. Imagina então como deve ser o livro!!! ???