Entrevistas

De homofobia à gordofobia, Becky Albertalli conquista leitores e Hollywood

1 / setembro / 2017

Por Pedro Martins*

Depois de conquistar leitores em mais de trinta países com o bem-humorado e poético Simon vs. a agenda Homo Sapiens, Becky Albertalli volta às prateleiras de lançamentos com Os 27 crushes de Molly.

Poxa, crush! Por que não me notas?

Enquanto o maior conflito de Simon era o medo de que descobrissem sua homossexualidade, a questão de Molly é impossível de esconder: ela é gorda. Aos 17 anos, Molly já viveu 26 paixões, mas todas dentro de sua cabeça. Isso porque, temendo a rejeição, ela nunca sequer tentou se declarar para os crushes. No entanto, quando sua irmã começa a namorar, Molly se vê ainda mais solitária. Por sorte, um dos melhores amigos da cunhada é um garoto hipster, fofo e lindo: perfeito para o seu primeiro beijo. Só tem um problema, que atende pelo nome de Reid. Fã de Tolkien, colega de trabalho e meio esquisito, Molly nunca se apaixonaria por ele, não é mesmo?

“Esse segundo livro foi muito mais difícil. Precisei reescrevê-lo sete vezes”, revela Becky ao blog da Intrínseca. “Ao contrário de Simon, Molly me trouxe questões que eu ainda não superei por completo, e escrever sobre essas coisas que me incomodam fez parte de um contínuo processo de superação.”

Quando viu a capa brasileira de Os 27 crushes de Molly pela primeira vez, Becky conta que não conseguia parar de admirá-la. “Além de ser bonita e de combinar com a capa de Simon, esta é a primeira vez que vejo uma garota parecida comigo numa capa de livro. Pode parecer bobo, mas capas como essa teriam me ajudado de verdade na adolescência”, diz a autora, elogiando o trabalho da designer Aline Ribeiro. “Leitores de outros cantos do mundo, que nem sabem português, estão encomendando a edição brasileira por se sentirem representados.”

Para a autora, a importância da representatividade está na reflexão não distorcida da realidade. “Eu quero ter certeza de que meus livros são lugares seguros e inclusivos para os meus leitores, muitos dos quais pertencem a grupos marginalizados pela sociedade”, explica. “É claro que no mundo existem problemas maiores do que um garoto enfrentando dificuldades com sua sexualidade ou do que uma garota que quer arranjar um namorado e não consegue, mas para mim era muito mais do que isso. Era desesperador me sentir excluída daquele jeito”, relembra a escritora, que antes de se dedicar à escrita trabalhava como psicóloga.

Pelo caminho da representatividade, Becky conquistou leitores como nunca havia imaginado. Publicada em dezenas de idiomas, a autora, que também é fangirl e já escreveu muita fanfic, hoje lida com histórias inspiradas em seus próprios livros. “Eu comecei a ler as fanfics assim que terminei meu último livro do universo de Simon, Leah on the Offbeat, porque agora não tenho mais medo de esbarrar em histórias que pudessem me influenciar”, conta. “Sempre me pedem para escrever um livro do ponto de vista de Blue, mas não é algo válido. Já sabemos de tudo que acontece; não teria suspense algum. Também não tenho interesse em continuar a história de Simon, pois o que me motiva a escrever é a ideia de formar casais. Mas é muito divertido revisitar esses personagens sob a visão dos leitores. Algumas cenas são escritas exatamente como eu as imaginava.”

Em 2016, como recordação de sua visita à Bienal do Livro de São Paulo, a autora levou para casa um exemplar de Simon autografado por seus leitores.

Em paralelo às fanfics, este ano Becky revisitou Simon de outra maneira ainda mais inesperada: nos sets de filmagem. Formalmente, a autora não tem nenhum cargo na produção, mas, à convite da direção, opinou em (quase) tudo: do roteiro à escolha do elenco. “Eles me mantiveram ciente de tudo e, para minha alegria, estávamos em sintonia. Também tive sorte de filmarem na cidade onde moro, Atlanta. Eu estava no set praticamente dia sim, dia não. Nunca me cansava.”

“Para respeitá-los, eu não quis dar dicas aos atores sobre seus personagens, mas todos foram maravilhosos”, acrescenta, orgulhosa. “Nick Robinson (Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros) se transformou em Simon de corpo e alma, e Katherine Langford (13 Reasons Why), por exemplo, já era fã do livro, então a gente conversava muito no set.”

Becky com figurantes no set do filme: “Os estudantes mais legais da Creekwood!”

As filmagens terminaram em abril e, mesmo não tendo assistido ao filme finalizado, Becky já tem uma cena favorita, que, inclusive, não está no livro. Trata-se de quando Simon revela a sexualidade para sua mãe. “Eu nunca me esquecerei daquele momento. Dos produtores aos jornalistas que estavam nos visitando, ninguém conseguia parar de chorar”, relembra, emocionada. “Eu estou tão ansiosa para assistir ao filme que a primeira coisa que faço assim que acordo é checar no meu e-mail se o convite chegou!”

Produzido pela mesma equipe que levou A culpa é das estrelas para os cinemas, Simon Vs. A Agenda Homo Sapiens deve chegar às telonas em março de 2018. Por enquanto, se você se apaixonou por Simon, conheça Molly, já nas livrarias!

 

*Pedro Martins descobriu a magia da leitura aos oito anos por meio dos livros de J.K. Rowling. Essa paixão o levou a ser gerente de conteúdo do Potterish.com e o empurrou em direção ao jornalismo, possibilitando-o escrever sobre literatura para diversos portais, do britânico The Guardian ao brasileiro Omelete.

Comentários

2 Respostas para “De homofobia à gordofobia, Becky Albertalli conquista leitores e Hollywood

  1. :'( eu quero um marca livro do Simon :'(

  2. Oi, Emerson!
    Você pode conseguir um marcador nas livrarias da sua cidade!

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