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Como nasce a linguagem do movimento conservador?

29 / outubro / 2020

Como nasce a linguagem do movimento conservador? No início, uma onda começa a varrer qualquer força política que soe vagamente progressista. A estratégia é acusar qualquer oposição, seja ela de esquerda ou não, de ser comunista. É desse modo que programas sociais do governo passam a ser chamados de auxílios indevidos a “vagabundos”, “bolsas esmola” ou indícios da chegada de uma “tirania comunista”.

Esse tipo de discurso conservador não surge do nada: está sempre fundamentado em bases intelectuais e filosóficas. Em The Managerial Revolution, o economista norte-americano James Burnham argumenta que “as nações que sucumbiram completamente ao totalitarismo eram aquelas nas quais o maior poder gerencial estava concentrado nas mãos do estado”. Anos depois, na década de 1940, Friedrich Hayek, um importante economista austríaco que logo se tornaria um dos intelectuais de maior destaque do movimento, defendeu em sua obra mais popular, O caminho da servidão, que a democracia só é possível no capitalismo. Além disso, Hayek declarou que qualquer coletivismo necessariamente levará ao fascismo. Temos assim o nascimento do movimento conservador nos Estados Unidos.

Em Estas verdades, a historiadora norte-americana Jill Lepore, professora de história norte-americana em Harvard e redatora da revista New Yorker, faz um estudo monumental dos Estados Unidos, basicamente desde sua fundação até os dias atuais.

A autora resiste à tentação do dualismo celebratório/condenatório do experimento republicano norte-americano e demonstra grande sensibilidade para pontuar paradoxos, nuances e tudo aquilo que qualifica os Estados Unidos como um país bastante singular. Em Estas verdades, Lepore nos mostra como a influência da história e como os anos de governo Trump devem ser interpretados como muito mais do que uma anomalia democrática ou um mero ponto fora da curva. Para ela, a eleição de Donald Trump é consequência de décadas da ação contínua de um estilo de política e de um movimento intelectual conservador contramajoritário e crítico às instituições democráticas.     


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