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Conheça cinco romances brasileiros que retratam imigrantes árabes  

24 / agosto / 2022

*Por Diogo Bercito

   

 

Meu livro Vou sumir quando a vela se apagar conta a história de um imigrante sírio na São Paulo do início dos anos 1930. O texto está, acredito, em diálogo com alguns dos meus romances nacionais prediletos. Enxergo Yacub, meu protagonista, como parte do mesmo universo literário habitado pelo carismático Nacib de Gabriela, Cravo e Canela e pelos gêmeos voluntariosos de Dois Irmãos.

Listo abaixo cinco dos melhores livros sobre imigrantes árabes no Brasil, como evidência do impacto sentimental dos sírios e libaneses que decidiram se mudar para o país desde o final do século XIX até hoje. Essa lista não está completa, é claro. Por isso, fiquem à vontade para recomendar outros bons romances nacionais com personagens árabes marcantes.

 

Memórias de um Mascate, de Tanus Jorge Bastani (Briguiet & Cia, 1949)

Tanus Jorge Bastani descreve as andanças de caixeiros-viajantes no interior de Minas Gerais. São histórias recolhidas na estrada, com gosto de poeira e cheiro de rio. Só quem viveu aqueles anos consegue preencher a narrativa com tantos detalhes. Neste texto antigo, vemos uma série de estereótipos sobre o imigrante árabe no Brasil que sobrevivem até hoje — por exemplo, sua suposta vocação para a mascateação, para o desbravamento. Mas é também interessante olhar abaixo da superfície e ver as histórias que acabaram sendo esquecidas, como a das mulheres que trabalharam como mascates e a das interações entre os árabes e os indígenas no interior do país.

 

Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado (Companhia das Letras, 1958)

Nacib é um dos árabes mais conhecidos da nossa literatura nacional. Jorge Amado conta que esse sírio, alojado em Ilhéus nos tempos áureos do cacau, se sentia em casa com a comida baiana. Não abria mão, porém, do quibe de seus antepassados — carne moída misturada com trigo, cebola e hortelã. O romance é quase um livro de culinária, e vai fazendo o leitor salivar com os quitutes da Gabriela. O livro é um lembrete de que não foram só São Paulo e Rio de Janeiro que receberam imigrantes árabes, de que a vida deles se entrelaçava com a de outras populações.

 

Dois Irmãos, de Milton Hatoum (Companhia das Letras, 2000)

 

Quem ler meu livro vai perceber, de cara, a influência de Milton Hatoum. Vou sumir quando a vela se apagar não existiria sem os romances de Hatoum, quem primeiro abriu meus olhos para a riqueza da vida dos árabes no Brasil. Mesmo anos depois, ainda me lembro do prazer de ler as descrições que Hatoum faz dos pratos árabes preparados com temperos da Amazônia. Ele não fala de sírios e libaneses exóticos, externos à sociedade, mas de imigrantes e descendentes vivendo a vida do país. Um detalhe importante, e raro nessa literatura, é o fato de que um dos protagonistas passa algum tempo no Líbano antes de voltar ao Brasil. São poucos os autores que se lembram de que a migração não era unidirecional e frequentemente envolvia essas idas e vindas.

 

Dinheiro na Estrada: Uma Saga de Imigrantes, de Emil Farhat (T.A. Queiroz Editor, 1987)

 

Este talvez seja meu livro predileto sobre a imigração árabe. É triste que tenha sido esquecido, mesmo sendo o vencedor do Prêmio Jabuti de 1988. Hoje, só é encontrado nos sebos. Mas vale a escavação. Emil Farhat toca em um ponto sensível da história: a dor de quem ficou para trás, nos territórios que viraram a Síria e o Líbano. O romance é contado por meio das cartas que uma mãe manda para seu filho no Brasil, pedindo notícias. Pelas epístolas dela, conhecemos as aventuras e desventuras do rapaz, que participa da luta contra a Bolívia pelo território do Acre.

 

A Imensidão Íntima dos Carneiros, de Marcelo Maluf (Reformatório, 2015)

 

Esse romance de Marcelo Maluf também influenciou bastante a minha escrita. Foi um livro que li por acaso e me impressionou de imediato. O texto conecta as montanhas libanesas, regadas pelo Mediterrâneo, a Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo. Maluf conta uma história diferente das narrativas urbanas centradas na capital do estado. É um retrato sensível de personagens frágeis, que herdam não só as tradições, mas também os medos dos antepassados.


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