Coluna publicada no jornal Zero Hora, em 19 de agosto de 2013
Uma das melhores coisas da vida é pegar um livro e não ter mais vontade de largá-lo, quando a história entra em simbiose completa conosco a ponto de nos atrasarmos para um compromisso, perdidos entre as suas páginas. Foi o que me aconteceu lendo Tigres em dia vermelho, primeiro romance da jornalista americana Liza Klaussmann, publicado no Brasil pela Intrínseca.
A história toda gira em torno de duas primas muito unidas, Nick (bela, indomável, egoísta) e Helena (frágil, solitária, um projeto de alcóolatra). A prima rica e a prima pobre crescem juntas, passando seus verões na casa de praia construída pelo avô de ambas e herdada, tempos mais tarde, pela mãe de Nick — e depois pela própria Nick e seu marido. É na Tiger House que as duas primas se encontram ao longo dos anos, e é também nesta mítica casa de veraneio que os seus filhos, os primos Daisy e Ed, se farão amigos — Ed, um rapazinho esquisito e sarcástico, e Daisy, uma menina doce, mas determinada, subjugada pela beleza de Nick.
Guiada pela prosa fascinante e afiada de Liza Klaussmann, eu segui em transe pelas vidas das duas primas, desde a juventude durante a Segunda Guerra Mundial, até a maturidade na ilha de Martha’s Vineyard, onde fica a casa de veraneio da família — impossível não se apaixonar pela petulante Nick, cujo casamento feito por amor acaba caindo numa espécie de limbo por causa de um affair vivido pelo marido, o confiável e correto Hughes, quando ele ainda era um jovem oficial americano na Londres devastada pelos bombardeios alemães.
Desfiando verões, a senhorita Klausmann envolve seus leitores numa trama instigante cujo cerne é um misterioso crime, descoberto por Daisy e Ed durante as férias na ilha — mas o encadeamento da história, os diálogos primorosos, o ritmo ágil e sardônico do texto, tudo, tudo me encantou. Lá pelo final do livro, a autora pesa a mão num dos seus ótimos personagens… Um defeito? Eu diria que sim. Mas não compromete essa excelente e arguta narrativa em várias vozes. Fiquei tão afoita com o romance que, pelo meio da trama, estava com vontade de espiar as últimas páginas — mania de escritora que quer sempre ter o controle da história… Mas Liza Klaussmann, talentosa narradora, me levou pelo cabresto até o final.
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