Frutas e destiladas

Por Leticia Wierzchowski

11 / março / 2014

Coluna_4

Mesa de bar e beira de praia são os dois melhores lugares do mundo para se observar as pessoas. Como eu não sou exatamente boêmia, no verão, costumo criar minhas teoriazinhas sentada na areia. Durante uma manhã de sábado com tempo bom (o que pode até ser raridade por estas bandas, mas às vezes acontece), quinhentos mil tipos de gente passam sob o nosso nariz, com seus bronzeados, seus óculos, seus filhos, seus modelitos de biquíni com strass, suas celulites, namorados, chapéus e totós. Entre um picolé e uma Coca ligth, dia desses, bem acomodada na minha cadeirinha, cheguei à conclusão de que existem dois tipos de mulheres no mundo, as mulheres-destiladas, e as mulheres-fruta.

As mulheres-fruta tem um encanto irresistível. Bronzeadíssimas, com os cabelos queimados do sol, perfeitas, naturalmente irretocáveis, elas vão provocando torcicolos por onde passam. Mas elas também passam. Com algumas raras exceções, as mulheres-fruta não suportam a madureza por muito tempo. A graça delas está no frescor. Elas são a cara do verão. Durante o inverno, ou hibernam, ou ficam realmente irreconhecíveis naquele casacão de lã, o que não é de modo algum culpa delas, são criaturas de estação. É o seu allure. Brigitte Bardot talvez seja o melhor exemplo de mulher-fruta que eu poderia citar. (E quem não gostaria de ter sido Brigitte Bardot?)

As mulheres-destiladas, por sua vez, são aquelas que só melhoram com o tempo. Nem sempre você vai encontrar uma mulher-destilada brilhando na beira da praia. As destiladas podem, ou não, curtir o sol, mas na praia elas geralmente são mais discretas, usam óculos e chapéu, chegam à praia tarde, ou saem cedo. As destiladas, com o passar dos anos, vão se refinando, ficam mais elegantes, mais nobres. Essas mulheres geralmente tiveram uma adolescência não tão glamourosa como as mulheres-fruta; foi depois que a beleza delas se revelou inteiramente. As mulheres-destiladas, com um pouco de cuidado, seguem belas por muito tempo, e mesmo quando abdicam do biquíni (e até da beira-mar), ainda encantam. Catherine Denueve, Ieda Maria Vargas e Vera Fischer são mulheres-destiladas inesquecíveis.

Bem, foi apenas uma teoriazinha… Uma coisa sempre pode dar na outra e vice-versa. O meu pai faz uma cachacinha de butiá que é uma beleza. E, se guardada de um verão pro outro, aí então, nem se fala.

Leticia Wierzchowski é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna aqui no Blog.

Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.

 

 

Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Leticia escreve às sextas.

VER TODAS AS COLUNAS

Comentários

Uma resposta para “Frutas e destiladas

  1. Amei!!
    Baita escritora a Leticia!!!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *