Ok, a seleção brasileira está fora da Copa. Vexame histórico, papelão, apagão, disseram de tudo, e tudo vale para o que aconteceu na última terça-feira. Mas a Copa ainda é aqui, e ainda somos brasileiros, brasileiros com qualidades e defeitos (vaiar a seleção no estádio, que coisa feia!), com benesses e problemas. Pois, eu estava numa fila ontem e atrás de mim duas pessoas comentavam quase com revolta a alegria dos estrangeiros que vieram ao Brasil para a Copa. Mas como, perguntavam eles, naquela fila que não andava, alguém realmente poderia gostar do Brasil? Os gringos gostaram sim. Não de tudo: reclamaram da sujeira das cidades, da insegurança e dos preços altos. Conviver com isso diariamente é extenuante, nós sabemos disso muito bem. Mas para os turistas, o que valeu foi a beleza do nosso país e a simpatia do povo.
Eu me alegro em saber que os turistas da Copa levarão na mala elogios ao meu país. Merecemos, nós brasileiros. Como diz o meu pai, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. As eleições serão em outubro, e então será a hora de colocarmos para fora a nossa revolta e a nossa severa decepção com o Estado. Todos esses turistas voltam para os seus países e provavelmente encontram por lá um bom sistema de saúde, escolas públicas dignas, serviços de transporte coletivo organizados e segurança social. Eles pagam impostos e recebem de volta os benefícios gerados por eles. Nós brasileiros, não. Já não bastassem os impostos embutidos em tudo o que compramos, ainda temos aquela outra conta a pagar, ─ PIS, COFINS, ISSQN , IRPJ e o diabo a quatro. Aqui em casa, é nisso que se vai o dinheiro para viajar ao exterior (e ser um turista feliz por algum tempo).
Somos clientes do Estado, e o nosso Estado é ganancioso e relapso ─ aqui falta tudo. Mas o Brasil é bonito, e o povo brasileiro sabe ser divertido. O turista que voltar da Copa elogiando o nosso país, voltará elogiando você, eu, o cara que vende picolé, o moço do bondinho do Pão de Açúcar, o garoto que deu informação nos Jardins, o garçom da churrascaria em Porto Alegre, a garota bonita de biquíni em Salvador, a alegria da turma no botequim da esquina. Alegremo-nos com esses elogios: por mais que o Estado nos roube, não levará nunca a nossa simpatia. Quanto a todo o resto, outubro vem aí.
LETICIA WIERZCHOWSKI é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna aqui no Blog.
Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Olá Letícia!
Parabéns pela crônica!!! Que nosso país seja valorizado nos pequenos gestos… Venha visitar meu blog, será uma grande alegria! Bjs de uma fã, Fabíola