É tão fácil a gente se deprimir. Receita certa: abrir o jornal. Guerra religiosa no Iraque. Ebola. Gaza. Incêndios na serra carioca. A Cantareira virando pó. Ler as notícias, atualmente, só em doses homeopáticas. Eu mesma demoro várias horas para digerir os eventos, os números trágicos e os maus auspícios que envolvem o vírus ebola. Já não leio as notícias no Twitter antes de dormir, porque é receita certa para ter insônia. E até o Facebook (que frequento na categoria voyeur) virou uma rinha de galos em que todos se polarizaram sobejando violência e grosserias, e amigos brigam com amigos, e amigos xingam amigos por causa da eleição. Como não confio em nenhum dos dois candidatos que ora se espinafram por aí, me abstive de qualquer opinião a respeito.
Mais do que nunca, o remédio é a ficção. Aqui em casa, ao jantar, não falamos da Dilma nem do Aécio. Entre o “me passe a salada”, ou o “mais arroz, por favor”, falamos de Leonardo Padura, Evelyn Waugh e Marguerite Yourcenar. É tão bom – e até digestivo! A literatura é ainda o mais maravilhoso dos esconderijos – e o tanto que se vê desta vida atrás de um bom livro (e o tanto que não se vê, ufa!).
Comecei a ler um volume enorme, com esperanças de que ele me segurasse até depois das eleições. Os Luminares, de Eleanor Catton, livro que venceu o The Man Booker Prize 2013, é um robusto tijolo de 886 páginas, cujo peso – estimo que ele pese mais que o dobro da filhotinha de shiitzu que minha madrinha ganhou recentemente – me obriga a lê-lo apenas em casa.
Porém, como sou mais variável que os números das pesquisas eleitorais, e como os queridos Marco e Henrique – meus leitores amigos – resolveram me mimar, mandando-me pelo correio dois títulos incríveis, A filha do Coveiro (Joyce C. Oates) e Amiga de Juventude (Alice Munro), já me enfiei até o nariz na incrível trama da Sra. Oates, e Os Luminares corre o iminente risco de não chegar ao segundo turno por aqui.
Quanto às notícias do jornal, Cuba está dando um baita exemplo ajudando os africanos assolados pelo ebola. Teresa Romero, a enfermeira infectada em Madri, curou-se em tempo recorde. E a população paulista já está consumindo o “segundo volume morto” da Cantareira, o que quer dizer que, depois dessa reserva, só tem lodo mesmo. Se a vida fosse como a ficção, García Márquez resolveria o problema rapidinho, fazendo chover em São Paulo por quatro anos, onze meses e dois dias, como fez em Macondo com tanta galhardia.
O texto de Letícia Wierzchowski é sempre bom e esse aí em cima veio a calhar depois de uma disputa grosseira e estúpida dos senhores candidatos no segundo turno. Seria tão bom se mudassem o tema das postagens nas redes sociais, mas infelizmente sairam da disputa para a ofensa (ambos os lados). Será que vale a pena? E que São Paulo seja Macondo, nem que seja uma semana para lavar o ar.
E que Leticia continue nos dando seus belos textos, enquanto esperamos que o clima melhore (literalmente e literariamente).