Deu pra ti, baixo astral

Por Leticia Wierzchowski

14 / novembro / 2014

porto-alegre

Antes de entrar no mérito da questão, preciso dar alguns parâmetros para os três ou quatro leitores não-gaúchos que me acompanham por aqui. Sou de Porto Alegre, e Porto Alegre, nos últimos dias, vem surpreendendo com um movimento totalmente natural e inusitado: algumas pessoas têm sido vistas correndo peladas pelas ruas da cidade.

            Para quem não manja Porto Alegre, é mais ou menos assim: faz muito frio, talvez por isso os pelados tenham escolhido novembro para sair à rua, mas os verões são abrasantes – experimente um fevereiro… Em Porto Alegre, o pessoal lagarteia nos parques, e lagartear é tri legal. A turma de Porto, embora afetuosa, costuma ser meio esquentada. De guerra em guerra, fronteira de um império enorme como o do Brasil, a gauchada pegou gosto pela peleia.  E tanto que, lá pelas tantas, brigou com o Império e fundou uma república: a República Rio-grandense. No entanto, Porto Alegre, a cidade dos pelados, ficou do lado Imperial durante a revolução – foi uma guerra tão longa quanto a de Tróia. Bem, essa revolução já faz muito tempo, mas até hoje a comemoramos anualmente. Eu cheguei a dizer que éramos peculiares?

            Bueno, não temos em Porto uma Copacabana, nem uma Avenida Paulista, mas os porto-alegrenses adoram um parque, e trabalham pra cacete – gaúcho é bicho cdf, tchê. Com muito orgulho. Que mais? Bem, pão francês em Porto Alegre é cacetinho, semáforo é sinaleira, e o meio-fio é cordão da calçada – não é poético? Meu filho caçula, quando conheceu o Rio, perguntou: “Manhê, que língua eles falam aqui?”

            Em Porto Alegre, lê-se muito. A gauchada gosta de um livro. Gosta também de chimarrão e de um Grenal. O que não se sabia é que a turma gostava de andar pelada por aí. É uma onda nova que começou de leve. Uma pelada no Parcão, no elegante bairro Moinhos de Vento – até que combina com Dom Quixote… Depois tivemos pelados por vários lugares, uns bonitos, outros feios, mas todos honestos. Pelas minhas contas: um homem, três mulheres, um travesti. Alguém falou que é uma boa amostragem da população brasileira.

            Querem saber? Estou me divertindo. E melhorou muito o tom dos posts no Facebook, depois daquele mau humor pós-eleições. Se é um protesto, é pacífico. Se é para tomar sol, essa turma vai ficar sem marquinha. Se é para dar uma alegria na vida, está funcionando lindamente. É inusitado, engraçado e doido: sair assim na rua do jeito que Deus nos fez (ou não, no caso do travesti). Será que é político? Disseram que era um golpe publicitário – a coitada da publicidade sempre leva a culpa de tudo. Sabe o que eu acho? Estou com o Kleiton e o Kledir: não tem explicação racional, nem precisa – pegou e fim.  Coisas de magia, sei lá… Paralelo 30.

LETICIA WIERZCHOWSKI é autora de Sal, primeiro romance nacional publicado pela Intrínseca, e assina uma coluna aqui no Blog.

Nascida em Porto Alegre, Leticia estreou na literatura aos 26 anos e publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. Um de seus romances mais conhecidos é A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.

Leticia Wierzchowski nasceu em Porto Alegre e estreou na literatura aos 26 anos. Já publicou 11 romances e novelas e uma antologia de crônicas, além de cinco livros infantis e infantojuvenis. É autora de SalNavegue a lágrima e de A casa das sete mulheres, história que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo e exibida em 30 países.
Leticia escreve às sextas.

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